Fanfic: Streamer (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Anahi e Dulce

Anahí

Droga, eu tinha prometido a mim mesma não fumar mais hoje.

Olhei para o relógio do meu quarto, 14h22min.

Onde está Dulce?

Virei para a janela ao lado da minha cama, dali eu podia enxergar uma parte da calçada, quem sabe eu não conseguiria vê-la caminhando por ali. Sim, pareceu-me um bom plano.

Permaneci atenta àquela pequena brecha da calçada enquanto fumava o cigarro, eu sequer piscava. Passou uma senhora com seu cachorrinho na coleira, um homem carregando uma maleta, uma menina de bicicleta, dois meninos conversando. Nada de Dulce. Eu olhei para o relógio de novo, 14h27min. Onde ela está?

Batidas secas na porta tiraram minha atenção, imediatamente olhei para esta.

- Anahí. –uma enfermeira entrou com metade do corpo. Você tem uma visita.

Meu coração gritou em meu peito. A enfermeira abriu mais a porta e deu passagem, então eu a vi.

Senti como se meu corpo fosse envolvido por um cobertor macio, senti arrepios percorrerem minha espinha, senti meus olhos umedecerem e minhas pernas tremerem. Eu acho que deixei o cigarro cair no chão.

Dulce deu dois passos curtos em minha direção, ela não desgrudava os olhos dos meus, parecia tão frágil.

Como eu senti falta de olhar em seus olhos profundos, de sentir aquela sensação indescritível que só ela conseguia me fazer sentir.

Eu não pude agüentar mais, caminhei rapidamente em sua direção e a abracei.

Abracei com força sentindo seu corpo junto do meu, sentindo seu calor e sua pulsação. Seus braços envolveram o meu corpo.

- Any. –sussurrou.

Como eu senti saudade disso.

Então as lágrimas escorreram.

Ela afagou seu rosto no meu ombro e a escutei chorar também, era um choro de alívio.

Nós ficamos assim por um tempo, meu coração batia com força.

- Você não me deixou, você está aqui. –falei com dificuldade em seu ombro enquanto sentia lágrimas se desprendendo dos meus cílios ao mesmo tempo que eu sorria aliviadamente.

Escutei seu riso sutil e ela então me olhou nos olhos.

- Any, eu te amo.

Ela falou olhando nos meus olhos, seguido de um sorriso.

- Eu também te amo, muito.

Sequei seu rosto molhado cuidadosamente com os meus dedos, ela estava tão mais magra, estava com medo de machucá-la.

A enfermeira finalmente fechou a porta do quarto nos deixando a sós.

Ficamos nos olhando enquanto as lágrimas continuavam a cair, eu sorri enquanto chorava, Dulce fez o mesmo, começamos a rir aliviadas olhando-nos nos olhos e então ela encostou seus lábios nos meus e envolvemo-nos em um profundo beijo, segurei-a pela cintura pressionando nossos corpos, o beijo era intenso, era o reencontro, era a saudade, era a vontade, era o alívio, era o motivo de tudo, era eu, era ela, éramos nós. Somos nós, uma só.

___

Passaram-se algumas horas, nós estávamos deitadas em minha cama, Dulce passou suas mãos pelos meus braços e eu estremeci levemente, imediatamente ela me olhou espantada.

- O que é isso? –ela olhou para os hematomas nos meus braços. Seu pai...?

- Não, não, Dul. –eu sorri. O processo de desintoxicação é muito dolorido, eu que fiz.

- Any, isso está muito feio! –ela disse preocupada ainda olhando para as marcas. Você não passou nenhum remédio?

Ai, que saudade disso. Eu não pude evitar sorrir pela sua preocupação.

- Não, tudo bem. O médico daqui disse que logo passa, nas minhas pernas os hematomas estão piores.

Ela olhou em meus olhos cheia de remorso e pena.

- Me desculpe por não ter estado aqui.

Eu levei meu indicador à sua boca impedindo-a de falar.

- Você sempre esteve comigo. –falei num tom baixo aproximando meu rosto do seu.

Encostamos nossas testas, por alguns segundos permanecemos ali, fechei meus olhos e apenas escutei nossas respirações juntas.

Alguém abriu a porta bruscamente.

- Checagem. –era a enfermeira. Meninas?

Nós a olhamos.

