Fanfics Brasil - Capitulo 13 Finale (Adaptada)

Fanfic: Finale (Adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 13

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Na tarde seguinte, a Ane me deixou próximo à porta da frente do Enzo`s.


Eu estava usando um vestido de verão com estampa amarela que quase passava a linha entre sedutor e profissional e era muito mais otimista do que eu me sentia por dentro. Parei na frente das janelas para balançar meu cabelo, que tinham relaxados em cachos após eu ter dormido em cima deles a noite toda, mas o gesto parecia rígido. Forcei um sorriso. Era o que eu estivera praticando a manhã toda. Parecia apertado nas beiradas e frágil em todos os outros lugares. Na janela, parecia falso e oco. Mas para uma manhã depois de uma noite chorando, era o melhor que eu conseguia.


Depois de andar da casa da Marcie até lá em casa ontem à noite, eu tinha me curvado na cama, mas não tinha dormido. Eu passara a noite atormentada por pensamentos auto-destrutivos. Quanto mais eu ficava acordada, mais meus pensamentos se afastavam vertiginosamente da realidade. Eu queria fazer uma declaração, e eu estava machucada o bastante para não ligar para o quanto ela seria drástica. Um pensamento chegou até mim, o tipo de pensamento que eu nunca teria tido na minha vida antes. Se eu acabasse com a minha vida, os arcanjos veriam. Eu queria que eles sentissem remorso. Eu queria que eles duvidassem de suas leis arcaicas. Eu queria que eles fossem dados como responsáveis por despedaçar a minha vida, e então por acabar com ela completamente.


Minha mente serpenteou e cambaleou com esses tipos de pensamentos a noite toda. Minhas emoções mudaram de uma perda de partir o coração para negação e para raiva. Em certo momento, eu me arrependi de não ter fugido com o Ucker. Qualquer felicidade, não importando o quanto ela fosse breve, parecia melhor do que essa tortura longa e fervendo lentamente de acordar dia após dia, sabendo que eu nunca poderia tê-lo.


Mas enquanto o sol começava a abrir uma fenda pelo céu nesta manhã, eu tomei uma decisão. Eu tinha que seguir em frente. Era ou isso, ou entrar numa depressão congelada. Me forcei a passar pelas ações de tomar banho e me vestir, e fui para escola com a determinação fixa de que ninguém veria por baixo da superfície.


Uma sensação de alfinetes e agulhas envolveu o meu corpo, mas eu me recusei a mostrar mesmo um única sinal exterior de autocomiseração. Eu não ia deixar os arcanjos vencerem. Eu ia me firmar novamente, conseguir um emprego, pagar a minha multa de velocidade, terminar a escola de verão com a nota mais alta, e me manter tão ocupada que, só de noite, quando eu estivesse sozinha com os meus pensamentos e não pudesse evitar, eu pensaria no Ucker.


Dentro do Enzo`s, duas sacadas semicirculares estavam espalhadas à minha esquerda e à minha direita, com uma escada ampla dando para a área principal de alimentação e para a bancada frontal. As sacadas me lembravam de passarelas curvadas com vista para um buraco. As mesas na sacada estavam cheias, mas apenas alguns retardatários bebendo café e lendo o jornal matutino ainda permaneciam no buraco. Respirando fundo para ajudar, desci a escada e me aproximei da bancada frontal.


— Com licença, ouvi dizer que estão contratando baristas, — eu disse à mulher no caixa. Minha voz parecia desafinada aos meus ouvidos, mas eu não tinha energia para tentar corrigi-la. A mulher, uma ruiva de meia idade com um crachá onde se lia ROBERTA, olhou para cima. — Eu gostaria de preencher uma solicitação de emprego. — Consegui dar um meio sorriso, mas, de algum jeito, temi que não era nem um pouco verossímil.


Roberta limpou suas mãos sardentas num pano e deu a volta na bancada.


— Baristas? Não mais.


