Fanfics Brasil - Capitulo 1 Finale (Adaptada)

Fanfic: Finale (Adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 1

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Eu não sou uma garota festeira. Música de estourar os ouvidos, corpos em movimento, sorrisos embriagados... nada a ver comigo. Meu sábado a noite ideal seria ficar em casa aninhada no sofá assistindo uma comédia romântica com meu namorado, Ucker.


Previsível, contida... normal. Meu nome é Dulce Grey, e embora eu costumasse ser uma adolescente americana normal, comprando minhas roupas em liquidação na J. Crew e gastando meu dinheiro de babá com o iTunes, eu e a normalidade nos tornamos perfeitas estranhas recentemente. Na verdade, eu não reconheceria algo normal nem se marchasse até mim e cutucasse o meu olho.


A normalidade e eu nos distanciamos quando Ucker entrou na minha vida. Ucker é dezoito centímetros mais alto que eu, só trabalha com uma lógica fria e dura, se movimenta como fumaça, e mora sozinho em um estúdio supersecreto e superdescolado embaixo do Parque de Diversões Delphic.


O som da sua voz, grave e sexy, derrete meu coração em apenas três segundos. Ele também é um anjo caído, expulso do céu por sua flexibilidade em seguir regras. Pessoalmente, acho que o Ucker deu um baita de um susto na normalidade, e ela saiu correndo para o outro lado do planeta.


Posso não ter normalidade, mas tenho uma estabilidade. Em especial na forma da minha melhor amiga há doze anos, Ane Sky. Vee e eu temos uma ligação inabalável que até mesmo uma lista infindável de diferenças não pode quebrar. Dizem que os opostos se atraem, e Ane e eu somos prova da legitimidade disso. Eu sou alta e magra com um grande cabelo cacheado que testa a minha paciência, e tenho personalidade tipo A.


Indivíduos do tipo A são ambiciosos, organizados, podem ser sensíveis, se importam com outras pessoas, são verdadeiros, impacientes, sempre tentam ajudar os outros, fazem mais coisas do que são capazes, são proativos. São, muitas vezes, workaholics, fazendo muitas tarefas ao mesmo tempo, e se esforçam para cumprir prazos, odiando tanto atrasos como ambivalência.


Ane é ainda mais alta, com cabelo loiro-acinzentado, olhos verdes serpentinos, e mais curvas do que o trilho de uma montanha-russa. Quase sempre os desejos da Ane triunfam sobre os meus. E, ao contrário de mim, Ane adora uma boa festa. Hoje à noite, o desejo de Ane de procurar uma boa festa nos levou para o outro lado da cidade até um depósito feito de tijolos de quatro andares, bombando com música de balada, inundado de identidades falsas e abarrotado de corpos produzindo suor o bastante para elevar os gases do efeito estufa a um novo nível. A distribuição do local era padrão: uma pista de dança imprensada entre um palco e um bar. Havia boatos de que uma porta secreta atrás do bar dava a um porão, e o porão te levava a um homem chamado Storky, que operava um negócio de falsificações de sucesso. Líderes das comunidades religiosas ameaçavam fechar o viveiro de iniquidade de adolescentes desordeiros... também conhecido como Devil’s Handbag.


— Requebra, baby — Ane gritou para mim por cima do thump, thump, thump sem sentido da música, entrelaçando seus dedos nos meus e balançando nossas mãos sobre as cabeças. Estávamos no centro da pista de dança, sendo empurradas e trombadas de todos os lados. — É assim que um sábado à noite tem que ser. Nós duas remexendo, nos soltando, liberando o bom e velho suor das garotas.


Fiz o meu melhor para dar um aceno de entusiasmo, mas o cara atrás de mim ficava pisando no calcanhar da minha sapatilha de bailarina, e, a intervalos de cinco segundos, eu tinha que enfiar meu pé nele. A garota à minha direita dançava com os cotovelos para fora e, se eu não fosse cuidadosa, eu sabia que seria esmurrada no ombro.


— Talvez devêssemos pegar umas bebidas — eu disse para Ane. — Parece que estamos na Flórida.


