Fanfic: Streamer (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Anahi e Dulce

Anahí

Eu fumava outro cigarro até chegar ao filtro.

- Me vê mais um cigarro? –pedi à enfermeira.

- Chega de fumar por hoje, Anahí.

- Ah, vai se foder.

Ela saiu sem responder.

- Eu estou ficando louco! –escutei a voz do meu pai ficando alterada do outro lado da porta.

Ele conversava com o meu psiquiatra, Paul. Escutei a voz dele pedindo que meu pai se acalmasse, coitado.

- Escuta, eu não sou o viciado aqui, não sou quem você devia estar dando sermão. Está tudo enterrado, por que você não deixa assim?

Eu estava sentada no chão do corredor, então outra enfermeira veio até mim.

- O que você está fazendo aqui, querida? Vamos para a sala. –ela estendeu a mão.

- Estou esperando. Meu pai está ai dentro com Paul.

Margot, a enfermeira, olhou em direção à mesma porta que eu olhava.

- Não há nada que eu possa fazer! –meu pai gritou.

A enfermeira encostou no meu braço.

- Vamos, quando acabar a consulta eu levo seu pai até você.

Eu levantei com a ajuda dela e caminhamos lentamente até a sala.

- Você pode me ver mais um cigarro? –perguntei para a enfermeira enquanto ela me ajudava a caminhar pelo extenso corredor.

- Está bem, mas este vai ser o último, querida.

Ela tirou do bolso um maço de cigarros e eu peguei um, ela ofereceu o isqueiro e acendi meu cigarro.

- Obrigada. Dulce ainda não chegou? –perguntei quando entramos na sala.

- Não, mas fique calma, é uma longa viagem. –Margot respondeu.

- Sim, estou calma. Sei que ela não me abandonaria.

Margot apenas sorriu simpaticamente, eu sentei em um sofá no canto da sala que ficava ao lado da janela enquanto fumava apaticamente.

Charlotte, Anna Lucia e Shannon também estavam naquela sala. Charlotte brincava com sua boneca estúpida, ela falava com a voz forçadamente aguda e sempre tinha um laço rosa no cabelo. Anna Lucia era amiga de todas as enfermeiras, sempre contava piadas sem graça ou histórias inventadas. Shannon entrou na clínica pouco depois de mim, mas ela pode freqüentar antes a sala.

Nós só podemos conviver uma com as outras quando nosso estado não é mais considerado perigoso, quando já passamos pela pior fase da desintoxicação. Eu fiquei isolada por pouco mais de um mês, não podia ter contato com ninguém além do meu psiquiatra, as enfermeiras e o meu pai. Fazia poucos dias que eu podia freqüentar a sala, ontem disseram que eu poderia fazer uma ligação por dia e receber visitas em horário determinado, então liguei para Dulce.

- Medicação. –uma enfermeira gritou sentada atrás de um balcão.

Outras meninas entraram na sala, logo seus nomes seriam chamados.

- Alice Reyes.

Eu apaguei meu cigarro levantei, logo seria meu nome.

- Anahí McAdrey.

Fui até o balcão e peguei o copinho plástico onde estavam os remédios, engoli-os e abri minha boca para a enfermeira mostrando que tinha os ingerido. Assinei meu nome na folha que estava sobre o balcão, era uma medida de controle do hospital.

- Anna Lucia Gomez.

Eu voltei ao sofá e ao passar por Cyntia, outra enfermeira, perguntei-lhe as horas.

- Quase 16h.

- Obrigada.

Por que Dulce ainda não havia chego?

Eu não estava mais suportando.

- Anahí?

Margot se aproximou de mim depois de um tempo passado. Eu a olhei.

- Tem um telefonema para você, ela se identificou como Dulce María.

Meu coração gritou em meu peito. Levantei imediatamente e fui até a cabine de telefone.

- Dulce? –minha voz saiu afobada.

- Any. –ela suspirou.

Senti meus olhos ficando úmidos ao escutar sua voz.

- Aconteceu alguma coisa? Você está bem?

- Sim, eu estou no ônibus, desculpe a demora. Devo chegar em cinco horas. –sua voz parecia abatida.

- Mas o que aconteceu? –insisti.

Ela respirou fundo com dificuldade.

- Nada, está tudo bem. Tudo vai ficar bem.

- Você tem onde ficar esta noite? –perguntei temerosa.