Eu encarei-a, segurando meu fôlego, sentindo toda a esperança esvaziar-se de mim. Meu plano era tudo. Eu não tinha considerado o que faria se mesmo um passo dele fosse arrancado de mim. Eu precisava de um plano. Eu precisava desse emprego. Eu precisava de uma vida cuidadosamente controlada onde cada minuto fosse planejado, e cada emoção separada em compartimentos.


— Mas ainda estou procurando por uma atendente de bancada confiável, no turno da noite só, das seis às dez, — Roberta acrescentou.


Eu pestanejei, meu lábio tiritando ligeiramente em surpresa.


— Ah, — eu disse. — Isso é... bom.


— De noite nós escurecemos as luzes, trazemos os baristas, tocamos um pouco de jazz, e tentamos dar uma sensação mais sofisticada. Isso aqui costumava ficar morto depois das cinco, mas estamos esperando atrair as multidões. Economia dura, — ela explicou. — Você ficaria encarregada de receber os clientes e anotar os pedidos, e então informá-los à cozinha. Quando a comida estiver pronta, você a leva para as mesas.


Tentei assentir avidamente, determinada à mostrá-la o quanto eu queria esse emprego, sentindo todas as pequenas fendas dos meus lábios se partirem enquanto eu sorria.


— Isso... soa perfeito, — eu consegui dizer numa voz rouca.


— Você tem alguma experiência de emprego?


Eu não tinha. Mas a Ane e eu vínhamos ao Enzo`s pelo menos três vezes por semana.


— Eu conheço o menu de cor, — eu disse, começando a me sentir mais sólida, mais real. Um trabalho. Tudo dependia disso. Eu ia construir uma vida nova.


Aqui eu estava, incapaz de convocar até mesmo um sorriso sincero, mas ela estava deixando isso passar. Ela estava me dando uma chance. Eu movi a minha mão


— É isso que eu gosto de ouvir, — Roberta disse. — Quando você pode começar?


— Hoje à noite? — Eu mal conseguia acreditar que ela estava me oferecendo o trabalho.


Fui para frente para apertar a dela, então notei, meio segundo tarde demais, de que a minha mão estava tremendo. Ela ignorou a minha mão esticada, olhando-me com sua cabeça inclinada de lado de um jeito que me fazia sentir mais exposta e constrangida.


— Está tudo bem?


Eu inspirei silenciosamente e segurei.


— Sim, estou bem.


Ela assentiu bruscamente.


— Chegue aqui quinze para seis e eu te darei um uniforme antes do seu turno.


— Muito obrigada, — eu comecei, minha voz ainda em choque, mas ela já estava escapando para trás da bancada.


Enquanto eu saía para um sol cegante, eu comecei a calcular na minha cabeça. Supondo que eu teria um salário mínimo, se eu trabalhasse todas as noites pelas próximas duas semanas, eu talvez fosse capaz de pagar a minha multa de velocidade. E se eu trabalhasse todas as noites por dois meses, isso seriam sessenta noites em que eu estaria afogada demais em trabalho para me concentrar no Ucker. Sessenta noites mais perto do fim das férias de verão, quando eu poderia, novamente, concentrar toda a minha energia na escola. Eu já tinha decidido lotar o meu horário com aulas exigentes. Eu conseguia lidar com lições de casa de cada tamanho e formato, mas um coração quebrado era algo inteiramente diferente.


— Bem? — Ane perguntou, encostando o Neon ao meu lado. — Como foi?


Entrei no assento do passageiro.


— Consegui o emprego.


— Legal. Você parecia bem nervosa ao entrar, quase como se fosse perder o controle, mas não há razão para se preocupar agora. Você é oficialmente um membro trabalhador da sociedade. Estou orgulhosa de você, babe. Quando começa?


Eu olhei o visor no painel.


— Em quatro horas.


— Vou passar aqui hoje à noite e pedir para ser sentada na sua área.


— É melhor deixar uma gorjeta, — eu disse, minha tentativa de humor quase me levando à lágrimas.


— Sou a sua chofer. Isso é melhor que uma gorjeta.


 


 


 


— Um sanduíche de costela, um de salame, e um de peru assado, — eu disse, assentando os pratos na frente de um grupo de três homens de negócios de terno. — Boa refeição.


