Fanfic: Finale (Adaptada) | Tema: Vondy
Me abaixei no canto da minha cama, encarando o espaço. A raiva estava começando a se dissipar, mas eu quase desejei que pudesse ficar presa na febre dela para sempre. O vazio que ela deixava para trás doía mais do que a dor penetrante e ardente que eu tinha sentido quando Ucker fora embora. Tentei achar sentido no que tinha acabado de acontecer, mas meus pensamentos estavam uma bagunça deslocada. Nossas palavras gritadas soavam nos meus ouvidos, mas elas ecoavam uma desordem, como se eu estivesse me lembrando de um pesadelo ao invés de uma conversa de verdade.
Eu realmente tinha terminado com ele? Eu realmente quisera que isso fosse permanente? Não havia jeito de contornar o destino ou algo mais imediato como as ameaças dos arcanjos? Como se respondendo, meu estômago deu um giro, ameaçando ficar enjoado.
Me apressei até o banheiro e me ajoelhei sobre a privada, meus ouvidos tinindo e minha respiração saindo rasa e cortada. O que eu tinha feito? Nada permanente, definitivamente nada permanente. Amanhã nós nos veríamos novamente e tudo voltaria a ser do jeito que era. Isso era só uma briga. Uma briga estúpida. Esse não era o fim. Amanhã perceberíamos como tínhamos sido baixos e nos desculparíamos. Nós deixaríamos isso para trás. Faríamos as pazes. Eu me arrastei para ficar de pé e abri a torneira da pia. Molhando uma toalha de rosto, eu a pressionei contra o meu rosto. Minha mente ainda parecia estar deslindando mais rapidamente do que um carretel de linha e eu apertei meus olhos para fecharem e fazerem o movimento parar. Mas e quanto aos arcanjos? Eu me perguntei novamente. Como Ucker e eu poderíamos ter um relacionamento normal quando eles nos observavam constantemente? Eu congelei. Eles podiam estar me observando agora mesmo. Eles podiam estar observando o Ucker. Tentando ver se ele tinha cruzado a linha. Procurando por qualquer desculpa para mandá-lo para o inferno, e para longe de mim, para sempre.
Senti a minha raiva reacender. Por que eles não podiam nos deixar em paz? Por que estavam tão focados em destruir o Ucker? Ucker tinha me dito que ele fora o primeiro anjo caído a ganhar suas asas de volta e se tornar um anjo da guarda. Os arcanjos estavam bravos por causa disso? Eles achavam que Ucker tinha enganado-os, de algum modo? Ou que ele tinha trapaceado desde o começo? Eles queriam colocá-lo em seu devido lugar? Ou meramente não confiavam nele?
Fechei os meus olhos, sentindo uma lágrima viajar pela lateral do meu nariz. Eu retiro tudo, pensei. Eu queria ligar desesperadoramente para ele, mas não sabia se estaria colocando-o em algum tipo de perigo. Os arcanjos podiam ouvir as nossas conversas no telefone? Como é que o Ucker e eu poderíamos ter uma conversa honesta se eles estivessem escutando?
Eu também não conseguia abandonar o meu orgulho. Ele não percebia que ele também estava tão errado quando. A razão toda por termos brigado, em primeiro lugar, era por ele ter recusado a me dizer o que estava fazendo na casa da Marcie ontem à noite. Eu não era do tipo ciumenta, mas ele conhecia a minha história com a Marcie. Sabia que essa era a única vez que eu tinha que saber.
Havia outra coisa fazendo com que as minhas estranhas se revirassem. Ucker dissera que a Marcie fora atacada no banheiro masculino do Fliperama do Bo. O que a Marcie estava fazendo no fliperama? Pelo que eu sabia, ninguém da Escola Coldwater frequentava o fliperama. De fato, antes de conhecer o Ucker, eu nunca tinha ouvido falar no lugar. Era uma coincidência que no dia depois de Ucker olhar pela janela do quarto da Marcie, ela fosse passar pelas portas dianteiras do fliperama? Ucker insistira que não havia nada além de negócios entre eles, mas o que isso ao menos queria dizer? E Marcie era muitas coisas, entre elas, sedutora e persuasiva. Não só ela não aceitava não como resposta, como não aceitava nenhuma resposta que não fosse o que ela queria.
