Minha mãe e eu vivíamos em uma fria casa de fazenda do século dezoito no limite de Coldwater. É a única casa na Alameda Hawthorne, os vizinhos mais próximos estão há quase 1,6 quilômetros de distância. Às vezes me pergunto se o construtor original percebeu que de todos os pedaços de terra disponíveis, ele decidiu construir a casa no olho de uma misteriosa inversão atmosférica que parece sugar toda a névoa da costa do Maine e transplantá-la no nosso jardim. A casa estava nesse momento velada por uma melancolia que lembrava espíritos que escaparam e estão vagando.
Passei a noite plantada em um banquinho de bar na cozinha na companhia da lição de álgebra e Dorothea, nossa governanta. Minha mãe trabalha para a Empresa de Leião Hugo Renaldi, coordenando leilões imobiliários e de antiguidades em toda a costa oeste. Essa semana ela estava em Charleston, Carolina do Sul. Seu trabalho requeria muitas viagens, e ela pagava Dorothea para cozinhar e limpar, mas eu estava bem certa de que as letras miúdas da descrição do trabalho da Dorothea incluíam manter um olho observador e parental em mim.
— Como foi a escola? — Dorothea perguntou com um ligeiro sotaque alemão. Ela estava de pé na cozinha, esfregando lasanha cozida demais de uma caçarola.
— Tenho um novo parceiro de biologia.
— Isso é uma coisa boa, ou uma coisa ruim?
— Vee era a minha antiga parceira.
— Humph. — Mais esfregação vigorosa, e a carne na parte superior do braço de Dorothea sacolejou. — Uma coisa ruim, então.
Eu suspirei em concordância.
— Me conte sobre a sua nova parceira. Essa garota, como ela é?
— Ele é alto, moreno, e irritante.
E misteriosamente fechado. Os olhos de Christopher eram órbitas negras. Retendo tudo e retornando nada. Não que eu quisesse saber mais sobre o ele. Já que eu não tinha gostado do que tinha visto na superfície, eu duvidava de que eu gostaria do que estivesse espreitando lá no fundo.
Só que, isso não era exatamente verdade. Eu tinha gostado muito do que tinha visto. Músculos longos e magros em seus braços, ombros largos, mas relaxados, e um sorriso que era parcialmente brincalhão, parcialmente sedutor.
Eu estava em uma aliança incômoda comigo mesma, tentando ignorar o que começara a parecer irresistível.
Às nove horas, Dorothea terminou o jantar e trancou a casa ao sair. Como forma de adeus, pisquei as luzes da varanda duas vezes; elas devem ter penetrado a névoa, porque ela respondeu com uma buzina. Eu estava sozinha.
Fiz um inventário dos sentimentos brincando dentro de mim. Eu não estava com fome. Não estava cansada. Não estava nem mesmo tão solitária. Mas eu estava um pouco inquieta sobre a minha tarefa de biologia. Eu tinha dito ao Christopher que eu não ligaria, e seis horas atrás eu tinha falado sério. Tudo em que eu podia pensar agora era que eu não queria falhar. Biologia era a minha matéria mais difícil. Minha nota oscilava problematicamente entre 9 e 8. Na minha mente, essa era a diferença entre uma bolsa de estudos integral e parcial no meu futuro.
Fui para a cozinha e peguei o telefone. Olhei para o que tinha sobrado dos sete números ainda tatuados na minha mão. Secretamente, eu esperava que o Christopher não atendesse a minha ligação. Se ele não estivesse disponível ou cooperasse nas tarefas, era uma evidência que eu podia usar contra ele para convencer o Treinador a desfazer o mapa de assentos. Sentindo-me esperançosa, digitei seu número.
Christopher respondeu no terceiro toque. — E aí?
Em um tom prosaico, eu disse:
— Estou ligando para ver se podemos nos encontrar hoje à noite. Sei que você disse que está ocupado, mas...
— Dulce. — Patch disse meu nome como se fosse a parte final de uma piada. — Achei que você não fosse ligar. Nunca.
Eu odiava estar comendo as minhas palavras. Odiava o Christopher por estar esfregando-as. Eu odiava o Treinador por suas tarefas enlouquecedoras. Abri minha boca, esperando que algo inteligente saísse.
— Bem, podemos nos encontrar ou não?
— Acontece que não posso.