Corri pelos degraus que saíam do buraco, puxando meu bloquinho de anotação de refeições do meu bolso traseiro. A meio caminho da passarela, meus passos pararam. Marcie Millar estava logo na minha frente, sentada na minha mesa nova. Eu também reconheci Addyson Hales, Oakley Williams, e Ethan Tyler, todos da escola. Pensei em fazer uma meia volta e dizer à hostess para dar a minha mesa para outra pessoa, qualquer pessoa, quando a Marcie olhou para cima e eu soube que estava presa.


Um sorriso duro como granito tocou a boca dela. Minha respiração vacilou. Havia alguma possibilidade dela saber que eu tinha pego seu diário? Não foi até eu chegar em casa e engatinhar para a minha casa ontem à noite que eu me lembrara que ainda o tinha. Eu teria devolvido-o bem então, mas ele tinha sido a última coisa na minha cabeça. O diário parecera insignificante perto do tumulto doloroso me raspando tanto por dentro quanto por fora. Agora, ele estava intocado no chão do meu quarto, logo ao lado das roupas jogadas de ontem à noite.


— O seu uniforme não é a coisa mais fofinha do mundo? — Marcie disse sobre o jazz gravado de antemão. — Ethan, você não usou um colete exatamente como esse no baile do ano passado? Eu acho que a Dulce assaltou o seu guarda-roupas.


Enquanto eles riam, segurei a minha caneta pronta para anotar no bloquinho de pedidos.


— Vocês querem algo para beber? O especial de hoje à noite é o nosso smoothie de lima e coco. — Todos podiam ouvir o rangido de culpa na minha voz? Engoli em seco, esperando que, quando eu falasse novamente, o sinal de nervosismo fosse embora.


— Da última vez que estive aqui, foi o aniversário da minha mãe, — Marcie disse. — A nossa garçonete cantou `Parabéns Pra Você` pra ela.


Levei uns bons três segundos para entender.


— Ah. Não. Quero dizer não. Não sou uma garçonete. Sou uma atendente de bancada.


— Não ligo para o que você é. Quero que cante `Parabéns Pra Você` pra mim.


Fiquei paralizada, minha mente buscando freneticamente uma fuga. Eu não conseguia acreditar que a Marcie estava me pedindo para eu me humilhar dessa forma. Espera. É claro que ela estava me pedindo para eu me humilhar. Pelos últimos onze anos, eu mantivera um cartão de pontos entre nós, mas agora eu tinha certeza de que ela tinha o seu próprio.


Ela morria pela oportunidade de se vingar de mim. Pior, ela sabia que o placar dela era o dobro do mim e ela ainda estava contando os pontos.


O que fazia dela não só uma valentona, mas uma exibida.


Levantei a minha mão.


— Deixe-me ver a sua identidade.


Marcie levantou um ombro indiferentemente.


— Eu a esqueci.


Ambas sabíamos que ela não tinha esquecido a carteira de motorista dela, e ambas sabíamos que não era o aniversário dela.


— Estamos realmente lotados hoje à noite, — eu disse, fingindo uma desculpa. — Meu gerente não iria querer que eu tomasse tempo dos outros clientes.


— O seu gerente iria querer que você deixasse os seus clientes felizes. Agora cante.


— E enquanto faz isso, — Ethan aderiu à conversa, — traga um daqueles bolos de chocolate de graça.


— Só devemos dar uma fatia, não um bolo inteiro, — eu disse.


— Nós só devemos dar uma fatia, — Addyson imitou, e a mesa irrompeu em risadas.


Marcie esticou a mão para sua bolsa de mão e puxou uma câmera da marca Flip. O botão vermelho de força piscou, indicando ter ligado, e ela mirou a lente para mim.


— Mal posso esperar para mandar esse vídeo para a escola toda. É uma boa coisa eu ter acesso ao e-mail de todo mundo. Quem teria pensado que ser uma assistente de escritório seria tão útil?