- Tenho. – Acho que só vamos poder nos ver amanhã, não é?

- É. O horário de visitas acaba às 17h e começa às 14h.

-

- Eu sinto sua falta. –sussurrou.

Eu franzi o cenho tentando evitar as lágrimas.

- Eu também. –minha voz saiu embargada.

Escutei sua respiração profunda do ouro lado da linha, como eu sentia saudade disso.

- Então... Eu estarei aí amanhã, ok?

- Sim, eu vou te esperar.

A ligação começou a falhar.

- Dulce?

- Não t...

- Alô? Dulce?

- Any, estou – perdendo o sinal. –escutava sua voz falhada.

- Eu te amo. Eu te amo.

- Eu também te...

Amo.

A ligação caiu.

Eu fechei meus olhos e encostei minha testa na parede que sustentava o telefone.

Era tão confortável ouvir sua voz, mas ao mesmo tempo a saudade dentro de mim só aumentava. Era uma angústia com um alívio, a ambivalência me consumia.

- Anahí.

Margot bateu suavemente na cabine. Eu abri a porta e a olhei.

- Está tudo bem? –ela perguntou.

- Me da mais um cigarro? –perguntei apaticamente.

- Chega por hoje. Seu pai saiu da sala de Paul, você vai querer falar com ele?

- Não.

- Está bem.

Ela sorriu simpaticamente e saiu dali, logo depois eu voltei para a sala e voltei a sentar no mesmo sofá do canto.

- O que você está fazendo aí? Não vê que está ocupado?! –Uma menina gordinha me perguntou.

Eu olhei para onde estava sentando, não havia nada ali.

- Não.

- Você é uma trouxa mesmo! Saia daí, saía!

- Algum problema, Kelly? –a enfermeira se aproximou.

- Olha onde ela está! Ele não consegue respirar assim! Bob vai morrer! –ela gritou desesperada.

Eu levantei do meu lugar e a enfermeira abraçou a menina desesperada a contendo.

- Ah, ele está bem, ele está bem. –ela sentou no canto do sofá e acariciou o ar no lugar onde eu estava sentada.

A enfermeira saiu dali e eu fiquei observando a cena estática.

Droga, colocaram-me em um hospício?

- Ela não é louca. –uma mulher disse atrás de mim com a voz levemente rouca.

- Não? –eu a olhei nos olhos.

- Não, ela quer chamar atenção. Eu também sentia medo no início.

- Está aqui faz muito tempo? –perguntei olhando para a mulher, ela parecia ser bem mais velha que eu.

- Essa é a sexta vez que estou aqui, desde a terceira me deparo com Kelly e seu gatinho imaginário.

Eu não pude deixar de reparar nos braços dela, tinha várias marcas roxas no lado oposto aos cotovelos, ela se injetava.

Ela percebeu que eu olhava e colocou os braços para trás.

- Desculpe. –falei.

- Normal.

- Eu sou Anahí.

- Sarah.

- Você está aqui por vontade própria? –perguntei sem a olhar nos olhos.

- Sim, você?

- Não.

- As duas primeiras vezes eu também não fui autônoma.

Era para ser um consolo?

Três semanas antes.

Minha pele ardia, como se no meu sangue tivessem lâminas que iam corroendo o meu corpo. Eu levantei daquela cama enquanto gemia e chorava desordenadamente e inconscientemente. Não. Eu estava muito consciente, consciente demais, sentindo toda aquela dor, o processo de desintoxicação era muito doloroso. Eu me rebatia tentando fazer com que uma dor anulasse a outra, mas não adiantava.

- Socorro! Socorro! Alguém pare com isso! –gritei desesperadamente.

Eu me debati encostada na parede do canto daquela sala branca, ninguém entraria ali para me sedar. Ninguém me tiraria dali.

Eu fechava meus olhos com força e resmungava baixinho.

- Eu sei, eu sei, sei que você vai estar aqui quando eu abrir os olhos.

Eu abri lentamente e a sala continuava branca.

Dulce, por favor. Onde você está?

Eu fechei os olhos novamente. Eu via e revia Dulce na minha mente, lembrava dela empurrando Barbara enquanto eu estava cheirada no chão, ela veio até mim para me tirar daquele quarto. Eu daria tudo para que se repetisse, para que ela abrisse a porta daquele quarto branco e me tirasse dali. Que me segurasse em seus braços e dissesse que tudo vai ficar bem agora.

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