— Sabe o quê?
Ele me olha quando entra em meu carro, com seus grandes olhos castanhos maiores que o habitual, como uma linda curva, seu rosto em um sorriso.
— Sabe o quê? Não acredito. Não vou te dizer, por que nunca vais acreditar ou nunca vais adivinhar!
Sorrio, escutando seus pensamentos momentos antes que ele possa falar: Vou em turnê para a Itália!
― Vou em turnê para a Itália! Não, correção quis dizer a Florença na Itália! A casa do Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael… E seu bom amigo Christopher Uckermann, realmente sabe tudo sobre esses artistas! Durante umas semanas vi a possibilidade, mas ontem à noite se fez oficial e ainda não posso acreditar nisso! Oito semanas em Florença, fazendo nada mais que atuar, comer, e espreitar possíveis homens italianos ardentes...
Observo-o enquanto caminhamos.
― E Holt, está feliz com tudo isso?
— Hey, você sabe o que dizem. O que acontece na Itália, fica na Itália. — Exceto quando não passa. Meus pensamentos se vão à deriva com Drina e Alfonso, me perguntando quantos imortais patifes há ainda por aí, esperando para aparecer em Laguna Beach e me aterrorizar.
— De qualquer forma vou logo, depois que sair da escola. E tenho tanto que preparar! Ah, e quase me esqueci da melhor parte, bom, uma das melhores partes. Como tudo funciona perfeitamente desde minha apresentação final para a peça, terminar a semana antes de sair, assim ainda terei minha última reverência como Tracy Turnblad, quero dizer, sério, Não é perfeito isto?
— Sério, é perfeito. — Sorrio. — De verdade. Felicitações. Isto é genial. E bem merecido poderia acrescentar. Se pudesse iria contigo.
E no momento que digo, dou-me conta de que é verdade. Seria tão agradável escapar de todos meus problemas, pegar um avião e voar longe de tudo isto.
Além disso, sinto falta do tempo com Christan. As últimas semanas, quando ele e Anahi (junto com o resto da escola), estavam sob o feitiço do Alfonso, foram os dias mais solitários de minha vida. Não ter Christopher a meu lado, era mais do que podia suportar, mas não ter o apoio de meus dois melhores amigos quase me levou à loucura. Mas Christian e Anahi, não recordam nada disso, nenhum deles lembra. Só Christopher pode ter acesso a pequenas partes, e o que o faz sentir-se muito culpado.
— Eu gostaria que viesse também — diz, ligando o som do carro, tratando de encontrar a banda sonora à altura de seu bom humor. ― Talvez depois da graduação possamos ir todos a Europa! Podemos conseguir descontos para ficarmos em albergues da juventude.
Pυs sua mochila ao meu lado.
― Poderia ser mais genial? Só nós seis – você e Christopher, Anahi e Josh, e eu e qualquer um.
— Você e qualquer um? — Dou-lhe-lhe uma olhada. — O que houve?
— Sou realista. — Diz encolhendo-se de ombros.
— Por favor. — Reviro meus olhos — Desde quando?
— Desde ontem à noite quando me convenci de que vou a Itália. — Ri, passando uma mão por seu recortado cabelo castanho. — Escuta, Holt é genial e tudo, não me interprete mal. Mas não me engano.
Não pretendo que seja nada mais do que é. Como que temos um prazo de validade, sabe? Três atos completos, com um princípio definido, clímax e final. Não somos como você e Christopher. Vocês são diferentes. Estão condenados a cadeia perpétua.
— Condenados a cadeia perpétua? — Olho-o atentamente, movendo a cabeça, quando me detenho em um semáforo. — Soa mais a uma pena da prisão que a um felizes para sempre.
— Sabe o que quero dizer? — Olha suas unhas, com o tom rosa do personagem Tracy Turnblad. — É só que vocês estão tão em sintonia, conectados um ao outro de algum modo. E digo-o literalmente já que você quase sempre está com ele.
Arranquei com força, a luz do sinal mudou para verde, passei pelo cruzamento com um chiado de rodas e deixando um rastro de borracha grossa atrás. Diminuo a velocidade no estacionamento e procuro por Christopher que sempre estaciona no segundo melhor espaço ao lado do meu.
Entretanto, inclusive depois de puxar o freio e ele não se encontrava em nenhuma parte. E estou a ponto de sair, pensando em onde poderia estar, quando aparece junto a mim, com suas mãos vestindo umas luvas.
— Onde está seu carro? — Christian lhe pergunta, jogando enquanto fecha a porta e põe sua mochila no ombro. — E o que houve com sua mão?
