Fanfics Brasil - Ela. Dificuldades. Aos Contrários

Fanfic: Aos Contrários | Tema: Original ainda


Capítulo: Ela. Dificuldades.

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Procurei mais uma vez pela casa toda mas meu pai não estava em lugar algum. Minha teoria que ele está desmaiado em algum lugar, mais precisamente em um bar ainda está intacta. Procuro não pensar muito nisso, não é a primeira vez que ele passa a noite fora e no dia seguinte aparece sem dar nenhuma explicação. Ainda estava chovendo muito e me peguei torcendo que ele estivesse dentro do bar pra variar, onde teria um sob sua cabeça para dormir.
Tive uma vontade súbita de ouvir alguma música, não sei, para tirar um pouco de estresse. Eu fui caminhando até o rádio, na ponta da minha minúscula sala de estar, depois de ligado eu reconheci a música quase que imediatamente, era Fast Car de Tracy Chapman. Que música triste, mas queria ter essa coragem toda. Aparentemente, fala sobre uma garota que foge de casa com o namorado e deixa toda os problemas e bagunça da vida pra trás, ela recomeça uma vida com esse, suposto namorado. Eu admiro muito a personagem da música, é como uma história. Eu sentei no chão, ao lado do criado mudo no qual o rádio estava descansado. Continuei prestando atenção na música, encostando minha cabeça na parede a qual eu estava encostada. Fechei meus olhos, abracei meus joelhos e deixei a música preencher o silêncio.


"You see my old man`s got a problem, he live with the bottle that`s the way it is...`


(*Sabe, meu velho tem um problema, ele vive com uma garrafa, é o jeito dele...)


 Eu dei um sorrisinho ao ouvir esse verso, sem abrir meus olhos. Que ironia. Eu e essa música temos muito em comum, na música a mãe da garota também deixa a família e o pai também é alcóolatra. A diferença é que minha mãe não largou meu pai por ser alcóolatra, meu pai virou alcóolatra por causa da minha mãe o deixar. Ironias costumam ser engraçadas, mas essa é de todos os lados possíveis triste. Me senti muito íntima da velha Tracy, era como se ela estivesse cantando do meu lado e me contando uma história. Fiquei com vontade de pegar meu violão e compor uma música só para poder cantar para a Tracy e devolver o favor.


"You got a fast car but is it fast enough so you can fly away? You gotta make a decision: you leave tonight or live and die this way"


(*Você tem que se decidir, partimos hoje à noite ou morreremos assim).


Eu abri meus olhos ao final desse verso.  
Foi um soco na minha barriga. Era como se ela estivesse, genuinamente, perguntando pra mim: você vai embora e vive a vida ou fica e vive cuidando da vida dos outros? No caso, do meu pai problemático. Era assim que eu queria viver, provavelmente, pelo resto da vida? Eu tinha a opção de ir quando eu quisesse, internaria meu pai numa clínica e iria embora pra nunca mais voltar. 
Mesmo assim. Eu me recuso, ele é meu pai, sem ele eu não estaria aqui, ele me deu a vida. Eu preciso cuidar dele. É meu dever.
Uma outra música da Tracy começou a tocar, bem na hora o telefone tocou, eu me levantei rapidamente para atendê-lo.


-Fica ai Tracy, não pare de cantar. - falei para o rádio.


Atravessei a sala, o telefone ficava em cima da TV, literalmente, não “à cima” mas “em cima”. Sim, ridículo. Ela era quadradona, àquelas tevês de tubo enormes que são tão espessas que dá para colocar um caixa em cima. Alcancei o telefone e atendi.


-Alô?


-Alo. Filha? Você, você está em casa?


-Não pai, estou a quilômetros de distância. Que pergunta boba. Hahahaha - eu achei engraçado de verdade, só para constar.


-Sim, claro, escute atentamente, eu não tenho muito tempo. Você tem que vir aqui.


Ele estava com a voz rouca e cansada. Aqui onde? Eu escutei atentamente tudo o que ele disse. Só não aceitei muito bem. Ele falou, com a voz trêmula, que estava na cadeia e tinha direito à uma única ligação para pedir ajuda. Ele queria que eu fosse lá imediatamente. Eu pedi mais explicações mas ele disse que o tempo era limitado e que me explicaria tudo quando eu chegasse. Eu disse, com a voz mais dura que consegui que estava a caminho. Eu queria que ele estivesse mentindo. É difícil eu não ter resposta pra algo. Eu não tinha como me preparar para aquilo, mesmo que não fosse tão distante da nossa realidade, era só uma questão de tempo até que acontecesse, eu só espero que não seja permanente. A chuva não tinha parado lá fora, mas, pra mim, estava dez vezes pior.


