Fanfic: Meus Punhos Vermelhos | Tema: True Detective
Afogando em areia,preso pelos pés em algo pesado e desconfortável. Minha mente entra em deriva quando penso em como vim parar aqui,no chão de um banheiro de beira de estrada,nariz sangrando e culpa nos punhos sujos de sangue.
Podia ser diferente,mas eu me conheço bem. Nem se fosse queimado vivo eu deixaria aquilo acontecer com a pobre garota e sua mãe. Talvez eu goste do cheiro desse sangue em minhas mãos enquanto escorre pelo ralo me fazendo lembrar como tudo isso começou.
O mesmo circo de merda vinha para a cidade todo ano,mesmo lugar,mesmas apresentações e os mesmos palhaços saídos da reabilitação por usarem drogas. Porra de lugar. Mesmo assim as pessoas lotavam os assentos e escutavam as mesmas piadas sem graça sobre obesidade e os dentes tortos de alguns caipiras da plateia.
Eu estava lá nesta noite de terça,fiquei desconfiado do porque tantas crianças desapareciam quando o circo chegava na cidade. Será que os filhos da puta levavam as crianças? E para o quê?
Fiquei até o final daquela tortura,perdi até as contas de quantos goles dei no cantil a cada piada de bosta que tentavam fazer,eu era a única pessoa que não esboçava nenhum sorriso. Até ver o cara do outro lado da tenda,vidrado na plateia não dando a mínima pro ``espetáculo``. Não podia culpá-lo por isso,mas o jeito que os olhos não piscavam era amedrontador,como os de uma serpente nas areias escaldantes do desertos pronta para atacar antes mesmo da ideia de correr aparecer na mente.
Um cheiro de morango apareceu no ar,um lindo sorriso com dentes brancos e afiados interrompeu a minha viagem.
--------- O humor deles só pioram certo? ---- Ela me disse segurando a mão de uma garotinha de mais ou menos 7 anos de idade com o mesmo sorriso da mãe.
--------- Fazer o que se o mau gosto é a única coisa que entra no cérebro de pudim deles. Fui áspero,minha cabeça já tinha virado bosta seca com as risadas exageradas da plateia.
--------- Ah entendo. ----- Ela disse achando graça. ----- Você também não é daqui,e ainda vai ter que aturar o show por 50 minutos,não chegou a parte em que jogam água em você.
Ela se virou e foi embora em passos calmos,a garotinha me olhou sobre os ombros e acenou,apenas virei e pensei ``Droga,o uísque do cantil acabou.``
Olhei para o relógio e apenas um minuto havia passado e várias pessoas ainda comiam pipoca e sorriam,Menos eu e o cara que estava... espera,onde ele foi. Ele não estava em nenhum lugar,fui para fora e aproveitei pra acender um cigarro,estou tentando parar de fumar mas a vida na polícia é uma grande bola de incerteza porque você nunca sabe quando vai poder foder com a puta mais cara da cidade de novo.
Foi nesse momento que vejo um carro sumindo no horizonte para longe desse buraco. Nada de mais até que vejo a fita de cabelo da garota no asfalto salpicado de sangue. No momento minha mente se transforma em uma tempestade de imagens do que poderia acontecer,faz até meu estômago embrulhar. Aquele ditado `` Tão perto e tão longe`` martela na minha cabeça. Mais que porra.
Agora estou apenas seguindo a estrada vazia.Como é possível aquela carroça ter sumido de vista,não consigo vê-la mais. Mas se eu estiver enganado e a fita não for da garota,se aquele homem for o pai dela ou algo assim? Mas o sangue na fita...não posso arriscar,oito crianças desaparecidas em apenas dois anos. Nenhum rastro do sequestrador,fui arrastado da minha cidade porque os policias daqui não tiveram colhoes pra resolver o caso.
Parei o carro lentamente na beira da estrada,uma ventania demoníaca passou pela estrada como se estivesse confirmando que eu estava certo. Então me vejo saindo do carro e descendo a ladeira lamacenta de baixo da estrada que deixa os meus sapatos novos irreconhecíveis,mas até esse pensamento parece irônico comparado a merda que tudo pode virar.
