Fanfics Brasil - Capitulo 17 Finale (Adaptada)

Fanfic: Finale (Adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 17

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Depois que o Ucker foi embora, troquei o meu traje de praia por uma calça jeans escura e uma regata, e me fechei numa japona preta da Razorbills que eu tinha ganho na festa de Natal do eZine ano passado. Mesmo o pensamento fazendo o meu estômago revirar-se desconfortavelmente, eu tinha que vasculhar o apartamento do Ucker, e eu tinha que fazer isso hoje à noite, antes que fosse tarde demais.


Eu fora estúpida ao dizer ao Ucker que sabia que ele era o Mão Negra. Tinha saído num momento de imprudência hostil. Eu perdera a vantagem da surpresa. Eu duvidava que ele me visse como uma verdadeira ameaça — ele provavelmente achara sombriamente divertida a minha ameaça de mandá-lo para o inferno — mas eu tinha informação que ele claramente trabalhara muito para manter escondida. Baseada em tudo que eu sabia sobre os arcanjos oniscientes e sempre observantes, não fora fácil manter longe deles o envolvimento dele no assassinato do meu pai. Eu não podia mandá-lo para o inferno, mas os arcanjos podiam. Se eu achasse um modo de contatá-los, seu segredo cuidadosamente fabricado seria despedaçado. Os arcanjos estavam caçando uma desculpa para bani-lo para o inferno.


Bem, eu tinha uma razão. Meus olhos lacrimejaram, e eu apressadamente afastei as lágrimas. Houvera uma época na minha vida onde eu nunca teria acreditado que o Ucker seria capaz de matar o meu pai. A ideia teria sido risível, absurda — ofensiva. Mas só mostrava como ele tinha me enganado habilmente e a fundo.


Tudo me dizia que o apartamento em Swathmore era onde ele mantinha seus segredos. Era a sua vulnerabilidade. Fora Rixon, não era permitido que ninguém mais entrasse. Hoje mais cedo, quando mencionei ao Rixon que estivera lá, ele respondera com uma surpresa genuína. Ele gosta de manter seu endereço residencial fora do radar, ele dissera.


O Ucker tinha conseguido ficar fora do radar dos arcanjos? Parecia altamente improvável, quase no limite do impossível, mas ele havia provado que era muito bom em encontrar uma maneira de desvencilhar-se de qualquer obstáculo colocado em seu caminho. Se alguém era engenhoso ou esperto o bastante para minar os arcanjos, esse alguém era o Ucker. Eu estremeci inesperadamente enquanto me perguntava o que ele mantinha em seu apartamento. Uma sensação agourento que fazia cócegas na minha espinha dorsal parecia me avisar para não ir, mas eu devia ao meu pai levar o seu assassino à justiça.


Localizei uma lanterna sob a minha cama e a fechei no bolso da frente da japona. Enquanto eu estava ficando de pé, o diário da Marcie capturou minha atenção. Estava parado do outro lado de uma fileira de livros na minha estante. Debati por um momento, sentindo um buraco se queimar na minha consciência. Com um suspiro, enfiei o diário junto com a lanterna, tranquei tudo atrás de mim, e sai a pé. Andei o pedaço até Beech, então peguei um ônibus para a Rua Herring. Andei três quadras até Keate, entrei em outro ônibus até Clementine, então andei a pé a ladeira sinuosa e com uma paisagem deslumbrante que dava para a vizinhança da Marcie, que era o mais perto que Coldwater chegava de ser luxuosa. O cheiro de grama recém cortada e hortênsias pendia no ar noturno, e não havia tráfego. Os carros eram guardados organizadamente em suas garagens, fazendo as ruas parecerem mais amplas, mais limpas. As janelas de todas as casas colônias brancas refletiam o calor do sol se pondo lentamente, e eu imaginei famílias se sentando juntas para um jantar tardia atrás das persianas. Mordi meu lábio, assustada por uma onda repentina de um arrependimento inconsolável. A minha família nunca se sentaria junta para uma refeição novamente. Três noites por semana eu jantava sozinha, ou na casa da Ane. Nas outras quatro noites, quando a minha mãe estava em casa, nós comíamos, tipicamente, em bandejas na frente da TV.


Por causa do Ucke.


