Fanfic: Aos Contrários | Tema: Original ainda
Ontem eu levei a Srta. Furacão pra casa. Ela tentou me convencer que se distraiu em uma loja e perdeu a noção do tempo assistindo TV. ou algo assim. Ela realmente acha que eu comprei essa história? Eu sei que ela estava mentindo. Apesar de ser bem a cara dela o que ela disse. Não sei bem o que aconteceu mas custou ela andar um bocado até a própria casa sozinha, à noite e na chuva. Eu, por sorte, estava na sala de estar assistindo TV quando, não sei porque, talvez um impulso no universo me fez levantar da cadeira e ir em direção à janela, poderia ser isso se eu acreditasse nessas coisas de “tudo é premeditado”. De todo jeito eu levante, fui até a janela e dei uma espiada lá fora. Tinha uma pessoa, sem nenhum guarda-chuva e visivelmente com frio, passando de frente a minha casa. Eu a reconheci na hora. Eu fui correndo pegar um guarda-chuva, um casaco, e parti de encontro à ela.
Posso dizer que nos conhecemos melhor. É uma boa pessoa.
São 17:00, sábado. Estou jogando basquete na praça como sempre faço, todos os dias, nesse horário.
Passei o dia todo com a sensação de que falta algo. Eu sei o que é só não quero admitir.
Ela não veio hoje. Eu sou um cara que vive de rotinas e a presença dela, por mais imprevisível que seja, é parta dessa rotina que penei para me acostumar. Ela faz coisas macucas todos os dias, as vezes de manhã, as vezes à tarde, às vezes quando eu chego do colégio. O imprevisível é um brinde que vem com ela mas hoje está tudo muito calmo. Não que eu não goste de calmaria, eu adoro na verdade, mas viver sem uma pessoa que eu vejo 6 dias da semana por um mês pode gerar uma complicação pra mim. Eu mentiria se eu dissesse que eu não estava preocupado. O quanto ela estava doente? E eu também mentiria se eu dissesse que não sinto falta da presença dela aqui, não de estar comigo, mas de estar por perto. Ela simplesmente trabalha de terça à Sábado e passa o Domingo inteiro aqui, eu não sei o que ela faz na Segunda. Ela praticamente é da família, é quase como uma irmã mais velha. Uma irmã... isso me lembra... como minha irmã seria hoje?
-Com licença.
Sinto alguém tocar meu ombro. Eu me viro.
-Você conhece essa garota?
Um homem me pergunta. Ele era um pouco mais alto que eu, boa aparência e claramente mais velho. Não tão velho, podia dizer que ele ainda era jovem. Eu me senti um pouco deslocado já que eu estava coberto de suor por causa da minha atividade recém interrompida, basquete, aliás.
Ele me mostrou uma foto que eu rapidamente reconheci. Era ela. Mas o que ele queria com ela? Eu pensei duas vezes antes de responder.
-Depende. – falei um pouco desconfiado. Identificação por foto? Isso não pode ser coisa boa.
-Entendo. Eu soube que ela trabalha por aqui e resolvi fazer uma visita surpresa, você a conhece ou não garoto?
-Talvez. Não prefere dizer quem é você primeiro? – meu instinto apitou. Soube que ela trabalha aqui é? Porque não disse: Ela me disse que trabalha aqui. Uns chamam isso de paranoia, eu digo que cuidado nunca é demais.
-Tudo bem. Meu nome é Tobby. Eu sou, digamos, um amigo muito próximo dela. – ele não conseguiu conter o sorriso com essa frase. Isso estava me irritando.
-Ela te deve alguma coisa? –uma vez ela comentou brevemente comigo que adorava apostar de vez em quando, eu guardei essa informação porque a achei útil, que menina encrenqueira.
-Vamos dizer que sim. – ele deu outro sorriso malicioso. Eu realmente não vou com a cara desse sujeito. – mas em fim. Você sabe onde é a casa que ela trabalha?
-Ela não a vi hoje. Está doente. Deve estar em casa.
-Não, não está na casa dela. Eu já fui lá, mas de uma vez na verdade, alguns vizinhos disseram que ela saiu de manhã e não chegou ainda. Mas você vai me dar a informação que eu quero ou não?
Ela não está em casa? Será que está tão mal que foi ao hospital? Uma onda de preocupação está percorrendo meu corpo e todo tipo de tragédia imaginável que pode ter acontecido com ela vem à minha mente. Fecho os olhos e tento deixar a razão falar: O que está te preocupando? Tem mil motivos pra ela não estar em casa mesmo que tenha passado o dia todo fora. Visitar um parente, ido resolver coisas no centro entre várias opções. Você quer voltar à terapia É melhor pensar menos negativo então.