Cheguei na delegacia. Pedi informação a um homem fardado e ele já me levou diretamente à uma sala, não muito diferente de qualquer sala de espera, mas o detalhe de ter seguranças com armas de fogo e caras mal encarados esperando dar explicações para a polícia e serem liberados. O homem farado me mandou esperar ali e assim eu fiz só não sentei, eu estava muito inquieta. Eu tenho que relaxar, não posso resolver nada com a cabeça cheia. Decidi sentar e conversar com as pessoas na sala. Não tinha muita gente, uns 5 caras e uma mulher que parecia mais máscula do que muitos outros homens. Todos algemados esperando. Optei em conversar com a mulher. Ela era meio assustadora, era super musculosa e parruda e, mesmo sentada, julguei que ela deveria ser enorme em pé. Ela tinha tatuagens no corpo inteiro, até na casa. Não julgar o livro pela capa, esse é meu lema, talvez ela seja Juíza ou Médica, nunca se sabe.


 


-Essa sala tem um clima bem tenso, não é?


Eu falei, desenrolada como sempre. Não quero que ela ache que tem que ser reservada ao falar comigo.


-Está falando comigo princesinha? - ela falou, uma voz grossa e áspera saiu da boca dela. Não vou me intimidar. Ela provavelmente estava com medo daqui, ou era a voz natural dela.


 


-Uhum. Eu estou esperando meu pai. Ele se meteu numa encrenca danada, só não sei exatamente com o que. Espero que não tenha sido nada grave.


-Olha bonequinha, vou te dar 5 segundos para dar meia volta ou vou te enforcar com essas algemas. - foi um tom bem sério e ameaçador, eu acho que ela não está brincando. E eu pensando que conseguia fazer amizade com qualquer pessoa e também acho que molhei as calças.


-O..okay, como quiser. - eu me levantei, com as pernas meio bambas, eu nunca tinha sido ameaçada antes, tá bem, só quatro vezes.
Olhe pros braços dela de relance e percebi um desenho em especial destacado naquele rio de tatuagens em todo o corpo dela: Tinker Bell


MEN-TI-RA


-Você gosta da Tinker Bell também?! – eu gritei, estupefata. Sabe como é difícil achar um adulto que curte filmes de fadas por aqui? Acho que não.


Ela olhou pra mim com um olhar mal encarado, já me fuzilando com o olhar, já que estava algemada e sob supervisão dos guardas e não poderia me estrangular manualmente. Mas, assim que ela entendeu o que eu disse falou.


-Algum problema com isso?


-De maneira alguma, eu adoro! É uma das minhas séries de filmes favorito! – eu agarrei a mão dela com as minhas. Eu costumo fazer isso quando me empolgo. - Eu adoro o segundo filme! Onde ela viaja com o Terence e o vaga-lume tocha para achar o tesouro para restaurar a pedra lunar! Ai, como eu chorei no final! – A expressão mortal dela aos poucos sumiu quando ela viu que eu não estava zombando dela e que eu era uma fã genuína.


-Você viu todos os filmes, mesmo?  - ela falou, afastando as minhas mãos da dela.


-Sim, sim! Eu fazia parte do fã clube oficial, eu tinha até o cartãozinho, mas eu perdi, que azar. – me lembrei desse triste caso. Tinha o nome clube mas não era nada demais, não havia encontros nem nada. Você só encomendava um cartão, no site oficial, alegando que é um fã e te mandam pelo correio, mas mesmo assim! Ainda era triste eu ter perdido!


-Hum...você...você acha que esse fã clube ainda existe? - ela falou com a voz baixa e relutante, mas ainda com um tom grosso e do mal. Como eu suspeitava, era a voz dela normal.


 


Continuamos a falar sobre a Tink e o refúgio das fadas e aos poucos a mulher que era quase duas vezes maior do que eu, virou uma entusiasta fã de desenhos infantis. O resto dos caras mal encarados da sala de espera aos poucos se juntaram à conversa e falaram sobre suas infâncias, chegamos a esse assunto aos poucos. Rolou alguns maus entendidos e discursões, mas no final acabou tudo bem. Era o jeito deles de se comunicar.