Virei na Brenchley, contando as casas até a da Marcie. O Toyota 4-Runner dela estava estacionado na entrada, mas eu sabia que ela não estava em casa. Ucker teria pego-a em seu Jipe para o filme. Eu estava cortando caminho pelo gramado, achando que deixaria o diário na varanda, quando a porta da frente se abriu.


Marcie estava com sua bolsa pendurada sobre seu ombro, as chaves na mão, claramente saindo. Ela congelou na entrada quando me viu.


— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou.


Abri a minha boca, mas três segundos inteiros passaram antes que as palavras saíssem.


— Eu... eu não achei que você estava em casa.


Ela estreitou seus olhos.


— Bem, eu estou.


— Achei que você... e o Ucker... — eu mal falava coerentemente. O diários estava nos meus braços, exposto. A qualquer instante Marcie o veria.


— Ele cancelou, — ela retrucou pra mim, como se não fosse da minha conta.


Eu mal a ouvi. A qualquer instante agora ela iria ver o diário. Como nunca antes, eu queria retroceder no tempo. Eu devia ter pensado bem nisso antes de vir. Eu devia ter pensado na possibilidade de ela estar em casa. Olhei de modo agitado para trás de mim, encarando a rua como se, de algum modo, ela pudesse vir ao meu resgate.


Marcie arfou, uma precipitação de ar passando entre seus dentes.


— O que você está fazendo com o meu diário?


Eu me virei, as bochechas pegando fogo.


Ela marchou até a varanda. Agarrou o diário e o apertou, automaticamente, contra seu peito.


— Você... você o pegou?


Minhas mãos caíram inutilmente ao meu lado.


— Eu o peguei na noite da sua festa. — Eu balancei minha cabeça. — Foi uma coisa estúpida de se fazer. Eu sinto tanto...


— Você leu? — Ela exigiu.


— Não.


— Sua mentirosa, — ela zombou. —Você leu, não foi? Quem não leria? Eu te odeio! A sua vida é tão entediante que você tem que ficar bisbilhotando a minha? Você leu o negócio todo, ou só as partes sobre você?


Eu estava prestes a negar com determinação sequer ter aberto-o, quando as palavras da Marcie fizeram com os meus pensamentos parassem e voltassem.


— Eu? O que você escreveu sobre mim?


Ela jogou o diário na varanda atrás dela, então se endireitou, esquadrinhando seus ombros.


— O que me importa? — ela disse, cruzando seus braços e olhando feio para mim. — Agora você sabe a verdade. Como é saber que a sua mãe está transando com o marido das outras?


Dei uma risada de descrença que teve mais raiva do que deveria.


— O quê?


— Você realmente acha que a sua mãe fica fora da cidade todas essas noites?


Ha!


Adotei a postura da Marcie.


— Em verdade, eu acho. — O que ela estava insinuando?


— Então como você explica o carro dela estacionado na rua debaixo uma noite por semana?


— Você pegou a pessoa errada, — eu disse, sentindo a minha raiva ferver. Eu tinha bastante certeza de que sabia exatamente o que Marcie estava querendo dizer.


Como ela ousava acusar a minha mãe de ter um caso. E com o pai dela, de todas as pessoas. Se ele fosse o último homem no planeta, minha mãe não seria pega viva com ele. Eu odiava a Marcie, e a minha mãe sabia disso. Ela não estava dormindo com o pai da Marcie. Ela nunca faria isso comigo. Ela nunca faria isso com o meu pai. Nunca.


— Taurus bege, chapa X4I24? — a voz da Marcie estava ártica.


— E daí, você sabe o número da chapa dela, — eu disse após um instante, tentando ignorar a sensação esmagadora no meu peito. — Isso não prova nada.


— Acorda, Dulce. Os nossos pais se conheciam no colégio. A sua mãe e o meu pai. Eles estavam juntos.


Eu balancei minha cabeça.


— Isso é mentira. Minha mãe nunca disse nada sobre o seu pai.


— Porque ela não quer que você saiba. — Os olhos dela relampejaram. — Porque ela ainda está com ele. Ele é o segredinho sujo dela.


Balancei a minha cabeça mais arduamente, me sentindo como uma boneca quebrada.


