Fanfics Brasil - 18 Amor, tatuagens e Rock N` Roll

Fanfic: Amor, tatuagens e Rock N` Roll | Tema: Guns N' Roses


Capítulo: 18

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É assim que eu gosto! Gritei, batendo com a mão na mesa.


Desci todo o jogo da minha mão para a mesa com uma cautela desnecessária, parecendo mais uma dança. Meu pai passou por nós e soltou uma risada.


Eu já falei pra vocês não jogarem buraco com ela, mas você não aprendem.


E por que você não joga com ela, Axl? Ron perguntou.


Porque eu não sou retardado mental. Meu pai disse e se sentou no sofá no canto oposto da sala de estar do ônibus, entre Dizzy e Frank. A gente precisa parar pra comer, então é melhor vocês darem uma olhada no GPS antes de reclamarem do restaurante.


Estiquei o braço para a lata de cerveja de Richard e dei um gole.


Não to com fome. Disse e tomei mais um gole, antes de pegar o baralho e começar a embaralhá-lo para uma nova partida.


– Lá vamos nós com essa história de novo... quantas vezes eu vou precisar dizer que você tem que comer direito?


E quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu já tenho dezoito anos, pai?


Você ainda tem dezessete. Frank disse tão baixo que eu quase não ouvi.


– Ah, cacete, faltam menos de quatro horas.


Tem um restaurante de comida japonesa daqui a treze quilômetros. Ron disse, com os olhos na tela do celular. Pode ser?


Não teve um ali que não deu de ombro. Nesse momento, Tommy e Chris começaram a subir a escada conversando alto, provavelmente estavam conversando com alguém do resto da equipe da banda, que ficavam no andar de baixo e, por ordens do meu pai, nunca iam para o andar de cima. Dei, mais uma vez, as cartas. Quando pegou o jogo, Ron olhou para mim com uma expressão nada satisfeita.


Você tá roubando, não tá? Ele perguntou, indignado.


Tommy passou por nós e deu uma olhada rápida na mão dele, riu e foi ajeitar o cabelo no espelho logo atrás de Ron. Terminamos a partida ao som de algum episódio de CSI: Miami. Quando o ônibus parou, senti meu estômago roncar e revirei os olhos.


Salvo pelo rango! Ron disse e abandonou as cartas na mesa. Cadê o DJ?


– Dormindo. Ele deve estar morto. Se animou demais no show de ontem.


– Alguém tem que ir lá acordar ele.


Eu vou! Levantei e me ofereci, ajuntando rapidamente as cartas na mesa. Podem ir indo. Eu vou guardar as cartas e já vou lá.


Vi um por um descendo as escadas antes de me encaminhar para a parte das camas do ônibus. Coloquei o baralho em cima da minha cama e me sentei, observando o peito dele subir e descer lento e calmamente. Sorri que nem criança e me ajoelhei ao lado da cama dele. Passei a mão pelos cabelos dele – oleosos, ele precisava lavar com urgência.


Daren. Chamei baixinho.


Ele sorriu, ainda de olhos fechados.


Você tá parecendo uma criança. Anda, vamos, parada pra comer.


Virei as costas achando de verdade que ele levantaria completamente disposto a me seguir, mas senti sua mão me segurando delicadamente pelo braço.


Me dá um segundo.


Ele se sentou na cama, a cabeça abaixada e as mãos nos joelhos. Sentei ao seu lado.


Você não é mais um garotinho, tem que pegar leve nesses shows.


Tá ok, Axl.


Daren levantou apertando os olhos, tonto, como se estivesse de ressaca. Levantei também e, com as mãos nos ombros dele, fui o empurrando na direção da saída do ônibus enquanto fingia massagear a área. Meu pai estava em pé, ao lado da mesa, tirando fotos com algumas pessoas e o resto dos caras autografavam, na sua maioria, guardanapos. Uma garota, um pouco mais velha que eu, veio quase correndo na nossa direção.


