Voando por Hawthorne, eu passei pela minha casa, dei a volta, cortei até Beech, e me dirigi de volta em direção ao centro de Coldwater. Eu disquei o número da Ane através da agenda eletrônica.
— Algo aconteceu... eu... ele... a coisa... do nada... o Neon...
— Está falhando. O quê?
Eu limpei meu nariz com as costas da minha mão. Eu estava tremendo até meus dedos do pé. — Ele surgiu do nada.
— Quem?
— Ele... — tentei prender meus pensamentos e canalizá-los em palavras. — Ele pulou na frente do carro!
— Ai, cara. Ai-cara-ai-cara-ai-cara. Você acertou um veado? Você está bem? E o Bambi? — Ela meio choramingou, meio gemeu. — O Neon?
Eu abri minha boca, mas Ane me cortou.
— Esquece. Eu tenho seguro. Só me diga que não tem pedaços de veado em todo o meu bebê... Nada de pedaços de veado, certo?
Qualquer resposta que eu estive prestes a dar se dissipou no plano de fundo. Minha mente estava dois passos na frente. Um veado. Talvez eu conseguisse fazer o negócio todo parecer com uma batida em um veado. Eu queria me confidenciar na Ane, mas eu não queria soar louca, tampouco. Como eu ia explicar assistir ao cara que eu tinha atingido se levantar e começar a arrancar a porta do carro? Estiquei meu colarinho para baixo do meu ombro. Nenhuma marca vermelha onde ele tinha me agarrado, que eu conseguisse ver...
Me dei conta de mim mesma com assombro. Eu realmente estava considerando negar o que tinha acontecido? Eu sabia o que eu tinha visto. Não foi a minha imaginação.
— Santa bizarrice, — Ane disse. — Você não está respondendo. O veado está preso nos faróis, não está? Você está dirigindo por aí com ele travado na frente do carro como um trator para evacuar neve.
— Posso dormir na sua casa? — Eu queria sair das ruas. Sair da escuridão. Com uma inspiração súbita de ar, percebi que para ir para a casa da Ane, eu teria que dirigir de volta pelo cruzamento onde eu tinha atingido-o.
— Eu estou no meu quarto, — disse Ane. — Pode entrar. Te vejo daqui a pouco.
Com as minhas mãos apertadas no volante, empurrei o Neon pela chuva, rezando para que o sinal em Hawthorne estivesse verde em meu favor. Estava, e eu ladrilhei pelo cruzamento, mantendo meus olhos diretamente a frente, mas ao mesmo tempo, roubando olhadelas para as sombras ao lado da estrada. Não havia sinal do cara de máscara de esqui.
Dez minutos mais tarde eu estacionei o Neon na entrada da Ane. O dano à porta era extensivo, e eu tive que colocar meu pé nela e chutar para conseguir sair. Então corri para a porta da frente, escapuli para dentro, e corri pela escada do porão.
Ane estava sentada de pernas cruzadas em sua cama, o caderno apoiado em seus joelhos, os fones enfiados, o iPod ligado no máximo.
— Eu quero ver o dano hoje a noite, ou devo esperar até ter pelo menos tido sete horas de sono? — ela disse por cima da música.
— Talvez a opção número dois.
Ane fechou o caderno e tirou os fones.
— Vamos acabar com isso logo.
Quando fomos para fora, eu encarei o Neon por um longo tempo. Não era uma noite quente, mas o tempo não era a causa dos arrepios ondulando nos meus braços. Nada de janela do lado do motorista quebrada. Nada de amasso na porta.
— Algo não está certo, — eu disse. Mas Ane não estava escutando. Ela estava ocupada inspecionando cada centímetro quadrado do Neon.
Eu dei um passo para frente e cutuquei a janela do lado do motorista. Vidro sólido. Eu fechei meus olhos. Quando os reabri, a janela ainda estava intacta.
Eu dei uma volta pela traseira do carro. Eu tinha quase completado uma volta inteira quando parei de imediato.
Uma fina rachadura no para-brisa.
Ane a viu ao mesmo tempo.
— Tem certeza de que não foi um esquilo?
Minha mente relampejou de volta para os olhos letais atrás da máscara de esqui. Eles eram tão negros que eu não conseguia distinguir as pupilas das íris. Negros como... os de Christopher.
— Olhe para mim, estou chorando lágrimas de alegria, — Ane disse, esparramando-se sobre o capô do Neon em um abraço. — Uma rachadura minusculinha. Só isso!