Ela sabia sobre o diário. Ela tinha de saber. E essa era a vingança. Cinquenta pontos para mim por ter roubado o seu diário. O dobro dela por mandar um vídeo comigo cantando `Parabéns pra Você, Marcie` para todo o Colégio Coldwater.


Apontei sobre o meu ombro para a cozinha e recuei lentamente.


— Escuta, meus pedidos estão se empilhando...


— Ethan, vá contar à nossa hostess adorável lá que nós exigimos falar com o gerente. Diga à ela que a nossa atendente de bancada está sendo ranzinza, — Marcie disse.


Eu não conseguia acreditar nisso. Menos de três horas trabalhando, e a Marcie ia me fazer ser despedida. Como eu ia pagar a minha multa? E adeus Volkswagen Cabriolet. Mais que isso, eu precisava do trabalho para me distrair da luta inútil de encontrar uma maneira de lidar com a verdade enfuriante: Ucker estava fora da minha vida. Para sempre.


— O tempo esgotou, — Marcie disse. — Ethan, vá chamar o gerente.


— Espera, — eu disse. — Eu faço.


Marcie deu um gritinho e bateu suas mãos.


— Que bom que eu carreguei a bateria.


De forma subconsciente, abaixei a minha boina, escondendo o meu rosto. Eu abri a minha boca.


— Parabéns pra você...


— Mais alto! — todos gritaram.


— Nessa data querida, — cantei mais alto, envergonhada demais para notar se o meu tom estava perigosamente desafinado. — Muitas felicidades. Muitos anos de vida.


Ninguém disse uma palavra. Marcie armazenou a câmera de volta em sua bolsa de mão.


— Bom, isso foi entediante.


— Isso soou... normal, — Ethan disse.


Um pouco do sangue foi drenado do meu rosto. Eu dei um sorriso breve, aturdido e triunfante. Quinhentos pontos. Meu solo valia pelo menos isso. Lá se foi a Marcie me explodir em pedacinhos. Eu tinha assumido a liderança, oficialmente.


— Bebidas, aceitam? — perguntei, soando surpreendentemente animada.


Após anotar seus pedidos, me virei para me dirigir de volta à cozinha, quando Marcie me chamou, — Ah, e Dulce?


Eu parei onde estava. Tomei um fôlego profundo, me perguntando a altura que ela achava que podia me fazer saltar dessa vez.


Ah, não.. A não ser... que ela fosse me desmascarar. Bem agora. Na frente de todas essas pessoas. Ela ia contar ao mundo que eu roubara seu diário, para que eles pudessem ver o quanto eu realmente era baixa e desprezível.


— Dava pra você apressar o nosso pedido? — Marcie terminou. — Temos uma festa para ir.


— Apressar o seu pedido? — repeti estupidamente. Isso queria dizer que ela não sabia sobre o diário?


— Ucker vai nos encontrar na Praia Delphic, e eu não quero me atrasar. — Marcie cobriu sua boca instantaneamente. — Eu sinto muito. Eu nem estava pensando. Eu não deveria ter mencionado o Ucker. Deve ser difícil vê-lo com outra pessoa.


Qualquer sorriso ao qual eu estivesse me segurando escorregou. Eu senti um calor subir pelo meu pescoço. Meu coração batia tão rápido que deixava a minha cabeça leve. O cômodo inclinou-se para frente, e o sorriso homicida da Marcie estava no centro de tudo, rindo de mim. Então tudo tinha voltado ao normal. Ucker tinha voltado para a Marcie. Depois de eu ter ido embora na noite passada, ele se resignara ao que o destino tinha nos dado. Se ele não podia me ter, ele ficaria com a Marcie. Como é que eles podiam ter um relacionamento? Onde os arcanjos estavam quando se tratava de vigiar o Ucker e a Marcie? E quanto ao beijo deles? Os arcanjos iam deixar isso passar porque sabiam que não significa nada para os dois? Eu queria berrar contra a injustiça disso tudo. Marcie podia ficar com o Ucker já que não o amava, mas eu não podia, porque eu o amava e os arcanjos sabiam. Por que era tão errado nós estarmos apaixonados? Os anjos e os humanos eram realmente tão diferentes?