-E foi naquele dia, pessoal, naquele dia eu disse: Bruxas existem. Assim como o Pé-Grande. - falou um dos homens brutamontes.


-Papai Noel também, e quem disser o contrário eu arranco-lhe os dentes com um soco!


-Seria mais produtivo não, Garra-de-Aço.
 


Eu disse, advertindo-o. Garra-de-Aço era um homem musculoso, com cara de motociclista, sabe, bigode e cabelos longos. Ele tinha uma cicatriz bem longa indo do olho até o queixo, parecia corte de faca.
Todos nós já havíamos nos apresentado. Tinha o Garra-de-Aço, Demolidor, J.J Killer, minha parceira de fadas: Soul, e o Larry, o cara mais assustador de todos, ele era cego, mas sabia onde todos estávamos.


-Por favor, me chame de Estevão, querida. – Garra-de-Aço falou, com uma voz amável e paternal.


-Com prazer, Estevão. – eu dei um sorriso simpático


-Quer saber, me chame de Eugine. – Demolidor se manifestou.


Depois todos fizeram isso, me chame de Kevin, Jimmy, Marry e o Larry disse que esse era o nome dele mesmo. Ficamos todos amigos bem rápido, antes que eu percebesse, estávamos lá por duas horas. Até me esqueci porque estava lá.


-Ei Princesa, lhe considero uma amiga valiosa. Você nos tratou como pessoas hoje, quer saber, se tiver problema com alguém pode falar comigo que eu terei uma conversinha com essa pessoa. – disse, estralando os dedos, J.J Killer, ou melhor, Kevin. Ele era do meu tamanho mais ou menos, eu tinha 1,61. Posso dizer porque ele estava de pé, encostado na parede, de braços cruzados. Ele era careca, mas tinha barba longa e áspera, parecia palha de aço prata, sei lá.


-Verdade, meu bem, pode contar comigo também – disse Demolidor-vulgo-Eugine, seguido de Jimmy, Marry e um aceno do Larry. Eu só não entendi muito bem por que tantas pessoas para conversar com uma.


-Que é isso gente, não precisa de tanta gente para conversar com a pessoa na qual temos problemas. Eu não sou tímida, mas obrigada pela gentiliza.


Todos riram daquilo, não entendi bem porquê. Eu disse algo estranho? 
Três hora depois, eu fui chamada para explicarem a situação do meu pai, eles lamentaram a demora mas não foram avisados de que eu cheguei por causa de uma confusão com o guarda ou algo assim. Preenchi uns papéis e meu pai foi liberado. Eles explicaram que meu pai se meteu numa briga de bar. Acabou que o dono do bar, como testemunha, falou que foi legítima defesa, mas não há dúvidas que meu velho pai bebeu. Muito.


A volta pra casa foi um silêncio destruidor. Eu estava com raiva dele. Ele não queria dar a mínima satisfação. Nem tentou falar comigo depois que entramos no carro. Era como se eu nem estivesse lá. Não mostrava o mínimo sinal de arrependimento.


 


-Não foi legítima defesa, não é? - eu perguntei. Eu tive esse momento de realização mais eu esperei que ele negasse.


-Continue dirigindo. Não fale mais. Já acabou. – ele falou, curto e grosso.


 


Foi o que eu fiz. 


 


Na manhã seguinte, como se já não bastasse o que passamos no dia anterior, ele estava queimando em febre e eu tive que passar o dia com ele no hospital. Eu liguei pro Ian dizer que não iria hoje por motivos pessoas, mas que estava tudo bem.
Meu pai foi internado, por recomendação da médica, ela achava que não era uma simples febre e que queria ficar de olho. Meu pai teve de fazer série de exames e eu estava esperando sair alguma coisa. Preferi ficar na sala de espera para família de pacientes internados. Era uma sala aconchegante, tinha sofá, TV, poltronas mais afastadas para pessoas que, obviamente, queriam ficar afastadas. Tinha vista para o jardim do Hospital, eu optei por levar uma cadeira para a janela e ter bom proveito para a vista.


Mesmo assim eu tinha a vista, conforto, mas não tinha o mais importante: Alguém para compartilhar. Eu me sentia sozinha, sem ninguém para dividir a dor ou aliviá-la. Eu precisava ouvir uma voz amiga. Um tapinha nas costas dizendo que eu estava fazendo meu melhor e que deveria continuar firme.