Eu fabriquei um sorriso, mas meu estômago azedou-se. Há cinco minutos, a janela estava quebrada e a porta estava curvada. Olhando para o carro agora, parecia impossível. Não, parecia loucura. Mas eu vi o punho dele dar um soco no vidro, e sentias unhas dele mordiscarem meu ombro.
Não tinha?
Quanto mais eu tentava relembrar da batida, mais eu não conseguia. Pequenas manchas de informação perdida cruzavam minha memória. Os detalhes estavam se dissipando. Ele era alto? Baixo? Magro? Grande? Ele tinha dito alguma coisa?
Eu não conseguia me lembrar. Essa era a parte mais assustadora.
Na manhã seguinte Ane e eu saímos de casa às 7h15 e dirigimos até o Enzo`s Bistrô para tomar leite quente. Com as mãos em volta de minha xícara de porcelana, tentei afastar o frio intenso que me consumia por dentro. Tinha tomado uma chuveirada, vestido uma camiseta e um cardigã de Ane e passado alguma maquiagem, mas mal me lembrava de ter feito isso.
— Não olhe agora, — Ane disse. — mas o Sr. Suéter Verde fica olhando para cá, estimando suas longas pernas pela sua calça jeans... Ah! Ele acabou de me saudar. Não estou brincando. Uma saudaçãozinha militar de dois dedos. Que adorável.
Eu não estava escutando. O acidente da noite passada tinha repassado inteiramente na minha cabeça a noite toda, perseguindo qualquer chance de sono. Meus pensamentos estavam embaralhados, meus olhos estavam secos e pesados, e eu não conseguia me concentrar.
— O Sr. Suéter Verde parece normal, mas o companheiro dele parece um bad boy da pesada, — disse Ane. — Emite um certo sinal não-mexa-comigo. Diz que ele não parece com a cria do Drácula. Diz que eu estou imaginando coisas.
Levantando meus olhos justamente o bastante para dar uma olhada nele sem parecer que eu estava, absorvi seu rosto lindo de ossos suaves. Cabelo loiro pairava em seus ombros. Olhos da cor de cromo. Barba por fazer. Impecavelmente vestido em uma jaqueta impecável e calça jeans escura de designer. Eu disse:
— Você está imaginando coisas.
— Você deixou passar os olhos inexpressivos? A linha capilar em V? O porte alto e esbelto? Ele talvez até seja alto o bastante para mim.
Ane tem quase 1,83 metros, mas ela tem uma quedinha por saltos. Saltos altos. Ela também tem uma regra sobre não namorar caras baixos.
— Está bem, qual o problema? — Ane perguntou. — Você ficou toda incomunicável. Isso não é por causa da rachadura no para-brisa, é? E daí que você atingiu um animal? Podia acontecer a qualquer um. Claro, as chances seriam muito menores se a sua mãe se mudasse do mato.
Eu ia contar a Ane a verdade sobre o que tinha acontecido. Em breve. Eu só precisava de um pouco de tempo para ordenar os detalhes. O problema era que eu não via como poderia. Os únicos detalhes sobrando eram assustadores, na melhor das hipóteses. Era como se uma borracha tivesse apagado a minha memória. Pensando de volta, eu me lembrava da chuva pesada caindo como cascata nas janelas do Neon, fazendo com que tudo ficasse borrado. Eu teria de fato atingido um veado?
— Hmm, dá uma olhada nisso, — disse Ane. — O Sr. Suéter Verde está saindo do seu assento. Agora, esse é um corpo que frequenta a academia regularmente. Ele definitivamente está caminhando na nossa direção, seus olhos procurando a propriedade, a sua propriedade, isso é.
Uma meia batida mais tarde, fomos cumprimentadas por um baixo e agradável,— Olá.
Ane e eu olhamos para cima ao mesmo tempo. O Sr. Suéter Verde estava atrás da nossa mesa, seus dedões presos nos bolsos de sua calça jeans. Ele tinha olhos azuis, com cabelo loiro estilosamente bagunçado arrastado em sua testa.
— Olá para você, — Ane disse. — Eu sou Ane. Esta é Dulce Grey.
Eu franzi para Ane. Eu não apreciava ela anexando meu sobrenome, sentindo que isso violava um contrato não-verbal entre meninas, ainda mais melhores amigas, ao encontrar garotos desconhecidos. Dei um aceno indiferente e trouxe minha xícara aos meus lábios, imediatamente queimando minha língua.