— Está tudo bem, eu superei, — eu disse, injetando uma nota de civilidade fria ao meu tom.


— Que bom pra você, — Marcie disse, mordiscando sedutoramente seu canudo, nenhuma parte dela parecendo ter acreditado em mim.


Lá na cozinha, mandei o pedido da Marcie para os cozinheiros. Eu deixei o espaço de `instruções especiais de comida` em branco.


Marcie estava com pressa para ver o Ucker na Praia Delphic?


Que pena.


Peguei o meu pedido que estava esperando e levei a bandeja para fora da cozinha. Para a minha surpresa, vi Scott parado perto das portas dianteiras, falando com as hostesses. Ele estava vestido confortavelmente em calça jeans Levi`s largas e uma camiseta apertada, e, dada a linguagem corporal das duas hostesses vestidas de preto, elas estavam flertando com ele. Ele me viu e deu um aceno baixo de reconhecimento. Deixei o pedido da mesa quinze, então caminhei rapidamente pela escada.


— Ei, — eu disse ao Scott, tirando a boina para arejar o meu rosto.


— Ane me disse que eu te acharia aqui.


— Você ligou para a Ane?


— É, depois de você não retornar nenhuma das minhas mensagens.


Passei o meu braço pela minha testa, varrendo alguns cabelos soltos de volta aos seus lugares.


— Meu celular está nos fundos. Não tive uma chance de vê-lo desde que comecei o trabalho. O que você precisa?


— Que horas você sai?


— Dez. Por quê?


— Tem uma festa na Praia Delphic. Estou procurando uma perdedora para arrastar junto.


—Toda vez que saímos, algo ruim acontece. — A luz não se acendeu em seus olhos.


— A luta no Z, — eu o lembrei. — A do Devil`s Handbag. Em ambas as vezes eu tive que pedir carona para casa.


— Na terceira vez dá certo. — Ele sorriu, e eu percebi, pela primeira vez, que era um sorriso bonito. Juvenil até. Suavizava a personalidade dele, me fazendo perguntar se havia outro lado dele, um lado que eu ainda não havia visto.


A probabilidade era de que fosse a mesma festa à qual a Marcie ia. A mesma festa onde Ucker deveria estar. E a mesma praia onde eu estivera com ele há apenas uma semana e meia, quando eu falara cedo demais ao declarar que estava tendo a vida perfeita. Eu nunca poderia ter adivinhado o quanto isso iria mudar para pior tão rapidamente.


Fiz uma rápida contagem dos meus sentimentos, mas eu precisava de mais que um punhado de segundos para decidir como eu estava me sentindo. Eu queria ver o Ucker — eu sempre iria querer — mas essa não era a questão. Eu precisava determinar se eu podia aguentar vê-lo. Eu conseguiria aguentar vê-lo com a Marcie? Especialmente depois de tudo que ele tinha me dito ontem à noite?


— Vou pensar nisso, — eu disse ao Scott, percebendo que estava demorando demais para responder.


— Precisa que eu passe as dez e te pegue?


— Não. Se eu for, a Ane pode me dar uma carona. — Apontei na direção das portas da cozinha. — Escuta, preciso voltar ao trabalho.


— Espero te ver, — ele disse, me lançando um sorriso final antes de ir embora.


 


 


 


Ao fechar, encontrei a Ane vagabundeando no estacionamento.


— Obrigada por me buscar, — eu disse a ela, indo para o banco do passageiro. Minhas pernas doíam de tanto ficar em pé, e minhas orelhas ainda zuniam com toda a conversa e as risadas altas de um restaurante lotado - para não falar em todas as vezes que os cozinheiros e os garçons gritaram correções para mim. Eu tinha levado pelo menos dois pedidos errados, e, mais de uma vez, tinha entrado na cozinha pela porta errada.


Em ambas as vezes, eu quase tinha derrubado uma garçonete que estava com os braços cheios de pratos. A boa notícia era que eu tinha trinta dólares em gorjetas dobrados dentro do meu bolso. Depois que eu pagasse a minha multa, todas as minhas gorjetas iriam para o Cabriolet. Eu ansiava pelo dia em que não teria que depender da Ane para me transportar por aí.