- Isso não é motel, modos.

Então ela fechou a porta.

Elas sempre passavam de trinta em trinta minutos nos quartos para se assegurarem de que todas estão devidamente nos lugares.

- Idiota. –resmunguei ficando sentada na cama.

Dulce e ficou sentada do meu lado, ela colocou uma mecha do meu cabelo para trás, senti seus olhos no meu rosto e a olhei.

Não tinha como não sorrir em vê-la ali, estava comigo de novo. Eu respirei fundo e acariciei seu rosto, não queria pensar que logo ela teria que voltar para Indianápolis. Sorri tristemente e ela continuou me olhando.

- O que houve? –sussurrou colocando sua mão sobre minha perna com ternura.

- Não quero ficar longe de você de novo. –murmurei.

Senti-me muito egoísta logo após terminar a frase.

- Você não vai. –ela disse desviando o olhar.

Eu a olhei sem entender e ela permaneceu com o olhar triste no chão.

- Como assim? –perguntei aproximando nossos corpos.

- Eu consegui convencer os meus pais a ficar aqui por mais tempo.

- Sério? Mas e as aulas? Como você vai fazer? –perguntei eufórica.

Ela sorriu com a minha euforia.

- Eles me transferiram para um colégio daqui.

- Não acredito! –falei em um tom mais alto com um sorriso enorme nos lábios.

Eu levei minha mão à minha boca e Dul apenas concordou e eu a abracei com força.

- Eu te amo, eu te amo, eu te amo. –falei em seu ombro.

Só podia ser um sonho.

Dulce

Mentir para Anahí me fazia sentir um lixo, mas eu não podia contar-lhe a verdade. Eu não queria a deixar preocupada comigo agora, a internação já me parecia desgastante o suficiente para deixá-la sem forças, não posso fazer isso com ela.

Naquela noite dormi novamente no albergue, sonhei muito e descansei pouco. Na manhã seguinte tomei café na mesma cafeteria do dia anterior, enquanto estava sentada ali meu celular tocou. Olhei no visor era minha mãe.

Recusar.

Foi simples.

Nojenta, idiota. Nada do que ela tinha a me dizer me interessaria.

Anahí

- Como foi a visita de Dulce ontem?

Eu estava na consulta de Paul, eram cerca de 10h.

- Foi a melhor coisa que poderia acontecer. –senti minha expressão boba. Ela é tudo o que preciso.

- Conversei com ela alguns minutos antes da visita, entendo que seja o “seu farol”, como você mesma gosta de dizer, ela realmente te ama. –ele sorriu simpaticamente.

- Eu a amo também, a amo como nunca imaginei que poderia amar alguém.

- Entendo. –respondeu, apenas.

- Entende como é difícil para eu acreditar no amor e que Dulce fez isso possível?

Ele permaneceu quieto.

- Entende como após ter visto minha mãe partindo sem olhar para trás me deixando sozinha com um pai agressivo me deixou com ódio da vida, mas que Dulce surgiu de repente e me fez ter vontade de viver? Entende?

Ele assentiu sorrindo e eu apenas sorri em troca.

- Ela virá novamente? –perguntou.

- Hoje mesmo.

- Ótimo.

- Sim.

Após um tempo conversando eu resolvi falar sobre algumas coisas que pensei durante essa semana.

- Sabe Paul, quando eu sair daqui, não gostaria de voltar a morar com o meu pai, tinha vontade de começar a trabalhar e poder ter um lugar só meu para não ter que me deparar com ele todos os dias. Eu sei que isso é impossível, eu não tenho idade e ele não me emanciparia, e ainda tem a escola que eu preciso me formar, mas eu não vejo a hora de ter a minha vida longe dele, a minha vida junto com Dulce.

- É muito bonito isso de você querer ter a sua independência, Anahí, mas realmente é praticamente impossível. Eu tenho tentado trabalhar a agressividade do seu pai, mas existem pessoas que custam a se permitir mudar.

- Você acha que ele pode mudar?

- Acho.

- E você acha que eu ainda consigo olhar para ele como um pai de verdade? –minha pergunta já tinha uma resposta óbvia para mim, nunca.

- Isso poderia demorar bastante tempo.

- Na verdade nem sei se quero um pai, vivi tanto tempo sem um, não é agora que preciso.