E se, dessa vez, ela quisesse... o Ucker?
Uma batida alta na porta da frente me trouxe de volta do meu retiro.
Me enrolei em um amontoado de travesseiros na minha cama, fechei meus olhos, e disquei para a minha mãe.
— Os Parnells estão aqui.
— Eca! Estou no sinaleiro da Walnut. Estarei aí em dois minutos. Mande eles entrarem.
— Eu mal me lembro do Scott, e não me lembro nenhum pouco da mãe dele. Vou convidar eles para entrar, mas não vou bater papo. Vou ficar no meu quarto até você voltar. — Tentei comunicar no meu tom que algo estava errado, mas não era como se eu pudesse me confidenciar com a minha mãe. Ela odiava o Ucker. Ela não iria se compadecer. Eu não conseguia aguentar escutar a felicidade e o alívio em sua voz. Agora não.
— Dulce.
— Ótimo! Eu falo com eles.— Fechei meu celular com força e o joguei do outro lado do cômodo.
Andei até a porta da frente devagar e abri a fechadura. O cara parado no capacho era alto e tinha boas proporções, eu conseguia afirmar isso pois sua camiseta era meio apertada e propagandeava abertamente ACADEMIA PLATINUM, PORTLAND. Uma argola prateada pendia em seu lóbulo direito, e sua calça jeans Levi`s pendia perigosamente baixa nos quadris. Ele usava um boné de beisebol com uma estampa rosa havaiana que parecia recém retirada da prateleira de uma loja de roupas usadas e devia ser uma piada interna, e seu óculos de sol me lembrava o Hulk Hogan. Apesar de tudo isso, ele tinha um certo charme juvenil.
Os cantos de sua boca viraram para cima.
— Você deve ser a Dulce.
— Você deve ser o Scott.
Ele deu um passo para dentro e tirou seu óculos do sol. Seus olhos escanearam o corredor que levava para a cozinha e para a sala da família.
— Onde está a sua mãe?
— A caminho de casa com o jantar.
— O que vamos comer?
Eu não gostava dele usando a palavra `nós`. Não havia `nós`. Havia a família Grey, e a família Parnell. Duas entidades separadas que por acaso estavam dividindo a mesma mesa de jantar por uma noite.
Quando eu não respondi, ele prosseguiu.
— Coldwater é um pouco menor do que eu estou acostumado.
Cruzei meus braços sobre o meu peito.
— É também um pouco mais fria que Portland.
Ele me olhou de cima a baixo, então sorriu um tantinho.
— Eu notei. — Ele deu um passo para o lado a caminho da cozinha e cutucou a porta da geladeira. — Tem cerveja?
— O quê? Não.
A porta da frente ainda estava aberta e vozes do lado de fora eram trazidas para dentro. Minha mãe passou pela soleira, carregando duas sacolas marrons de mercearias. Uma mulher redonda com uma corte de cabelo feio estilo fadinha e com uma maquiagem rosa pesada a seguiu.
— Dulce, esta é Lynn Parnell, — minha mãe disse. — Lynn, essa é a Dulce.
— Minha nossa, — a Sra. Parnell disse, unindo suas mãos. — Ela parece exatamente com você, não parece, Blyte? E olhe para essas pernas! Mais compridas que a Strip de Vegas.
Eu falei:
— Eu sei que é numa péssima hora, mas não estou me sentindo bem, então eu vou me deitar...
Eu parei devido ao olhar feio que a minha mãe lançou na minha direção. Eu dirigi meu olhar mais injustiçado de volta.
— O Scott realmente cresceu, não foi, Dulce? — ela disse.
— Que observadora.
Minha mãe colocou as sacolas na bancada e se dirigiu ao Scott.
— Dulce e eu estávamos um tanto nostálgicas esta manhã, nos lembrando de todas as coisas que vocês dois costumavam fazer. Nora me disse que você costumava fazê-la comer rocambole.