— Talvez a minha mãe tenha conhecido o seu pai no colégio, mas isso foi há muito tempo, antes dela conhecer o meu pai. Você pegou a pessoa errada. Viu o carro de outra pessoa estacionado na rua debaixo. Quando ela não está em casa, ela está fora da cidade, trabalhando.


— Eu os vi juntos, Dulce. Era a sua mãe, então nem tente criar desculpas para ela. Fui para a escola aquele dia e pichei o seu armário com uma mensagem para a sua mãe. Você não entende? — Sua voz era um sibilo revoltado. — Eles estavam dormindo. Todos esses anos estiveram fazendo isso. O que significa que o meu pai podia ser o seu pai. E você podia ser a minha... irmã.


As palavras da Marcie caíram como uma lâmina entre nós.


Envolvi os meus braços ao redor da minha cintura e me virei, sentindo como se fosse passar mal. Lágrimas sufocaram na minha garganta, queimando os fundos do meu nariz. Sem uma palavra, andei duramente pela entrada da casa da Marcie. Achei que ela podia gritar algo pior pelas minhas costas, mas não havia nada pior que ela pudesse dizer.


Eu não fui à casa do Ucker.


Devo ter andado o caminho todo até Clementine, passado pelo ponto de ônibus, pelo parque, e pela piscina da cidade, porque assim que me dei conta, eu estava sentada num banco no gramado em frente à biblioteca pública. Um cone de poste de luz caía sobre mim. Era uma noite quente, mas abracei os meus joelhos contra o meu peito, meu corpo destruído por tremores. Meus pensamentos eram uma desordem de teorias assombradoras.


Encarei a escuridão que se fixava ao meu redor. Faróis oscilavam pela rua, chegavam mais perto, iam embora. Risadas esporádicas de sitcoms era carregadas de uma janela aberta para a rua.


Bolsas de ar frio incitavam arrepios pelos meus braços. O cheiro intoxicante de grama, almiscarado e úmido do sol de mais cedo, me sufocava.


Eu me recostei no banco, fechando os meus olhos contra a poeira das estrelas. Entrelacei as minhas mãos agitadas no meu estômago, meus dedos parecendo gravetos congelados. Eu me perguntei por que a vida às vezes tinha que ser uma porcaria tão grande, me perguntei por que as pessoas que eu mais amava eram as que mais podiam me decepcionar, me perguntei para quem que eu mais queria direcionar o meu ódio — Marcie, o pai dela, ou a minha mãe.


Lá no fundo, eu me agarrava à esperança de que Marcie estivesse errada. Eu esperava poder jogar isso de volta na cara dela. Mas a sensação penetrante que parecia me puxar de dentro pra fora me dizia que eu só estava me preparando para a decepção.


Eu não conseguia localizar a lembrança, mas era dentro do último ano, mais ou menos. Talvez logo antes do meu pai morrer... não. Depois. Fora um dia quente — primavera. O funeral tinha acabado, meu generoso período de luto tinha acabado, e eu estava de volta à escola. Ane tinha me convencido a matar aula, e naqueles dias, eu não resistia muito à nada. Eu flutuava junto. Eu sobrevivia. Pensando que a minha mãe estaria no trabalho, andamos até a minha casa. Devemos ter levado todo o sétimo período para chegar lá.


A medida que a casa da fazenda entrava no campo de visão, Vee me puxou para fora da estrada.


— Tem um carro na sua entrada, — ela disse.


— De quem poderia ser? Parece um Land Cruiser.


— A sua mãe não dirige um desses.


— Você acha que é um detetive? — Não era provável um detetive dirigir uma SUV de sessenta mil dólares, mas eu estava tão acostumada aos detetives passando em casa, que foi o primeiro pensamento que veio à minha mente.


— Vamos chegar mais perto.


Estávamos quase na entrada quando a porta da frente se abriu e vozes saíram de dentro. A da minha mãe... e uma voz mais profunda. De um homem.


Ane me puxou para a lateral da casa, fora de vista.


Observamos enquanto Hank Millar entrava na Land Cruiser e dirigia para longe.


— Minha nossa senhora das aberrações, — Ane disse. — Normalmente eu suspeitaria de alguma sacanagem, mas a sua mãe é a mais moralista que conheço. Aposto que ele estava tentando vender um carro à ela.