Eu peguei meu celular e liguei pra Sammy, mas ela não atendeu. Se eu não falasse com alguém conhecido eu acho que iria morrer. Eu tinha duas opções, sossegar ou fazer besteira. Optei por escolher a segunda opção, ou melhor, ligar pra ela.


-Alo?


-Oi. - não consegui achar entusiasmo para colocar no Oi. Mas ouvir uma voz familiar me deixou melhor.


-Ah! Essa voz, eu reconheceria até debaixo d`água. Era um número desconhecido por isso eu demorei para atender. Mas é você. Er.. Como vai? Não aguentou de tanto sentir minha falta? Haha. Brincadeira.


 


-Eu sei dizer quando você está brincando Tobby e não é esse o caso. - . Eu não sei se foi uma boa ideia ligar pra ele, não quero que ele tenha ideias estranhas.


 


-De todo jeito. Como você está? Tem alguma coisa para falar? Não nos vemos à um tempo não é? Meses, talvez. É muito tempo. Pra pensar também.


Ele disse isso com alguma esperança na voz e certo nervosismo. Talvez achando que eu iria voltar atrás na decisão de terminar o namoro. Ele nunca desistiu de mim. Eu ligar pra ele dele ter feito as esperanças aumentarem, eu sou uma pessoa terrível, como posso fazer isso com ele? Não foi uma boa ideia, definitivamente.


 


-Não, não tenho nada pra dizer. Olha, quer saber. Desculpa Tobby, foi um erro, eu não deveria ter ligado, eu não sei o que estou fazendo, eu não sei de mais nada.


Ele disse alguma coisa, mas o cortei desligando o celular na cara dele. Eu estava tão cansada que não estava pensando direito nas minhas ações. É só uma questão de tempo até ele ir parar na minha casa e exigir alguma explicação, depois ele vai tentar me conquistar de novo. Eu não aguento mais isso. Eu quero descansar mas ao mesmo tempo não quero. Meu pai desmaiou no caminho do hospital e está descansando agora, eu não sei quando os exames vão chegar e sou eu quem vou recebe-los. Eu sei que meu pai vai ficar internado o dia todo amanhã também e quero ficar aqui o tempo inteiro com ele, mesmo que não seja nada.

 Tobby ligou pelo menos umas 6 vezes hoje, não direto, em horários diferentes. 
Isso me faz pensar em como nos conhecemos, realmente temos uma história juntos por isso a insistência de achar que temos, obrigatoriamente, ter um futuro. Ele foi meu primeiro namorado e único também, foi uma boa e despreocupada época e, mesmo que Tobby esteja me dando nos nervos hoje, vou guardar essa época em que estávamos apaixonados com todo o coração. Foram dias inesquecíveis. 


Nos conhecemos no meu primeiro ano do ensino médio. Eu não conhecia praticamente ninguém e estava ansiosa para fazer novos amigos, Sammy veio comigo para essa escola, somos amigas desde criança. Na escola havia aulas extra curriculares, não eram obrigatórias, mas eu me interessei nas aulas de música e me inscrevi. Eu já tocava violão e praticamente todos os instrumentos de cordas mas foi na aula de música que aprendi a tocar piano. Na semana seguinte as aulas extras começaram e eu fui apressada para a sala de música, eu sabia só começavam uma hora depois, mas eu queria ser a primeira a chegar. Quando eu entrei havia um rapaz com um violão no colo, segurando meio desajeitado o pobre instrumento. Era Tobby. Passamos essa hora, antes da aula, conversando e de cara nos demos muito bem. As aulas extras eram todos os dias então sempre nos encontrávamos no mesmo horário, os primeiros a chegar e os últimos a sair. Eu ia correndo, claro. Não sei quanto à ele. Éramos nós dois do primeiro ano mas ele era da classe C e eu da A. Nos aproximamos aos poucos. Acabou que ele começou a fazer parte do meu ciclo de amigos especiais que só havia um membro até agora, que era a Sammy. Eu consegui fazer amizade com praticamente todo mundo da escola, eu era conhecida até. Não era popular nem nada, só adorava falar com todo mundo.
Eu e Tobby e Sammy sempre saíamos juntos pra todo lugar, aconteceu uma vez de eu estar conversando com uma mãe , junto com seus filhos pequenos, numa fila de cinema e, falando sobre família, ela perguntou se erámos irmãos, eu Tobby e Sammy, a Sammy falou por mim e disse que não, mas que eu e Tobby éramos mais unidos que irmãos, pois estávamos namorando. O coitado do Tobby, que estava bebendo um gole de água numa garrava se engasgou. Não estávamos namorando ainda, mas aquilo me deixou muito feliz. Eu comecei a pensar nele de um jeito diferente depois desse dia, eu comecei a me apaixonar por pequenas coisas dele todo dia. Como ele tinha a mania de abri e fechar algum zíper, como da mochila ou do casaco, como quando ele me comprava leite de morango de uma máquina de bebidas todos os dias, como o som do espirro dele. Um ano depois eu o pedi em namoro. Foi discreto. Eu escrevi um bilhete na hora da aula de música, o enrolei como uma bolinha de papel e joguei pra ele.