DJ Ashba! Ela gritou, eufórica. Nossa, eu adoro o seu trabalho, te acho incrivelmente talentoso e...


Não fiquei ali para escutar o resto. Sentei na mesa, ao lado de Richard, e apoiei meus cotovelos no tampão enquanto descansava minha cabeça nas minhas mãos.


Tá tudo bem, garota? Ele perguntou.


Você sabe que eu não gosto disso.


Richard, posso tirar uma foto com você? Um cara cabeludo e barbudo, parecido com Ron, perguntou atrás de nós.


Ele deu de ombros e se levantou simpático para atender ao pedido do desconhecido. Enquanto se preparava para tirar mais uma foto, meu pai olhou para mim e sorriu. Fiz o mesmo mas, pela cara dele, acho que forcei demais o sorriso. As coisas se aquietaram quando nossos pedidos chegaram. Um garçom japonês ou de qualquer outro lugar asiático começou a fazer malabarismos enquanto preparava uma porção de sushis. Eu comi por obrigação e para não ouvir meu pai reclamar de novo de que eu andava comendo pouco.


Algumas outras pessoas que entraram no restaurante após nossa chegada interromperam a refeição para tirar mais fotos e pegar mais autógrafos. Meu pai cumprimentou um motoqueiro que estava com uma blusa do Appetite for Destruction como se fossem velhos amigos. Assim que achei que já tinha comido o suficiente, pedi licença e saí do restaurante, voltando para o ônibus sem hesitar.


Tá tudo bem? Stephen, um dos roadies, me perguntou quando passei por ele para entrar no ônibus.


Eu apenas assenti. Subi, lavei meu rosto, escovei os dentes e deitei na cama depois de colocar o baralho na cama de cima, de sapato mesmo. Peguei meu celular, escondido como sempre no canto da cama. Dez horas da noite. Eu ainda demoraria e muito – para pegar no sono, infelizmente. Então levantei novamente, tomei um banho de, no máximo, três minutos e fui até o armário, caçar meu fone de ouvido. Enquanto me esticava para alcançar uma prateleira um pouco mais alta, senti que estava sendo observada. Eu me virei assustada. Daren estava em pé, de braços cruzados, na frente da escada.


Procurando isso? Ele disse, tirando o fone todo embolado do bolso de sua calça.


Andei até ele e peguei o fone, olhando para ele e imaginando o quanto seria complicado desembaraçar tudo.


Me dá o seu.


Por quê?


Porque eu não sou desembolar o meu, só por causa disso. Agora me diz onde tá o seu.


Eu arrebentei sem querer ontem, por isso peguei o seu hoje de manhã. Se quiser, eu arrumo ele pra você. Só me dá uns segundos.


Deixa pra lá.


Sentei no sofá e liguei a TV. Pelo canto do olho, vi Daren abrindo o frigobar e pegando uma long neck.


Pega uma pra mim também, por favor. Pedi.


Logo ele me entregou a cerveja e se sentou um pouco afastado de mim. Depois de uns cinco minutos de silêncio constrangedor, Richard e Tommy passaram por nós, indo em direção a área dos armários.


Tá tudo bem? Daren perguntou.


Tá sim. Respondi, sem tirar os olhos da televisão.


Nós dois sabíamos que não estava.


Na verdade, havia um tempo desde nada estava exatamente bem. Daren – no mundo inteiro, só eu o chamava assim – entrara para o Guns N` Roses em 2009 e a coisa, de início, foi bem infantil. Eu nunca havia frequentado a escola. Até os dezesseis, meu pai pagara um professor particular para me ensinar tudo o que eu deveria saber se fosse formado no ensino médio. Mas imagino que o que senti por Daren nos primeiros meses dele com a banda foi parecido com aquela velha história da aluna se apaixonar pelo professor.


