Fanfic: Que o jogo... comece | Tema: Ação, Amizade, Aventura, Romance, Universo Alternativo
Bartolomew estava escrevendo, sentado em sua habitual poltrona em frente à lareira, Jaqueline, ao seu lado, tricotava. Estavam esperando, juntos, a hora do adeus. Se estavam doentes? Não... estavam bem. Eram felizes, sabiam disso. Contudo esperavam a morte, sorrindo, pois haviam há muito, muito tempo, decidido morrer juntos, no mesmo dia, na mesma hora: não suportariam estar no mundo sem o outro, tinham certeza.
Além disso, a força e vitalidade da juventude havia abandonado seus corpos. Bartolomew já não era capaz de correr e lutar, tinha certeza que não seria capaz de defender Jaqueline se a situação o exigisse. Suas mãos estavam fracas, trêmulas até, a pele fina... não suportava olhar pra elas, tão frágeis, só um reflexo do que foram na juventude. Para Jaqueline talvez fosse pior: fora violinista na juventude, mas depois de cinco filhos e sessenta anos a mais, as dores no pescoço simplesmente tornavam impossível tocar seu tão amado instrumento, que estava ali, naquela mesma sala, sobre uma bancada... fitando-a, agonizante, meio que suplicando: mais uma música, pelo amor de Deus! Jaqueline também já não gostava de certas coisas, por exemplo, Bartolomew já não a olhava como se ela fosse a única coisa que lhe importava... ainda o era, com certeza, mas depois de 60 anos de casamento, não podia culpar seu marido se recentemente não era capaz de desejar ardentemente seu corpo frágil, flácido, a pele fina, o seios caídos. O rosto enrugado também era um problema para ambos, as marcas de riso, os pés de galinha: haviam se divertido muito durante sua longa vida, por isso nunca reclamavam, as rugas eram boas, o único arrependimento, pensavam, eram os longos e saborosos beijos da juventude, que nunca mais teriam.
Subitamente Jaqueline parou de tricotar, e ofereceu a mão esquerda a Bartolomew, que já não escrevia nada.
– É chegada a hora, minha flor? – Bartolomew perguntou, esperançoso.
– Sim querido, já não temos o que fazer aqui, agora é a vez dos nossos filhos – Jaqueline concordou carinhosamente.
– Jaque... fomos bons pais, certo?
– E como poderíamos não ser? Demos tudo de nós, cada pedaço do nosso ser pelo futuro de nossos filhos, e eles já tiveram filhos que tiveram filhos. No fim, só restamos nós dois.
– Sim minha Jaque. Sempre nós dois, certo? Só restamos nós dois...
A sala estava quente, quente de amor. Ali estava tudo que eles amavam, tudo pelo qual tinham carinho: o violino; a bengala que acompanhou Bart durante toda a vida; as fotos dos pais, dos filhos, dos netos, dos bisnetos e tataranetos; a camisa da seleção brasileira e a do clube de futebol; a bandeira do Império Brasileiro; livros, muitos deles; e principalmente um ao outro. Por isto sentiam-se aquecidos, mesmo naquela fria noite de Inverno na França, pois estavam cercados das coisas mais calorosas que conheciam, das coisas que mais amavam.
De repente, sentiram-se felizes, perceberam que só havia tempo para um último beijo. Quando seus lábios se tocaram sentiram a coisa mais única que alguém poderia sentir: a morte. Era como um sonho... eles viram seus corpos, mas foi algo real, pela primeira vez sentiam-se vivos de verdade. Sabiam que tinham que partir, não sabiam pra onde, entretanto, uma força desconhecida os moviam para algum lugar desconhecido. Seria o Céu? Teriam merecido tal honra? Iremos rumo a Deus?Começaram a se perguntar, mas não tiveram tempo para obter as respostas. Pouco tempo depois de sua morte se viram num vórtice, como se a própria realidade, e mesmo o tempo, se dissolvesse e se distorcesse ao seu redor, e ouviram uma voz, linda e suave: estes foram os últimos, chefe? Ao que veio a resposta, uma voz firme, forte, mas ao mesmo tempo, gentil: Sim. Que o Jogo... comece!
E de repente estavam dormindo, numa cama de ébano e colchão de penas de ganso. Bartholomew acordou primeiro e para sua surpresa, deitada ao seu lado na cama, estava uma mulher loira, cabelos cacheados, olhos verdes. As sobrancelhas perfeitamente delineadas, uma charmosa pinta ao lado esquerdo da boca, pequena e charmosa. O nariz fino e delicado. A pele, branca como a neve, lhe parecia exalar um delicioso cheiro natural: a paixão. Não tinha dúvidas, afinal, aquela linda mulher, que ele acreditava ser tão linda quanto à própria mãe de Deus, só podia ser Jaqueline.
Estendeu a mão e lhe tocou o rosto. A sensação era única, era como se todos os desejos da juventude que a muito havia perdido invadissem seu corpo novamente.
– Bart? – Jaqueline perguntou, espantada.
– Sim Jaque?
– O que aconteceu com você? – Ajoelhou-se sobre a cama, Bart imitou-a. Fitaram-se intensamente, Bartholomew ainda olhava-a estupefato.
– Nada Jaque, estou como sempre estive – Jaqueline encontrou um espelho no criado-mudo ao lado da cama e entregou-o a Bartholomew, que ficou duplamente espantado ao ver seu próprio rosto. Afinal, aquele rosto que o fitava de volta, forte, um pouco acima do peso, o nariz rústico, o cabelo negro feito uma noite escura e os olhos azuis fundo de mar... só podia ser o seu. Levou a mão esquerda ao rosto, tocou-o, sorriu, olhou para Jaque que lhe oferecia o mais belo sorriso que alguém poderia receber. Por fim fitou a própria mão, examinou-a: estava como deveria ser: forte, poderosa.
Depois de uns instantes de silêncio entreolharam-se, desejando obter as respostar um no outro: nada. Seus lábios aos poucos aproximaram-se, com sutileza, tocaram-se. A antiga paixão veio atropelando todos os outros sentimentos, como um tsunami. Como senti sua falta, perceberam, afinal, como sentiam falta daquela paixão. Abraçaram-se fortemente, e os seios de Jaqueline pressionados contra seu corpo fizeram brotar em Bartholomew a saudosa virilidade da juventude. Para Jaqueline, sua fortaleza estava de volta, seu refúgio, seu sol.
Eles não souberam como, mas de alguma forma, estavam nus, ainda fitando-se. Bartholomew tocou o seio de Jaqueline, sua boca foi ao seu mamilo, como um bebê faminto. Jaqueline manifestou sua opinião com um leve gemido de prazer. Quando seu pênis penetrou a vagina de Jaqueline sentiu que finalmente chegava em casa, afinal, como lhe disse certo sábio que um dia encontrou na rua: não há melhor casa que uma boceta. Quando terminaram, abraçaram-se novamente, como sempre faziam, Jaqueline apoiou a cabeça sobre seu peito. De repente se deram conta que aquilo tudo era anormal, que eram idosos havia poucos minutos, e que estavam em um lugar completamente desconhecido.
Descobriram estar no topo de uma montanha numa casa, ou melhor, cabana, pequena e aconchegante. Era toda feita de madeira, com entalhes de santos e anjos nas colunas e quadros nas paredes. O único quarto contava com uma linda cama, dos dois lados da cama criados-mudos, uma janela ao canto e uma lareira, frente a qual jaziam duas poltronas exatamente iguais às da casa de Paris. A cozinha tinha uma pequena bancada e um fogão de lenha, a pia acompanhava a arquitetura da casa, pequena e elegante, coisa que Bartholomew julgou desnecessária. Na sala de estar uma estante, completamente abarrotada de livros, uma namoradeira encostada na outra parede. A porta de entrada era de ébano, negra como pinche, com muitos detalhes do céu. Ao lado da porta, dois pacotes que lhes despertaram a curiosidade.
– Manual para... Aero? – Bart disse pegando um livro dentro do pacote no qual estava escrito seu nome – Está em branco...
– O meu está escrito: Manual para Magos – Leu Jaqueline – Mas que diabos está acontecendo, Bartholomew? – Bufou.
– Não sei, meu amor... mas estas roupas aqui, não sei não – Bartholomew riu, enquanto segurava um conjunto de roupas belas mas exóticas. Encontrou também um estranho objeto, como uma lanterna, apertou o botão e na sua frente surgiu um Sabre de Luz, soltou uma exclamação divertida – Eu sou um Jedi? Agora sim eu...
– Bom dia a todos. Devem estar perguntando-se o que está acontecendo convosco – a mesma voz de antes, firme, rígida, mas de alguma forma gentil, o interrompeu subitamente. Espantado, descobriu que a voz não vinha de lugar algum mas ao mesmo tempo de todos os lugares – Alguns de vocês estavam no céu, outros, no inferno, alguns ainda no purgatório ou mesmo, na Terra. Mas agora vocês estão num lugar diferente. Não perguntem porque O Altíssimo decidiu fazer isso, pois há coisas que só Ele sabe e eu sou apenas seu Mensageiro. Portanto vos trago a nova: vocês estão num jogo, um jogo mortal. São dezesseis duplas e Deus deseja que reste apenas uma, as duplas perdedoras voltarão ao seu lugar de origem, a vencedora será enviada para enfrentar os exércitos de satanás. Agora, cada um de vocês vai perceber que estão numa cabana segura, e devem respeitar a seguinte regra: as cabanas são zonas neutras. Vocês talvez já tenham descoberto que há um pacote especialmente endereçado a cada um de vocês com roupas e armas que facilitarão o seu jogo. Cada um de vocês tem uma classe especial que condiz com sua vida na Terra, estas classes são: Aero, Arqueiro, Atirador, Cavaleiro, Assassino, Mago, Druida, Sábio, Bruxo, Lanceiro, Espadachim, Sacerdote, Líbero, Pistoleiro, Berseker e Bucaneiro. Cada uma dessas classes tem suas habilidades especiais. Vocês também têm seu Manual, que vos será muito útil também durante o jogo. Conforme vocês descobrirem as coisas as páginas se preencherão, olhem agora e verão tudo sobre mim e sobre você e seu parceiro. Boa sorte Campeões, pois caíram na Graça de Deus. E que vença o melhor. Que o jogo... comece!