— Não pode ou não vai?
— Estou no meio de um jogo de sinuca. — Eu ouvi o sorriso em sua voz. — Um jogo de sinuca importante.
Pelo barulho de fundo que ouvi em sua linha, eu acreditava que ele estava dizendo a verdade – sobre o jogo de sinuca. Se isso era mais importante que a minha tarefa de biologia, era debatível.
— Onde você está? — perguntei.
— No Fliperama do Bo. Não é o seu tipo de lugar.
— Então vamos fazer a entrevista no telefone. Tenho uma lista de perguntas bem...
Ele desligou na minha cara.
Encarei o telefone em descrença, então arranquei uma folha de papel em branco do meu caderno. Rabisquei Babaca na primeira linha. Na linha abaixo dessa acrescentei Fuma charutos. Vai morrer de câncer de pulmão. Com sorte logo. Excelente forma física.
Imediatamente risquei a última observação até que ficasse ilegível.
O relógio do micro-ondas piscava 21:05. Da minha perspectiva, eu tinha duas escolhas. Ou eu inventava minha entrevista com o Christopher, ou eu dirigia até o Fliperama do Bo. A primeira opção podia ter sido tentadora, se ao menos pudesse bloquear a voz do Treinador alertando que ele checaria todas as respostas para autenticidade. Eu não conhecia o suficiente sobre Christopher para blefar a entrevista inteira. E a segunda opção? Nem mesmo remotamente tentadora.
Atrasei tomar uma decisão tempo o bastante para ligar para minha mãe. Parte do nosso acordo para ela trabalhar e viajar tanto era que eu agisse responsavelmente e não fosse o tipo de filha que requisitasse supervisão constante. Eu gostava da minha liberdade, e não queria fazer nada para dar à minha mãe uma razão para cortar seu salário e pegar um trabalho local para ficar de olho em mim.
No quarto toque, seu correio de voz atendeu.
— Sou eu, — eu disse. — Só estou checando. Tenho lição de biologia para terminar, depois vou para a cama. Me ligue no almoço, se você quiser. Te amo.
Depois de desligar, achei uma moeda de 25 centavos na gaveta da cozinha. É melhor deixar decisões complicadas para o destino.
— Cara eu vou, — eu disse ao perfil de George Washington. — Coroa eu fico. — Joguei a moeda de 25 centavos no ar, achatei-a nas costas da minha palma, e ousei dar uma espiada. Meu coração espremeu uma batida extra, e eu disse a mim mesma que eu não tinha certeza o que isso significava.
— Não está mais nas minhas mãos agora, — eu disse.
Determinada a acabar com isso o mais rápido possível, agarrei um mapa da geladeira, apanhei minhas chaves, e recuei meu Fiat Spider pela estrada. O carro provavelmente fora fofo em 1979, mas eu não era louca pela pintura marrom chocolate, pela ferrugem se espelhando desenfreada pelo para-choque traseiro, ou pelos assentos arrebentados de couro branco.
O Fliperama do Bo acabou sendo mais longe do que eu teria gostado, aninhada perto à costa, uma viagem de trinta minutos. Com o mapa esticado no volante, parei o Fiat em um estacionamento atrás de um amplo prédio de blocos cinzas com uma placa elétrica piscando FLIPERAMA DO BO, PAINTBAL DO MAD BLACK E SALÃO DE SINUCA DO OZZ. Grafite salpicava as paredes, e bitucas de cigarro pontuavam a calçada. Claramente o fliperama estaria cheio de futuros estudantes das melhores universidades e cidadãos exemplo. Tentei manter meus pensamentos altivos e indiferentes, mas meu estômago estava um pouco inquieto. Checando novamente se eu tinha trancado todas as portas, me dirigi para dentro.
Fiquei na fila, esperando passar pelas cordas. Enquanto o grupo à minha frente pagava, eu passei me espremendo, andando na direção do labirinto de sirenes estrondeantes e das luzes piscantes.
— Acha que merece um passe grátis? — gritou uma voz rouca de fumaça.
Me virei e pestanejei para o caixa excepcionalmente tatuado. Eu disse:
— Não estou aqui para brincar. Estou procurando por alguém.
Ele resmungou.
— Se quiser passar por mim, tem que pagar. — Ele colocou suas palmas sobre o balcão, onde uma tabela de preços tinha sido colada com durex, mostrando que eu devia quinze dólares. Somente dinheiro.
