Após Ucker ter ido embora, coloquei a corrente na porta. Arrastei a cadeira pelo quarto e a coloquei sob a maçaneta. Chequei para ter certeza que as trancas da janela estavam funcionando. Eu não sabia se as trancas funcionariam contra a Dabria – nem sabia se ela estava atrás de mim – mas imaginei que era melhor não arriscar.
Após vagar pelo quarto por alguns minutos, tentei o telefone no criado-mudo. Ainda nada de sinal.
Minha mãe ia me matar.
Eu tinha saído escondido dela e ido até Portland. E como eu devia explicar toda a situação de “ter feito check-in num motel com o Ucker”? Eu teria sorte se ela não me botasse de castigo até o fim do ano. Não. Eu teria sorte se ela não saísse de seu emprego e se candidata-se a professora substituta até achar um trabalho em horário integral local. Teríamos que vender a casa da fazenda, e eu perderia a única conexão com o meu pai que me restava.
Aproximadamente quinze minutos mais tarde eu espiei pelo olho mágico.
Nada além de escuridão. Destranquei a porta, e bem quando estava prestes a dar um empurrão nela, luzes tremeluziram atrás de mim. Girei ao redor, meio esperando ver Dabria. O quarto estava parado e vazio, mas a eletricidade tinha voltado.
A porta se abriu com um ruído alto e eu fui para o corredor. O carpete era vermelho-sangue, usado simplesmente no centro do corredor, e manchado com marcas escuros não-identificáveis. As paredes estavam pintadas de neutro, mas a pintura era porca e estava descascando.
Acima de mim, um sinal de verde néon soletrava o caminho para a saída. Segui a seta corredor abaixo e até a esquina. O Jipe parou no outro lado da porta traseira, e eu me lancei e pulei no lado do passageiro.
Nenhuma luz estava acesa quando Ucker parou na casa da fazenda. Experimentei um apertão de culpa no meu estômago e me perguntei se a minha mãe estava dirigindo por aí, me procurando. A chuva tinha parado, e a névoa se pressionava contra a lateral e pairava nos arbustos como um enfeite escandaloso de Natal. As árvores pontilhando a entrada estavam retorcidas e desfiguradas permanentemente pelos constantes ventos do norte. Todas as casas parecem não-convidativas com as luzes apagadas depois de escuro, mas a casa da fazenda com suas fendas pequenas fazendo de janelas, telhado curvado, varanda cavada, e arbustos selvagens parecia assombrada.
— Vou andar até lá, — Ucker disse, saindo.
— Você acha que a Dabria está dentro?
Ele balançou sua cabeça.
— Mas não custa checar.
Eu esperei no Jipe, e alguns minutos mais tarde Ucker saiu da porta da frente.
— Tudo limpo, — ele me disse. — Irei até a escola e voltarei aqui assim que varrer o escritório dela. Talvez ela tenha deixado algo útil para trás.
Ele não soava como se contasse com isso.
Retirei meu cinto de segurança e ordenei que minhas pernas me carregassem rapidamente pela caminhada. Enquanto eu virava a maçaneta, ouvi Ucker recuar pela entrada. As tábuas da varanda rangeram sob meu pé e eu me senti muito sozinha de repente.
Deixando as luzes apagadas, eu me arrastei pela casa, cômodo por cômodo, começando pelo primeiro andar, então indo escada acima. Ucker já tinha liberado a casa, mas eu não achava que um par extra de olhos machucaria.
Depois de eu me certificar que ninguém estava se escondendo sob a mobília, atrás de cortinas do banheiro, ou em armários, coloquei uma calça e um suéter preto de gola V. Encontrei o celular de emergência que minha mãe mantinha em um kit de primeiros socorros sob a pia do banheiro e liguei para seu celular.
Ela atendeu no primeiro toque.
— Alô? Nora? É você? Onde você está? Estou morta de preocupação!
Eu inspirei um longo fôlego, rezando para que as palavras certas saíssem de mim e me ajudassem a sair dessa.
— O negócio é que... — eu começo em minha voz mais sincera e apologética.
— A Estrada Cascade inundou e eles a fecharam. Tive que voltar e conseguir um quarto no Milliken Mills, é onde estou agora. Tentei ligar para casa, mas aparentemente as linhas caíram. Tentei seu celular, mas você não atendeu.
— Espera. Você esteve em Milliken Mills esse tempo todo?
— Onde você achava que eu estava?
Dei um suspiro inaudível de alívio e me abaixei na beira da banheira.