Ele arrastou uma cadeira da mesa ao lado e sentou-se de costas, apoiando o braço do encost. Estendeu um braço pra mim e disse:
— Eu sou Elliot Saunders. — Sentindo-me formal demais, eu apertei-a. — E esse é Jules, — ele acrescentou, sacudindo seu queixo na direção do amigo, que Ane tinha subestimado grosseiramente ao chamar de “alto”.
Jules abaixou todo o seu eu em um assento ao lado de Ane, minimizando a cadeira.
Ela disse para ele:
— Acho que você é o maior cara que eu já vi. Sério, quanto você mede?
— Dois metros e oito, — Jules murmurou, tombando em seu assento e cruzando seus braços.
Elliot limpou sua garganta. — Posso pedir algo para as damas comerem?
— Estou bem, — eu disse, levantando minha xícara. — Eu já pedi.
Ane me chutou por debaixo da mesa.
— Ela vai querer um sonho recheado de creme de baunilha. Na verdade, dois.
— Lá se foi a dieta, hein? — eu perguntei a Ane.
— Hein para você. A fava de baunilha é uma fruta. Uma fruta marrom.
— É um legume.
— Você tem certeza disso?
Eu não tinha.
Jules fechou seus olhos e apertou a ponte do seu nariz. Aparentemente ele estava tão animado de estar sentado conosco quanto eu estava de tê-los aqui.
Enquanto Elliot andava até o balcão frontal, deixei meus olhos arrastarem-se até ele. Ele definitivamente estava no ensino médio, mas eu não tinha visto ele na Coldwater High School antes. Eu me lembraria. Ele tinha uma personalidade charmosa e extrovertida que não se dissipava no plano de fundo. Se eu não estivesse me sentindo tão abalada, eu de fato poderia ter me interessado. Em amizade, talvez mais.
— Você mora por aqui? — Ane perguntou a Jules.
— Hmm.
— Vai para escola?
— Kinghorn Prep. — Havia uma matiz de superioridade no jeito como ele disse isso.
— Nunca ouvi falar.
— Escola particular. Portland. Começamos as nove. — Ele levantou sua manga e olhou para o relógio.
Ane mergulhou um dedo na espuma de seu leite e o lambeu. — É caro?
Jules olhou para ela diretamente pela primeira vez. Seus olhos se esticaram, mostrando um pouco de branco ao redor das beiradas.
— Você é rico? Aposto que é, — ela disse.
Jules olhou Ane como se ela tivesse acabado de matar uma mosca na testa dele. Ele recuou sua cadeira vários centímetros, se distanciando de nós.
Elliot retornou com uma caixa com meia dúzia de sonhos.
— Dois de creme de baunilha para as damas, — ele disse, empurrando a caixa na minha direção, — e quatro com confeitos para mim. Acho que é melhor eu me encher agora, já que não sei como é a lanchonete na Coldwater High.
Ane quase cuspiu seu leite.
— Você frequenta a CHS?
— A partir de hoje. Acabei de me transferir da Kinghorn Prep.
— Dulce e eu frequentamos a CHS, — Ane disse. — Espero que aprecie sua boa sorte. Qualquer coisa que precise saber – incluindo quem deve convidar para o Baile da Primavera – é só perguntar. Nora e eu não temos pares... ainda.
Eu decidi que era hora de nos separarmos. Jules estava obviamente entediado e irritado, e ficar na companhia dele não estava ajudando o meu humor já impaciente. Fiz uma grande apresentação ao olhar no relógio do meu celular e disse:
— É melhor irmos para escola, Ane. Temos uma teste de biologia para o qual estudar. Elliot e Jules, foi bom conhecê-los.
— Nosso teste de biologia é só na sexta, — disse Ane.
Do lado de dentro, eu me contraio involuntariamente. Do lado de fora, eu sorrio descaradamente.
— Certo. Eu quis dizer teste de inglês. As obras de... Geoffrey Chaucer. — Todos sabiam que eu estava mentindo.
De um jeito remoto minha grosseria me incomodava, especialmente já que Elliot não tinha feito nada para merecer isso. Mas eu não queria ficar mais sentada aqui. Eu queria continuar me movendo, me distanciando da noite passada. Talvez a memória diminuindo não fosse uma coisa tão ruim afinal. Quanto mais cedo eu esquecesse o acidente, mais cedo minha vida voltaria ao seu ritmo normal.
— Espero que tenha um ótimo primeiro dia, e talvez vejamos você no almoço, —eu disse a Elliot. Então arrastei Ane por seu cotovelo e a dirigi porta afora.
O dia escolar estava quase acabando, somente biologia faltando, e após uma rápida parada no meu armário para trocar livros, me dirigi para aula. Ane e eu chegamos antes de Christopher; ela deslizou no assento vazio dele e cavou em sua mochila, puxando uma caixa jujubas.