"Você quer ser o Sr.Sprout?" (Meu sobrenome, aliás)


Eu observei enquanto ele ria do meu bilhete. Ele olhou pra mim e acenou com a cabeça.
Acabou que ele me disse que ia me pedir em namoro naquele mesmo dia. Só pode ser o destino!


Foi um dia super feliz, ele tentou me beijar algumas vezes mas eu não estrava psicologicamente preparada pra isso. Nos beijamos uma semana depois, sim, demorou isso tudo, eu estava com medo de errar já que era meu primeiro beijo, eu tinha uma opinião própria e bem forte que deveria ter um curso profissionalizante de como beijar alguém, para iniciantes. Eu até conversei com a Sammy sobre isso, na hora do intervalo da escola. Estávamos na sala de aula, ela estava sentada em seu lugar devido e eu estava sentada eu uma das mesinhas que eram conjuntas com a cadeira do estudante.


-Mas, Sammy, e se eu morrer? - eu falei, em minha inocência. Quem poderia me culpar? Vai que acontecia.


-Como você vai morrer beijando alguém, sua louca? - ela estava com um sorriso divertido, o chiclete que ela estava mascando quase caía. Me lembro que ela tinha cabelo curto naquele tempo, mas sempre foi liso e louro.


 -Quando eu for beijar ele, como eu vou respirar? Eu vi nos filmes o pessoal fica com a boca coberta com a boca do outro e o nariz não tem muito espaço pra pegar ar. Se eu morrer sufocada?


 


-Hahahahaha, só você mesmo para pensar nessas coisas. 


-Mas é sério, e também onde eu ponho minhas mãos? Eu coloco nos ombros dele? Nos meus bolsos? Ai, que coisa complicada. Exijo uma faculdade especializadas em beijo, agora!


Sammy colocou a mão no me ombro e tentou me acalmar, mas ainda estava se divertindo com a minha ideia maluca.


-Gata, você está pirando. Calma, antes de tirar conclusões precipitadas vai lá tirar a prova, se você pensar nessas coisas, tipo, morrer ou não souber onde colocar a mão ou fazer qualquer coisa que passe pela sua cabeça de vento, pense o seguinte: 



Ela parou ergueu o dedo indicador e o deixou assim. A frase ficou no hiato.


-O que? Pensar o que? – eu falei, querendo que ela recuperasse o pensamento


-Isso aí! Não pense em nada. Vai de cabeça! Chega no seu gato e enfia a língua na boca dele!


-Que nojo, Sammy! Só você para fazer essas coisas de língua, eu hein.


-Am? Espera. Você acha que não se usa a língua?


-Claro que não se usa, que nojo. Cruzes. - 


Eu fiz um sinal de crus com meus dedos indicadores


-J., você ta perdida.


