Fanfic: Aos Contrários | Tema: Original ainda

Eu estava sentado à mesa de jantar, que fica na cozinha, nossa casa não era tão grande, mas é bastante confortável. Menos agora.
A garota maluca e invasora de domícilio percebeu, meio tarde, a situação estranha em que nos encontráva-mos e disse para tomarmos uma xícara de café. E me convidou para sentar..na minha própria mesa.
Ela estava mexendo nas prateleiras atrás de mim e começou a conversa enquanto procurava alguma coisa.

-Ah, bem, acho que devo deculpas, mas saiba que eu não estou arrependida, sua cara foi impagável!

Ela dise isso com um tom de quem está fazendo força. Como eu estava sentado de costas pra ela presumi que ela estava na ponta dos pés tentando alcançar alguma prateleira que ela não alcançava.
Falei:

-Qual o sentido das desculpas se vc nao sente pelo que fez?

Falei com a vóz monótona, olhando pra mesa e desenhando um círcuo invisível com meu dedo indicador nela. Eu estava cansado.

-Bem, issoé verdade. Então, por favor, aceite as minhas ‘’não desculpas’’ hehe.
 

Eu abaixei a cabeça e me enclinei sobre a mesa, colocando meus braços, e os fazendo de travesseiro, para não entrar em contato direto com a madeira fria. E logo lembrei, mas falei com a voz abafada pela posição que eu estava

-Você sabe onde está meu pai? Acho que ao menos ele sabe que você está aqui.
-AH! É mesmo! Ele foi comprar café.
-Espera, você não está trás de preparar café?
-Sim
-E como pretende fazer o café sem ter pó de café?

Levantei a cabeça e virei meu corpo, na cadeira, em direção à ela. Essa conversa não pode ser séria.
Ela fez uma pausa, olhando pro nada como se estivesse refletindo

-hahahahahaha, tem razão. Como eu sou estúpida, menos 10 pontos pra mim.

Comecei a dar leves cabeçadas na mesa. Eu queria estar dormindo e não estar tendo conversas sem sentido.

- Eu acho que fiquei nervosa por ter você por perto.

Ela disse com a voz falhando. Voltei a abaixar minha cabeça. Eu senti ela se aproximando e ouvi a cadeira à minha frente sendo arrastada. Ela está sentando. Eu levantei e descansei meu rosto em minha mão, essa eu queria ouvir, uma estranha nervosa por me conhecer.

-Você pode primeiro me dizer quem você é antes de ficar nervosa?
-Ah, claro, sou a assistente do seu pai! Ele falou tudo sobre você. Que você está cursando o ensino médio, estava na casa da sua mãe, tem 16 anos, tem um irmão mais velho, detesta trocar de roupa, acha que escolher uma cor favorita é bobagem, não gosta de sorvete nem pudim, adora correr, ama cheirar seu gato, quando ninguém está olhando, que..
-ESPERA, espera, espera!!
a enterrompi, erguendo uma mão e a outra descansada no meu rosto
- O que? não tem nada de mais cheirar o seu próprio gato. Só não cheire os gatos dos outros, você pode levar queixa, eu sei, experiência própria!
-Não é isso!

Eu estava perplexo, ela sabe praticamente tudo sobre mim e nos conhecemos à meia hora atrás. Ela até sabe sobre o Bartô! Mas assistento do meu pai? Agora faz mais sentido, é estranho, mas faz sentido. Meu velho não disse que contrataria alguém novo.  Roy, o velho assintete e  ele não se davam muito bem e atrasou o lançamento do livro em meses, meu pai disse que nunca mais iria contratar um assistente. Bem, parece que depois de meio ano ele mudou de idéia.  É muita informação desnecessária no momento de todo o jeito.

-Bem, foi um prazer conhece-a, mas eu acabei de voltar de uma viajem muito longa e tudo o que eu quero é um pouco de paz. Você se importa?

-Entendido!
Ela disse, com uma pose de soldado, uma mão na cabeça e os dedos juntos.
Eu me levantei e fui direto ao meu quarto, subindo as escadas. Ouvi atrás de mim uma cantoria baixa, mas audível.
-Siêncio silêncio, hummmm.
Em seguida um som de panelas caindo aos monstes invadio meus ouvidos, eu só pude suspirar e continuar andando. Mas ainda ouvi ela gritando da cozinha.
-Desculpa! Silencio a partir de agora!!

Entrei no quarto e uma criatura peluda com tons de cinza e branco veio em minha direção. Eu o pus nos meus braços e acariciei sua barriga.

-Oi Bartô, eu queria ter levado você comigo. Você se sentiu sozinho sem mim?

Um ronronado de satisfação fez meu gato virar uma motocerra com o barulho que eu mais adorava enquanto ele se derretia em meus braços com os afagos.

-Tudo bem já, chega.

Eu o soltei e ele foi direto para minha cama. Dormir como sempre faz à maior parte do dia. Eu fui me juntar à ele, não quis trocar de roupa nem nada só apagar de vez e encarar o dia seguinte.  Antes de minha conciência se apagar eu ouvi uma voz á em baixo.

-Cheguei!

Eu reconheci a voz do meu pai

-Oi Ian! Você demorou.

Era a voz da garota. Entusiasmada como sempre.

-Verdade, você não sabe como é difícil achar uma loja aberta no pós ano novo. Minha cabeça ainda está doendo da farra de ontem...

-Nós só ficamos vendo cavalos correndo na televisão de um ar e vc ficou bêbado com a 3ª cerveja, isso é sua definição de farra?

Ah, então ela fez companhia ao meu pai no ano novo. Isso é bom. Detesto pensar nele sozinho na vespera de ano novo.

-Não tenho um espirito jovem como voce, e...espere, essas malas..meu filho está em casa! Onde ele está?

Eu consegui sentir um sorriso na voz do meu pai enquanto ele falava, eu queria descer para falar com ele, mas eu mal consigo me mexer.

-Sim ele disse ....dormir.
-Ah, vou ve-lo...e entã.... café...lançament...

As palavras continuaram  se embaralhando e abafando à cada segundo enquanto minha conciência se esvaiava. Eu só sentia o peso de Bartô em minha barriga, onde ele estava dormindo, e depois eu  comecei a sentir mais nada.

-Boa noite Bartô.

Minhas ultimas palavras do dia. E amanhã?