Mas não tanto quanto eu ansiava pelo dia em que eu teria esquecido o  Ucker.


Ane sorriu.


— Isso não é um serviço de graça. Todas essas caronas são, em verdade, dívidas que voltarão para te assombrar.


— Estou falando sério, Ane. Você é a minha melhor amiga no mundo todo. A melhorzona.


— Ah, talvez devêssemos comemorar esse momento precioso e passar no Skippy`s para tomar sorvete. Eu estava precisando de um sorvete. Em verdade, eu estava precisando de um pouco de MSG. Nada me deixa tão feliz quanto uma porção de fast-food recém frita, encoberta por um bom e velho MSG.


— Fica para a próxima? — perguntei. — Fui convidada para ficar na Praia Delphic hoje à noite. Você é mais do que bem-vinda para vir, — acrescentei rapidamente. Eu não tinha nem um pouco de certeza de ter tomado a decisão certa quando decidi ir hoje à noite. Por que eu estava me fazendo passar pela tortura de ver o Ucker de novo? Eu sabia que era porque o queria perto, mesmo que perto não fosse perto o bastante. Uma pessoa mais forte e corajosa teria cortado todos os laços e ido embora. Uma pessoa mais forte não teria batidos seus punhos contra a porta do destino. Ucker estava fora da minha vida de vez. Eu sabia que precisava aceitar isso, mas havia uma grande diferença entre saber e fazer.


— Quem mais vai? — Ane perguntou.


— Scott e alguns outros da escola. — Não precisava mencionar a Marcie e ganhar um veto instantâneo. Eu tinha um pressentimento de que podia precisar do apoio da Ane hoje.


— Acho que vou me aconchegar com o Rixon e assistir um filme, ao invés. Posso perguntar se ele tem outros amigos para te apresentar. Podíamos fazer um negócio de encontro de casais. Comer pipoca, contar piadas, dar uns amassos.


— Passo. — Eu não queria outro. Eu queria o Ucker.


Na hora em que Ane entrou no estacionamento da Praia Delphic, o céu estava pichado de preto. Luzes de alta voltagem que me lembravam daquelas no campo de futebol americano do colégio iluminavam as estruturas de madeira pintadas de branco que abrigavam o carrossel, o fliperama, e o mini-golfe, fazendo com que uma auréola pairasse sobre o local. Não havia mais eletricidade pela praia, ou nos campos ao redor, fazendo dele o único ponto brilhante na costa por quilômetros. A essa hora da noite eu não esperava encontrar ninguém comprando hambúrgueres ou jogando air hockey, e eu sinalizei para a Ane parar perto do caminho da marca da ferrovia cortando a água.


Saí do carro e balbuciei um tchau. Vee acenou em resposta, seu celular pressionado contra sua orelha enquanto ela e Rixon combinavam os detalhes de onde se encontrariam.


O ar ainda tinha aquele calor do sol de mais cedo e estava cheio de sons de tudo, desde a música distante que chegava do Parque de Diversões Delphic Seaport, nos penhasco, até as ondas tocando a areia. Eu parti a cadeia de ervas marinhas que corriam paralelamente à costa como uma cerca, corri pela ladeira, e andei na faixa fina de areia seca que estava fora do alcance da maré alta.


Passei por pequenos grupos de pessoas ainda brincando na água, pulando ondas e atirando madeira na escuridão do oceano, mesmo os salva-vidas já terem ido embora há tempos. Fiquei de olho para achar o Ucker, Scott, Marcie, ou qualquer outro que eu reconhecesse. Lá na frente, as chamas laranjas de uma fogueira piscaram e esvoaçaram na escuridão. Eu tirei o meu celular e disquei pro Scott.


— E aí.


— Eu cheguei, — eu disse. — Onde você está?


— Ao sul da fogueira. Você?


— Ao norte dela.


— Vou te achar.


