Fanfic: Mais que a Minha Própria Vida | Tema: Romance
"Dizem que quando você encontra a pessoa certa consegue percebê-lo desde o momento em que o olha pela primeira vez. Foi exatamente assim comigo. Eu não sabia a razão, mas era como se já o conhecesse há décadas. "
Eu acabara de entrar para o ensino médio. Tal fato, por si só, já era assustador o suficiente. Mas eu o estava fazendo em uma escola nova, assim como a casa e o bairro onde eu moraria dali para frente. Há quem ainda sinta frio na barriga ao recordar de toda aquela expectativa e receio que se misturam ao ar a cada vez que a palavra `mudança` é proferida. Eu não conhecia ninguém e morria de vergonha somente com a ideia de tomar a iniciativa de iniciar uma conversa ou aceitar aqueles convites para passar o intervalo junto com garotas que sentiam aquela curiosidade repleta de pena pela menina novata que não falava com ninguém. Como uma lagarta colorida indefesa no meio de garotos com gravetos.
Era exatamente por essa razão que eu não queria mudar de colégio. Para ser sincera, `mudança` jamais fora uma das minhas palavras favoritas. Eu amava a rotina, desejava ardentemente que tudo sempre fosse da forma como eu estava adaptada. A simples ideia de controlar e planejar as coisas que me aconteciam me relaxava. Eu odiava ser obrigada a me readaptar. Mal sabia que estava sentenciada a passar o resto de minha vida daquela forma. Mas, é claro, naquela época eu não fazia idéia.
_`Você sabe que nós não temos dinheiro para que você continue na sua antiga escola` , dizia meu avô, `e anime-se querida.Você fará amigos novos e adorará tudo isso.`
Eu perdi os meus pais em um acidente de carro quando não tinha mais do que seis anos. Sobrevivi por um triz, e não sentia orgulho nenhum disso. De certa forma a culpa me perseguia pelo fato da minha vida ter custado a deles. Eu nunca deveria ter sobrevivido.
Meu avô era aposentado e viúvo e restou a ele a árdua tarefa de ser pai mais uma vez, e educar e zelar por uma criança difícil e traumatizada. Coisa que ele fez com todo o seu amor e com as mais doces intenções. Eu não tinha mais ninguém além dele, então aceitava o seu carinho e tudo o que ele podia me oferecer de braços abertos. Mas a falta que eu sentia dos meus pais nunca passara em todos os anos que se sucederam. O buraco que fora aberto em meu coração nunca se fechou. Eu apenas me acomodei. Sofria por não tê-los, mas me acostumei a seguir em frente.
Vovô aguentou o tudo o que pôde para manter-me na escola onde eu estudava antes da morte dos meus pais, gastando todas as suas economias e investimentos de uma vida para tal. Vivia sentado em sua escrivaninha a fazer contas e mais contas, e nunca, por momento algum, permitiu que eu me sentisse mal por isso. E o fez muito bem, me oferecendo o melhor por sete anos.
Até que vieram tempos difíceis - o aluguel da casa onde morávamos subiu repentinamente, de forma que tivemos de nos mudar para uma casa mais afastada. Em razão da distância do meu novo lar eu não poderia mais caminhar até minha escola habitual e a situação financeira na qual vivíamos tornava inviável qualquer gasto com ônibus escolar. Dessa forma, depois de muita discussão, meu avô determinou que eu seria matriculada em uma nova escola. Uma mais perto da casa nova. Eu não me sentia bem com nada daquilo, mas compreendia que ele não tinha culpa. E que era injusto reclamar de alguém que já fazia tanto por mim - que nem sequer era sua filha.
Em um primeiro momento nada havia na escola nova que fosse especialmente diferente daquilo a que eu estava habituada. Era uma escola mais simples, claro, mas com as mesmas caricaturas de professores - o bravo, o engraçadinho, o compreensivo, o jovem - e com alunos sempre separados em grupos definidos por seus gostos ou níveis de popularidade. Havia muito para conhecer, a vasta gama de esportes e atividades gratuitas que a escola oferecia com o patrocínio do governo, o extenso quadro de avisos, sempre repleto de fotos, eventos e cursos especiais, a imensa biblioteca com livros e enciclopédias empoeirados e, claro, meus novos colegas. Mas eu não sentia vontade de fazer nenhuma dessas coisas. Só pensava em ficar sentada, invisível, no meu canto enquanto as aulas passavam, até que o sinal tocasse e eu estivesse livre para ir para casa e mergulhar novamente no universo paralelo que somente os meus livros podiam me proporcionar.
O sino para o intervalo interrompeu os meus desvaneios e fui empurrada para fora da sala de aula juntamente com dezenas de alunos correndo, rindo e conversando amistosamente. Percorri o pátio com os olhos, procurando por um lugar vazio onde eu poderia ficar sem chamar a atenção e, antes que o encontrasse, uma mão de menina com longas unhas pintadas de vermelho me tocou o braço.
_ Oi novata! Eu sou a Grace. _ Sorriu para mim a garota com feições de mulher, cabelos longos e loiros e lábios pintados de gloss vermelho. - Essas são as minhas amigas: Leah e Rachel. Você pode passar o intervalo conosco, tá? - disse, e antes que eu pudesse responder, me puxou pela mão até uma mesa de pedra, com banquinhos coloridos envolta.
Grace parecia ser uma espécie de líder para o trio. Tomava a maioria das decisões, iniciava a maioria dos assuntos e, claro, era a mais extrovertida. Agia o tempo todo como se fosse muito legal por me livrar de passar o recreio todo sozinha - uma tortura - ela dizia. As outras duas, Leah e Rachel, eram irmãs gêmeas, embora em nada parecessem uma com a outra no quesito personalidade. Leah tinha uma personalidade marcante. Marcante até demais, eu diria. Era extrovertida como Grace, mas embora a desinibição de Grace tivesse um quê de sensualidade, a de Leah era agressiva. Ela era bastante crítica, e justamente o tipo de pessoa com a qual você jamais gostaria de brigar. Já Rachel trazia em si mesma uma doçura e leveza que me fizeram confiar nela mesmo antes de trocarmos as primeiras palavras. Era muito meiga, e tímida demais, sempre se escondendo atrás de seus lindos cabelos ondulados e ruivos e disfarçando as sardas que lhe enfeitavam o nariz. Era um trio bem peculiar, devo dizer, por ser composto por garotas tão diferentes.
Apesar dos assuntos sobre os quais conversavam serem absolutamente banais, a compania delas era agradável. Elas eram engraçadas e, apesar da situação de constrangimento por nos conhecermos pouco, pareciam realmente querer se aproximar de mim. Eram amigas há anos e haviam se conhecido no colégio, naquele mesmo banco onde estávamos sentadas. A conexão e cumplicidade entre elas era tão bela e real que, em pouco tempo, era como se eu também fizesse parte daquilo. A ideia de ter amigas de verdade me animou um pouco, afinal, eu não conseguia me lembrar há quanto tempo não confiava de verdade em alguém que não fosse o meu avô.
Repentinamente o clima do ambiente mudou. Os olhares de todas as garotas que estavam no pátio, inclusive o das que se sentavam comigo, foram atraídos para a porta de entrada. E tenho certeza de ter ouvido alguns suspiros.
_ Olha quem está ali! - gritou Grace tal qual estivesse vendo uma coisa incrível. Sucessivamente Leah e Rachel também sorriram e começaram a olhar na mesma direção.
_ Um dia você ainda será meu. - Leah disse baixinho.
_ Vá sonhando! - riu Grace. Ele já é meu desde a sétima série.
_ É. Só que você se esqueceu de avisá-lo. - riu Leah, enrrolando uma mecha de seus cabelos ruivos e alisados.
Eu procurava entre todos aqueles rostos qual seria aquele que tanto as encantava, mas não fazia ideia de quem poderia ser. Rachel sorriu ao perceber e apontou para um garoto encostado na parede a alguns metros de distância.
_ Ele se chama Brandon. - ela disse - E todas as garotas daqui do colégio são apaixonadas por ele há anos. Mas ele não olha para nenhuma delas, como se simplesmente fosse bom demais para todas.
_ Ele está no último ano.E dizem que ele namora uma garota mais velha. Da faculdade, sabe? Peixe grande. - continuou Leah.
_ Eu daria qualquer coisa para ser ela. - disse Grace.
_ Novidade! Qualquer garota aqui daria qualquer coisa para ser ela. Até a Jennifer. Não é, Jeni? - perguntou Leah, focando os olhos em mim.
_Hm...Eu não sei. Eu não o conheço nem nada. - eu sussurrei meio envergonhada.
Brandon parecia ser mesmo aquele tipo que atrai olhares. Tinha cabelos bem claros e os penteava de maneira despojada, assim como todo o seu visual. Bonitos olhos azuis, sorriso brilhante, músculos... Como aqueles modelos de comerciais de perfumes. Ainda assim me era um pouco estranho que apenas características físicas houvessem sido passíveis de despertar o amor platônico de todas aquelas garotas. Parecia coisa de filme. Afinal de contas, desconsiderando a aparência física, Brandon não parecia ter nada de especial. Parecia um garoto de dezessete anos comum, enquanto batia a bola de basquete pelo chão e se divertia com a conversa entre os amigos. Eu não conseguia me imaginar conversando com ele durante horas, e muito menos me apaixonando e escolhendo-o para partilhar os meus pensamentos e sentimentos. Eu não gostaria de estar com alguém que flertaria com dezenas de outras meninas na minha frente. E me perguntava se aquelas garotas pensavam por aquele ângulo ou apenas ignoravam os fatos por imaginarem que aquele sentimento jamais deixaria de ser platônico.
E, então, como uma forma do universo de me punir por ser tão crítica com aquelas garotas, meus olhos foram atraídos para outra pessoa. Um garoto. Era dos garotos que estavam na mesa de Brandon, mas em nada parecia com eles. Tinha um olhar misterioso, distante, como se estivesse a esconder segredos empolgantes demais para sair dizendo por aí. Sua pele era muito branca e contrastava com os seus olhos e cabelos negros a cada vez que o sol refletia em sua pele. Suas feições, gestos, olhares, tudo nele era enigmático. Era impossível saber o que pensava, ou tentar arrancar qualquer traço de personalidade somente por observá-lo. `Como aqueles psicopatas de filmes de terror, eu pensava, como se a forma com a qual ele atraía minha curiosidade devesse ser mais um aviso para que eu me afastasse. Mas não. Eu só conseguia ver a forma como ele levantava a sobrancelha quando algum amigo lhe dirigia a palavra ou como movia os lábios ao falar. O seu sorriso discreto ou como andava sem sequer olhar para os lados. Ele era tão sedutor que eu não conseguia entender como é que aquelas garotas do colégio só conseguiam perceber a presença de Brandon.
_Quem é aquele de blusa preta com quem Brandon está falando? - perguntei às garotas.
_Que importa? - sorriu Grace - O único que importa aqui é o Brandon. Ele ofusca os amigos, então, sabe? Tanto faz.
_ É. Tanto faz. - Balancei a cabeça. Qual era a graça em amar secretamente daquela forma? Em fantasiar, e somente fantasiar, o cheiro, sabor, toque de alguém? Desejar Brandon secretamente, por anos, devia ser para aquelas meninas como uma fome que matava aos poucos. E o pior era que provavelmente ele até já soubesse, mas não fizesse muito caso. Mas elas eram cegas...E eu hipócrita. Hipócrita porque os meus olhos também estavam estavam sendo cegos, atraídos insistentemente por aquele garoto de olhos enigmáticos que eu nem conhecia. Era ridículo. Eu nunca havia me sentido daquela forma e não conseguia evitar.
Autor(a): m0renabela
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Era manhã de sexta feira quando o meu despertador ficou sem pilha fazendo com que eu me atrasasse mais do que o normal. Lembro-me de ter colocado o uniforme correndo e ter saído de casa sem nem ao menos me olhar no espelho. Porém, quando cheguei sem fôlego, cansada e suada à sala de aula, haviam apenas os materiais escolares dos alunos ...
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