Eu tinha treze anos na época. A única coisa que me diferenciava – e muito – de qualquer outra garota da minha idade era que eu já não tinha mais inocência. Quer dizer, quando eu tinha oito anos de idade, eu já sabia o que Buckethead – cujo nome verdadeiro era Brian, mas ninguém jamais se sentira íntimo o suficiente para chamá-lo assim – fazia com as mulheres de roupas indecentendes no andar de baixo do antigo ônibus da turnê. Então eu sabia que talvez minha puberdade não fosse ser lá muito bem recebida naquela situação.


Mas então eu estava lá, com Daren, me sentindo finalmente uma garotinha normal se apaixonando por um cara que era vinte e três anos e meio mais velho que eu. Só que houve um problema que agravou tudo. A genética ou sabe-se lá o quê – culpe quem quiser – me fez crescer de uma hora para a outra entre os treze e quinze anos. Com quinze, eu já tinha corpo de mulher crescida. A partir de então, Daren passou a me olhar com outros olhos e a coisa toda saiu do controle.


Eu realmente considerava todos os outros membros da banda como meus tios. Richard e Ron eram, sem dúvidas, meu preferidos. Eu nunca soube dizer o real motivo, mas eu os amava demais e, de certa forma, até considerava-os como meus segundos pais – e eles eram bons nissos. Frank era muito amigo do meu pai e, talvez por respeito a ele, me tratasse com tanto carinho. Chris, Dizzy e Tommy eram mais na deles. Nós só nos víamos mesmo durante as atividades da banda – e olhe lá! Não que eles me tratassem mal. De forma alguma! Sempre me respeitaram e tudo mais, só parecia que evitavam se “apegar” muito. E então tinha Daren que... Bem, Daren era o Daren.


Nunca soube de verdade porque o sentimento virou o que virou, mas Daren começou a gostar de mim. Gostar mesmo, não era simplesmente olhar para mim e querer me levar para a cama. Eu percebi isso perto dos meus dezesseis. Uma bela noite, durante as férias raras que tínhamos, meu pai disse que ia levar uma mulher para casa e não me queria lá – sim, ele era extremamente sincero comigo em todos os sentidos. Daren morava perto. Arrumei uma mochila e fui. Passamos quase a noite inteira sentados à beira da piscina dele, tocando violão, uma façanha que eu havia aprendido com o tempo e a convivência com a banda. Foi durante uma das músicas, mais especificamente a minha Sweet Child O` Mine, que Daren olhou profundamente nos meus olhos enquanto cantava e tocava a música que meu pai havia composto para mim antes mesmo que eu começasse a andar. Eu me perdi na imensidão azul de seus olhos. Devo ter ficado mais de um minuto parada, boquiaberta. Quando percebi o que estava acontecendo, larguei o violão lá, corri para dentro de casa e, tomando minha mochila, saí sem me despedir.


Ron me buscou no portão da casa aquela noite e eu fiquei com ele. Não lembro exatamente qual desculpa eu dei para o acontecimento, mas não contei a verdade. E nunca contaria a ninguém, ou ao menos isso era o que eu esperava. A questão é que – claro, com a exceção do trio de Tommy, Chris e Dizzy – as pessoas que estavam a nossa volta começaram a notar que as coisas estavam diferentes. Minha primeira desculpa foi que minha relação com ele era semelhante à que eu tinha com Ron e Richard. Idiotice minha, porque não era. E não era mesmo. Mas, como eu me mostrei completamente desconfortável com o assunto na única vez que me questionaram, todo mundo aceitou minha desculpa.


O tempo trouxe todo tipo de situação desconfortável antes de nós dois aprendermos a lidar com o que estava acontecendo com a gente. Por exemplo, em um vídeo de uma música, meu pai sugeriu aleatoriamente que eu fizesse par romântico com Daren. Algumas vezes, nós trocávamos olhares ou sorrisos íntimos por tempo demais e um ou outro acabava com as bochechas coradas. Nós nos aproximamos mais, talvez propositalmente.