-Ei, parceiro, eu estou perdendo a paciência, você sabe onde ela trabalha ou não? – ele põs a mão no meu ombro e parecia mais irritado. Eu me afastei, com o intuito de ir embora. Bem, não tenho mais o que fazer aqui. Ele quebrou aminha concentração no basquete e eu não tenho mais vontade de jogar hoje.
-Lamento, eu não moro por aqui. Boa sorte, mesmo assim.
Após essa mentira descarada, pois eu moro bem à frente do parque em que estamos. Eu dou meia volta e o escuto resmungar e me xingar baixo. Algo como “não faça eu perder meu tempo, pivete” e “que garota difícil de segurar”
Eu pensei em ir direto pra casa, mas me ocorreu que ele poderia estar me seguindo ou me observando. Não sei, talvez não seja por isso. Eu só não queria ir pra casa. Eu queria ir à um lugar onde eu não pensasse. Eu estava me sentindo mal, minha cabeça estava girando, eu não acho que seja por causa da conversa de agora, eu já estava me sentindo mal antes disso, será que é porque eu me lembrei....não, não quero pensar nisso.
Eu dei uma volta pelo quarteirão, moradias em todos os lugares e quase nenhuma loja. Enquanto andava, me celular tocou, eu fui atender e quando vi o número me ocorreu em deixar o celular por tocar. Era minha mãe ligando. Eu a amo de todo coração mas não estava afim de falar com ela agora, ainda mais porque me lembrei da minha irmã. Aliás...
Eu entendi.
-Oi, querido, eu estava passando pela loja de animais e...
-Mãe, se a Suzi estivesse viva você acha tudo seria mais fácil pra gente?
Eu a corte e fiz essa pergunta diretamente, sem mais nem menos. Ela já estava na minha cabeça. Minha irmã voltou dos mortos e estava assombrando meu atos. Eu queria que ela saísse de mim. Ela era muito jovem. Eu era muito jove e meu irmão também. Eu sei que não é minha culpa, éramos todos crianças não tínhamos noção de nada. Carro, briga, freio de mão crianças, batida, respiração.
Minha mão estava tremendo enquando eu seguava o celular com toda força em meu ouvido. Fale alguma coisa, qualquer coisa.
-Filho...você..de onde veio isso?Por que quer falar disso? Já não conversamos tudo o que tínhamos para conversar?
-Você estaria morando aqui ainda? Meu pai não se sentiria um fracassado? Ela estaria com a gente, e não me odiaria, não é?
-Você está bem, meu filho? O que aconteceu? Você não falaria isso de repente se estivesse tudo bem, seu pai está cuidando bem de você? Está praticando esportes como combinamos?
Eu não sei o que está acontecendo comigo. Suzana não deveria estar mais comigo. A culpa não foi minha, eu não “desliguei” o freio de mão, eu não inventei de brincar de corrida de carro eu...porque está tudo tão escuro?
Eu sinto minhas pernas tremerem, meu corpo parece pesar 100 quilos, não estou conseguindo respirar direito, minha visão está escurecendo. Eu quero ficar de pé mas eu não consigo. Não tem nada pra me apoiar. Não tem ninguém em quem me apoiar. Quem eu culpo por isso? Quem eu culpo por não ser forte? Eu tenho que cuidar de tudo, de todos. Acho que vou vomitar.
Meu celular cai no chão e eu também, de joelhos. Tem alguma coisa na minha cabeça. Algo que não cala a boca, posso ouvi-las diretamente do meu cérebro, mesmo colocando minhas mãos em meus ouvidos eu não as faço calar a boca: A culpa é sua o que tem pro jantar mamãe vai trabalhar de novo vamos brincar no carro onde está minha boneca o que este botão faz olha uma borboleta Suzana você vai se machucar onde está meu manuscrito meninos vamos puxar essa alavanca estamos nos mexendo VOCÊ TEM QUE RESPIRAR!!!
A ultima coisas que me lembro antes de apagar foi de ouvir essas vozes. Eu senti que bati de cabeça em algo duro, provavelmente o chão.