Eu não tinha dinheiro. E se eu tivesse, não teria desperdiçado-o gastando uns poucos minutos interrogando o Christopher sobre sua vida pessoal. Senti um fluxo de raiva pelo mapa de assentos e por ter que estar aqui em primeiro lugar. Eu só precisava achar o Christopher, então poderíamos assegurar a entrevista do lado de fora. Eu não tinha dirigido até aqui para ir embora de mãos vazias.
— Se eu não voltar em dois minutos, pago os quinze dólares, — eu disse. Antes que eu pudesse exercitar um melhor julgamento ou reunir um rico mais de coragem, fiz algo totalmente fora do normal e me abaixei por debaixo das cordas. Eu não parei lá. Me apressei pela arcada, mantendo meus olhos abertos pelo Christopher. Eu disse a mim mesma que não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas eu era como uma bola de neve rolante, ganhando velocidade e ímpeto. Nesse momento eu só queria achar o Christopher e cair fora.
O caixa me seguiu, gritando, — Ei!
Certa de que o Christopher não estava no nível principal, corri escada abaixo, seguindo as indicações até o Salão de Sinuca do Ozz. Ao fim da escada, uma trilha de iluminação turva iluminava diversas mesas de pôquer, todas em uso. Fumaça de charuto quase tão grossa quanto à névoa envolvendo a minha casa escurecia o teto baixo. Aninhada entre as mesas de pôquer e o bar estava uma fileira de mesas de sinuca. Christopher estava esticado na que ficava transversalmente a mim, tentando uma difícil tacada de mestre.
— Christopher! — chamei.
Bem quando eu falei, ele atirou seu taco de sinuca, impulsionando-o no topo da mesa. Sua cabeça levantou-se rapidamente. Ele me encarou com uma mistura de surpresa e curiosidade.
O caixa claudicou os passos atrás de mim, mirando no meu ombro com sua mão.
— Para cima. Agora.
A boca de Christopher se deslocou em outro quase sorriso. Difícil dizer se era zombador ou amigável.
— Ela está comigo.
Isso pareceu ter alguma influência com o caixa, que relaxou seu aperto. Antes que ele pudesse mudar de ideia, retirei sua mão e contorci-me entre as mesas na direção de Christopher. Andei os primeiros diversos passos a passos largos, mas descobri minha confiança escorregando quando mais perto eu chegava dele.
Fiquei imediatamente consciente de algo diferente nele. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas eu podia sentir isso como eletricidade. Mais hostilidade?
Mais confiança.
Mais liberdade de ser ele mesmo. E aqueles olhos negros estavam me incomodando. Eles eram como imãs, unindo-se a cada movimento meu. Engoli em seco discretamente e tentei ignorar o enjoativo sapateado no meu estômago. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas algo em Patch não era correto. Algo nele não era normal. Algo não era... seguro.
— Desculpe por ter desligado, — Christopher disse, vindo ao meu lado. — A recepção não é boa aqui embaixo.
É, tá bom.
Com uma inclinação de sua cabeça, Christopher gesticulou para que os outros fossem embora. Houve um silêncio inquietante antes que qualquer um se movesse. O primeiro cara a sair bateu no meu ombro enquanto passava. Eu dei um passo para trás para me equilibrar e olhei para cima bem em tempo de receber olhares frios de outros dois jogadores enquanto eles partiam.
Ótimo. Não era minha culpa que Christopher era meu parceiro.
— Sinuca? — Perguntei a ele, levantando minhas sobrancelhas e tentando soar completamente certa de mim mesma, dos meus arredores.
Talvez ele estivesse certo e o Fliperama do Bo não fosse o meu tipo de lugar. Isso não queria dizer que eu ia correr em direção às portas.
— Em quanto estão às apostas?
Seu sorriso se alargou. Dessa vez eu estava bem certa de que ele estava zombando de mim.
— Não jogamos por dinheiro.
Coloquei minha bolsa de mão na ponta da mesa.
— Que pena. Eu ia apostar tudo que tenho contra você. — Levantei minha tarefa, duas linhas já preenchidas. — Algumas rápidas perguntas e estou fora daqui.
— Babaca? — Christopher leu em voz alta, inclinando-se sobre seu taco de sinuca. — Câncer de pulmão? É pra isso ser profético?