— Um, a fruta vermelha saindo já, — ela disse, oferecendo-me a caixa.
— Deixe-me advinhar... canela é uma fruta? — empurrei a caixa para longe.
— Você não almoçou, tampouco, — Ane disse, franzindo a testa.
— Não estou com fome.
— Mentirosa. Você está sempre com fome. Isso tem a ver com Christopher? Você não está preocupada que ele esteja realmente perseguindo você, está? Porque na noite passada, aquele negócio todo na biblioteca, eu estava brincando.
Massageei círculos pequenos nas minhas têmporas. A dor maçante que tinha tomado residência atrás dos meus olhos resplandeceram na menção de Christopher.
— Christopher é a última das minhas preocupações, — eu disse. Não era exatamente verdade.
— Meu assento, se não se importa.
Ane eu olhamos para cima simultaneamente ao som da voz de Christopher.
Ele soava feliz o bastante, mas manteve seus olhos treinados na Ane enquanto ela se levantava e atirava sua mochila por seu ombro. Parecia que ela não conseguia se mover rápida o bastante; ele passou seu braço pelo corredor, convidando-a para fora.
— Bonita como sempre, — ele disse para mim, tomando sua cadeira. Ele se reclinou, esticando suas pernas na sua frente. Eu sempre soubera que ele era alto, mas nunca tinha medido. Olhando para a extensão das pernas dele agora, eu pressupus que ele tivesse 1,83. Talvez até 1,85.
— Obrigada, — eu respondi sem pensar. Imediatamente eu quis retirar o que dissera. Obrigada? De todas as coisas que eu poderia ter dito, “obrigada” era a pior. Eu não queria que Christopher pensasse que eu tinha gostado do elogio dele. Porque eu não tinha... na maior parte. Não precisava de muita percepção para perceber que ele era encrenca, e eu já tinha tido encrenca o bastante na minha vida. Não havia necessidade de convidar mais. Talvez se eu o ignorasse, ele eventualmente desistiria de puxar conversa. E então poderíamos sentar lado a lado em uma silenciosa harmonia, como todas as outras parcerias na sala.
— Você está cheirando bem também, — disse Christopher.
— Chama-se banho. — Eu estava encarando diretamente a frente. Quando ele não respondeu, me virei de lado. — Sabonete. Xampu. Água quente.
— Nua. Conheço o esquema.
Eu abri minha boca para mudar de assunto quando o sinal me cortou.
— Coloquem seus livros de lado, — o Treinador disse de trás da sua mesa. — Vou dar um teste de treinamento para aquecê-los para o verdadeiro dessa sexta. — Ele parou na minha frente, lambendo seu dedo enquanto tentava separar os testes. —Quero quinze minutos de silêncio enquanto respondem as perguntas. Então discutiremos o capítulo sete. Boa sorte.
Eu trabalhei nas primeiras questões, respondendo-as com uma efusão rítmica de fatos memorizados. Ao menos, o teste roubou minha concentração, empurrando o acidente da noite passada e a voz nos fundos da minha mente questionando a minha sanidade de lado. Parando para me livrar de uma câimbra da mão que escrevia, eu senti Christopher se inclinar na minha direção.
— Você parece cansada. Noite difícil? — ele sussurrou.
— Eu te vi na biblioteca. — Tomei cuidado em deixar meu lápis deslizando por sobre o meu teste, parecendo concentrada no trabalho.
— O ponto alto da minha noite.
— Você estava me seguindo?
Ele reclinou sua cabeça e riu suavemente.
Tentei uma abordagem diferente.
— O que você estava fazendo lá?
— Pegando um livro.
Senti os olhos do Treinador em mim e me dediquei ao teste. Após responder mais diversas perguntas, roubei uma olhadela à minha esquerda. Fiquei surpresa ao encontrar Patch já me observando. Ele sorriu.
Meu coração deu um salto inesperado, assustado por esse sorriso bizarramente atraente. Para o meu horror, fiquei tão alarmada que derrubei meu lápis. Ele saltou pelo tampo da mesa algumas vezes antes de rolar pela beirada. Christopher se inclinou para apanhá-lo. Ele o segurou na palma de sua mão, e eu tive que me concentrar para não tocar na pele dele enquanto eu o pegava.
— Depois da biblioteca, — eu sussurrei. — Para onde você foi?
— Por quê?
— Você me seguiu? — eu exigi baixinho.