— Ele veio até aqui por isso?


— Pode crer, baby. Vendedores de carros não sabem o seu limite.


— Ela já tem um carro.


— Um Ford. Esse é, tipo, o maior inimigo da Toyota. O pai da Marcie não ficará feliz até que a cidade toda esteja dirigindo Toyotas...


Eu me desvencilhei da lembrança. Mas e se ele não estivera vendendo-a um carro? E se eles — eu engoli em seco involuntariamente — estivessem tendo um caso?


Onde eu deveria ir agora? Pra casa? A casa da fazenda não parecia mais a minha casa. Não parecia mais sã e segura. Parecia uma caixa de mentiras. Meus pais tinham me vendido uma história de amor, proximidade, e família. Mas se a Marcie estivesse dizendo a verdade — e meu maior medo era de que ela estivesse — a minha família era uma piada. Uma enorme mentira que eu nem mesmo pressentira. Não deveria ter havido sinais de alerta? Eu não deveria ser atingida com a percepção de que eu suspeitara secretamente disso o tempo todo, mas tinha escolhido a negação ao invés da verdade dolorosa? Essa era a minha punição por confiar nos outros. Essa era a minha punição por procurar a bondade nas pessoas. Por mais que eu odiasse o Ucker agora, eu invejava o desapego frio que o separava de todos os outros.


Ele suspeitava do pior nas pessoas; não importava o quanto elas chegassem no fundo, ele sempre havia previsto. Ele era endurecido e secular, mas as pessoas o respeitavam por isso.


Elas o respeitavam, e mentiram para mim.


Fiquei ereta no banco e soquei o número da minha mãe no meu celular. Eu não sabia o que diria quando ela atendesse; eu deixaria a minha raiva e traição me guiarem. Enquanto o telefone dela tocava, lágrimas quentes caíam pelas minhas bochechas. Eu mandei-as para longe com um tapa. Meu queixo tremia, e cada músculo do meu corpo estava tenso. Palavras nervosas e vingativas saltavam à mente. Eu previ gritá-las para ela, cortando-a toda vez que ela tentava se defender com mais mentiras. E se ela chorasse... eu não sentiria pena. Ela merecia sentir cada pingo de dor pelas escolhas que fizera.


Sua caixa de correio atendeu, e exigiu todas as minhas forças não arremessar o telefone para a escuridão.


Eu disquei para Ane em seguida.


— E aí, baby. É importante? Estou com o Rixon...


— Vou sair de casa, — eu disse, não ligando se a minha voz soava pesada por causa do choro. — Posso ficar na sua casa por um tempo? Até eu decidir pra onde eu vou.


A respiração da Ane encheu o meu ouvido.


— Repete?


— Minha mãe chega em casa no sábado. Quero ter ido embora até lá. Posso ficar com você o resto da semana?


— Hm, posso perguntar...


— Não.


— Está bem, claro, — Ane disse, tentando esconder seu choque. — Você pode ficar, sem problema. Nem problema algum. Me conta o que aconteceu quando estiver pronta.


Senti lágrimas frescas brotarem dentro de mim. Agora, a Ane era a única pessoa com quem eu podia contar. Ela podia ser detestável, irritante, e preguiçosa, mas nunca mentira pra mim.


 


 


Cheguei na casa da fazenda por volta das nove, e coloquei um pijama de algodão. Não era uma noite fria, mas o ar estava úmido, e a umidade parecia deslizar por baixo da minha pele, esfriando-me até os ossos. Após fazer um copo de leite quente para mim, afundei na cama. Estava cedo demais para dormir, mas eu não podia ter dormido mesmo que tivesse tentado; meus pensamentos ainda estavam vistosamente se destruindo. Eu encarei o teto, tentando apagar os últimos dezesseis anos e começar de novo. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia visualizar Hank Millar como meu pai.


Eu saí da cama e marchei pelo corredor até o quarto da minha mãe. Eu abri com tudo seu baú, procurando por seu anuário do colégio. Eu nem sabia se ela possuía um, mas se possuía, o baú era o único lugar em que eu conseguia pensar procurar. Se ela e Hank Millar foram para o colégio juntos, haveria fotos. Se estivessem estado apaixonados, ele teria assinado seu anuário de algum modo especial que anunciaria isso. Cinco minutos mais tarde, eu tinha procurado a fundo no baú e acabado de mãos vazias.