Eu ventilei a tarefa pelo ar.
— Assumo que você contribuiu para a atmosfera. Quantos charutos por noite? Um? Dois?
— Eu não fumo. — Ele soava sincero, mas eu não engolia.
— Mm-hmm, — eu disse, deixando o papel de lado entre a bola oito e a roxa sólida. Eu acidentalmente acotovelei a roxa sólida enquanto escrevia Charutos, definitivamente na linha três.
— Você está bagunçando o jogo, — Christopher disse, ainda sorrindo.
Eu captei seu olhar e não pude evitar igualar seu sorriso brevemente. — Com sorte não em seu favor. Maior sonho? — Eu estava orgulhosa dessa porque sabia que iria aturdi-lo. Ela requeria premeditação.
— Beijar você.
— Isso não é engraçado, — eu disse, segurando seus olhos, grata por não ter gaguejado.
— Não, mas fez você corar.
Eu me empurrei para o lado da mesa, tentando parecer apática enquanto fazia isso. Cruzei minhas pernas, usando meu joelho como uma tábua para escrever.
— Você trabalha?
— Sirvo mesas no Borderline. O melhor restaurante mexicano da cidade.
— Religião?
Ele não pareceu surpreso pela pergunta, mas não pareceu radiante com ela tampouco.
— Pensei que você tivesse dito algumas rápidas perguntas. Você já está na número quatro.
— Religião? — perguntei mais firmemente.
Christopher arrastou uma mão pensativamente pela linha de sua mandíbula.
— Não é religião... É um culto.
— Você pertence a um culto? — Percebi tarde demais que eu não deveria ter me surpreendido.
— Acontece que estou precisando de um sacrifício feminino saudável. Eu planejava seduzi-la para que confiasse em mim primeiro, mas se está pronta agora...
Qualquer sorriso restante no meu rosto desapareceu.
— Você não está me impressionando.
— Não comecei a tentar ainda.
Eu me debrucei da mesa e fiquei de pé encarando-o. Ele era uma cabeça inteira mais alto.
— Ane me disse que você é um veterano. Quantas vezes reprovou em biologia do segundo ano? Uma vez? Duas vezes?
— Ananhi não é minha porta-voz.
— Está negando ter reprovado?
— Estou te dizendo que não fui para a escola ano passado. — Seus olhos me zombaram... Isso só me deixou mais determinada.
— Pulou o ano?
Christopher deitou seu taco de sinuca no topo da mesa e curvou um dedo para mim chegar mais perto. Eu não cheguei.
— Um segredo? — ele disse em tons confidenciais. — Nunca fui pra escola antes. Outro segredo? Não é tão chato quando eu esperava.
Ele estava mentindo. Todos iam para a escola. Havia leis. Ele estava mentindo para tirar alguma resposta de mim.
— Você acha que estou mentindo, — ele disse em volta de um sorriso.
— Você nunca foi para a escola, nunca? Se isso for verdade – e você está certo, eu não acho que seja – o que fez você decidir vir esse ano?
— Você.
O impulso de me sentir assustada golpeou-me, mas eu disse a mim mesma que era exatamente isso que Christopher queria. Marcando meu território, tentei agir irritada, ao invés. Ainda assim, levei um momento para achar minha voz.
— Essa não é uma resposta de verdade.
Ele deve ter dado um passo para mais perto, porque de repente nossos corpos estavam separados por nada mais do que uma superficial margem de ar.
— Seus olhos, Dulce. Esses olhos cinzas frios e pálidos são surpreendentemente irresistíveis. — Ele curvou sua cabeça de lado, como se para me estudar de um novo ângulo. — E essa boca carnuda, de matar.
Espantada não tanto pelo comentário dele, mas pela parte de mim que respondeu positivamente a ele, eu recuei.
— Já chega. Vou cair fora daqui.
Mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas não eram verdadeiras. Senti o desejo de dizer algo mais. Selecionando os pensamentos emaranhados na minha cabeça, tentei achar o que era que eu sentia que devia dizer. Por que ele era tão irrisório, e por que ele agia como se eu tivesse feito algo para merecer isso?
— Você parece saber muito sobre mim, — eu disse, fazendo a atenuação do ano. — Mais do que deveria. Você parece saber exatamente o que dizer para me deixar desconfortável.