Antes que Scott pudesse se defender, eu disse:
— Ele costumava fritá-los vivos sob uma lupa, e ele não tentava me fazer comê-los. Ele se sentava em cima de mim e eu apertava meu nariz até ficar sem ar e ter que abrir a minha boca. Então ele jogava eles dentro.
Minha mãe e a Sra. Parnell trocam um olhar rápido.
— Scott sempre foi muito persuasivo, — a Sra. Parnell disse rapidamente. —Ele pode convencer as pessoas a fazerem coisas que elas nunca imaginaram fazer. Ele tem um dom para isso. Me convenceu em comprar para ele um Ford Mustang 1966, novo. É claro, ele me acertou num período bom, eu me sentia tão culpada pelo divórcio. Bom. Como eu dizia, Scott provavelmente fez os melhores rocamboles fritos do quarteirão todo.
Todos olharam para mim para que eu confirmasse.
Eu não podia acreditar que estávamos discutindo isso como se fosse um tópico de conversa perfeitamente normal.
— Então, — Scott aumentou a voz, coçando seu peito. Seu bíceps flexionou quando ele fez isso, mas ele provavelmente sabia disso. — O que tem para o jantar?
— Lasanha, pão de alho, e uma salada de gelatina, — minha mãe disse com um sorriso. — Nora fez a salada.
Isso era novidade para mim.
— Eu fiz?
— Você comprou as caixas de gelatina, — ela me lembrou.
— Isso não conta, na verdade.
— Dulce fez a salada, — minha mãe assegurou ao Scott. — Eu acho que está tudo pronto. Por que não comemos?
Uma vez sentados, nos demos as mãos e a minha mãe abençoou a comida.
— Me conte sobre os apartamentos na vizinhança, — a Sra. Parnell disse, cortando a lasanha e deslizando o primeiro pedaço no prato de Scott. — Quanto eu posso esperar pagar por dois quartos com dois banheiros?
— Depende de quanto você quer que ela seja remodelada, — minha mãe respondeu. — Quase tudo desse lado da cidade foi construído antes de 1900, e aparenta. Assim que nos casamos, Harrison e eu procuramos por diversos apartamentos acessíveis de dois quartos, mas quase sempre havia algo errado, buracos nas paredes, problemas com baratas, ou eles não estavam perto o bastante de um parque para ser capaz de ir caminhando até um. Já que eu estava grávida, decidimos que precisávamos de um lugar maior. Essa casa estivera no mercado por dezoito meses, e conseguimos fazer um acordo que consideramos quase bom demais para ser verdade. — Ela olhou ao redor. — Harrison e eu planejamos restaurá-la por completo eventualmente, mas... bem, e então... como você sabe... — Ela curvou sua cabeça. Scott limpou sua garganta.
— Sinto muito pelo seu pai, Dulce. Ainda lembro do meu pai me chamando na noite em que aconteceu. Eu estava trabalhando a alguns blocos de distância, na loja de conveniência. Espero que eles pequem quem quer que seja que o tenha matado.
Tentei dizer obrigada, mas as palavras se estilhaçaram em minha garganta. Eu não queria falar do meu pai. Os sentimentos ruins do meu término com Patch já eram suficientes para lidar.
Onde ele estava agora? O arrependimento estava consumindo-o? Ele tinha entendido o quanto eu queria retirar tudo o que eu disse? De repente, me perguntei se ele teria me enviado uma mensagem e desejei ter trago o celular para a mesa do jantar. Mas o quanto ele poderia dizer? Os arcanjos poderiam ler suas mensagens? O quanto eles podiam ver? Eles estavam em todo lugar? Eu questionava, me sentindo completamente vulnerável.
— Nos diga, Dulce. —A Sra Parnell disse. — Como é o colégio Coldwater? Scott praticava Wrestling em Portland. O time ganhou o Estadual os últimos três anos. A equipe daqui é boa? Eu estava certa de que tínhamos nos enfrentado antes, mas foi quando Scott me lembrou que Coldwater é Classe C.
Eu estava me puxando vagarosamente para fora da névoa dos meus pensamentos. Nós tínhamos uma equipe de Wrestling?