Uma bela noite, um ano depois do momento constrangedor na casa de Daren, nós éramos os únicos acordados dentro do ônibus, sentados na sala assistindo De Volta Para o Futuro. Era a primeira noite da turnê de sete meses na América do Norte. Daren chegou mais perto de mim e pegou na minha mão.


Quando vamos conversar sobre isso? Ele sussurrou.


Fechei os olhos e respirei fundo.


Não sei. Disse, negando com a cabeça.


Olha pra mim, por favor.


Eu encarei os mesmos olhos azuis que me hipnotizaram anteriormente.


Você sabe que eu gosto mesmo de você, não sabe? Ele perguntou. To falando de gostar de verdade. Eu sei que é complicado e nem sei se existe uma solução pra isso. Acho até que não é permitido pela lei. Mas eu só queria que você soubesse que é de verdade o que eu sinto, mesmo que eu ainda não saiba explicar.


Eu também. Respondi.


Você também o que?


Eu também sei que é complicado.


Ele deu um sorriso triste e se ajeitou no sofá, virando-se de volta para a TV mas ainda mantendo minha mão na sua. De repente, cada respiração, cada ruído, tudo se tornou extremamente mais detalhado, como se eu tivesse aberto mais os olhos e os ouvidos.


Sonhei com esse momento na noite após a histeria de fans no restaurante japonês. Acordei quando Tommy, sem querer, derrubou um copo.


Desculpa, Gabby! Ele disse com cara de assustado. Eu tentei não fazer barulho. Escorregou. Desculpa.


Esfreguei os olhos e me espreguicei. Minha coluna estava doendo muito.


Não tem problema, tá tudo bem.


Levantei e olhei para os corredores.


Cadê todo mundo? Perguntei.


Já tão dentro do Madison Square Garden. Eu to indo pra lá agora fazer a passagem de som. Se quiser, posso te esperar.


Eu adoraria. Me dá só um segundo pra eu me trocar?


Eu to aqui ainda! Daren disse, a voz vindo da direção do banheiro. Eu levo ela.


Tem certeza?Tommy perguntou, sussurrando.


Tenho sim. Obrigada.


Ele assentiu e desceu as escadas animado com o último show da turnê. Fui até os armários e só me preocupei em trocar a blusa rapidamente antes que Daren saísse do banheiro. Olhei para o espelho e ri. Lembrava como se fosse ontem, um jornal publicando sobre meu estilo de roupas. “Gabby Roses foi vista...”. Era de fato um sobrenome poderoso. Eu estava pegando uma blusa de manga comprida fina para levar quando senti uma respiração na minha nuca.


Fala. Disse sem me virar, terminando o que estava fazendo.


Só queria te dar parabéns em primeira mão. Você acordou agora e não ouvi nada vir do Tommy. Ele disse e eu me virei finalmente. Então queria saber se posso te dar um abraço ou não.


Por quê isso?


Quer mesmo saber?


Se eu perguntei...


É porque agora eu não vou ser preso se fizer uma coisa. Ele disse e, acariciando a lateral do meu rosto, se aproximou lentamente e depositou um beijo nos meus lábios.


Levei em torno de trinta segundos para começar a retribuir. Atraímos olhares estranhos quando saímos do ônibus com caras de sono e as bocas extremamente vermelhas. Daren acenou para alguns fãs. Ouvi alguém gritar “parabéns, Gabby” dos poucos fãs que ficaram para ver a banda chegar. Sorri e acenei, algo que eu nem costumava fazer.


O show daquela noite foi incrível, sem mais. Eu já havia visto milhares de shows do Guns, mas aquela noite foi obviamente especial. Meu pai fez o público de mais de dezoito mil pessoas cantarem “parabéns” para mim. Mesmo isso sendo totalmente incrível, eu só tinha olhos para o segundo guitarrista solo e sua performance inacreditavelmente bela. Ou eu estava afetada pelo seu beijo ainda?



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Autor(a): elleirbag96

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