— Eu não sabia, — eu disse. — Eu não conseguia entrar em contato com você, tampouco.
— De que número está ligando? — minha mãe perguntou. — Não reconheço esse número.
— O celular de emergência.
— Onde está o seu celular?
— Eu perdi.
— O quê! Onde?
Cheguei a uma conclusão instável de que uma mentira por omissão era a única maneira. Eu não queria alarmá-la. Também não queria ficar de castigo por uma quantidade interminável de tempo.
— Na verdade eu meio que não o acho. Tenho certeza que ele aparecerá em algum lugar. — No corpo de uma mulher morta.
— Te ligo assim que eles abrirem as estradas, — ela disse.
A seguir eu liguei para o celular da Vee, Após cinco toques fui enviada ao correio de voz.
— Onde você está? — eu disse. — Ligue de volta para esse número o mais rápido possível.
Eu fechei o celular com força e o coloquei no meu bolso, tentando me convencer que a Vee estava bem. Mas eu sabia que era uma mentira. A ameaça invisível nos juntando estivera me alertando por horas agora que ela estava em perigo. Na verdade, a sensação estava aumentando com cada minuto que passava.
Na cozinha eu vi meu vidro de pílulas de ferro na bancada, e eu imediatamente fui até elas, abrindo a tampa e engolindo duas com um copo de leite achocolatado.
Fiquei parada um momento, deixando que o ferro entrasse no meu sistema, sentindo minha respiração aprofundar-se e diminuir a velocidade. Eu estava andando para devolver a caixa de leite para a geladeira quando eu a vi de pé na entrada entre a cozinha e a lavanderia.
Uma substância fria inundou meus pés, e eu percebi que tinha derrubado o leite.
— Dabria? — eu disse.
Ela inclinou sua cabeça para um lado, mostrando uma surpresa mediana.
— Sabe o meu nome? — Ela fez uma pausa. — Ah, Ucker.
Recuei para a pia, colocando mais distância entre nós. Dabria não parecia como quando ela estava na escola como Senhorita Greene. Hoje à noite seu cabelo estava emaranhado, não macio, e seus lábios tinham uma fome mais brilhante e certeira refletidos nele. Seus olhos eram um borrão aguçado de preto circulando-os.
— O que quer? — perguntei.
Ela riu, e soou como cubos de gelo tilintando num copo.
— Eu quero o Ucker.
— O Ucker não está aqui.
Ela assentiu.
— Eu sei. Esperei na rua para que ele fosse embora antes de eu entrar. Mas não foi isso que eu quis dizer quando disse que queria o Ucker.
O sangue martelando pelas minhas pernas circulou de volta até o meu coração com um efeito vertiginoso. Coloquei uma mão na bancada para me firmar.
— Eu sei que você estava me espionando durante as nossas sessões de aconselhamento.
— Isso é tudo que sabe sobre mim? — ela perguntou, seus olhos procurando os meus.
Eu me lembrei da noite em que tive certeza que alguém tinha olhado pela janela do meu quarto.
— Você esteve me espiando aqui também, — eu disse.
— Essa é a primeira vez eu estive na sua casa. — Ela arrastou um dedo pela beirada da ilha da cozinha e se empoleirou numa banqueta. — Belo lugar.
— Deixe-me refrescar sua memória, — eu disse, esperando soar corajosa. — Você olhou pela janela do meu quarto enquanto eu dormia.
Seu sorriso curvou mais alto.
— Não, mas eu te segui ao fazer compras. Ataquei sua amiga e plantei pequenas pistas em sua mente, fazendo-a pensar que Ucker a havia machucado. Não foi muito difícil. Ele não é exatamente inofensivo, para começar. Estava no meu melhor interesse fazê-la ficar o mais assustada possível.
— Para que eu ficasse longe dele.
— Mas você não ficou. Você ainda está no nosso caminho.
— No seu caminho do quê?
— Vamos, Dulce. Se você sabe quem eu sou, então sabe como isso funciona. Quero que ele consiga suas asas de volta. Ele não pertence na Terra. Ele pertence a mim. Ele cometeu um erro, e eu vou corrigi-lo.
Não havia absolutamente compromisso algum em sua voz. Ela saiu da banqueta e andou na minha direção.
Eu recuei pela beirada da bancada exterior, mantendo espaço entre nós. Torturando meu cérebro, tentei pensar numa maneira de distraí-la. Ou escapar.
Eu vivera na casa por dezesseis anos. Conhecia a planta baixa. Eu conhecia cada fenda secreta e os melhores esconderijos.