— Eu não sei sobre Wrestling, — eu disse, — mas o time de Basquete foi ao Estadual uma vez.
A Sra. Parnell engasgou com seu vinho.
— Uma vez? — Seus olhos saltavam entre eu e minha mãe, esperando uma explicação.
— Tem uma foto do time do outro lado do escritório — continuei, — Pela foto, isso foi a mais de sessenta anos atrás.
Os olhos da Sra Parnell se arregalaram.
— Sessenta anos atrás? — Ela tocou sua boca com seu guardanapo. — Tem algo de errado com o colégio? O treinador? O diretor de atletismo?
— Nenhum grande, — Scott disse. — Eu estou largando o ano.
A Sra Parnell deixou cair seu garfo com um alto chink.
— Mas você ama Wrestling!
Scott comeu outro pedaço de lasanha e deu de ombros, indiferente.
— E? — Disse através da comida em sua boca.
A Sra. Parnell plantou seus cotovelos na mesa e inclinou-se para frente.
— E que você não está indo para a faculdade com suas próprias grades. Sua única esperança a essa altura é que alguma instituição de ensino o pegue em algum jogo.
— Eu tenho outras coisas que quero fazer.
As sobrancelhas dela pularam.
— Ah, como repetir o último ano?! — Logo quando ela o disse, eu vi uma faísca de medo em seus olhos.
Scott mastigou duas vezes mais e engoliu duramente.
— Passa a salada, Blyte?
Minha mãe passou a travessa de gelatina para a Sra. Parnell, que colocou-a em frente a Scott um pouco cuidadosamente demais.
— O que aconteceu no ano passado? — minha mãe perguntou, preenchendo a tensão do silêncio.
A Sra. Parnell acenou com a mão, desconsiderando.
— Ah, você sabe como é isso. Scott arranjou um tantinho de problemas, coisas normais. Nada que uma mãe de um garoto adolescente não tenha visto antes. — Ela riu, mas estava fora do compasso.
— Mãe, — Scott disse num tom que soou demais como um aviso.
— Você sabe como são os garotos, — Sra Parnell falou, gesticulando com seu garfo. — Eles não pensam. Vivem o momento. São imprudentes. Fique grata por ter uma filha, Blyte. Oh, céus. Aquele pão de alho está me dando água na boca, me passa uma fatia?
— Eu não deveria ter dito nada, — minha mãe murmurou, passando o pão. —Não consigo dizer o suficiente o quão felizes estamos por terem vocês de volta em Coldwater.
Senhora Parnell inclinou-se vigorosamente.
— Estamos encantados por estar de volta, e tudo numa parte.
Eu parei de comer, dividindo relances entre Scott e a Sra. Parnell, tentando imaginar o que estava acontecendo. Garotos serão sempre garotos, foi o tanto que eu entendi. O que eu não entendia era a insistência ansiosa da Sra. Parnell em que os problemas do seu filho eram típicos.
E a supervisão intensa de cada palavra que saía da boca dela não estava ajudando a mudar minha opinião.
Pensando que tinha mais da história do que haviam contado, eu pressionei uma mão em meu coração e disse:
— Por que, Scott, você não foi durante a noite roubar sinalização da estrada para pendurar no seu quarto, foi?
A Sra. Parnell caiu em uma genuína, quase aliviada, gargalhada. Bingo. Qualquer que seja o problema que Scott arranjara, não era algo banal como roubar sinalização de estrada. Eu não tinha cinquenta dólares, mas se tivesse, eu apostaria tudo no palpite que o problema de Scott era qualquer coisa menos típico.
— Bem, — minha mãe disse, seu sorriso apertado nos cantos, — Tenho certeza de que o que quer que tenha acontecido ficou no passado. Coldwater é um ótimo lugar para um recomeço. Você já se matriculou para as aulas, Scott? Algumas delas se enchem bem rapidamente, especialmente as aulas de advanced placement.