Dois minutos mais tarde, Scott caiu subitamente na areia ao meu lado.


— Você vai ficar à margem a noite toda? — ele me perguntou. Seu hálito tinha  o cheiro forte de álcool.


— Não sou muito fã de noventa por cento das pessoas dessa festa.


Ele assentiu, entendendo, e esticou uma garrafa de aço.


— Não tenho germes, palavra de escoteiro. Tome o tanto que quiser.


Me inclinei o bastante para cheirar o conteúdo da garrafa. Imediatamente recuei, sentindo a fumaça queimar o fundo da minha garganta.


— O que é? — sufoquei. — Óleo de motor?


— Minha receita secreta. Se eu te contasse, teria que te matar.


— Não precisa. Tenho bastante certeza que tomar um gole daria o mesmo resultado.


Scott relaxou para trás, os cotovelos na areia. Ele tinha se trocado para uma camiseta do Metallica com as mangas arrancadas, short caqui, e chinelos. Eu estava usando o meu uniforme de trabalho, menos a boina, o colete, e a minha camisa marcada abaixo do busto. Felizmente, eu tinha colocado uma veste de baixo antes de ir trabalhar, mas eu tinha nada para substituir a calça de tweed.


— Então me diga, Grey. O que você está fazendo aqui? Tenho que te dizer, achei que você tinha me rejeitado pela lição de casa da semana que vem.


Me inclinei para trás na areia ao lado dele e lancei um olhar na direção dele.


— O negócio de fingir ser um canalha está começando a ficar velho. Eu sou bobona. E daí?


Ele sorriu.


— Eu gosto de bobona. A bobona vai me ajudar a passar no meu primeiro ano. Especialmente em inglês.


Ah, cara.


— Se isso foi uma pergunta, a resposta é não, não vou escrever as suas redações de inglês.


— Isso é o que você acha. Eu não comecei a trabalhar no Charme do Scott ainda.


Bufei uma risada, e seu sorriso se aprofundou. Ele disse:


— O quê? Não acredita em mim?


— Eu não acredito que você e a palavra `charme` pertençam à mesma sentença.


— Nenhuma garota resiste ao Charme. Tô te dizendo, elas ficam loucas por ele. Aqui está o básico: Fico bêbado vinte e quatro horas por dias, sete dias por semana, não paro num emprego, não consigo passar em matemática básica, e passo meus dias jogando video-game e desmaiando.


Joguei a minha cabeça para trás, sentindo meus ombros balançarem enquanto eu ria. Eu estava começando a achar que eu gostava mais da versão bêbada do Scott do que da sóbria. Quem teria imaginado que o Scott seria autodepreciativo?


— Para de babar, — Scott disse, inclinando meu queixo para cima de maneira brincalhona. — Vai tudo para a minha cabeça.


Eu lhe lancei um sorriso relaxado.


— Você dirige um Mustang. Isso deve te dar dez pontos, pelo menos.


— Maravilha. Dez pontos. Tudo que preciso são de mais duzentos para sair da zona vermelha.


— Por que não para de beber? — sugeri.


— Parar? Você está brincando? Minha vida é uma droga quando eu só estou parcialmente ciente dela. Se eu parar de beber e ver o que ela realmente é, eu provavelmente pularia de uma ponte.


Nós ficamos quietos por um momento.


— Quando estou bêbado, quase consigo esquecer quem eu sou, — ele disse, seu sorriso desbotando ligeiramente. — Eu sei que ainda estou aqui, mas só por pouco. É um lugar bom de se estar. — Ele virou a garrafa, os olhos no mar negro à frente.


— É, bem, a minha vida não é tão boa também.


— O seu pai? — ele adivinhou, limpando seu lábio superior com as costas da mão. — Isso não foi culpa sua.


— O que quase piora as coisas.


— Como?


— Se fosse culpa minha, isso indicaria que eu tinha falhado. Eu teria me culpado por um longo tempo, mas talvez, eventualmente, eu poderia seguir em frente. Agora estou presa, encarando a mesma pergunta: Por que o meu pai?


— É justo, — Scott disse.


