Na manhã seguinte enquanto eu estava me aprontando pra aula, eu cometo o erro de pedir a ajuda de Maite para escolher um moletom.
— O que você acha? — eu seguro o azul, antes de o colocar ao lado de verde.
— Pegue o rosa de novo — ela diz, mexendo no meu armário, cabeça levemente virada para o lado enquanto ela considera as opções.
— Não tem um rosa. — Eu digo, desejando que ela pudesse ser um pouco séria para variar, e parasse de fazer tudo, um grande jogo. — Anda, me ajude, o tempo está passando.
Ela esfrega o queixo e entorta os olhos.
— Você diria que isso é um azul celeste ou azul centaurea?
— Chega. — Eu jogo o azul e começo a passar o verde sobre a cabeça.
— Vá com o azul.
Eu paro, olhos visíveis, nariz,boca e queixo embaixo da lã.
— Sério. O azul vai ficar melhor. — Eu estreito os olhos para ela por um momento, então jogo o verde e faço o que ela diz. Procurando gloss e parando um pouco para o aplicar enquanto ela diz, — Ok, o que está acontecendo? Eu quero dizer, a crise com o moletom, as palmas saúdas, a maquiagem, o que está acontecendo?
— Eu não estou usando maquiagem — eu digo, recuando quando minha voz quase grita.
— Sem querer te culpar numa tecnicalidade, Dulce, mas gloss conta. Definitivamente se qualifica como maquiagem. E você, querida irmã, estava prestes a aplicar ele.
Eu o coloco de volta na gaveta e pego meu ChapStick usual, passando ele ao redor dos meus lábios em uma linha encerada.
— Um, olá? Ainda estou esperando uma resposta!
Eu pressiono meus lábios, indo para a porta e descendo as escadas.
— Tudo bem, jogue assim. Mas não pense que você pode me impedir de adivinhar. — Ela diz, andando atrás de mim.
— Tanto faz — eu murmuro, indo para a garagem.
— Bem, sabemos que não é Christian, já que você não é realmente o tipo dele, e sabemos que não é Anahi já que ela não é o seu tipo, o que me deixa com — ela desliza para dentro do carro fechado e chaveado e senta no banco da frente enquanto eu tento não recuar. — Bem, eu acho que esse é basicamente seu círculo de amigos, então me conte, eu desisto.
Eu abro a porta da garagem e subo no meu carro do jeito antigo, então dou marcha ré fazendo barulho, para sobrepor a voz dela.
— Eu sei que você está aprontando algo — ela diz, sobre o barulho do motor. — Porque me desculpe por dizer isso, mas você está agindo como você agiu logo antes de você ficar com Brandon. Lembra o quão nervosa e paranóica você estava? Se perguntando se ele ia gostava de você, e blá-blá-blá. Então anda, me diz. Quem é o cara sem sorte? Quem é sua próxima vítima?
E no segundo que ela diz isso, uma imagem de Christopher passa diante de mim, parecendo lindo, e tão sexy, tão suave, tão palpável, que estou tentada a me estender e exigir ele para mim. Mas ao invés disso eu só limpo minha garganta, mudo a marcha, e digo:
— Ninguém. Eu não gosto de ninguém. Mas confie em mim, essa é a última vez que vou pedir ajuda para você.
Quando eu chego na aula de inglês, estou tão vertiginosa, nervosa, com as mãos suadas, e ansiosa quanto Maite me acusou de estar. Mas quando eu vejo Christopher falando com Stacia, eu acrescento paranóica a uma lista já bem grande.
— Um, com licença — eu digo, bloqueada pelas gloriosas pernas longas de Christopher, que estão no lugar usual das armadilhas dela.
Mas ele só me ignora e continua empoleirado na mesa dela, e eu observo enquanto ele bota a mão atrás da orelha dela e tira uma rosa.
Botão de rosa branca.
Uma fresca, pura, brilhante, com orvalho, botão de rosa branco.
E quando ele entrega para ela, ela grita tão alto que você acharia que ele tinha dado a ela um diamante.
