Só faltam alguns dias para o Halloween e eu ainda continuo trabalhando nos toques finais da minha fantasia. Anahi vai ir disfarçada de vampira -que grande surpresa-, Christian vai de pirata, mas isso foi depois de que eu o convencesse de não ir como Madonna em sua fase de seios em forma de cone, e eu não dizer do que eu irei fantasiada. Mas é somente porque, o que uma vez foi minha grande ideia, se transformou em um projeto superambicioso e estou perdendo a fé muito rápido.
Devo admitir que me surpreendi muito de que Sabine quisesse organizar uma festa. Em parte porque ela nunca antes tinha se mostrado interessada em coisas assim, mas principalmente porque eu sempre supus que entre ela e eu provavelmente a lista de convidados não passaria de cinco. Mas aparentemente Sabine é mais popular do que eu pensava, já que em questão de segundo ela tinha enchido duas colunas e meia de convidados, enquanto que minha lista era pateticamente muito menor, consistindo unicamente de meus únicos amigos e seus possíveis acompanhantes.
Assim que, enquanto Sabine se encarregou de contratar um provedor que se encarregue da comida e bebida, eu deixei Christian encarregado do áudio/visual -o que significa que ele deixará seu iPod e irá alugar dois filmes de terror- e pedi à Anahi que se encarregasse dos pastelitos. O que deixou eu e Maite como os únicos membros da comitiva de decoração, e como Sabine me deixou um catálogo e seu cartão de crédito com as instruções de “não poupar gastos”, temos passado as duas últimas tardes transformando a casa de sua usual aparência italiana ao castelo do guardião dos mortos e foi tão divertido, me recordando das vezes que costumávamos decorar nossa velha casa para a Páscoa, Dia de Ação de Graças e Natal. Sem mencionar que no manter ocupadas ajudou a parar com as brigas.
— Você deveria se fantasiar de sereia — Maite disse — ou como um desses garotos de Laguna Beach.
— Oh Deus, não me diga que você ainda continua vendo isso — eu digo, balançando precariamente no último degrau para poder pendurar outra teia de aranha falsa.
— Não me culpe, Tivo tem mente própria — ele dá de ombros.
— Você tem Tivo? — me viro, desesperada por obter qualquer informação porque ela sempre é medíocre quanto a detalhes sobre a vida do além.
Mas ela sorri.
— Eu juro, você é tão crédula. As coisas que você pensa! — Ela sacode a cabeça e revira os olhos, alcançando uma caixa de papelão e pegando uma corda de luzes em força de fadas. — Você quer trocar? — ela me oferece desenredando a corda. — Quero dizer, é ridícula a maneira em que você insiste em subir nessa escada de mão quando eu posso levitar e fazê-lo.
Eu sacudo a cabeça e franzo o cenho. Mesmo que possa ser mais fácil, eu gosto de fingir que minha vida é de alguma maneira normal.
— E o que você vai vestir?
— Esqueça isso — eu digo amarrando a rede em uma esquina antes de descer da escada de mão para da uma olhar a ela. — Se você pode ter segredos, então eu também posso.
— Não é justo. — Ela cruza os braços e faz biquinho da maneira que sempre funcionava com papai, mas nunca com mamãe.
— Calma, você vai vir na festa — eu digo a ela, pegando um desses esqueletos que brilham no escuro e desenredando os membros.
— Você que dizer que eu estou convidada? — ela pergunta, sua voz estridente e seus olhos enormes pela emoção.
— Como se eu pudesse te deter. — Digo a ela rindo enquanto encosto o Sr. Esqueleto próximo à entrada para que ele possa receber a todos nossos convidados.
— Seu namorado também vem?
Eu ponho meus olhos em branco e suspiro.
— Você sabe que eu não tenho namorado — digo-lhe aborrecida com o jogo sem nem sequer te começado.
— Por favor. Eu não sou idiota — Ela franze o cenho. — Eu ainda não me esqueci do grande debate com o moletom. Além do mais, eu mal posso esperar para conhecê-lo, ou eu suponho que deveria dizer vê-lo, tendo em conta que você nunca vai me apresentar. O que é muito mal educado se você pensar nisso. Quero dizer, mesmo ele não possa me ver, não significa que
— Deus! Ele não está convidado Ok? — eu grito, sem dar-me conta, até muito tarde, que eu caí em sua armadilha.