— Você parece um tanto irritada, Dulce. O que aconteceu? — Suas sobrancelhas se levantaram em preocupação. Era tudo apresentação, porque havia uma faísca derrisória no centro de seus olhos negros.
— Você está me seguindo?
— Por que eu iria querer te seguir?
— Responda a pergunta.
— Dulce. — O aviso na voz do Treinador me chamou de volta para o teste. Mas eu não conseguia evitar especular sobre qual teria sido a resposta dele, e ela me fez querer deslizar para longe de Christopher. Para o outro lado da sala. Para o outro lado do universo.
O Treinador gorjeou seu apito.
— O tempo acabou. Passem seus testes para frente. Esperem perguntas similares nessa sexta. Agora — ele juntou suas mãos, e o som seco dele me fez estremecer —para a lição de hoje. Senhorita Sky, quer declarar o nosso tópico?
— S-e-x-o, — Ane anunciou.
Precisamente após ela ter anunciado, eu desliguei. Christopher estava me seguindo? Era ele o rosto por trás da máscara de esqui – se houvesse mesmo um rosto por trás da máscara? O que ele queria? Abracei meus cotovelos, de repente me sentindo muito gelada. Eu queria que a minha vida voltasse a ser do jeito que era antes de Christopher entrasse de supetão na minha vida.
Ao final da aula, impedi Christopher de ir embora.
— Podemos conversar?
Ele já estava de pé, então ele se sentou na beirada da mesa.
— O que foi?
— Eu sei que você não quer se sentar perto de mim mais do que eu quero me sentar perto de você. Acho que o Treinador pode considerar mudar os nossos assentos se você falar com ele. Se explicar a situação...
— A situação?
— Nós não somos... compatíveis.
Ele esfregou uma mão em sua mandíbula, um gesto calculado ao qual eu tinha me acostumado nos poucos dias que eu o conhecia. — Não somos?
— Não estou anunciando notícias devastadoras aqui.
— Quando o Treinador perguntou a minha lista de qualidades desejadas em uma companheira, eu dei você a ele.
Minha boca caiu ligeiramente.
— Retire o que disse.
— Inteligente. Atraente. Vulnerável. Você discorda?
Ele estava fazendo isso com o único propósito de me antagonizar, e isso só me irritava mais.
— Você vai pedir ao Treinador para mudar os nossos assentos ou não?
— Passo. Me afeiçoei a você.
O que eu devia dizer a isso? Ele estava obviamente mirando para conseguir uma reação de mim. O que não era difícil, já que eu nunca conseguia dizer quando ele estava brincando, e quando estava sendo sincero.
Tentei injetar uma medida de equanimidade na minha voz.
— Acho que você ficaria muito melhor sentado com outra pessoa. E acho que você sabe disso. — Eu sorri, tensa, mas educada.
— Acho que eu poderia acabar ao lado da Vee. — O sorriso dele parecia tão educado quando. — Não vou forçar a minha sorte.
Ane apareceu do lado da nossa mesa, olhando entre mim e Christopher. —Interrompendo algo?
— Não, — eu disse, fechando a minha mochila com força. — Eu estava perguntando ao Christopher sobre a leitura de hoje a noite. Eu não conseguia lembrar quais páginas o Treinador tinha passado.
Ane disse:
— A lição está no quadro, como sempre. Como se você já não tivesse lido-a.
Christopher riu, parecendo dividir uma piada particular com ele mesmo. Não pela primeira vez, desejei saber o que ele estava pensando. Porque as vezes eu tinha certeza que essas piadas particulares tinham tudo a ver comigo.
— Algo mais, Dulce? — ele disse.
— Não, — eu disse. — Vejo você amanhã.
— Vou ficar esperando. — Ele piscou. Realmente piscou.
Após Christopher estar fora de alcance, Vee agarrou meu braço. — Boas notícias. Cipriano. Esse é o sobrenome dele. Eu vi na lista de chamada do Treinador.
— E isso é algo para se estar feliz porque...?
— Todos sabem que os estudantes devem registrar remédios na enfermaria. —Ela puxou o bolso fronteiro da minha mochila, onde eu mantinha minhas pílulas de ferro. — Igualmente, todos sabem que a enfermaria está convenientemente localizada no lado de dentro do escritório principal, onde, acontece, as fichas estudantis também são mantidas.
Os olhos ardentes, Ane travou seu braço no meu e puxou-me na direção da porta.— Hora de fazer uma investigação de verdade.
luaahuckermann_4326: kkkk nao perde mesmo humm sera??? kkk bom pode ter certeza voce vai ficar chocada quando saber :3
Desculpem a demora viu :P