— Advanced placement, — Scott repetiu com um riso de deboche. — Quer dizer, AP? Sem ofensa, mas não sou tão ambicioso assim. Como a minha mãe —ele esticou a sua mão para lateral e balançou o ombro dela de um jeito que foi um tantinho bruto demais para ser amigável — apontou tão gentilmente, se eu for para a faculdade, não será por causa das notas.
Não querendo dar uma chance a ninguém na mesa de nos afastar ainda mais do assunto dos antigos problemas do Scott, eu disse:
— Ah, vamos lá, Scott. Você está me matando. O que tem de tão mal no seu passado? Não pode ser tão horrível que você não tem vontade de contar aos seus velhos amigos.
— Dulce... — minha mãe começou.
— Dirigiu bêbado algumas vezes? Roubou um carro? Deu umas voltas num carro roubado?
Sob a mesa, eu senti o pé da minha mãe descansar no alto do meu. Ela dirigiu um olhar penetrante para mim que dizia, O que deu em você?
A cadeira de Scott arrastou-se para trás contra o chão, e ele ficou de pé.
— Banheiro? — ele perguntou à minha mãe. Ele esticou seu colarinho. —Indigestão.
— No alto da escada. — Sua voz estava pesarosa. Ela realmente estava se desculpando pelo meu comportamento, quando fora ela que organizou toda essa noite ridícula. Qualquer um com uma partícula de percepção podia perceber que a razão desse jantar não era partilhar uma refeição com antigos amigos de família. Vee estava certa sobre isso ser um `conheça o bonitinho`. Bem, eu tinha algo a dizer à minha mãe. Scott e eu? Nada feito.
Após Scott pedir licença, a Sra. Parnell sorriu amplamente, como se para apagar os últimos cinco minutos e recomeçar.
— Então me diga, — ela disse um pouquinho animada demais, — a Dulce tem namorado?
— Não, — eu disse ao mesmo tempo que minha mãe disse: — Mais ou menos.
—Isso é confuso,— a Sra. Parnell disse, mordiscando uma garfada de lasanha e olhando entre a minha mãe e eu.
— O nome dele é Ucker, — minha mãe disse.
— Nome estranho, — a Sra. Parnell meditou. — O que os pais dele estavampensando?
— É um apelido, — minha mãe explicou. — Ucker se mete em muitas brigas. Ele sempre precisa ser remendado.
De repente eu me arrependi de explicar à ela que Ucker era o apelido dele.
A Sra. Parnell balançou sua cabeça.
— Acho que é um nome de gangue. Todas as gangues usam apelidos. Slasher, Slayer, Maimer, Mauler, Reaper. Ucker.
— Ucker não está numa gangue.
Eu girei meus olhos.
— Isso é o que você pensa, — a Sra. Parnell disse. — Gangues são para criminosos de áreas pobres, certo? São baratas que só saem à noite. — Ela ficou silenciosa, e eu achei ter visto seus olhos relampejarem para a cadeira vazia de Scott. — Os tempos estão mudando. Há algumas semanas eu assisti um episódio de Law & Order sobre uma nova raça de gangues ricas suburbanas. Eles chamavam-nas de sociedades secretas, ou sociedades de sangue, ou alguma bobagem assim, mas dá tudo na mesma. Achei que fosse aquele típico lixo sensacionalista hollywoodiano, mas o pai do Scott disse que ele vê cada vez mais dessas coisas o tempo todo. E ele saberia... sendo policial e tudo.
— Seu marido é um policial? — perguntei.
— Ex-marido, e que ele apodreça.
Já chega.
A voz do Scott foi trazida do corredor escuro, e eu pulei. Eu estava prestes a me perguntar se ele tinha ido mesmo no banheiro, ou se ele tinha ficado simplesmente parado do lado de fora da sala de jantar, escutando a conversa, quando me dei conta que eu não achei que ele tinha falado em voz alta. De fato...
Eu estava bem certa de que ele tinha falado com os meus... pensamentos. Não. Não com os meus pensamentos. Com os da mãe dele. E de alguma forma eu escutei.
Sra. Parnell virou suas palmas para cima.
— Tudo o que eu disse não é a alma dele. Eu não estou remoendo, é exatamente como me sinto.
— Eu disse para parar de falar.