Andei até a cozinha, procurei nos armários por algo para comer, mas descobri que meu apetite tinha ido embora. Eu não conseguia comer, pensando na enorme mentira que a minha família tinha revelado ser. Peguei os meus olhos viajando para a porta da frente, mas para onde eu iria? Eu me sentia perdida na casa, impaciente para ir embora, mas sem lugar para onde correr. Depois de ficar no corredor por diversos minutos, subi de volta para o meu quarto. Deitando na cama com as cobertas puxadas até o meu queixo, eu fechei os meus olhos e observei um carretel de fotos deslizar pela minha mente. Fotos da Marcie; do Hank Millar, que eu mal conhecia, e cujo rosto eu só conseguia invocar com dificuldade; dos meus pais. As imagens vinham cada vez mais rápidas, até que se misturaram numa colagem estranha de loucura.


As imagens pareceram mover-se para trás de repente, recuando no tempo. Toda a cor foi drenada do filme, até que não houvesse nada além de um preto e branco indistinto. Foi então que eu soube que tinha deslizado para outra realidade.


Eu estava sonhando.


Eu estava parada no jardim da frente. Um vento bruto varria folhas mortas pela entrada, ao redor dos meus tornozelos. Uma nuvem funil estranha serpenteava no céu acima, mas não fazia movimento algum de golpear, como se contente em aguardar antes de atacar. Ucker estava sentado na mureta da varanda, a cabeça encurvada, as mãos fechadas frouxamente entre seus joelhos.


— Caia fora do meu sonho, — gritei para ele sobre o vento.


Ele balançou sua cabeça.


— Não até que eu te diga o que está acontecendo.


Puxei a minha camiseta do pijama mais apertadamente.


— Não quero ouvir o que você tem a dizer.


— Os arcanjos não podem nos ouvir aqui.


Dei uma risada de acusação.


— Não foi o bastante me manipular na vida real, agora você tem que fazer isso aqui também?


Ele levantou a cabeça.


— Manipular? Estou tentando te contar o que está acontecendo.


— Você está forçando a sua entrada nos meus sonhos, — eu desafiei. — Você fez isso depois do Devil`s Handbag, e está fazendo isso de novo.


Uma rajada de vento repentina soprou entre nós, fazendo com que eu desse um passo para trás. Os galhos da árvore rangiram e gemeram. Eu tirei o meu cabelo do meu rosto.


Ucker disse:


— Depois do Z, no Jipe, você me disse que tinha tido um sonho com o pai da Marcie. Na noite que você teve o sonho, eu estava pensando nele. Eu estava me lembrando da lembrança exata que você sonhou, desejando ter alguma maneira de eu te contar a verdade. Eu não sabia que estava me comunicando com você.


— Você me fez ter aquele sonho?


— Não foi um sonho. Foi uma lembrança.


Tentei digerir isso. Se o sonho fosse real, Hank Millar estivera vivendo na Inglaterra há centenas de anos. Minha lembrança voltou-se para o sonho. Diga ao o balconista para enviar ajuda, Hank tinha dito. Diga-o que não há nenhum homem. Diga que era um dos anjos do diabo, que veio possuir meu corpo e descartar minha alma.


O Hank Millar era um... Nephilim?


— Não sei como adentrei os seus sonhos, — Ucker disse, — mas venho tentando me comunicar com você da mesma maneira desde então. Consegui na noite em que te beijei depois do Devil`s Handbag, mas agora fico batendo nas paredes. Tenho sorte de estar aqui agora. Acho que é você. Você não está me deixando entrar.


— Porque não te quero dentro da minha cabeça!


Ele deslizou da mureta, descendo para me encontrar no jardim.


— Eu preciso que você me deixe entrar.


Eu me virei para longe.


— Eu fui redesignado para a Marcie, — ele disse.


Cinco segundos se passaram antes de tudo se encaixar no lugar. A sensação doentia e quente que agitava-se no meu estômago desde que eu tinha deixado a casa da Marcie se espalhou para as minhas extremidades.


— Você é o anjo da guarda da Marcie?


— Não tem sido um passeio agradável.


— Os arcanjos fizeram isso?