— Você facilita.
Uma faísca de raiva disparou por mim.
— Você admite que está fazendo isso de propósito?
— Isso?
— Isso... me provocando.
— Diga ‘provocando’ novamente. Sua boca fica provocativa quando você faz isso.
— Acabamos aqui. Termine seu jogo de sinuca. — Agarrei seu taco de sinuca da mesa e empurrei para ele. Ele não pegou-o.
— Eu não gosto de sentar do seu lado, — eu disse. — Não gosto de ser sua parceira. Não gosto do seu sorriso condescente. — Minha mandíbula tremeu – algo que tipicamente acontecia quando eu mentia. Me perguntei se eu estava mentindo agora. Se eu estivesse, queria me chutar. — Eu não gosto de você, — eu disse o mais convincentemente que consegui, e enfiei o taco contra seu peito.
— Estou feliz pelo Treinador nos ter colocado juntos, — ele disse. Eu detectei uma leve ironia na palavra “Treinador”, mas não consegui descobrir nenhum significado escondido. Dessa vez ele pegou o taco de sinuca.
— Estou trabalhando para mudar isso, — eu reagi.
Christopher achou que isso era tão engraçado que seus dentes apareceram em seu sorriso. Ele se esticou até mim, e antes que eu pudesse me afastar, ele desembaraçou algo do meu cabelo.
— Pedaço de papel, — ele explicou, jogando-o no chão. Enquanto esticava sua mão, notei uma marca na parte interna do seu pulso. De primeira presumi que fosse uma tatuagem, mas um segundo olhar revelou um marrom rubicundo, uma marca de nascença ligeiramente levantada. Era da forma de um pingo de tinta esparramado.
— Que lugar infeliz para uma marca de nascença, — eu disse, mais do que um pouco enervada por estar tão similarmente posicionada à minha própria cicatriz.
Christopher casual e notavelmente deslizou sua manga sobre seu pulso.
— Você preferiria em algum lugar mais privado?
— Eu não a preferiria em qualquer outro lugar. — Eu não estava certa de como isso soava e tentei novamente. — Eu não ligaria se você nem ao menos a tivesse. — Tentei uma terceira vez. — Eu não ligo para a sua marca de nascença, ponto.
— Mais perguntas? — ele perguntou. — Comentários?
— Não.
— Então te vejo na aula de biologia.
Pensei em dizer a ele que ele nunca me veria novamente. Mas eu não ia comer minhas palavras duas vezes em um dia.
Mais tarde naquela noite um crack! me puxou do sono. Com meu rosto esmagado contra meu travesseiro, fiquei imóvel, todos os meus sentidos em alerta total. Minha mãe ficava fora da cidade pelo menos uma vez por mês por causa do trabalho, então eu estava acostumada a dormir sozinha, e fazia meses desde que eu tinha imaginado o som de passos rastejando pelo corredor na direção do meu quarto. A verdade era que eu nunca me sentia completamente sozinha. Logo depois do meu pai ter sido atirado até a morte em Portland enquanto comprava um presente de aniversário para a minha mãe, uma presença estranha entrou na minha vida. Como se alguém estivesse orbitando meu mundo, observando de longe. De primeira a presença fantasmagórica tinha me apavorado, mas quando nada de ruim sucedeu disso, minha ansiedade perdeu sua animação. Comecei a me perguntar se havia um propósito cósmico para a maneira como eu estava me sentindo. Talvez o espírito do meu pai estivesse por perto. O pensamento era geralmente confortante, mas hoje a noite era diferente. A presença parecia gelo na pele.
Virando a minha cabeça uma fração, vi uma forma sombreada se esticando pelo meu chão. Girei para ver um rosto na janela, o raio de luz transparente do luar a única luz no quarto capaz de jogar sombras. Mas nada estava lá. Apertei meu travesseiro contra mim e disse a mim mesma que era uma nuvem passando sobre a lua. Ou um pedaço de lixo soprando no vento. Ainda assim, passei os próximos minutos esperando minha pulsação se acalmar.
Na hora que eu reuni coragem para sair da cama, o jardim abaixo da minha janela estava silencioso e imóvel. O único barulho vinha dos gravetos de árvore arranhando a casa, e do meu próprio coração batendo debaixo da minha pele.
Qual é esta tao ruim assim a fic??