A voz de Scott era quieta, delével.
Minha mãe girou, como se apenas agora percebesse que Scott tinha voltado à sala. Eu pisquei, desacreditada. Eu não poderia realmente ter escutado ele falando com os pensamentos de sua mãe. Quer dizer, Scott era um humano... Não era?
— É assim que você fala com sua própria mãe? — Sra. Parnell disse, balançando seu dedo para ele. Mas eu poderia dizer que isso era mais para o nosso benefício do que qualquer fim de pôr Scott em seu devido lugar.
Seu olhar frio ficou fixado nela por uns instantes, então ele foi à porta da frente e a bateu em suas costas.
A Sra. Parnell limpou sua boca, deixando o batom rosa no guardanapo.
— O lado desagradável do divórcio. — Ela deu um longo e complicado suspiro. —Scott nunca foi de ter temperamento. Com certeza, pode ser que ele esteja crescendo para ser bem filho de seu pai. Bem. Isso é desagradável e desapropriado para um jantar. O Ucker pratica Wrestling, Dulce? Creio que o Scott possa-lhe ensinar alguns golpes.
— Ele pratica Pool nada.— Eu disse, minha voz desinspirada; Eu não tinha vontade nenhuma de falar sobre o Ucker. Não aqui, não agora. Não quando o sujeito deste nome me causava uma pedra a crescer na minha garganta. Mais que nunca, desejei que tivesse trazido meu celular para baixo. Eu não estava me sentindo tão irritada, então Ucker provavelmete já tinha esfriado também. Ele já tinha me perdoado o suficiente pra me enviar uma mensagem ou me ligar? Tudo tinha sido um mal entendido, mas tinha que haver um jeito de contornar isso. Isso não era tão ruim quanto parecia. Encontraríamos um jeito de trabalhar isso.
A Sra. Parnell assentiu.
— Nado. Esse sim é um verdadeiro esporte de Maine.
— Pool, que significa sinuca,— minha mãe corrigiu, soando um pouco abatida.
A Sra. Parnell inclinou sua cabeça como se não tivesse certa de ter ouvido direito.
— Estufas de atividades de gangue, — ela finalmente disse. — O episódio de Law & Order que eu vi? Jovens homens ricos de classe alta que organizavam seus jogos de sinucas como se estivessem num cassino de Las Vegas. É melhor ficar bem de olho nesse seu Ucker, Dulce. Ele poderia ter um lado que esconde as coisas de você. Um lado que ele mantém no escuro.
— Ele não está numa gangue, — eu repeti pelo que pareceu ser a milionésima vez, me esforçando para manter um tom cordial. Mas assim que eu disse isso, percebi que não havia jeito de ter certeza de que Ucker nunca fizera parte de uma gangue. Um grupo de anjos caídos contava como sendo uma gangue? Eu não sabia muito sobre o seu passado, particularmente antes de ele ter me conhecido...
— Veremos, — a Sra. Parnell disse, duvidosa. — Veremos.
Uma hora mais tarde, a comida tinha acabado, os pratos tinham sido lavados, a Sra. Parnell finalmente fora embora para caçar o Scott, e eu me retirei para o meu quarto. Meu celular estava virado para cima no chão, mostrando que eu não tinha mensagens de texto novas, nem mensagens de voz, e nem chamadas perdidas.
Meu lábio tremeu, e eu enfiei a parte debaixo das minhas mãos nos meus olhos para parar as lágrimas que começavam a desfocar a minha visão. Para me impedir de me concentrar em todas as coisas horríveis que eu dissera ao Ucker, tentei bolar, na minha mente, uma maneira de reparar tudo. Os arcanjos não podiam nos proibir de nos falarmos ou vermos um ao outro —não quando Ucker era meu anjo da guarda. Ele tinha que ficar na minha vida. Nós continuaríamos fazendo o que sempre fizemos. Em alguns dias, após termos deixado a nossa primeira briga de verdade passar, as coisas voltariam ao normal. E quem ligava para o meu futuro? Eu podia resolver tudo mais tarde. Não era como se eu tivesse que ter a minha vida toda planejada agora neste instante.