— Quando eles me designaram como o seu anjo, deixaram claro que eu devia ter o seu bem em mente. Me envolver com você não foi para o seu bem. Eu sabia disse, mas eu não gostava da ideia dos arcanjos me dizendo o que fazer com a minha vida pessoal. Eles estavam nos observando na noite que você me deu o anel.


No Jipe. Na noite antes de terminarmos. Eu me lembrava.


— Assim que percebi que eles estavam nos observando, me mandei. Mas o dano estava feito. Eles me disseram que eu estaria fora assim que achassem um substituto. Então me designaram para a Marcie. Fui à casa dela naquela noite para me forçar a encarar o que eu tinha feito.


— Por que a Marcie? — perguntei amargamente. — Para me punir?


Ele arrastou uma mão pela sua boca.


— O pai da Marcie é um Nephilim de primeira geração, de raça pura. Agora que a Marcie tem dezesseis anos, há perigo dela ser sacrificada. Há dois meses, quando tentei te sacrificar para conseguir um corpo humano, mas acabei salvando a sua vida, não havia muitos anjos caídos que acreditavam que podiam mudar o que eram. Eu sou um anjo da guarda agora. Todos sabem, e todos sabem porque eu te salvei da morte. De repente, muitos deles acreditam que podem enganar o destino também. Ou salvando um humano e conseguindo suas asas de volta — ele expirou — ou matando seu vassalo Nephil e transformando seus corpos de anjos caídos em humanos.


Revisei, na minha mente, tudo que eu sabia sobre anjos caídos e Nephilim. O Livro de Enoque contava sobre um anjo caído que tinha se tornado humano após matar seu vassalo Nephil — ao sacrificar uma das descendentes femininas do vassalo. Há dois meses, Ucker tinha tentado justamente isso ao planejar me usar para matar Chauncey. Agora, se o anjo caído que tinha forçado Hank Millar a jurar fidelidade quisesse se tornar humano, bem, ele teria que...


Sacrificar a Marcie. Eu disse:


— Você quer dizer que o seu trabalho é se certificar de que o anjo caído que forçou Hank Millar a jurar fidelidade não sacrifique a Marcie para conseguir um corpo humano.


Como se achasse que me conhecia bem o bastante para adivinhar meu próximo pensamento, ele disse:


— Marcie não sabe. Ela está completamente alheia.


Eu não queria falar sobre isso. Eu não queria o Ucker aqui. Ele tinha matado o meu pai. Ele tinha arrancado de mim, para sempre, alguém que eu amava.


Ucker era um monstro. Nada que ele pudesse dizer podia me fazer sentir o contrário.


— Chauncey formou a sociedade de sangue Nephilim, — Ucker disse.


Minha atenção voltou bruscamente.


— O quê? Como você sabe?


Ele pareceu relutante em responder.


— Acessei umas lembranças. Lembranças de outras pessoas.


— Lembranças de outras pessoas? — Eu fiquei chocada quando não deveria ter ficado. Como ele podia justificar todas as coisas horríveis que tinha feito? Como podia vir aqui e me dizer que tinha examinado secretamente os pensamentos mais particulares e íntimos das pessoas, e esperado que eu o admirasse por isso? Ou mesmo esperado que eu o escutasse? — Um sucessor retomou de onde o Chauncey parou. Não fui capaz de conseguir um nome ainda, mas há boatos de que ele não está feliz com a morte do Chauncey, o que não faz sentido. Ele está no comando agora, só isso já devia ter apagado qualquer remorso que ele sentira sobre a morte do Chauncey. O que me faz pensar se o sucessor não era um amigo chegado do Chauncey, ou um parente.


Eu balancei minha cabeça.


— Não quero ouvir isso.


— O sucessor está pagando para acharem o assassino do Chauncey. — Qualquer outro protesto da minha parte morreu em formação. Ucker e eu partilhamos um olhar. — Ele quer que o assassino pague.


— Você quer dizer que ele quer que eu pague, — eu disse, minha voz mal saindo.