Eu comandei que meu cérebro bolasse um plano: algo de improviso e brilhante. Minhas costas encontraram o aparador.
— Enquanto você estiver por aí, Ucker não retornará para mim, — Dabria disse.
— Acho que você está superestimando seus sentimentos por mim.
Parecia uma boa ideia subestimar o nosso relacionamento. A possessão de Dabria parecia ser a força principal forçando-a a agir.
Um sorriso incrédulo apareceu em seu rosto.
— Você acha que ele tem esses sentimentos por você? Todo esse tempo você achou... — Ela cortou, rindo. — Ele não fica porque te ama. Ele quer te matar.
Eu balancei minha cabeça.
— Ele não vai me matar.
O sorriso de Dabria endureceu nas pontas.
— Se é isso em que acredita, você é apenas outra garota que ele seduziu para conseguir o que quer. Ele tem um talento pra isso, — ela acrescentou sagazmente. — Ele me seduziu para conseguir seu nome, afinal. Um toque suave do Ucker foi tudo que precisou. Eu caí em seu feitiço e disse a ele que a morte estava chegando para você.
Eu sabia do que ela estava falando. Eu tinha testemunhado o momento exato ao qual ela se referia de dentro da memória de Ucker.
— E agora ele está fazendo a mesma coisa com você, — ela disse. — Traição dói, não é?
Eu balancei minha cabeça lentamente.
— Não...
— Ele está planejando te usar como sacrifício! — ela irrompeu. — Vê esta marca? — Ela estendeu seu dedo ao meu pulso. — Quer dizer que você é uma descendente feminina de um Nephil. E não apenas qualquer Nephil, mas Chauncey Langeais, o vassalo de Ucker.
Eu olhei para a minha cicatriz, e por um instante de parar o coração, eu realmente acreditei nela. Mas eu sabia que ela não era de confiança.
— Há um livro sagrado, O Livro de Enoque, — ela disse. — Nele, um anjo caído mata seu vassalo Nephil ao sacrificar uma de suas descendentes femininas Nephil. Você não acha que Patch quer te matar? Qual a coisa que ele mais quer? Uma vez que ele te sacrificar, ele se tornará humano. Terá tudo que quiser. E não voltará para casa comigo.
Ela desembainhou uma faca enorme do bloco de madeira da bancada.
— E é por isso que eu tenho que me livrar de você. Parece que, de um jeito ou outro, as minhas premonições estavam certas. A morte está vindo para você.
— Ucker está voltando, — eu disse, minhas entranhas nauseando. — Você não quer falar sobre isso com ele?
— Eu farei isso rápido, — ela continuou. — Sou um anjo da morte. Levo as almas até a pós-vida. Assim que eu terminar, levarei sua alma pelo véu. Você não tem nada a temer.
Eu queria gritar, mas a minha voz ficou presa no fundo da minha garganta. Circulei o aparador, colocando a mesa da cozinha entre nós.
— Se você é um anjo, onde estão as suas asas?
— Nada mais de perguntas.
Sua voz tinha ficado impaciente, e ela começou a fechar a distância entre nós seriamente.
— Quanto tempo faz desde que deixou o céu? — perguntei, protelando. — Você está aqui embaixo há vários meses, certo? Não acha que os outros anjos notaram que você sumiu?
— Nem mais outro passo, — ela retrucou, levantando a faca, dispersando a luz da lâmina.
— Você está se encrencando muito por causa do Ucker, — eu disse, minha voz não tão desprovida de pânico quanto eu queria. — Fico surpresa que você não se ressinta dele por te usar quando satisfaz os propósitos dele. Fico surpresa por você querer que ele consiga as asas de volta afinal. Depois do que ele fez, você não está feliz por ele ter sido banido para cá?
— Ele me deixou por uma humana sem valor! — ela cuspiu, seus olhos um azul feroz.
— Ele não te deixou. Não mesmo. Ele caiu...
— Ele caiu porque queria ser humano, como ela! Ele me tinha... ele me tinha! — Ela deu uma risada zombeteira, mas não mascarou a raiva ou a mágoa. — Primeiramente fiquei magoada e brava, e fiz tudo em meu poder para esquecê-lo. Então, quando os arcanjos descobriram que ele estava tentando seriamente se tornar humano, eles me mandaram aqui para fazê-lo mudar de ideia. Eu disse a mim mesma que eu não ia me apaixonar por ele de novo, mas que bem isso fez?
— Dabria... — eu comecei suavemente.