Mas havia uma coisa que simplesmente não estava fazendo sentido. Ucker e eu tínhamos passado os dois últimos meses mostrando abertamente o nosso afeto, sem nenhuma reserva. Então por que ele só estava demonstrando preocupação com os arcanjos agora?
Minha mãe enfiou sua cabeça dentro do meu quarto.
— Eu vou comprar alguns itens de higiene para a minha viagem de amanhã. Devo voltar logo. Precisa de alguma coisa enquanto estou fora?
Notei que ela não expressou que o Scott podia ser um namorado em potencial. Aparentemente, o passado incerto dele tinha murchado as urgências de casamenteira dela.
— Não precisa, mas obrigada de qualquer jeito.
Ela começou a fechar a porta, então parou.
— Nós meio que temos um problema. Eu deixei escapulir para Lynn que você não tem um carro. Ela voluntariou o Scott para te levar para a escola de verão. Eu disse à ela que isso realmente não seria necessário, mas acho que ela pensou que eu só estava dizendo não por estar preocupada em incomodar o Scott. Ela disse que você poderia lhe retribuir o favor ao fazer um passeio por Coldwater com ele amanhã.
— A Vee me dá carona para a escola.
— Deixei isso claro, mas ela não aceita não como resposta. Pode ser melhor se você explicar as coisas diretamente para o Scott. Agradeça-o pela oferta, mas diga a ele que você já tem carona.
Bem o que eu queria. Mais interação com o Scott.
— Eu gostaria que continuasse andando com a Ane, — ela acrescentou lentamente. — De fato, se o Scott aparecer enquanto eu estiver fora da cidade essa semana, talvez seja melhor ficar longe.
— Você não confia nele?
— Nós não o conhecemos bem o bastante, — ela disse cuidadosamente.
— Mas o Scott e eu costumávamos ser melhores amigos, se lembra?
Ela olhou para mim de modo enfático.
— Isso foi há muito tempo. As coisas mudam.
Bem, essa era uma reviravolta inesperada.
— Você vai caçar os podres dele?
— Lynn e eu somos boas amigas. Ela está muito estressada. Pode precisar de alguém com quem se confidenciar. — Ela deu um passo em direção à minha penteadeira, colocou um salpico do meu creme de mão em sua palma, e esfregou suas mãos juntas. — Se ela mencionar o Scott, eu não vou não escutar.
— Se te ajuda a construir a sua hipótese de que ele não presta, eu achei que ele agiu muito estranhamente no jantar.
— Os pais dele estão se divorciando, — ela disse naquele mesmo tom neutro cuidadoso. — Tenho certeza de que ele está passando um tumulto e tanto. É difícil perder um pai.
Nem me fala.
Exatamente o que eu quis dizer.
— Eu simplesmente gostaria de saber um pouquinho mais sobre o Scott antes que você comece a passar tempo demais com ele... — ela continuou. —Quando eu voltar, vejo o que consigo descobrir.
— O leilão acaba quarta à tarde, e eu devo voltar para casa na hora do jantar. A Ane vai ficar aqui amanhã à noite, certo?
— Certo, — eu disse, só agora me lembrando que eu ainda precisava ver isso com a Ane, mas eu não podia imaginar isso sendo um problema. — A propósito, estou pensando em arranjar um emprego. — Melhor deixar isso escapar logo, já que, com sorte, eu esperava ter um emprego antes de ela voltar para casa.
Minha mãe pestanejou.
— De onde isso surgiu?
— Preciso de um carro.
— Achei que a Ane não tinha problema em te dar carona.
— Eu me sinto como uma parasita. — Eu não podia nem mesmo correr para a loja para comprar absorventes sem ligar para a Ane. Pior, eu tinha chegado muito perto de pegar uma carona para a escola hoje com a Marcie Millar. Eu não queria fazer exigências desnecessárias para a minha mãe, especialmente quando o dinheiro estava tão curto, mas eu não queria uma repetição de hoje de manhã, tampouco. Eu estivera sonhando com um carro desde que a minha mãe vendera o meu Fiat, e vendo o Cabriolet esta tarde me fizera entrar em ação. Eu mesma pagar pelo carro parecia um acordo bom.