— Desfiz-me dele — diz Christopher, com seu olhar fixo no meu. Então adiciona, — O carro, não a mão.
— Entregou-o como parte do pagamento do novo carro? — Pergunto-lhe. Mas só porque Christian está prestando atenção na conversa.
Christopher não precisa comprar, trocar ou vender, como gente normal. Ele pode comprar o que quiser.
Sacode a cabeça e me acompanha até a porta, sorrindo enquanto ele me diz:
— Não, deixei-o ao lado da estrada, com a chave na ignição, e o motor ligado.
— Perdão? — Christian pergunta. — Quer me dizer que deixou seu brilhante, BMW M6 Coupe negro ao lado da estrada?
Christopher assente.
― Mas é um carro de cem mil dólares! ― Os suspiros de Christian como sua cara ficam vermelhos.
— Cento e dez ― Christopher ri. — Não esqueça, foi totalmente personalizado e carregado com opções.
Christian o olha, com os olhos exagerados, incapaz de compreender como alguém poderia fazer uma coisa assim, por que alguém faria uma coisa assim?
— Hum, está bem, assim vamos ver se eu o entendo, só acordou e decidiu. Ouça, Que diabos! Crê que ninguém vai rebocar seu carro, deixando-o junto à estrada, onde qualquer um pode simplesmente levá-lo?
Christopher se encolhe de ombros.
— Algo assim.
— Porque no caso de que não tenha notado — diz Christian agora virtualmente hiperventilando. — Alguns de nós temos um pequeno carro. Alguns de nós nascemos de pais tão cruéis e incomuns que estamos obrigados a depender da bondade dos amigos para o resto de nossas vidas!
— Sinto muito. — Christopher se encolhe de ombros. — Suponho que não tinha pensado nisso. Embora se te faz sentir melhor, tudo foi por uma causa muito boa.
E quando ele me olha, meus olhos se encontram com os seus, junto com a onda de calor que sempre obtenho com esse horrível sentimento, de que o abandono do automóvel é só o começo de seus planos.
— Como chegou à escola? — Pergunto-lhe.
― Como se chega à porta principal, onde Anahi está esperando?
— Ele veio no ônibus. — Anahi olhava entre nós, com seu recém tingido cabelo azul marinho, batendo em sua cara. — Não estou brincando. Não acreditaria, mas eu o vi com meus próprios olhos. Vendo-o subir no grande ônibus amarelo com todos outros estudantes de primeiro ano, que ao contrário de Christopher, não têm outra opção do que ir a cavalo.
Sacode a cabeça.
— E eu estava tão surpresa, que pisquei um montão de vezes para me assegurar de que realmente era ele.
E então, quando ainda não estava convencida, tirei uma foto com meu celular e a enviei ao Josh quem o confirmou. — Ela pegou a foto para que víssemos.
Observo Christopher, me perguntando o que poderia estar usando, e aí é quando me dou conta de que abandonou o pulôver de cachemira habitual, e em seu lugar traz uma camiseta de algodão, e como suas calças jeans de desenhista foram substituídas por outra com bolsos, sem marca. Inclusive suas famosas botas negras, tinham sido trocadas por tênis marrons de borracha. E embora ele tenha se livrado das roupas de grife, ainda assim estava fabuloso e devastador como no primeiro dia que nos encontramos. Mesmo que este não seja aquele Christopher, ou ao menos não é o que estou acostumada. Não só é ele.
Quero dizer, enquanto Christopher é sem dúvida inteligente, amável, carinhoso e generoso, também é um pouco extravagante em vão.
Sempre obcecado com sua roupa, seu carro, sua imagem em geral. E embora não saiba nada sobre sua data de nascimento exata, porque para alguém que decidiu ser imortal ele tem um complexo definido sobre sua idade. Mas mesmo que eu normalmente não possa me preocupar menos pela roupa que ele leva ou como chega à escola, quando o olho outra vez, consigo este som metálico horrível em meu estômago, um impulso insistente, exigindo minha atenção.
Uma advertência definida que isto é simplesmente o princípio. Aquela transformação repentina vai de encontro a uma atitude um pouco mais profunda que uma redução de gastos, altruísta, à ordem do dia ecológicamente consciente. Não, isto tem algo que ver com a noite anterior.
Algo a respeito de ser açoitado por seu carma. Como se estivesse convencido de que renunciar a suas posses mais apreciadas de algum jeito equilibraria tudo.