A luz de uma cabana a 20 metros não me deixa mentir,o carro parado na entrada é o mesmo que foi embora do circo mais cedo. Meu receio agora é que eu esteja certo e não consiga impedir...porra,porque essas imagens ficam fluindo na frente dos meus olhos e não me deixam pensar direito. Esse não será mais um caso não solucionado ou com as vitimas mortas no assoalho da sala. É ai que me escondo atrás de um arbusto procurando qualquer movimento na casa,mais parece uma casa fantasma dos seriados que a NBC empurra pra gente no horário nobre. Um grito gélido de uma mulher quebra o silêncio e faz os pelos do meu braço arrepiarem.
“ Te pequei filho da puta’’.
Corri até a porta e derrubei ela no chão,olhei para todos os lados e nada,apenas o completo vazio de uma cabana sem vida,mas o cheiro que pairava no ar não fazia parte daquele ambiente,era como torta de morango em meio ao chiqueiro. Corri por todos os cômodos e não encontrei nada,nem uma simples dica. Até o momento que pisei no tapete da cozinha e o piso rangeu,meus olhos saltitaram só de pensar no que poderia ser,retirei a merda do tapete e lá estava a porta de um alçapão escondido na cozinha. Desci cada degrau como se estivesse pisando em vidro com todo cuidado pra não fazer barulho,a porra do lugar era totalmente escuro e úmido,não enxergava um palmo em minha frente. Retirei a arma do coldre e acendi o isqueiro.
Inclinei o isqueiro e a vi a coisa mais aterrorizante da porra da minha vida,era parte de uma criança,era distinguir o ombro,uma parte do peito e o crânio bem deteriorado. O cheiro penetrou no meu nariz como uma carreira de cocaína,senti os ossos do meu corpo enfraquecerem. Dei três passos para trás sem controle algum sobre meu corpo,a cordinha da lâmpada do porão bateu bem no meu ombro e acendi a merda para ficar ainda mais assustador.
Pedaços dos corpos das 6 crianças espalhados por TODO o lugar,no chão,nas paredes como quando dinamite explode e espalha estilhaços pra todo lado,só que nesse caso era vísceras,braços,sangue e todas as outras porcarias que fazem parte do corpo humano. Nunca tinha vivido algo assim que fizesse a minha alma sangrar,tão pesado e denso ao mesmo tempo.
Meu isqueiro caía lentamente na medida que os meus joelhos tocavam no chão pegajoso. A dor nas costas veio em cheio quando senti uma forte batida atingindo em cheio minhas costas,o filho da puta fez minha arma parar longe quando me acertou com o pedaço de madeira. O imbecil tentou me acertar de novo,mas joguei um pedaço de intestino nos olhos dele. Aposto que ele não esperava por essa,dei um murro em sua cara e me joguei contra ele até atravessarmos uma cortina de plástico,o pedaço de madeira ficou para trás e fiquei por cima do canalha. Era o final da estrada,ele iria pagar por tudo que havia feito,agora só precisava saber onde estavam as...
Foi o maior choque da minha vida,senti um formigamento da ponta dos pés ao último fio de cabelo da cabeça ao ver os olhos vazios da menina sem vida em cima de uma mesa junto com a mãe também morta. Frias na mesa metálica.
Senti a porra da respiração acelerar,a droga do meu cérebro ter descolado da cabeça. Peguei a mesma faca que o desgraçado abriu as garotas em cima da mesa,olhei fundo nos olhos vazios do cara,ele sabia o que eu iria fazer,não tinha nenhuma expressão de arrependimento no seu rosto. Nada mesmo,então comecei a socar e socar a cara do filho da mãe sem parar. Não soltei a faca,continuei dando socos com a mão fechada sobre ela.
O Tempo movia devagar naquele momento,como uma chuva que você não sabe se vai parar ou continuar durante a noite toda. Quando minha mente finalmente clareou,ele já estava morto,corri para fora da cabana e subi a ladeira até o meu carro,pus a chave na ignição e me vi olhando para o vazio durante alguns segundos. Acelerei sem olhar para trás.
Dirigi,dirigi e parei nesse bar de beira de estrada,vim pra esse banheiro e parei em frente ao espelho. Me olhei e não me reconheci,um homem quebrado,que tentou salvar duas inocentes da morte mas ela chegou mais cedo pelas mãos de um doente pervertido. Os rostos e o adeus que a garotinha me deu ao sair do circo passou na frente dos meus olhos enquanto eu caía de costas no piso do banheiro.
E é aqui que estou,deitado no chão sujo de um banheiro de bar de estrada,com os punhos vermelhos de sangue com um único pensamento.
Quanto tempo vai levar até a policia chegar aqui e me levar preso?
Autor(a): zoztavares
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