— É porque eu e você estamos incendiando este lugar. Dá uma olhada naquele cara no bar. Ele não tira os olhos dos seus movimentos sensuais. — Ela lambeu os dedos e os apertou contra meu ombro nu, fazendo um som escaldante.


Eu segui o olhar dela... e meu coração afundou.


Dante Matterazzi levantou o queixo, me cumprimentando. Seu próximo gesto foi um pouco mais sutil.


Nunca imaginei que você dança, ele falou na minha mente.


Engraçado, eu imaginei que você persegue pessoas, eu atirei de volta.  Dante Matterazzi e eu pertencíamos à raça Nephilim, por isso a habilidade inata de conversar mentalmente, mas as similaridades paravam por aí. Dante não sabia deixar nada pra lá, e eu não sabia por quanto mais tempo eu conseguiria evitá-lo. Eu o tinha conhecido pela primeira vez esta manhã mesmo, mas ele agia como se o nosso relacionamento datasse de anos, no mínimo.


Deixei uma mensagem no seu celular, ele disse.


Nossa, não devo ter recebido. Mais para eu deletei.


Precisamos conversar.


Estou meio ocupada para enfatizar meu argumento, eu girei meus quadris e balancei os braços de um lado para o outro, fazendo o meu melhor para imitar Ane, cujo canal de TV favorito era o BET, o que deixava bem claro. Ela tinha hip-hop carimbado em sua alma.


Um fraco sorriso elevou a boca de Dante.


Enquanto faz isso, peça para sua amiga te dar umas dicas. Você está toda atrapalhada. Definitivamente um peixe fora d’água. Encontre-me lá fora em dois minutos.


Eu olhei feio para ele.


Ocupada, lembra?


Isso não pode esperar.


Com uma arqueada significativa das sobrancelhas, ele desapareceu na multidão.


— Quem perdeu foi ele — Ane disse. — Não aguentou o calor.


— Quanto àquelas bebidas — eu disse. — Posso te trazer uma Coca?


Ane não parecia pronta para desistir de dançar tão cedo, e por mais que eu quisesse evitar Dante, imaginei que fosse melhor simplesmente acabar com isso de uma vez. Engolir o sapo e conversar com ele. A alternativa era ter ele de sombra pelo resto da noite.


— Coca com limão — Ane disse.


Saí da pista de dança pelas beiradas e, depois de me certificar que Ane não estava me observando, abaixei-me por um corredor lateral e saí pela porta dos fundos. O beco estava banhado pela luz do luar. Um Porsche Panamera vermelho estava estacionado na minha frente, e Dante se inclinava contra ele, seu braço dobrado frouxamente sobre o peito.


Dante tem 2,05m, o físico de um soldado recém-saído do treinamento de recrutas. Só para exemplificar: ele tem mais músculos tonificados no pescoço do que eu tenho no meu corpo todo. Hoje à noite ele estava usando calça cáqui solta e uma camisa de linho branca desabotoada até a metade do peito, revelando um trecho em V de pele suave e sem pelos. Exibido.


— Belo carro — eu disse.


— Dá conta do recado.


— Assim como o meu Volkswagen, que custou consideravelmente menos.


— É preciso mais que quatro rodas para ser um carro.


Ugh.


— Então — eu disse, batendo o pé. — O que é tão urgente?


— Ainda está namorando aquele anjo caído?


Era apenas a terceira vez em três horas que ele me perguntava isso. Duas vezes por mensagem, e agora cara a cara. Meu relacionamento com Ucker tinha passado por muitos altos e baixos, mas a direção atual era positiva. Ainda tínhamos nossos problemas, contudo. Em um mundo onde Nephilim e anjos caídos prefeririam morrer a sorrir um para o outro, namorar um anjo caído definitivamente estava fora de questão.


Eu me endireitei um pouco mais e disse:  — Você sabe.


— Está tomando cuidado?


— Discrição é meu lema. — Ucker e eu não precisávamos que Dante nos dissesse que era sensato não fazermos muitas aparições públicas juntos.


Nephilim e anjos caídos nunca precisaram de uma desculpa para ensinar uma lição uns aos outros, e as tensões raciais entre os dois grupos estavam esquentando mais a cada dia que passava. Era outono, outubro, para ser exata, e o mês judaico do Cheshvan era em alguns dias.