— Vamos? — Ele sorri, agarra minha mão e o sinal soa no segundo, afastou-me de Christian e Anahi, que passarão os próximos três tempos enviando-se mensagens de texto, para tratar de determinar o que aconteceu com Christopher.
Olho-o, sua mão enluvada sobre a minha enquanto nos dirigimos pelo corredor, murmurando:
— O que está acontecendo? O que aconteceu realmente com seu carro?
— Já lhe disse isso. — Encolhe-se de ombros. — Eu não necessito dele. É um luxo desnecessário, não me faz falta — ri e me olha.
Mas quando o olho, ele sacode a cabeça e diz:
— Não fique tão séria. Não é um grande problema. Quando me dava conta que é algo que não necessito, conduzi-o a uma zona abandonada e o larguei-o junto à estrada onde alguém pode encontrá-lo.
Aperto meus lábios e olho para frente, desejando poder ler dentro de sua mente e ver os pensamentos que guarda para si, chegar realmente ao fundo disto. Porque apesar da forma em que me olha, apesar do depreciativo encolhimento de ombros que dá, nada do que disse tem o mais mínimo sentido.
— Bom, está bem, quero dizer, se isso for o que tem que fazer, então bem, se divirta.
Dou de ombros, plenamente convencida de que não tem nada de extraordinário.
— Mas, como planeja se locomover pelos arredores, agora que abandonou seu transporte? Digo, em caso de que não te tenha dado conta, isto é Califórnia, não se pode chegar a nenhuma parte sem um carro.
Ele me olha, claramente divertido-se por causa do meu desespero, que não é exatamente a reação que eu tinha planejado.
— O que há de errado com o ônibus? É grátis.
Fico sacudindo a cabeça, quase sem acreditar o que tinha escutado. E desde quando se preocupa com o preço, Senhor, faz milhões em jogos de aposta de cavalos? E apenas manifesta o que quer?
Depois me dei conta de que esqueci de pôr o escudo em meus pensamentos.
— É assim como me vê? — Detém-se apenas por debaixo da porta do sala-de-aula, obviamente afetado por minha avaliação descuidada. — Como alguém superficial, materialista, narcisista, impulsionado por o consumo capitalista?
— Não! — Grito, sacudindo a cabeça e apertando sua mão. Com a esperança de convencê-lo de que apesar de que na realidade faz esse tipo. Não o vejo de uma má maneira como ele pensa. Mais como um noivo que aprecia as coisas boas da vida, e menos como meu noivo versão masculina da espécie Stacia. — Eu só.
— Eu fecho os olhos, desejando poder ter a metade da eloquência que ele.
Mas ainda avançando, quando digo:
— Suponho que simplesmente não o entendo. — Encolho-me de ombros. — E o que há com a luva?
Eu levanto sua mão vestida de couro onde podemos ver.
— Não é óbvio? — Christopher sacode a cabeça e me encaminha para a porta.
Mas fico no mesmo lugar, me recusando a ceder. Nada é óbvio. Já nada tem sentido. Faz uma pausa, com a mão estirada, mostrando uma careta de dor quando diz:
— Me dirijo a nossas mesas passando por Stacia Miller. E embora eu não a veja desde sexta-feira, pensei que era uma boa solução agora já que prefere que eu não te toque.
Não! Isso não é o que quis dizer! Recordando o difícil que foi evitar qualquer contato de pele com pele durante os últimos três dias. Fingindo que tinha um resfriado, quando nós dois sabemos que eu não estava doente, e outras técnicas de evasão ridículas que me fez sentir uma profunda vergonha. Foi tortura, pura e simples. Para ter um namorado tão belo, tão sexy, tão incrivelmente impressionante e não poder tocá-lo, é o pior tipo de agonia.
— Quero dizer, sei que não podemos nos arriscar a qualquer troca acidental de suor da mão ou algo assim, mas ainda assim, não parece estranho? — Sussurro, ao segundo estamos sozinhos outra vez.
— Não me importa. — Seu olhar é aberto, sincero, e fixo em mim. — Não me preocupa o que os outros pensem, eu só me preocupo contigo.
Ele aperta meus dedos e abre a porta com sua mente, vejo Stacia e lembro-me quando despertou do feitiço do Alfonso. Estou segura de que seu ódio para mim não diminuiu nem um pouco. Mas enquanto estou plenamente preparada para sua tática habitual de deixar a bolsa em meu caminho em uma tentativa de me ofender, hoje estou muito distraída com o novo look do Christopher e cansada de jogar esse jogo velho. Seu olhar fixo repara nele da cabeça até os pés, antes de começar tudo de novo.