— Há! — Ela me olha, com os olhos enormes, suas sobrancelhas arqueadas e seus lábios curvando-se com regozijo. — Eu sabia! — Ela ri, soltando as luzes de fada e saltando da emoção, dando voltas, me empurrando e me apontando — Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia! — ela canta, empurrando seu punho ao ar — Há! Eu sabia! — e da voltas.
Eu fecho meus olhos e suspiro, repreendendo a mim mesma por cair em sua estúpida armadilha.
— Você não sabe de nada. — A olho e sacudo minha cabeça. — Ele nunca foi meu namorado, Ok? Ele – ele era simplesmente um garoto novo, que no princípio eu pensei que era lindo, mas logo, quando me dei conta do mulherengo que ele é, bem, digamos que eu já passei dele. De fato, já nem acho que seja tão lindo. Sério, durou como dez segundos, mas só porque eu não o conhecia muito bem. E também não fui a única que caiu em seu jogo, porque Christian e Anahi estavam praticamente lutando por ele. Então porque você não para de estar dar socos no ar e mover os quadris e começar a trabalhar, certo?
No momento que paro, sei que soei demais na defensiva para que ela acredite em mim. Mas agora que eu disse, não posso retirar o dito, então simplesmente tento ignorá-la enquanto ela dá voltas ao redor do cômodo cantando “Yep! Yeah, eu sabia!”
Para a noite de Halloween a casa parece incrível. Maite e eu pregamos teias de aranha em todas as janelas e cantos, e colocamos no meio delas umas viúvas negras enormes.
Penduramos no teto morcegos de plástico, espalhamos por todos os lados sangue e pedaços -falsos- de corpo humano e pusemos uma bola de cristal próximo de um corvo elétrico cujos olhos se movem e dizem “Você irá se arrepender! Quak! Vai se lamentar!” Vestimos os zumbis com trapos ensanguentados e os colocamos em onde menos você esperaria. Colocamos na entrada caldeirões de bruxas fervendo -que na verdade são só água e gelo seco- e haviam por todas as partes esqueletos, múmias, gatos pretos, ratos -todos falsos, mas igualmente espantosos-, gárgulas, caixões, velas pretas e caveiras. Até decoramos o pátio traseiro com lâmpadas de abóboras, globos decorativos para a piscina e luzes tilintantes com formas de fadas. E quase me esqueço, também colocamos um Grim Reaper de tamanho natural na grama da frente.
— Como estou? — Maite pergunta, olhando seu sutiã púrpura em forma de concha e seu cabelo preto enquanto faz ranger sua calda de sereia verde, metálica e brilhosa.
— Como seu personagem favorito da Disney — eu digo, enchendo minha cara de pó até se ver muito pálida, tentando encontrar uma forma de me desfazer dela para poder colocar meu disfarce e talvez surpreendê-la pela primeira vez.
— Vou considerar isso como um elogio — Ela sorri.
— Sim — escovo meu cabelo para trás e o prendo para colocar a enorme e altíssima peruca loira que irei usar.
— E de quem você vai se fantasiar? — ela me olha. — Digo, você poderia me dizer de uma vez? O suspense está me matando! — Ela se agarra o estômago, enquanto ri, se mexendo para trás e para frente, até quase cair da cama. Ela adora fazer brincadeiras fingindo que está morrendo.
Ela acha que é engraçado, mas para mim elas me estremecem.
Ignorando a brincadeira, me viro para ela e digo.
— Me faz um favor? Vá lá embaixo, olhe o disfarce de Sabine e me deixe saber se ela tenta colocar aquele nariz enorme de plástico com a verruga peluda na ponta. Eu disse a ela que era um grande disfarce de bruxa, mas ela precisa se desfazer do nariz. Os caras não gostam dessas coisas.
— Ela tem um cara? — Maite pergunta claramente surpreendida.