— Ele nem ligava que a garota fosse feita da poeira da terra! Você – todos vocês – são egoístas e desmazelados! Seus corpos são selvagens e indisciplinados. Em um momento vocês estão no pico da alegria, no seguinte estão a beira do desespero. É deplorável! Nenhum anjo sonhará com isso! — Ela lançou seu braço em um arco selvagem pelo seu rosto, enxugando lágrimas. — Olhe pra mim! Eu mal consigo me controlar! Estive aqui embaixo tempo demais, submersa em sujeira humana!
Eu me virei e corri da cozinha, derrubando uma cadeira e deixando-a para trás no caminho da Dabria. Corri pelo corredor, sabendo que estava me prendendo. A casa tinha duas saídas: a porta da frente, que Dabria poderia alcançar antes de mim ao cortar caminho pela sala de estar, e a porta de trás depois da sala de jantar, que ela tinha bloqueado.
Fui empurrada duramente por trás, e eu me arremessei para frente. Derrapei pelo corredor, parando sobre meu estômago. Eu rolei. Dabria pairava a alguns metros acima de mim – no ar – sua pele e cabelo incandescentes em um branco cegante, a faca apontada para mim.
Eu não pensei. Dei um chute para cima com toda a minha força. Arqueei com o chute, abraçando minha perna que não tinha chutado, e mirei no braço dela. A faca foi nocauteada de sua mão. Enquanto ficava de pé, Dabria apontou para o abajur numa mesinha de entrada, e com arremesso abrupto de seu dedo, mandou-o voando até mim. Eu rolei, sentindo cacos de vidro deslizaram sob mim enquanto o abajur espatifava no chão.
— Mova-se!
Dabria comandou, e o banco da entrada deslizou para barrar a porta dianteira, bloqueando a minha saída.
Me arrastando para frente, fui para a escada indo de dois em dois, usando o corrimão para me empurrar para frente. Escutei Dabria rir atrás de mim, e no instante seguinte o corrimão quebrou, caindo no corredor abaixo. Joguei meu peso para trás para me impedir de cair sobre a beirada desprotegida. Recuperando meu equilíbrio, corri até o final da escada.
No topo eu me arremessei para o quarto da minha mãe e bati as portas de batente.
Correndo para uma das janelas flanqueando a lareira, olhei para baixo por dois andares até o chão. Havia três arbustos em uma cama de pedras diretamente abaixo, toda a folhagem desaparecera já que era outono. Eu não sabia se eu sobreviveria ao pulo.
— Abra!
Dabria ordenou do outro lado das portas de batente. Uma fenda rasgou a madeira enquanto a porta deformava-se contra a fechadura. Eu estava sem tempo.
Corri até a lareira e mergulhei sob a abóbada. Eu tinha acabado de puxar os meus pés, abraçando-os contra o interior do cano, quando as portas se abriram, batendo contra a parede. Escutei Dabria marchar até a janela.
— Dulce! — ela chamou em sua voz delicada e arrepiante. — Sei que você está perto! Eu te sinto. Você não pode correr e não pode se esconder, eu queimarei essa casa cômodo por cômodo se é isso que custa para te achar! E então queimarei o caminho pelos campos atrás. Não vou te deixar viva!
Um brilho de luz dourada clara chiou do lado de fora da lareira, junto com o sopro barulhento de fogo inflamando. As chamas mandaram sombras dançantes no buraco abaixo. Eu escutei o estalo e o crepitar de fogo consumindo combustível – mais provável a mobília ou os assoalhos de madeira.
Permaneci apertada no cano. Meu coração martelou, suor pingando da minha pele. Respirei diversas vezes, exalando lentamente para aguentar a queimação nos meus músculos das pernas firmemente contraídos. Patch tinha dito que ele ia para escola. Quanto faltava para ele voltar? Não sabendo se a Dabria ainda estava no quarto, mas temendo que se eu não fosse embora agora o fogo fosse me prender, eu abaixei uma perna no buraco, então a outra. Saí de debaixo da abóboda. Dabria não está à vista, mas as chamas estavam lambendo as paredes, a fumaça sufocando todo o ar do quarto.
Eu me apressei corredor abaixo, não ousando descer, achando que Dabria esperaria que eu tentasse escapar por uma das portas. No meu quarto eu abri a janela. A árvore do lado de fora era perto e vigorosa o bastante para escalar. Talvez eu conseguisse despistar Dabria na névoa atrás da casa. Os vizinhos mais próximos estavam a pouco menos de um quilômetro e meio de distância, e correndo arduamente, eu poderia estar lá em sete minutos. Eu estava prestes a passar minha perna pela janela quando um crepitar soou corredor abaixo.