— Você não acha que um trabalho vai interferir com a escola? — a minha mãe perguntou, seu tom me dizendo que ela não estava louca pela ideia. Não que eu esperasse que ela estivesse.
— Eu só estou tendo uma aula.
— Sim, mas é química.
— Sem ofensa, mas acho que consigo dar conta de duas coisas de uma só vez.
Com isso, ela sentou na beirada da minha cama.
— Qual o problema? Você está terrivelmente arisca hoje à noite.
Levei um segundo extra para responder, chegando bem perto de lhe contar a verdade.
— Nada. Estou bem.
— Você parece estressada.
— Dia longo. Ah, e mencionei que a Marcie Millar é minha parceira de química?
Eu podia afirmar, pela expressão dela, que ela sabia o quanto isso machucava. Afinal, eu corria para a minha mãe na maioria das vezes nos onze anos em que Marcie mexera comigo. E era a minha mãe que catava os pedaços, me colava de novo, e me mandava de volta para a escola mais forte e mais sábia e armada com alguns truques próprios.
— Estou presa com ela por oito semanas.
— Te digo uma coisa, se você sobreviver a oito semanas sem matá-la, podemos conversar sobre te comprar um carro.
— Esse é um preço baixo a se pagar, mãe.
Ela beijou a minha testa.
— Espero um relatório completo dos primeiros dias quando eu voltar da minha viagem. Nada de festas selvagens enquanto eu estiver fora.
— Não prometo nada.
Cinco minutos mais tarde, minha mãe desceu seu Taurus pela garagem. Deixei a cortina voltar para o lugar, me encolhi no sofá, e encarei meu celular.
Mas nenhuma ligação chegou.
Estiquei a mão para pegar o colar do Ucker, ainda amarrado ao redor do meu pescoço, e o apertei mais forte do que eu esperava. Fiquei assolada pelo pensamento horrível de que isso podia ser tudo que me sobrara dele.
Prévia do próximo capítulo
O sonho veio em três cores: preto, branco, e um cinza mortiço. Era uma noite fria. Eu estava com os pés descalços na estrada de terra, na lama e na chuva enchendo rapidamente os caldeirões que pockmarking a. As rochas e as ervas daninhas esqueletais saltaram intermitentemente. A escuridão consumiu o campo, exceto um ponto brilhante. ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 75
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
Vanuza Ribeiro Postado em 17/07/2015 - 02:09:05
fooooooooooi estremamente linda a fanfic adorei *-----* parabéns.
-
Vanuza Ribeiro Postado em 14/07/2015 - 00:50:36
estou lendo a fanfic ja a algum tempo e estou a m a n d o --- preciso de um anjo desses na minha vida, que dlc kkkkkkkkkk- vo começar a ler finale.
-
juhcunha Postado em 05/04/2015 - 23:35:45
ai meu deus chorando litros morrendo quero mais nao acredito que terminou nisso queo mais muito mias a serie divergente e muito foda mais muito triste no final
-
juhcunha Postado em 05/04/2015 - 22:06:38
posta mais
-
juhcunha Postado em 01/04/2015 - 22:11:51
como e a Anie e um dele caranba quantas supresas e que essa cara ta fazendo na casa do ucker!
-
juhcunha Postado em 30/03/2015 - 20:56:59
dante filho da puta traidor nao imaginava ele caranba !
-
juhcunha Postado em 29/03/2015 - 02:25:13
Dabria vaca que beijo o homem dos outro puta se fudeeu dulce arazando
-
juhcunha Postado em 26/03/2015 - 01:34:59
A porra fico seria agora!
-
juhcunha Postado em 23/03/2015 - 23:13:32
marcie vaca robou o scott da ane puta e scott deveria te dado um fora nela ! O QUE O Que tinha naquele punhau era veneno caranba puta que paria
-
juhcunha Postado em 23/03/2015 - 01:16:44
eu to descofiada que esse detetive basso e um arcanjo porque ele ta sempre vigiando sempre nos lugares errados