 


Acabou que não foi nada do que eu pensei, não foi complicado. Foi perfeito. Ele me beijou em frente à porta da minha casa. 
Aconteceu e tudo pareceu exatamente como teve que ser. E, se quer saber, pus minhas mãos no peito dele.
O beijo francês, um jeito mais simples e menos feio de dizer "beijo de língua" foram semanas depois, eu falei dessa “ideia absurdo” que a Sammy falou sobre enfiar a íngua na boca do outro e o Tobby quase que morre de rir. Ele disse que não era invenção e que aquilo existia. Ele soube ser paciente comigo, mas também sabia ter iniciativa. Esse beijo não é nojento, aliás. Só me fazia sentir-me estranha e diferente, eu estranhava que esses amassos faziam com meu corpo e o fato de que eles faziam eu me agarrar ao Tobby a ponto de ficar em cima dele e tirar as roupas do caminho. Eu me sentia culpada no começo, mas depois entendi o que queria. 6 meses depois damos um passo à mais na relação. Não foi nada planejado, aconteceu. Eu achei que morri de felicidade no final, mas eu só dormi mesmo depois que acabou. Não doeu como dizem, bando de exagerados. A Sammy falou que era porque eu estava relaxada, claro que eu estava, eu confiei inteiramente nele e fiz bem. Me viciei um pouco até, as vezes acho mais do que ele. Eu fiz ele desmaiar uma vez. Pensar nisso agora é a coisa mais hilária do mundo. Normalmente ele dava conta.
Bem, os anos se passaram Eu, a Sammy e o Tobby fomos para a mesma faculdade. Inseparáveis como sempre. Nossos amigos da escola ficaram para trás e fizemos novos, Sammy teve novas paixões, mas eu nunca. Era sempre eu o Tobby. Éramos os "pombinhos da faculdade". Mas o tempo continuou passando. Eu e Tobby. Tobby e eu. Eu Comecei a me questionar: Quem sou eu sem o Tobby?
Gostávamos quase de tudo o que o outro gostava. Eu me perguntava se eu sozinha gostaria de um tal tipo de música, de comida de filme. Eu odiava pudim antes do Tobby, mas agora é minha sobremesa favorita, sem ele eu vou gostar ainda?
De repente ele começou a perder a cor pra mim. O Som do dos zíperes que ele abria e fechava me deixavam nos nervos agora, as poucas vezes que ele me comprava leite de morango da máquina da faculdade me dava nojo e os espirros dele, pra mim, ficaram azedos ao meu paladar. 
Algumas semanas antes da graduação eu terminei com ele. Foi no Campus da Universidade mesmo. Assim que eu saí da sala, após realizar as provas finais que diriam se eu meus quatro anos serviram de nada ou se eu teria um lugar no clube dos formados do mundo.


 -Espera, o que? – ele disse com uma voz arrasa e incrédula ao mesmo tempo.


-É isso. - era inverno agora e o vento, eu estava com as mãos no bolso do casaco. Não deixou nada mais quente, acho até que iria nevar daqui a pouco, mas a tempestade estava aqui, de frente pra mim, em forma de gente


-Não, meu amor, isso não pode ser sério. Você está estressada por causa das provas finais. Vamos receber os resultados e vai ficar tudo bem. Não tire conclusões precipitadas assim do nada.


-Não, não é isso. Eu não quero mais. Você significa muito pra mim ainda, mas não daquele jeito.


-Isso...desde quando? – eu ouvi sua voz tremer, ele estava segurando o choro. O que quase me fez correr para seus braços e consolá-lo, estava difícil aqui pra mim, mas eu precisava ser forte.


-Faz um tempo, e você sabe disso. Eu venho me distanciando a um tempo. Faz uns 100 anos.


-Não venha com seus exageros de novo. – as lágrimas já estavam caindo, ele tentava disfarçar secando rapidamente com a manga do casaco dele. Ele olhava para cima e para baixo, sempre que tentava olhar pra mim alguma coisa puxava seu olhar para o outro lado. Eu queria sumir daqui o mais rápido possível, ou quem iria chorar era eu, o que, por milagre, eu estava segurando bem,normalmente eu já estaria desabando e enchendo uma piscina olímpica e meia. 


-Eu preferiria ir agora. – falei, rapidamente.


-Não, você tem que me dar uma explicação melhor do que essa! – agora ele estava gritando comigo


 



Brigamos e brigamos. Nós raramente brigávamos. Mas foi a discursão das discursões, eu cheguei a dar um chute na canela dele para sair correndo da conversa. Eu esperava que ainda pudéssemos ser amigos, mas acho que um relacionamento sério por seis anos é tempo demais pra ser transformado em outra coisa.


 


-Com licença, Srta. Sprout?


a doutora me chamou. Parece que cochilei e a voz dela me trouce de volta.
Era a hora da verdade.



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Autor(a): Papaangu

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • lalites Postado em 26/07/2015 - 00:05:16

    Eu leio ,não acho isso ñ =D


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