Quando volto para meu quarto, Christopher me está esperando sentado na beira de minha cama, embalando uma pequena bolsa de cetim na palma de sua mão enluvada.
― Quanto tempo demorei? — pergunto, me deixando cair ao lado dele enquanto fecho os olhos para ver o relógio na cabeceira marcando a hora.
― O tempo não existe em Summerland. — Recorda-me. ― Mas no plano terrestre, eu diria que foi um bom momento. Aprendeu algo?
Penso nos filmes caseiros que vi, a versão da Maite de “Os Vídeos Mais Divertidos da Família Bloom”, depois nego com a cabeça e me encolho de ombros.
― Nada útil, e você?
Ele sorri, me estendendo a bolsa de seda enquanto diz:
― Abra e verá.
Desato o cordão, deslizo um dedo dentro dela e extraio uma cinta de seda negra com um molho de cristais de cores que se mantêm unidos por finas tiras de ouro. Vendo-o capturar e refletir a luz enquanto o balanço frente a mim, penso que é bonito e um pouco estranho.
― Um amuleto. — Diz ele, me olhando cuidadosamente enquanto pego as pedras individualmente.
Cada uma delas com formas, tamanhos e cores diferentes. — Foram estudadas durante anos e dizem que possuem propriedades de cura, amparo, prosperidade e equilíbrio. Embora, particularmente esta, foi criada exclusivamente para você, contém mais do elemento de amparo, dado que é o que necessita.
Olho-o fixamente, me perguntando como isto poderia me ajudar. Depois, lembro que os cristais que tinha empregado para fazer o antídoto o tinham salvado e como poderiam ter funcionado de verdade, se
Alfonso não me tivesse enganado para lhe acrescentar meu sangue à mistura.
― Completamente único, armado e elaborado para seu próprio benefício. Não há outro como este, em nenhuma parte. Sei que não resolve nosso problema, mas, ao menos, ajudará.
Cerro os olhos para observar o maço de pedras, insegura sobre o que dizer. Quando estou a ponto de deslizá-lo sobre minha cabeça e lhe dar uma oportunidade, ele sorri e diz:
― Permita-me.
Recolhe meu cabelo comprido, colocando-o sobre meus ombros, aproxima-se por trás e me assegura o pequeno broche de ouro antes de colocá-lo por debaixo de minha camiseta, onde ninguém possa vê-lo.
― É um segredo? — Pergunto, esperando que os cristais estejam frios e duros contra minha pele e me surpreendendo ao encontrá-los, um pouco mornos e reconfortantes.
Ele toma meu cabelo por cima do ombro, deixando-o cair por debaixo de meu quadril.
― Não, não é um segredo. Embora, provavelmente, não devesse mostrá-lo. Não tenho ideia de até que ponto avançou Alfonso, assim é melhor não atrair sua atenção para isso.
― Ele sabe coisas sobre os chakras.
Digo, vendo a surpresa em seu olhar e optando por omitir o fato de que, em realidade, ele é o responsável por isso.
Tinha conseguido que revelasse, inconscientemente, todo tipo de segredos enquanto estava sob seu feitiço. Já se sente o suficientemente culpado, assim não há razão por que fazê-lo sentir-se pior.
Poso meus dedos em meu amuleto debaixo de minha camiseta, surpreendida pelo sólido que se sente pelo exterior em comparação com o interior, a parte que jaz sobre minha pele.
― Mas, e você? Por acaso não precisa de proteção também?
Observo enquanto ele balança o seu diante de mim.
― Por que o teu é tão diferente? — Pergunto, entrecerrando os olhos para ver o grupo de pedrinhas cintilantes.
― Não há dois iguais. Assim como não há duas pessoas iguais. Tenho meus próprios problemas para resolver.
― Tem problemas? — Rio, embora me perguntando, seriamente, quais poderiam ser. Ele é bom em tudo o que faz.
Nega com a cabeça e ri, um maravilhoso som que já não escuto muito.
― Acredite, tenho os meus. — Diz, rindo brandamente.
― E está seguro de que estes nos manterão a salvo? — Pressiono-o contra meu peito, me dando conta de que o sentia como uma parte de mim.
― Essa é a ideia — encolhe os ombros, levantando-se da cama e dirigindo-se para a porta enquanto acrescenta: ― Mas, Dulce, nos faça um favor e tente não pô-lo a prova, de acordo?
― E quanto a Alfonso? — Pergunto, assimilando sua larga e magra silhueta enquanto se apóia contra o marco da porta. ― Não crê que deveríamos ter algo assim como um plano? Encontrar uma forma de apanhá-lo para que nos entregue o que precisamos e terminar com tudo isto?
Christopher me observa, seu olhar se cruza com o meu.
― Não há nenhum plano, Dulce. Submeter-nos ao Alfonso é lhe dar, exatamente, o que ele deseja. É melhor que encontremos uma solução por nós mesmos, sem confiar nele.
― Mas como? Tudo o que tentamos até agora foi um fracasso total. — Nego com a cabeça. ― E, por que devemos correr de um lado para outro, procurando respostas, quando Alfonso já admitiu que ele tem o antídoto? Disse-me que tudo o que tenho que fazer é pagar o preço correto e ele se encarregará do resto.
Tão difícil é?
― E você está disposta a pagar esse preço? — Pergunta Christopher, com voz firme e profunda enquanto seus olhos escuros percorremos meus. Afasto meu olhar, com minhas bochechas esquentando-se até chegar aos cem graus centígrados.
― É obvio que não! Ou, pelo menos, o preço que você acha! — Trago os joelhos para meu peito e envolvo meus braços a seu redor. ― Só que… nego com a cabeça, frustrada por não ter nada com o que defender minha causa. ― Só que…
― Dulce, é isto exatamente o que Alfonso quer. — Sua mandíbula torna-se tensa, suas feições ficam duras antes de topar-se com meu olhar e suavizar-se novamente. ― Ele quer nos dividir, fazer com que duvidemos um do outro, nos separar. Além disso, também deseja que vamos atrás dele e comecemos uma espécie de guerra. Não tem motivos para acreditarmos, ele mentirá, manipulará, e, não se equivoque, é um jogo muito perigoso o que está jogando. E, embora te prometo fazer tudo o que esteja a meu alcance para te proteger, tem que me ajudar com isto também. Tem que prometer que se manterá afastada dele, que ignorará todos seus insultos e não cairá em sua armadilha. Encontrarei uma solução, descobrirei algo. Mas, por favor, venha a mim para obter respostas, não ao Alfonso. Sim?
Pressiono meus lábios e olho para o outro lado, me perguntando por que deveria prometer alguma dessas coisas quando a decisão está justo aí para ser tomada.
Além disso, fui eu quem causou tudo isto, Assim deveria ser eu quem nos devia tirar disto. Volto meu olhar para o seu, com uma ideia que está começando a formar-se em minha cabeça, uma que
possivelmente funcione.
― Então, estamos de acordo quanto ao Alfonso? — Ele inclina sua cabeça e me encara, disposto a ficar até que eu aceite.
Aceno levemente, mas só o suficiente para convencê-lo. Então ele desce as escadas tão rapidamente que não posso distinguir sua figura. A única pista de que ele esteve aqui são as pedras contra meu peito e uma tulipa vermelha que me deixou sobre a cama.