A cada ano, durante o Cheshvan, anjos caídos possuíam multidões de corpos Nephilim. Anjos caídos têm passe livre para fazer o que bem entenderem, e já que essa era única vez durante o ano em que eles realmente conseguiam sentir sensações físicas, a criatividade deles não conhecia limites. Eles vão atrás de prazer, dor, e tudo entre os dois, brincando de parasitar seus hospedeiros Nephilim. Para os Nephilim, o Cheshvan é uma prisão infernal.


Se Ucker e eu fôssemos vistos apenas de mãos dadas pelos indivíduos errados, nós pagaríamos, de um jeito ou de outro.


— Vamos falar sobre a sua imagem — disse Dante. — Precisamos gerar uma atenção positiva sobre o seu nome. Levantar a confiança dos Nephilim em você.


Eu estalei os dedos teatricalmente.


— Não odeia quando a sua taxa de aprovação está baixa?


Dante franziu o rosto.


— Isso não é piada, Dulce. Cheshvan começa em pouco mais de 72 horas, e isso significa guerra. Anjos caídos de um lado, nós do outro. Tudo está em suas mãos, você é a líder do exército Nephilim.


Uma náusea instalou-se no meu estômago. Eu não tinha exatamente solicitado o cargo. Graças ao meu falecido pai, um homem verdadeiramente doente, eu tinha sido forçada a herdar o posto. Fiz um juramento de sangue a fim de liderar seu exército, e a falha em fazê-lo resultaria na minha morte, e na morte da minha mãe. Sem pressão alguma.


— Apesar das nossas precauções, há boatos de que está namorando um anjo caído, e que sua lealdade está dividida.


— Eu estou namorando um anjo caído.


Dante revirou os olhos.


— Acha que pode dizer isso mais alto?


Eu dei de ombros.


Se for isso que realmente quer. Então eu abri a boca, mas Dante estava ao meu lado em um instante, cobrindo-a.


— Eu sei que isso te mata, mas você poderia facilitar o meu trabalho só desta vez? — ele murmurou no meu ouvido, olhando ao redor para as sombras com uma inquietação óbvia, mesmo eu tendo certeza de que estávamos sozinhos. Eu só era uma Nephilim pura há 24 horas, mas confiava no meu novo e afiado sexto sentido. Se houvesse algum bisbilhoteiro a espreita, eu saberia.


— O que você tem em mente? — perguntei quando ele baixou a mão.


— Namore Scott Parnell.


Scott Parnell tinha sido o primeiro Nephilim com quem eu fiz amizade, na tenra idade de cinco anos. Eu não soubera nada sobre sua verdadeira identidade naquela época, mas nos últimos meses ele tinha tomado o posto, primeiramente, de meu algoz, então de meu parceiro no crime, e, eventualmente, de meu amigo. Não havia segredos entre nós. Igualmente, não havia romance ou química.


Eu dei risada.


— Assim você me mata, Dante.


— Seria apenas para mostrar. Pelo bem das aparências — ele explicou. — Só até a nossa raça começar a gostar de você. Você só é Nephilim há um mísero dia. Ninguém te conhece. As pessoas precisam de uma razão para gostar de você. Temos que deixá-los confortáveis para confiarem em você.


— Não posso namorar o Scott — disse a Dante. — A Ane gosta dele.


Dizer que Ane tem sido azarada no amor seria otimismo. Nos últimos seis meses ela, se apaixonou por um predador narcisista e por um traidor asqueroso. Não era surpresa alguma seus dois relacionamentos a terem feito duvidar seriamente de seus instintos amorosos. Ela tem, inequivocamente, se recusado até mesmo a sorrir para o sexo oposto... isso até Scott chegar. No começo da noite passada, poucas horas antes de meu pai ter me coagido a me transformar em um Nephilim pura para que eu pudesse controlar seu exército, Vee e eu tínhamos ido ao Devil’s Handbag para ver Scott tocar baixo em sua nova banda, a Serpentine, e ela não tinha parado de falar sobre ele. Aparecer e roubar Scott agora, mesmo que fosse um truque, seria o maior dos golpes baixos.


— Não seria de verdade — repetiu Dante, como se isso tornasse tudo formidável.


— Ane ficaria sabendo disso?


— Não exatamente. Você e Scott teriam de ser convincentes. Seria desastroso que isso vazasse, então gostaria de limitar a verdade entre nós três.


Eu fiz aquele negócio de colocar as mãos no quadril, tentando ser firme e inflexível.


— Então você vai precisar escolher outra pessoa. — Eu não estava apaixonada pela ideia de fingir namorar um Nephilim para elevar minha popularidade. De fato, parecia um desastre prestes a acontecer, mas eu queria deixar essa bagunça para trás. Se Dante achava que um namorado Nephilim me daria mais credibilidade, então que fosse. Não seria de verdade. Obviamente que Ucker não ficaria animado, mas um problema por vez, certo?


A boca de Dante se comprimiu em uma linha, e ele fechou os olhos brevemente. Invocando paciência.


— Ele precisa ser respeitado na comunidade Nephilim — disse Dante pensativamente, por fim. — Alguém com quem os Nephilim possam imaginar a líder deles.


Fiz um gesto de impaciência.


— Ótimo. Só jogue outra pessoa que não o Scott em cima de mim.


— Eu.


Eu recuei.


— Perdão. O quê? Você? — Eu estava chocada demais para cair na gargalhada.


— Por que não? — perguntou Dante.


— Quer mesmo que eu comece a enumerar os motivos? Porque poso ficar aqui com você a noite toda. Para começo de conversa, você tem namorada... qual é mesmo o nome dela? Melinda? Marianne?


— Marina.


Eu fiz um gesto de tanto faz.


— Você também é, pelo menos, cinco anos mais velho do que eu em anos humanos (um banquete completo para escândalos), não tem senso de humor, e... ah é. A gente não se suporta.


— Sou o seu primeiro tenente...


— Porque o babaca do meu pai biológico te deu esta posição. Eu não tive escolha.


Dante não pareceu me ouvir.


— Nós nos conhecemos e sentimos uma ligação instantânea. É uma história que todos acreditarão. — Ele sorriu. — Muita publicidade positiva.


— Se disser a palavra com P mais uma vez, eu vou... fazer algo drástico. — Como dar um soco nele. E então me bater por ter considerado mesmo esse plano.


— Não seja precipitada — disse Dante. — Pense sobre isso.


— Estou pensando. — Contei até três nos dedos. — Beleza, feito. Péssima ideia. Uma ideia realmente péssima. Eu digo não.


— Tem uma ideia melhor?


— Sim, mas eu vou precisar de um pouco de tempo para pensar em uma.


— Claro. Sem problemas, Dulce. — Ele contou até três nos dedos. — Beleza, tempo esgotado. Preciso de um nome amanhã cedo. Caso não tenha sido dolorosamente óbvio, sua reputação está escorrendo pelo ralo. A notícia da morte do seu pai e da sua subsequente nova posição de liderança está se espalhando como fogo. As pessoas estão falando sobre isso, e o que elas dizem não é bom. Precisamos que os Nephilim acreditem em você. Precisamos que confiem que você está pensando nos interesses deles, e que você pode terminar o trabalho do seu pai e nos libertar das amarras dos anjos caídos daqui a três dias. Precisamos que eles te apoiem, e vamos mostrar-lhes uma ótima razão atrás da outra. Começando com um namorado Nephilim respeitado.


— Ei, gata, tudo bem por aqui?


Dante e eu nos viramos. Ane estava na entrada da porta, nos olhando com quantidades iguais de cautela e curiosidade.


— Ei, está tudo bem — disse, um pouquinho entusiasmada demais.


— Você não voltou mais com as nossas bebidas, e comecei a ficar preocupada — disse Vee. Seu olhar se deslocou de mim para Dante. Reconhecimento cintilou em seus olhos, e eu percebi que ela se lembrava dele do bar. — Quem é você? — ela perguntou a ele.


— Ele? — eu interrompi. — Ah. Uh. Bem, ele é apenas um cara qualquer...


Dante deu um passo a frente, sua mão estendida.


— Dante Matterazzi. Sou um amigo da Dulce. Nós nos conhecemos há alguns dias quando um amigo em comum, Scott Parnel, nos apresentou.


Do nada, o rosto de Ane se iluminou.


— Você conhece Scott?


— É um bom amigo, na verdade.


— Qualquer amigo do Scott é meu amigo também.


Internamente, arranquei meus olhos.


— Então, o que você dois estão fazendo aqui? — Ane perguntou a nós dois.


— Dante acabou de comprar um carro novo — eu disse, indo para o lado para fornecer uma visão desobstruída do Porsche. — Ele não resistiu e veio se exibir. Mas não olhe com muita atenção. Acho que está faltando o número da placa. Dante teve que recorrer ao roubo, já que gastou todo o dinheiro depilando o peito esta manhã, mas nossa, como resplandece.


— Engraçadinha — disse Dante, e eu pensei que ele fosse abotoar no mínimo mais um botão da camisa, mas não.


— Se eu tivesse um carro desses, eu iria me exibir também — disse Ane.


Dante falou:


— Eu tentei convencer a Dulce a dar uma volta, mas ela fica me dando fora.


— É porque ela tem um namorado durão. Ele deve ter sido educado em casa, porque perdeu todas aquelas lições valiosas que aprendemos no jardim de infância sobre como compartilhar. Se descobrir que você levou a Dulce para dar uma voltinha, vai amarrar esse Porsche brilhante na árvore mais próxima.


— Nossa — eu disse — olha só que horas são. Não tem que estar em outro lugar, Dante?


— Na verdade, minha noite está vaga. — Ele sorriu, devagar e relaxado, e eu sabia que ele estava saboreando cada instante em que invadia a minha vida particular. Deixei claro que qualquer contanto entre nós tinha que ser em particular, e ele estava me mostrando o que pensava sobre as minhas “regras”. Em uma tentativa patética de igualar o placar, eu lancei a ele meu olhar mais malvado e gelado.


— Está com sorte — disse Ane. — Sabemos exatamente como preencher a sua noite. Você vai passear com as duas garotas mais legais de Coldwater, Sr. Dante Matterazzi.


— Dante não dança — eu interrompi rapidamente.


— Abro uma exceção, só desta vez — ele respondeu, abrindo a porta para nós.


Ane bateu palmas, pulando para cima e para baixo.


— Eu sabia que esta noite ia ser de arrebentar! — ela guinchou, passando sob o braço de Dante.


— Depois de você — disse Dante, colocando a palma da mão na parte inferior das minhas costas e me guiando para dentro. Eu dei um tapa na mão dele, mas, para meu desprazer, ele se inclinou mais para perto e murmurou:  — Que bom que tivemos essa conversinha.


Não resolvemos nada, eu falei para a mente dele. Esse negócio todo de namorado e namorada? Nada foi firmado. Só uma coisinha para você ter em mente. E que fique registrado: minha melhor amiga não deveria saber que você existe.


Sua melhor amiga acha que eu deveria botar seu namorado para correr, ele disse, parecendo se divertir. Ela acha que qualquer coisa com um coração batendo deveria substituí-lo. Eles têm assuntos inacabados. Parece promissor.


Ele me seguiu pelo pequeno corredor que levava até a pista de dança, e eu senti seu sorriso arrogante e açulante pelo caminho todo.


Está em menor número, Dulce. Só uma coisinha para você ter em mente.


A batida alta e monótona da música perfurou meu crânio como se fossem marteladas. Apertei a ponte do meu nariz, recuando diante de uma dor de cabeça a caminho. Eu estava com um dos cotovelos apoiado no bar, e usei minha mão livre para pressionar um copo de água gelada contra minha testa.


— Já está cansada? — perguntou Dante, deixando Ane na pista de dança e deslizando na banqueta do bar ao meu lado.


— Faz ideia de quanto mais tempo ela ainda aguenta? — perguntei.


— Parece que ela recarregou as baterias.


— Da próxima vez que for comprar uma melhor amiga, me lembre de me afastar das animadinhas. Ela não para nunca...


— Parece que você precisa de uma carona para casa.


Eu balancei a cabeça.


— Eu vim dirigindo, mas não posso deixar a Ane aqui. Falando sério, quanto tempo mais ela pode durar? — Obviamente, eu vinha me fazendo essa mesma pergunta pelos últimos trinta minutos.


— Vou te dizer uma coisa. Vá para casa. Eu fico com a Ane. Quando ela finalmente se cansar, lhe dou uma carona de volta para casa.


— Achei que você não ia se envolver na minha vida pessoal. — Tentei soar carrancuda, mas eu estava exausta, e a convicção simplesmente não transparecia.


— Sua regra, não minha.


Eu mordi o lábio.


— Talvez só desta vez. Afinal de contas, Ane gosta de você. E você realmente tem vigor para continuar dançando com ela. Quero dizer, isso é bom, não é?


Ele cutucou a minha perna.


— Pare de racionalizar tudo e vá logo embora daqui.


Para minha surpresa, suspirei de alívio.


— Obrigada, Dante. Te devo uma.


— Pode me retribuir amanhã. Precisamos terminar a nossa conversa.


E, bem assim, qualquer sentimento benevolente desapareceu. Mais uma vez, Dante era a pedra no meu sapato, insistindo em incomodar.


— Se algo acontecer a Ane, você será o culpado.


Com isso, fui embora.


Era uma noite sem nuvens, e a lua era de um azul assombroso contra o negro da noite. Enquanto eu andava até o meu carro, música do Devil’s Handbag ecoava como um ruído distante. Inalei o ar gélido de outubro. Só com isso minha dor de cabeça já subsidia. Meu celular tocou.


— Como foi a noite das garotas? — Ucker perguntou.


— Se eu fizesse as vontades da Ane, ficaríamos aqui a noite toda. — Retirei meus sapatos de salto alto e os pendurei nos dedos, preferindo andar descalça. — Só consigo pensar em ir para cama.


— Partilhamos o mesmo pensamento.


— Está pensando em ir para cama também?


— Estou pensando em você na minha cama.


Meu estômago teve uma daquelas palpitações. Eu tinha passado a noite na casa do Ucker pela primeira vez ontem, e apesar da atração e da tentação terem estado, definitivamente, presentes, nós terminamos dormindo em quartos separados. Eu não estava certa até que ponto eu queria levar a nossa relação, mas meu instinto dizia que Ucker não estava tão indeciso.


— Minha mãe está acordada me esperando — eu disse. — Má hora. — Falando em má hora, sem querer eu me lembrei da minha conversa mais recente com Dante. — Podemos nos encontrar amanhã? Precisamos conversar.


— Isso não parece bom.


Eu mandei um beijo pelo celular.


— Senti saudades de você hoje à noite.


— A noite ainda não terminou. Depois que eu acabar com isso aqui, eu podia passar na sua casa. Deixe a janela do seu quarto destrancada.


— No que está trabalhando?


— Vigilância.


Franzi a testa.


— Que vago.


— Meu alvo está se movimentando. Tenho que me mandar — disse ele. — Vou para lá assim que der.


Então desligou.


Andei pela calçada, me perguntando quem Ucker vigiava, e por que (o negócio todo parecia um pouquinho nebuloso), quando o meu carro, um Volkswagen Cabriolet branco de 1984, apareceu no meu campo de visão. Joguei meus sapatos no banco de trás e caí atrás do volante. Enfiei a chave na ignição, mas o motor não se mexeu. Fez um som repetitivo de força e trepidação, e eu aproveitei a oportunidade para pensar em algumas palavras inventivas e escolhidas a dedo sobre o pedaço inútil de sucata.


O carro tinha parado em minhas mãos após uma doação de Scott Parnel, e tinha me dado mais horas de pesar do que quilômetros rodados na estrada. Saltei para fora do carro e abri o capô, olhando feio e especulativamente para o labirinto seboso de mangueiras e contêineres; eu já tinha lidado com o alternador, o carburador e as velas de ignição. O que faltava?


— Problemas com o carro?


Eu me virei, surpresa com o som da voz de um homem atrás de mim. Não havia escutado ninguém se aproximar. Ainda mais alarmante, eu não havia sentido sua presença.


— Aparentemente sim — disse.


— Precisa de ajuda?


— Basicamente só preciso de um carro novo.


Ele sorriu.


— Não sei se posso te ajudar nisso, mas posso dar uma carona gratuita até o seu destino de escolha.


Mantive distância, minha mente girando de modo selvagem enquanto eu tentava categorizá-lo. Meu instinto me dizia que ele não era humano. Tampouco Nephilim. O engraçado era que eu também não achava que ele era anjo caído. Ele tinha um rosto redondo e angelical, com cabelo loiro amarelado em aspecto de palha, e orelhas de Dumbo que se projetavam ligeiramente para fora. Parecia tão inofensivo, na verdade, que me deixou instantaneamente suspeita. Instantâneamente desconfortável.


— Obrigada pela oferta, mas já liguei para o guincho. Disseram que um cara vai aparecer aqui a qualquer minuto.


O sorriso dele mudou momentaneamente, adotando um ar afetado e sombrio.


— Está ficando boa em mentir, Dulce. Acho que está pegando isso do seu namorado.


Meu coração bateu mais rápido.


— Perdão, nós nos conhecemos?


— É meu trabalho conhecer seu namorado por dentro e por fora, de cima a baixo. Onde ele vai, o que ele faz... quem ele beija. — Ele piscou, mas havia algo inegavelmente traiçoeiro nisso.


Um pensamento aterrorizante tomou conta de mim. E se ele fosse um Nephilim e eu não tivesse conseguido detectar isso? E se ele realmente soubesse sobre mim e Ucker? E se tinha me achado hoje à noite para passar uma mensagem: que Nephilim e anjos caídos não se misturavam? Eu era uma Nephil nova, não era páreo para ele se tivéssemos que recorrer à força física.


— Você pegou a garota errada — eu disse a ele. — Não tenho namorado. — Então me virei, tentando ficar calma enquanto caminhava de volta para o Devil’s Handbag.


— Diga a Ucker que quero ter uma palavrinha com ele — o homem pronunciou atrás de mim. — Diga que se ele não sair de seu esconderijo, eu vou sufocá-lo. Vou queimar todo o Parque de Diversões Delphic se for necessário.


Olhei cautelosamente sobre meu ombro. Não sabia com o que Ucker tinha se metido, mas eu tinha um pressentimento desconfortável crescendo no meu estômago. Quem quer que fosse este homem, ele falava sério, apesar de seus traços angelicais.


Este homem se curvou sobre o Volkswagen, mexendo em algumas mangueiras com dedos ágeis.


— Novinho em folha — anunciou, limpando as mãos. — Este pode ser o começo de uma ótima parceria, Dulce. Eu te ajudo, você me ajuda.


Eu o vi ir embora, misturando-se nas sombras, assobiando uma música que mandou arrepios pela minha espinha.



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 75



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  • Vanuza Ribeiro Postado em 17/07/2015 - 02:09:05

    fooooooooooi estremamente linda a fanfic adorei *-----* parabéns.

  • Vanuza Ribeiro Postado em 14/07/2015 - 00:50:36

    estou lendo a fanfic ja a algum tempo e estou a m a n d o --- preciso de um anjo desses na minha vida, que dlc kkkkkkkkkk- vo começar a ler finale.

  • juhcunha Postado em 05/04/2015 - 23:35:45

    ai meu deus chorando litros morrendo quero mais nao acredito que terminou nisso queo mais muito mias a serie divergente e muito foda mais muito triste no final

  • juhcunha Postado em 05/04/2015 - 22:06:38

    posta mais

  • juhcunha Postado em 01/04/2015 - 22:11:51

    como e a Anie e um dele caranba quantas supresas e que essa cara ta fazendo na casa do ucker!

  • juhcunha Postado em 30/03/2015 - 20:56:59

    dante filho da puta traidor nao imaginava ele caranba !

  • juhcunha Postado em 29/03/2015 - 02:25:13

    Dabria vaca que beijo o homem dos outro puta se fudeeu dulce arazando

  • juhcunha Postado em 26/03/2015 - 01:34:59

    A porra fico seria agora!

  • juhcunha Postado em 23/03/2015 - 23:13:32

    marcie vaca robou o scott da ane puta e scott deveria te dado um fora nela ! O QUE O Que tinha naquele punhau era veneno caranba puta que paria

  • juhcunha Postado em 23/03/2015 - 01:16:44

    eu to descofiada que esse detetive basso e um arcanjo porque ele ta sempre vigiando sempre nos lugares errados


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