— Oh-meu-deus! De jeito nenhum! Como você fez isso? — ela diz, acenando para que todos possam ver.
Eu pressiono meus lábios e olho para o chão, me ocupando com meu iPod e aumentando o volume até que eu não consiga mais ouvir ela.
— Eu preciso passar — eu murmuro, meus olhos encontrando os de Christopher pegando um breve flash de calor antes dos olhos dele se tornarem gelados e ele sair do meu caminho.
Eu vou até minha mesa, meus pés se movendo como deveriam, um na frente do outro, como um zumbi, um robô, uma densa dormência passando pelos movimentos pré-programados, incapaz de pensar sozinha. Então eu sento na minha cadeira e contino a rotina, pegar papel, livros, e a caneta, fingindo que não noto o quão relutante Christopher está, e como ele arrasta seus pés quando Sr. Robins faz ele voltar para o seu lugar.
— O que diabos? — Anahi diz, movendo sua franja para o lado e olhando diretamente para frente, o banimento de profanações dela são a única coisa que ela foi capaz de manter das suas promessas de ano novo, mas só porque ela acha que ‘diabos’ é engraçado.
— Eu sabia que não ia durar. — Christian balança sua cabeça e olha para Christopher, observando ele balança a Lista-A com seu charme natural, caneta mágica, e botões de rosa que aparecem misteriosamente. — Eu sabia que era bom demais para ser verdade. Na verdade, eu disse isso no primeiro dia. Lembra quando eu disse isso?
— Não — Anahi murmura, ainda olhando para Christopher. — Eu não lembro.
— Bem, eu disse. — Christian balança sua VitaminWater, e acena. — Eu disse. Você só não me ouviu.
Eu olhei para o meu sanduíche e dei de ombros, sem querer entrar no debate de “quem disso o que e quando,” e definitivamente não querendo olhar em nenhum lugar perto de Christopher, Stacia, ou mais ninguém na mesa. Eu ainda estou pensando na aula de inglês, quando Christopher vem em minha direção, bem no meio da chamada, para poder me passar um bilhete.
Mas só para que eu pudesse passar ele para Stacia.
— Passe você mesmo — eu disso, me recusando a tocar nele. Me perguntando como um único pedaço de papel, dobrado em formato de triângulo, podia causar tanta dor.
— Anda — ele diz, o empurrando em minha direção para que ele parasse a centímetros dos meus dedos. — Eu prometo que você não será pega.
— Não é sobre ser pega. — Eu olhei para ele.
— Então é sobre o que? — Ele pergunta, olhos escuros nos meus.
É sobre não querer tocar! Não querer saber o que diz! Porque no momento que meus dedos o tocar, eu vou ver as palavras na minha cabeça – todo o sexy, adorável, flerte colocado na mensagem. E embora seja pior ouvir nos pensamentos dela, pelo menos eu posso fingir que está comprometido, diluído pelo cérebro pequeno dela. Mas se eu tocar nesse pedaço de papel, então vou saber que as palavras são verdadeiras – e eu não posso suportar ver elas –
— Passe você mesmo — eu finalmente digo, tocando no papel com a ponta do lápis e o empurrando para a ponta da mesa. Odiando o jeito que meu coração bate contra o meu peito enquanto ele ri e se abaixa para pegar.
— Um, o-lá, terra para Dulce!
Eu balanço minha cabeça e me encolho para Christian.
— Eu perguntei, o que aconteceu? Eu quero dizer, sem querer apontar o dedo nem nada disso, mas você foi a última a ver ele hoje...
Eu olhei para Christian, desejando saber. Lembrando de ontem na aula de artes, do jeito que os olhos de Christopher procuravam os meus, do jeito que o toque dele esquenta minha pele, tão certa de que dividimos algo pessoal – até mesmo mágico. Mas então eu lembrei da garota antes de Stacia, a linda loira no St. Regis, a que eu convenientemente esqueci. E eu me senti como uma tola, por ser tão inocente, por pensar que ele podia simplesmente gostar de mim.
Porque a verdade é que, é assim que é o Christopher. Ele é um jogador. E ele faz isso o tempo todo.
Eu olho pelas mesas de almoço, em tempo de ver Christopher tirar um buque de rosas brancas inteiro do ouvido, manga, bolsa de Stacia. Então eu pressiono meus lábios e viro meu olhar, me poupando do abraço gratuito que segue logo depois disso.
— Eu não fiz nada — eu finalmente digo, tão confusa com o comportamento estranho de Christopher quanto Christian e Anahi, só que bem menos disposta a admitir.
Eu posso ouvir os pensamentos de Christian, pesando as palavras, tentando decidir se ele deve acreditar em mim. Então ele suspira e diz, — Você se sente tão deprimida, rejeitada, e com coração partido quanto eu?
Eu olho para ele, querendo contar a verdade, desejando poder contar a ele tudo, toda a sórdida confusão de sentimentos. Como apenas ontem eu tinha certeza que algo significante tinha passado entre nós, apenas para acordar hoje e encarar isso. Mas ao invés disso eu só balanço minha cabeça, junto minhas coisas, e vou para aula, muito antes do sino tocar.
Durante toda a aula de Francês no quinto período, eu penso em maneiras de sair da aula de artes. Sério. Mesmo enquanto eu participo dos procedimentos de sempre, lábios se movendo, palavras estrangeiras se formando, minha mente está completamente obcecada com fingir uma dor de estômago, náusea, febre, tontura, uma virose, tanto faz. Qualquer desculpa serve.
E não é só por causa de Christopher. Porque a verdade é, eu não sei porque eu me inscrevi nessa aula, em primeiro lugar. Eu não tenho habilidade artística, meus projetos são uma confusão, e não é como se eu fosse ser uma artista mesmo. E sim, eu acho que se você acrescentar Christopher nessa mistura já cheia, você vai acabar não apenas com um boletim comprometido, mas 57 minutos de constrangimento.
Mas no final das contas, eu vou. Na maior parte porque é a coisa certa a se fazer. E estou tão focada em juntar meus suprimentos e vestir meu avental, que a princípio eu nem noto que ele não está lá. E enquanto os minutos passam e ainda nem sinal dele, eu pego minha pintura e vou para o meu cavalete.
Só para encontrar aquele bilhete idiota pendurado na ponta.
Eu o encaro, me focando tão intensamente que tudo ao meu redor fica escuro e fora de foco.
Toda a aula é reduzia a um único ponto. Meu mundo inteiro consiste em um papel de forma triangular encostado na ponta de madeira, o nome Stacia escrito na frente. E embora eu não faça ideia de como chegou lá, embora eu dê uma rápida olhada na sala para reafirmar que Christopher não está lá, eu não quero aquilo nem perto de mim. Eu me recuso a participar do jogo dele.
Eu pego um pincel e o empurro com o máximo de força que posso, observando enquanto ele voa no ar antes de cair no chão, sabendo que estou agindo como uma criança, ridícula, especialmente quando a Sra. Machado chega e o lança em sua mão.
— Parece que você derrubou algo! — ela diz, o sorriso dela brilhante e cheio de expectativa, sem fazer ideia que eu o coloquei no chão de propósito.
— Não é meu — eu murmuro, voltando para minha pintura, pensando que ela pode entregar ela mesma para Stacia, ou melhor ainda, jogar fora.
— Então tem outra Dulce que eu não conheço? — Ela sorri.
O que?
Eu pego a nota que ela balança na minha frente, Dulce claramente escrito na frente, escrito com a letra inconfundível de Christopher. Sem fazer ideia de como isso aconteceu, sem explicação lógica. Porque eu sei o que eu vi.
Meus dedos tremem enquanto eu começo a desdobrar o papel, abrindo as três pontas e alisando os amassados, e ofego quando um pequeno desenho é desvelado – um pequeno desejo de uma linda tulipa vermelha.