Mas só porque ela me ignora não significa que eu possa relaxar ou confiar que acabou. Porque a verdade é que nunca mais poderei confiar na Stacia. Esta pode ser a calma que precede à tormenta.
— Não ligue — sussurra Christopher, escoltando-me até minha mesa seu escritor tão perto da dela. E embora eu afirmo como se, fora verdade, não acredito. Por muito que eu gostaria de fingir que ela é invisível, não posso fazê-lo. Ela está frente a mim e estou totalmente obcecada.
Olho atentamente em seus pensamentos, querendo saber se algo se passou entre eles. Quando eu mesma sei que Alfonso foi responsável por toda a paquera, beijos, e abraços, eu não tinha nenhuma outra opção, só olhar. Inclusive embora eu saiba que Christopher foi privado completamente de sua liberdade, não vai mudar o fato de que aconteceu, que os lábios do Christopher pressionaram contra os seus enquanto suas mãos percorriam sua pele. E embora esteja bastante segura de que não ia além disso, ainda me sentiria muito melhor se tão somente pudesse obter alguma evidência para respaldar minha teoria.
E apesar de louco e completamente masoquista que é, não vou parar até que sua memória me mostre o último, terrível, doloroso, e finalmente revelado detalhe atroz.
Estou a ponto de aprofundar, viajar eu mesma em seu cérebro, quando Christopher aperta minha mão e diz:
―Por favor. Não se torture. Já te disse, não há nada que ver. — Olho fixamente na parte posterior de sua cabeça, com Honnor e Craig, escutando. Ele acrescenta, — Não aconteceu nada entre nós. Não é o que você está pensando.
Pensei que você não pudesse lembrar!
Volto atrás, com vergonha, imediatamente quando vejo a dor em seus olhos, ele me olha e sacode sua cabeça.
— Confie em mim. — Sussurra. — Ou ao menos tente, por favor.
Aspiro profundamente, olhando-o, desejando poder fazê-lo, sabendo que deveria.
— Sério, Dulce. Em primeiro lugar não podia suportar os últimos seiscentos anos de minha antiguidade, e agora está obcecada com a semana passada?
Ele franze o cenho e se aproxima mais, em sua voz há urgência e persuasão, quando acrescenta:
— Eu sei que seus sentimentos estão incrivelmente feridos. A verdade é que o fiz. Mas o fato, feito está.
Não posso voltar, não posso trocá-lo. Alfonso fez isto de propósito, não podemos deixar que ganhe.
Engulo em seco, sabendo que é verdade. Estou atuando de forma ridícula e irracional, me deixando levar longe.
Christopher troca a fala, agora que nosso professor, o Sr. Robins chegou, pela telepatia:
“Você sabe que não tem sentido. A única que eu quis foi você. Não é o suficiente?”
Ele leva seu dedo enluvado até mim, me olhando nos olhos enquanto mostra nossa história, minhas muitas encarnações como uma jovem criada na França, uma filha puritana de Nova Inglaterra, uma coquete da alta sociedade britânica, a musa de um artista com o precioso cabelo vermelho, bocejo com os olhos muito abertos, nunca tinha visto antes minha vida em particular.
Entretanto, só há sorrisos, olhadas cada vez mais quentes, enquanto me mostra os aspectos mais destacados da época, um vídeo curto desse momento, quando nos conhecemos em uma inauguração de uma galeria em Amsterdã nosso primeiro beijo nos subúrbios da galeria nessa mesma noite.
Apresentando só os momentos mais românticos e economizando os de minha morte, que sempre, indevidamente, vem antes que possamos avançar.
E depois de ver todos esses belos momentos revelados, seu amor inalterável por mim é descoberto, olho-o nos olhos, respondendo a sua pergunta quando penso:
― Óbvio que é suficiente. Você sempre foi suficiente. — Logo os fecho novamente com vergonha quando adiciono: ― Mas o que sou eu para você?
Por último, admito a verdade real, meu temor de que logo se cansará da mão enluvada, do abraço telepático, e procure o autêntico em uma garota normal com o DNA seguro.
Ele assente com a cabeça, com os dedos com luvas no queixo enquanto se reúne comigo em um abraço mental tão cálida, tão seguro, tão reconfortante, que todos meus temores escapam.
Respondendo à apologia em meu olhar fixo, ele se inclina adiante, com lábios em meu ouvido e diz:
— Bem. Agora que isto está arrumado, sobre o Alfonso...