Abro meus olhos e vejo uma luz branca. Fiquei encarando-a, por o que parecia uma eternidade mas foras alguns poucos minutos. Estava tudo borrado mas aos poucos percebi que era uma lâmpada no teto. Eu estava deitado. Olhei em volta e gradualmente fui reconhecendo o que seria meu quarto. Alguma coisa pulou no meu peito e vi que meu gato, Bartô, veio me cumprimentar. Eu o acariciei, com uma certa dificuldade no começo, meu braço estava pesado, mas minha coordenação motora voltou aos poucos e estava me sentindo dono do meu corpo mais uma vez.
Enquanto acariciada meu gato tentei me lembra de como cheguei ali. Não me lembro de ter ido deitar noite passada. Não me lembro de noite passada. Ah. Lembrei. Preferi não me lembrar.
Eu dei uma recaída. Eu costumava dar esses ataques de pânico com muita frequência antigamente, no tempo em que minha irmã.... bem, depois que aquilo aconteceu. Eu quase não desmaiava, entretanto, só quando o ataque vinha muito forte. Faz 4 anos que eu não os tinha. Eu não entendo porque voltou.
Ouvi a porta do meu quarto abrindo e meu pai entrou.
-Que bom que acordou. Você nos deu um tremendo susto.
Ele falou com um sorriso sincero mas cansado. Ele era assim, nunca exagerava emoções, mas posso dizer que ele está muito feliz em me ver bem.
-Que horas são? – me ergui e sentei na cama. Fiquei um pouco tonto com isso. Acho que estou fraco ainda.
-Deixe ver- ele puxou a manga longa da camisa e revelou seu relógio, olhando as horas. - São 15:00 horas da tarde.
-Como podem ser 15:00 horas? Eu sei que eu desmaiei depois do meu treino de basquete, e era mais de 18:00. – Estou ficando doido?
-Bem, isso foi ontem. Você ficou desmaiado por 21 horas, seguidas. Eu fiquei muito preocupado. – ele caminhou e sentou na ponta da cama. – sua mãe ligou para mim dizendo que você estava com uma conversa estranha sobre – ele se parou ao terminar a frase, pensando duas vezes antes de falar - bem, ela disse que você não estava falando coisa com coisa. Ela falou que ouviu um grito seu, alguns instantes depois. Ela ligou pra mim aos prantos e eu corri em direção à praça mas você não estava lá. A polícia lhe encontrou desmaiado no chão, perto daqui. Sua mãe disse qe pegaria o carro e viria, mas e a persuadi. A propósito, ela queria falar com você assim que acordasse, quer que eu liguei pra ela?
Muita informação, quantos problemas eu criei.
-Eu falo com ela mais tarde, eu só quero comer alguma coisa primeiro.
-Eu trago algo pra você, não se force muito. – meu pai prontamente respondeu. Ele realmente estava feliz
-Valeu.
Eu estava para relaxar quando um pensamento veio à minha cabeça, e eu tive que perguntar.
-Pai? – eu o chamei quando ele já estava saindo do quarto.
-Sim?
-Ela veio hoje, trabalhar, quero dizer?
Ele passou alguns segundos tentando entender de quem eu estava falando, quando eu já ia dizer o nome dela ele fez uma cara de “ah, ela” e respondeu.
-Não, mas ela disse que viria amanhã sem falta. Disse que passou o dia todo em casa ontem, com febre, mas que viria com certeza amanhã. Ela não sabe sobre você se quer saber, eu sei que você preferiria guardar segredo sobre isso. Estou certo?
-Você me conhece bem.
Eu dei um meio sorriso e ele foi. Mas uma coisa me incomodou. Ela falou pra ele que passou o dia e casa ontem com febre, mas o cara estranho de ontem, esse tal de Tobby disse que ela não estava em casa ontem, ele não parecia estar mentindo e todos os fatos comprovam que a não versão dele é a verdadeira, então, porque ela mentiria? Ela foi a algum lugar que não queríamos que ela soubesse?
Uma dor de cabeça forte começou a martelar em minha cabeça. Eu tenho que relaxar. Acabei de acordar de um desmaio e não estou pronto para bancar o detetive. Fica pro outro dia. Amanhã eu decido se quero continuar com isso.
Autor(a): Papaangu
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Após muito refletir, tive muito tempo deitado pelo resto do dia e tomei a conclusão que: Não tenho nada a ver com isso. Eu comecei a me preocupar com ela por motivo algum e fez com que eu ficasse paranoico, me lembrasse da minha irmã e assim, tive o ataque de pânico violento e perdi um dia inteiro. Não quero voltar a ser maluco, al&ea ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo