Aparentemente Christopher foi modelo por um período curto de tempo, quando ele vivia em Nova Iorque, que é motivo do porque a imagem dele está ali, flutuando pelo ciberespaço, só esperando para alguém fazer o download e dizer que é sua foto.
E embora nós tenhamos superado e dado uma boa risada, com a estranha coincidência, ainda tem uma coisa que eu não consigo superar: Se Christopher acabou de se mudar do Novo México e não de Nova Iorque, bem, ele não deveria parecer um pouco mais jovem naquela foto? Porque eu não consigo pensar em ninguém que pareça exatamente igual aos 17 como quando parecia aos catorze, ou quinze, e mesmo assim, aquela foto no Sidekick de Christian mostrou Christopher parecendo exatamente o mesmo que agora.
E isso não faz sentido.
Quando eu chego à aula de artes, eu entro na fila para pegar os materiais, pego todas as minhas coisas, e vou para o meu cavalete, me recusando a reagir quando notei que Christopher se posicionou ao meu lado. Eu só respirei fundo e fui fazer meu negócio de escolher um pincel, olhando ocasionalmente para o cavalete dele e tentando não ficar de boca aberta com a obra de arte que ele estava fazendo – uma réplica perfeita do quadro A Mulher com Cabelo Amarelo de Picasso.
Nossa tarefa é emular os grandes mestres, escolhendo uma daquelas pinturas ícones e tentar recriá-la. E de alguma forma eu tive a ideia de que aquelas simples espirais de Van Gogh seriam fáceis, uma coisa certa pra reproduzir, um 10 fácil. Mas pelo jeito caótico das minhas pinceladas agitadas, eu achei errado. E agora eu já fiz demais, eu não posso salvar o quadro. E não faço ideia do que fazer.
Desde que me tornei psíquica, não preciso mais estudar. Eu nem preciso ler. Tudo que preciso fazer é colocar minhas mãos no livro, e a história aparece na minha cabeça. E quanto às provas? Bem, vamos dizer que não existe mais “surpresa” na prova. Eu só passo meus dedos sobre as questões e as respostas instantaneamente são reveladas.
Mas arte é totalmente diferente.
Porque talento não pode ser fingido.
O que o motivo da minha pintura ser o exato oposto de Christopher.
— A noite estrelada? — Christopher pergunta, acenando para minha pingada, patética, e borrada, enquanto eu me encolhia de vergonha, me perguntando como ele fez um palpite tão preciso com uma confusão tão mal feita.
Então só para me torturar mais, eu dou outra olhada para suas pinceladas sem esforço, e a acrescentei para a incrível quantidade de coisas em que ele é bom.
Sério, como em inglês, ele pode responder todas as perguntas do Sr. Robins, o que é meio estranho porque ele só teve uma noite para ler as 300 e poucas páginas de O morro dos ventos uivantes. Sem falar em como ele normalmente continua, relacionando com fatos históricos, falando sobre aquela época como se ele estivesse lá. Ele também é ambidestro, o que pode não soar como grande coisa, até você combinar ele escrever com uma mão e pintar com a outra, com nenhum dos projetos sofrendo. E nem me deixe começar sobre as tulipas espontâneas e a caneta mágica.
— Como o próprio Pablo. Maravilhoso! — A Sr. Machado diz, afofando sua longa trança enquanto ela encara a pintura, a aura dela vibrando em um cobalto azul, enquanto a mente dela forma contrastes e cambalhotas, pulando em alegria, passando por sua mente enquanto pensa em seus alunos talentosos, e percebe que nunca teve um com uma habilidade inerente tão natural– até agora.
— E Dulce? — Do lado de fora ela ainda está sorrindo, mas por dentro ela está pensando: O que diabos isso pode ser?
— Oh, um, é pra ser Van Gogh. Você sabe, Noite estrelada? — Eu me encolho de vergonha, minhas piores suspeitas confirmadas pelo pensamento dela.
— Bem – é um honrado começo. — Ela acena, lutando para manter seu rosto neutro, relaxado. — O estilo de Van Gogh é muito mais dificil do que parece. Só não se esqueça dos dourados, e dos amarelos! É uma noite, muito, muito estrelada afinal de contas!
Eu olho ela se afastar, a aura dela expandindo e brilhando, sabendo que ela não gostou do meu quadro, mas apreciando o esforço dela em esconder. Então sem sequer pensar eu afundei meu pincel no amarelo, antes de limpar o azul, e quando eu pressiono contra a tela deixa uma mancha verde.
— Como você consegue? — Eu pergunto, balançando minha cabeça em frustração, olhando para a incrível pintura de Christopher e a minha incrivelmente horrível, contrastando, e sentindo minha confiança cair.
Ele sorri, os olhos dele encontrando os meus.
— Quem você acha que ensinou Picasso? — ele diz.
Eu derrubo meu pincel no chão, esparramando tinta verde nos meus tênis, minhas meias, e meu rosto, segurando o fôlego enquanto ele se abaixa para pegar, antes de colocar o pincel na minha mão.
— Todos tem que começar de algum lugar — ele diz, os olhos dele escuros e suaves, os dedos dele procurando a cicatriz no meu rosto. — Até Picasso teve um professor.
Ele sorri, retirando sua mão, e o calor que veio com ela, voltando para seu quadro, enquanto eu me lembrava de respirar.