Durante um tempo Bartholomew e Jaqueline entreolharam-se, procurando saber porquê estavam ali. Jaqueline achou no seu pacote uma roupa para mago, um caduceu encostado na parede também tinha seu nome. Algumas bolsas cheias de poções também acompanhavam o conjunto, bem como um livro em Latim: como fazer magia! Abriu o Manual e descobriu que quem lhe falara fora o Arcanjo São Gabriel, o Mensageiro de Deus. Descobriu também que poderia falar com ele quando quisesse, fazendo a seguinte exclamação: Escutai-me São Gabriel, preciso de vosso auxílio!Dependeria apenas do anjo dar-lhe ou não ouvidos. Leu no Manual que Magos não precisam recitar a magia para executá-la, precisavam apenas aprendê-la, e isso os diferenciava diretamente dos bruxos e druidas.
Bartholomew estava empolgado com o fato de agora ser um Jedi, sonho de criança, realizado por Deus. No Manual estava escrito que um Aero podia fazer exatamente o que um Jedi faz. Era o que os diferenciava de um Espadachim: enquanto estes tinham uma alta resistência a ataques de incidência mágica, os Aeros não eram tão resistentes, mas em contrapartida eram mais rápidos, ágeis, e tinham uma espada que podia cortar aço puro.
– Isso foi estranho... – Reclamou Bartholomew.
– Sim... não entendi muita coisa... e ele não parecia querer explicar muita coisa...
– É minha Jaqueline... estamos em algum tipo de jogo maluco que Deus bolou e não poder perguntar o porquê... me sinto um personagem.
– Bart, olha o que eu achei na minha bolsa! – Exclamou Jaque, mostrando um enorme mapa.
– Então há uma torre no centro? Seria bom darmos uma olhada... mas não somos cavaleiros, então não ganhamos cavalos gratuitamente. Isto é um problema...
– E também não sabemos andar a cavalo – Disse Jaque, inocente.
– O que devemos fazer então, hein? Ele não disse, mas... temos que matar os outros jogadores. São quatorze... quem serão eles? Grandes personagens que a história jamais esqueceu, aposto.
– E olha o tamanho desse mundo! – Jaqueline exclamou com admiração.
– De fato... isto é circular e pela exatidão geográfica, e depois do que aconteceu com o Manual, não seria surpresa se ele desse atualizações em tempo real de jogadores que encontramos... – Bart conferiu o Manual – Ah... dá sim!
– Mas olha: são 5 quilômetros da Torre até nossa cabana, no extremo sul. Sendo assim, esse “mundo” tem 10 quilômetros de diâmetro e sua circunferência é... "2 Pi r²" que seria... 157 Km e a área é de 78,5 km². Realmente é um impressionante campo de batalha, com todo tipo de território.
– Desde a Savana até a floresta tropical... é incrível... e nós estamos no topo de uma montanha gelada. Lá em baixo tem uma planície de tundra de um lado e um bosque congelado de outro.
– Amor... você desconfia do objetivo desse jogo? – Perguntou Jaqueline, insegura.
– Não, me perdoe minha Jaque, mas não – Era sempre sincero, era também por isso que o amava tanto, não tentava se vangloriar de nada injustamente, mas abraçou-a com força – Eu te prometo Jaqueline Roberts, que enquanto eu viver... Não! Enquanto esse jogo não acabar, e até depois que ele acabar, enquanto Deus existir: nada lhe fará mal! Vou te proteger para sempre, e você me protegerá para sempre, sempre foi assim não é?
– Sim – Jaqueline sorriu. Limpou uma lágrima que ameaçou escorrer. Meu pequeno grandalhão. Sonha como uma criança... beijou-o mais uma vez e outra vez despiram-se e transaram ali mesmo, no chão, por trás da porta.
Autor(a): luxus_sharv
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Jaqueline olhou para Bartholomew. Achava-o muito belo, mesmo depois de ter se tornado um velho ranzinza e pacato. Agora, via nos seus olhos o antigo brilho da juventude, brilho este que ela tinha certeza de ter também em seus olhos: a paixão. Ele estava vestindo um estranho conjunto de roupas: calças brancas; camisa marrom, sem manga; e uma espéci ...
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