Era bom saber que ela tinha se divertido, mas na realidade eu ainda estava com dúvidas se ela ainda iria querer me ver novamente.
No caminho de volta até o apartamento dela ela não falou muito. Fez um comentário ou outro sobre o jogo e nada mais.
Desci com ela do carro para poder deixa-la literalmente na porta. Isso porque eu teria que me empenhar muito mais, se quisesse realmente que essa mulher me levasse a sério. E como desistir dela estava fora de cogitação, mesmo que ela tivesse se divertido com o jogo, eu sabia que teria que me empenhar muito, mas muito mais:
- Então... - Eu disse, na esperança de que ela abaixasse a guarda pelo menos um pouquinho.
- Então? - Ela ergueu uma sobrancelha.
- Acho que eu ganhei o direito de te ver de novo! - Ela suspirou de maneira não muito contente.
- Eu não achei que esse encontro daria certo, mas deu... - Ela começou. - Eu pensei mesmo que fosse me livrar de você essa noite. Agora não sei o que fazer...
- Ah... Então você tinha certeza que eu seria um fracasso? É isso? Muito obrigado pela parte que me toca. - Eu disse tentando parecer irônico, mas no fundo realmente estava chateado.
- Não é isso... Eu só. - Ela fez uma pausa. - Eu só não achei que fosse dar certo. Não por você, ou por mim, mas por nós dois.
- Você acha que somos um desastre juntos. - Não foi uma pergunta.
- Acho... - Ela respondeu mesmo assim.
- Então você continua achando melhor a gente não se ver mais? - Agora foi uma pergunta.
- Também acho.
- Acho que vou ter que sumir da sua vida então. - Afinal eu disse que se mesmo depois de sair comigo ela não quisesse mais me ver, eu sumiria.
- Acho que não! - O quê? Agora eu tinha ficado confuso de verdade. Será que ela queria me enlouquecer?
- Você ACHA que não?
- Eu gostei dessa noite, poderíamos ter mais noites como essa.
- Eu... - Tentei falar, mas ela me interrompeu.
- Mas dessa vez faremos um acordo diferente. E dessa vez, você vai seguir o acordo direitinho. Vamos acertar alguns pontos e ver se funciona pelo menos por um tempo.
- Por um tempo parece bom. - Sorri.
- Você e eu não somos namorados...
- Não...
- Eu não vou conhecer seus amigos e nem você os meus...
- Não... - Mas ela já conhecia o Mike.
- Família muito menos...
- Eu nem pensaria em te apresentar à eles... - Comentei divertido.
- É sério! E nada de sustos, como o seu falso acidente...
- Peço perdão por isso, fui imaturo...
- Você não vai aparecer no meu trabalho, nem se quer na frente dele, nunca mais...
- Nunquinha... - Ela falava muito séria, eu apenas achava graça daquilo.
- Você não vai aparecer na minha casa sem ser convidado...
- Jamais faria isso...
- Sair só se for para lugares em que ninguém nos conheça, e sem demonstrações publicas de afeto... - Ela estava se referindo ao beijo no intervalo do jogo.
- Entendi...
- Não seremos exclusivos... - Agora a graça tinha acabado.
- Não! Não e não! - Bufei.
- Por que não? - Ela perguntou confusa.
- Porque... Porque não! Eu aceito tudo isso ai que você propôs, mas isso não!
- Eu não te entendo!
- Não me importa se você entende ou não. Eu aceitei tudo o que você disse. Disse sim para todas as suas exigências, mesmo achando absurdo, então você vai ter que abrir pelo menos essa exceção para mim. Seremos exclusivos! - O queixo dela caiu.
- Eu estou te propondo o melhor dos dois mundos. Qual o seu problema?
- O MEU PROBLEMA? - A cena já estava feita no meio da calçada. - Você acha o que? Que eu vou ficar te esperando enquanto você tem encontros com barmans? - Ela riu.
- NÃO SEJA FROUXO, ALFONSO! Parece uma mulherzinha falando. - Parei pra pensar. Parecia mesmo. - Você também pode ter encontros.
- F#da-se! Seremos exclusivos! - Ela bufou, visivelmente nervosa.
- Você é impossível!
- Eu não gosto de dividir o que é meu por ai...
- E quem disse que eu sou sua?
- Ah você é! Eu ainda não sei em que nível, nem o nome desse "relacionamento" estranho, mas se você esta propondo tudo isso para que a gente continue vendo um ao outro, é porque de alguma forma você é.
- Ok. - Ela abaixou o tom da voz. - Você venceu. Seremos exclusivos. - Contente ela não estava... não mesmo. Mas eu tinha conseguido uma concessão da parte dela. Me senti vitorioso.
- Ótimo. - Abri um sorriso amarelo e estendi a mão para ela apertar. Era outro acordo que tinha tudo para fracassar, e eu sabia disso.
- Certo. - Ela apertou minha mão fechando o acordo. Eu puxei sua mão e a beijei, um jeito muito melhor se selar qualquer acordo.
- Você quer subir? - Colando a boca em seu ouvido eu sussurrei...
- Você não vai pra cama no primeiro encontro, lembra?
- Também não abro exceções e nem convido homens para ir na minha casa. - Ela respondeu no mesmo tom.
Entendi ai, que apesar de não parecer, ela estava abrindo várias exceções por minha causa. Sair comigo mesmo acreditando que não daria certo, aceitar continuar me vendo mesmo acreditando que seria melhor nos afastarmos, sermos exclusivos mesmo não querendo, tinha se envolvido comigo na noite em que nos conhecemos e agora estava me chamando para subir até seu apartamento, mesmo que nunca tivesse feito o mesmo convite para outros caras. Me senti muito melhor pensando sobre tudo isso....
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