Fechando-me silenciosamente dentro do armário, eu disquei para 192.
— Há alguém na minha casa tentando me matar, — eu sussurrei para o operador.
Eu tinha acabado de dar o meu endereço quando a porta para o meu quarto se abriu. Fiquei perfeitamente imóvel. Pelas ripas na porta do armário, observei uma figura indistinta entrar no quarto. A luz estava fraca, meu ângulo errado, e eu não conseguia ver um único detalhe diferenciador. A figura abriu as persianas da janela, espiando. Ela tocou as meias e as roupas íntimas na minha gaveta aberta. Pegou o pente prata na minha escrivaninha, estudou-o, então o devolveu.
Quando a figura virou na direção do armário, eu sabia que estava encrencada. Deslizando minha mão para o chão, eu tateei procurando por algo que eu poderia usar em minha defesa. Meu cotovelo bateu numa pilha de caixas de sapato, fazendo-as tombarem. Eu balbuciei uma maldição. Os passos andaram para mais perto.
As portas do armário abriram, e eu atirei um sapato. Agarrei outro e o joguei.
Ucker xingou baixinho, arrancou um terceiro sapato das minhas mãos, e o jogou para trás dele. Me arrancando com força do armário, ele me colocou de pé. Antes que eu conseguisse registrar o alívio por descobrir que ele, e não Dabria, estava na minha frente, ele me puxou contra si e entrelaçou seus braços ao meu redor.
— Você está bem? — ele murmurou no meu ouvido.
— Dabria está aqui, — eu disse, meus olhos enchendo de lágrimas. Meus joelhos tremeram, e o aperto de Ucker era a única coisa me mantendo de pé. — Ela está queimando a casa.
Ucker me deu um conjunto de chaves e eu curvei meus dedos ao redor delas.
— Meu Jipe está estacionado na rua. Entre, tranque as portas, dirija até Delphic, e espere por mim.
Ele inclinou meu queixo para encará-lo, deu um beijo de leve nos meus lábios e mandou um relampejo de calor por mim.
— O que você vai fazer? — perguntei.
— Lidar com a Dabria.
— Como?
Ele deslizou um olhar para mim que dizia: Você realmente quer os detalhes?
O som de sirenes lamentou à distância. Ucker olhou para a janela.
— Você chamou a polícia?
— Achei que você fosse a Dabria.
Ele já estava saindo pela porta.
— Eu irei atrás da Dabria. Dirija o Jipe até Delphic e espere por mim.
— E quanto ao incêndio?
— A polícia vai lidar com isso.
Eu forcei meu aperto nas chaves. A parte de tomar decisões do meu cérebro estava dividida, correndo em direções opostas. Eu queria sair da casa e ficar longe da Dabria, e me encontrar com Ucker mais tarde, mas havia um pensamento perturbante do qual eu não conseguia me livrar. Dabria dissera que Ucker precisava me sacrificar para se tornar humano.
Ela não tinha dito isso levianamente, ou para me irritar. Ou nem mesmo para me colocar contra ele. Suas palavras tinham saído frias e sérias. Sérias o bastante que ela tinha tentado me matar para impedir o Patch de chegar até mim antes.
Encontrei o Jipe estacionado na rua, exatamente como Patch dissera. Coloquei a chave na ignição e levei o Jipe por Hawthorne.
Me dando conta de que era inútil tentar o celular da Ane novamente, eu liguei para o número da casa dela ao invés.
— Oi, Sra. Sky, — eu disse, tentando soar como se nada estivesse fora do normal. — A Ane está aí?
— Oi, Dulce! Ela saiu há algumas horas. Algo sobre uma festa em Portland. Achei que ela estava com você.
— Hm, nós nos separamos, — eu menti. — Ela disse para onde ia depois da festa?
— Ela estava pensando em ver um filme. E não está atendendo seu celular, então eu assumo que ela o desligou por causa de uma exibição. Tudo está bem?
Eu não queria assustá-la, mas ao mesmo tempo, eu não ia dizer que estava tudo bem. Nenhum pouquinho disso parecia bem para mim. Da última vez que eu falara com a Vee, ela estava com o Elliot. E agora ela não estava atendendo seu celular.
— Acho que não, — eu disse. — Vou dar uma volta e procurar por ela. Começarei pelo cinema. Você procura na alameda?