— Ninguém sabe que você matou o Chauncey. Ele não sabia que você era a sua descendente feminina até instantes antes de morrer, então há pouquíssima chance de alguém mais saber. O sucessor do Chauncey pode tentar localizar os descendentes do Chauncey, mas lhe desejo boa sorte. Levei um tempão para te achar. — Ele deu um passo na minha direção, mas eu recuei. — Quando você acordar, preciso que diga que me quer como seu anjo da guarda de novo. Diga como se realmente quisesse, para que os arcanjos possam ouvir, e, com sorte, concedam o seu pedido. Estou fazendo tudo que posso para te manter segura, mas estou limitado. Preciso de acesso avançado às pessoas ao seu redor, às suas emoções, tudo no seu mundo.


O que ele estava dizendo? Que os arcanjos tinham finalmente achado o meu anjo da guarda substituto? Fora por isso que ele tinha forçado sua entrada no meu sonho hoje à noite? Porque ele tinha sido cortado, e não mais tinha o acesso à mim que ele queria?


Senti as mãos dele deslizarem para os meus quadris, segurando-me protetoramente contra ele.


— Não vou deixar nada acontecer com você.


Endureci e me livrei dele. Minha mente estava numa tormenta. Ele quer que o assassino pague. Eu não conseguia me livrar desse pensamento. Pensar que alguém lá fora queria me matar era entorpecedor. Eu não queria ficar aqui. Eu não queria saber dessas coisas. Eu queria me sentir segura de novo.


Percebendo que o Ucker não tinha intenção de deixar o meu sonho, eu mesma fiz o movimento. Lutei contra as barreiras invisíveis do sonho ao me forçar a acordar. Abra seus olhos, eu disse a mim mesma. Abra-os!


Ucker agarrou o meu cotovelo.


— O que está fazendo?


Eu conseguia me sentir ficando mais lúcida. Eu conseguia sentir o calor dos meus lençóis, minha fronha macia contra a minha bochecha. Todos os cheiros familiares associados ao meu quarto me confortavam.


— Não acorde, Anjo. — Ele acariciou suas mãos contra o meu cabelo, prendendo o meu rosto, me forçando a olhá-lo nos olhos. — Há mais coisas que você precisa saber. Há uma razão muito importante de por que você precisa ver essas lembranças. Estou tentando te dizer algo que não posso lhe dizer de nenhuma outra maneira. Preciso que você entenda o que estou tentando te contar. Eu preciso que você pare de me bloquear.


Afastei o meu rosto com força. Meus pés pareciam levantar-se da grama, sendo levados na direção da nuvem funil em comoção. Ucker tentou me pegar, xingando baixinho, mas seu aperto sobre mim era leve como uma pluma, imaginário.


Acorda, eu me ordenei. Acorda.


Eu deixei a nuvem me consumir.



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 75



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  • Vanuza Ribeiro Postado em 17/07/2015 - 02:09:05

    fooooooooooi estremamente linda a fanfic adorei *-----* parabéns.

  • Vanuza Ribeiro Postado em 14/07/2015 - 00:50:36

    estou lendo a fanfic ja a algum tempo e estou a m a n d o --- preciso de um anjo desses na minha vida, que dlc kkkkkkkkkk- vo começar a ler finale.

  • juhcunha Postado em 05/04/2015 - 23:35:45

    ai meu deus chorando litros morrendo quero mais nao acredito que terminou nisso queo mais muito mias a serie divergente e muito foda mais muito triste no final

  • juhcunha Postado em 05/04/2015 - 22:06:38

    posta mais

  • juhcunha Postado em 01/04/2015 - 22:11:51

    como e a Anie e um dele caranba quantas supresas e que essa cara ta fazendo na casa do ucker!

  • juhcunha Postado em 30/03/2015 - 20:56:59

    dante filho da puta traidor nao imaginava ele caranba !

  • juhcunha Postado em 29/03/2015 - 02:25:13

    Dabria vaca que beijo o homem dos outro puta se fudeeu dulce arazando

  • juhcunha Postado em 26/03/2015 - 01:34:59

    A porra fico seria agora!

  • juhcunha Postado em 23/03/2015 - 23:13:32

    marcie vaca robou o scott da ane puta e scott deveria te dado um fora nela ! O QUE O Que tinha naquele punhau era veneno caranba puta que paria

  • juhcunha Postado em 23/03/2015 - 01:16:44

    eu to descofiada que esse detetive basso e um arcanjo porque ele ta sempre vigiando sempre nos lugares errados


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