Uma chuva suave começou a cair. Chuva de verão, com grandes gotas quentes respingando por todo lugar.


— Que diabos? — eu ouvi Marcie exigir mais abaixo na praia, perto da fogueira. Estudei os contornos dos corpos enquanto as pessoas começaram a ficar de pé. Ucker não estava entre elas.


— Pessoal, o meu apartamento! — Scott gritou, pulando de pé com um floreio. Ele cambaleou de lado, mal conseguindo se equilibrar. — Estrada Deacon 72, apartamento trinta e dois. As portas estão destrancadas. Bastante cerveja na geladeira. Ah, e eu mencionei que a minha mãe está no Bunco a noite toda?


Uma comemoração ergueu-se, e todos pegaram seus sapatos e outros itens descartados de roupa e subiram pela areia na direção do estacionamento.


Scott cutucou a minha coxa com o seu chinelo.


— Precisa de uma carona? Vamos lá, eu até te deixo dirigir.


— Obrigada pela oferta, mas acho que pra mim já deu. — Ucker não estava aqui. Ele fora a única razão para eu ter vindo, e de repente a noite não parecera só uma decepção, mas um desperdício também. Eu deveria ter ficado aliviada de não ter que ver o Ucker e a Marcie juntos, mas eu quase que só me sentia decepcionada, solitária, e cheia de arrependimento. E exausta. A única coisa que estava na minha cabeça era me engatinhas até a cama e colocar um fim nesse dia o mais cedo possível.


— Amigos não deixam amigos dirigirem bêbados, — Scott seduziu.


— Está tentando apelar para a minha consciência?


Ele balançou as chaves na minha frente.


— Como você pode rejeitar uma chance única de dirigir o `Stang?


Fiquei de pé e limpei areia da minha calça.


— Que tal você me vender o `Stang for trinta dólares? Eu posso até mesmo pagar em dinheiro.


Ele riu, deslizando seu braço ao redor do meus ombros.


— Bêbado, mas não tão bêbado assim, Grey. E o meu carro?



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Arrastei Scott dois lances de escada acima, rigidamente ofegante e cambaleei através da porta aberta do apartamento dele, o qual estava um caos de corpos pulsando e triturando o rap ligado tão alto que eu poderia sentir pedaços do meu cérebro tremendo frouxos. — O quarto é na parte de trás. — Scott murmurou na minha ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 75



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  • Vanuza Ribeiro Postado em 17/07/2015 - 02:09:05

    fooooooooooi estremamente linda a fanfic adorei *-----* parabéns.

  • Vanuza Ribeiro Postado em 14/07/2015 - 00:50:36

    estou lendo a fanfic ja a algum tempo e estou a m a n d o --- preciso de um anjo desses na minha vida, que dlc kkkkkkkkkk- vo começar a ler finale.

  • juhcunha Postado em 05/04/2015 - 23:35:45

    ai meu deus chorando litros morrendo quero mais nao acredito que terminou nisso queo mais muito mias a serie divergente e muito foda mais muito triste no final

  • juhcunha Postado em 05/04/2015 - 22:06:38

    posta mais

  • juhcunha Postado em 01/04/2015 - 22:11:51

    como e a Anie e um dele caranba quantas supresas e que essa cara ta fazendo na casa do ucker!

  • juhcunha Postado em 30/03/2015 - 20:56:59

    dante filho da puta traidor nao imaginava ele caranba !

  • juhcunha Postado em 29/03/2015 - 02:25:13

    Dabria vaca que beijo o homem dos outro puta se fudeeu dulce arazando

  • juhcunha Postado em 26/03/2015 - 01:34:59

    A porra fico seria agora!

  • juhcunha Postado em 23/03/2015 - 23:13:32

    marcie vaca robou o scott da ane puta e scott deveria te dado um fora nela ! O QUE O Que tinha naquele punhau era veneno caranba puta que paria

  • juhcunha Postado em 23/03/2015 - 01:16:44

    eu to descofiada que esse detetive basso e um arcanjo porque ele ta sempre vigiando sempre nos lugares errados


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O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


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