— Não se ela colocar aquele nariz — eu digo vendo como ela sai da cama e atravessa o cômodo, a cauda de sereia cansando atrás dela. — Mas não faça nenhum barulho e não faça nada para assustá-la, Ok?
Acrescento me estremecendo, enquanto ela atravessa a porta do meu armário, sem se importar em abri-la. Quero dizer, só porque eu tenha visto isso milhões de vezes, não significa que eu esteja acostumada a isso.
Me dirijo ao armário e abro a sacola que tenho escondida na parte de trás, tirando o lindo vestido preto com o decote baixo em forma de V, as mangas ¾ e o corpo super apertado com a barra solta, igual ao que Kirsten Dust usa no baile de máscaras no filme Maria Antonieta.
Depois de lutar contra o zíper nas costas, coloco minha peruca loira platinada, passo um pouco de batom vermelho, aplico sombra preta em meus olhos e coloco uns longos brincos de imitação de diamante. Quando meu disfarce está completo, paro em frente ao meu espelho girando e sorrindo, enquanto meu brilhante vestido preto se mexe e eu estou superemocionada do quão bom foi o resultado.
No segundo que Maite reaparece, ela sacode a cabeça e diz:
— Tudo limpo – finalmente. Quero dizer, primeiro ela colocou o nariz, depois o tirou, em seguida voltou a colocá-lo e se virou para se ver de perfil e logo voltou a tirá-la. Eu te juro que me custou muito esforço em me conter e não arrancá-lo da cara dela e atirá-lo pela janela.
Eu me paralisei, segurando a respiração, esperando que ela não houvesse feito nada parecido, porque nunca se sabe com Maite.
Ela apareceu na cadeira de minha escrivaninha e começa a usar a ponta de sua verde e brilhosa cauda para se empurrar e dar voltas.
— Relaxa — ela me disse — A última coisa que vi foi que ela o deixou no banheiro, próximo do lavatório. Depois um garoto chamou pedindo direções e ela continuou e continuou contando o grande trabalho que você fez com as decorações e como era quase impossível acreditar que você tinha feito tudo sozinha e blá blá blá. — Ela sacode a cabeça e franze o cenho. — Você deve amar isso, não é? Levar todo o crédito por nosso trabalho.
Ela para de dar voltas e me dá um longo e avaliador olhar.
— Então, Maria Antonieta. — Ela disse finalmente, seus olhos viajando pela minha fantasia. — Eu nunca teria adivinhado. Quero dizer, você não gosta tanto dos bolos.
Eu reviro meus olhos.
— Para a sua informação, ela nunca disse isso dos bolos. Foi somente um rumor maldoso sensacionalista, de modo que você não vai acreditar. — Eu lhe disse, sem poder parar de me olhar no espelho para verificar minha maquiagem e arrumar minha peruca, desejando que tudo se mantenha em seu lugar. Mas quando vejo o reflexo de Maite, algo na maneira em que ela aparenta faz eu me deter e me mover para ela.
— Hey, você está bem?
Ela fecha os olhos e morde o lábio. Em seguida sacode a cabeça e diz.
— Jesus, olhe para nós! Você está vestida como uma trágica rainha adolescente e eu faria o qualquer coisa para ser uma adolescente.
Eu tento tocá-la, mas minhas mãos caem desajeitas em meus lados. Acho que estou tão acostumada e tê-la comigo que às vezes eu esqueço que ela na verdade não está aqui, que ela não é parte deste mundo e que ela nunca crescerá, nunca terá a oportunidade de ter 16 anos. Em seguida me recorde de que tudo é culpa minha e me sinto mil vezes pior.
— Maite, eu...
Mas ela só sacode a cabeça e acena em torno de sua causa.
— Não se preocupe — ela sorri, flutuando sobre a cadeira. — É hora de receber os convidados!
Anahi veio com Evangeline, sua amiga co-dependente doadora, quem, grande surpresa, está vestida também como vampira, e Christian trouxe Eric, um garoto que ele conhece de sua aula de atuação que parece ser bastante lindo por trás dessa máscara de Zorro e a capa.
— Não posso acreditar que você não convidou Christopher — Anahi disse, sacudindo a cabeça e passando direto o olá. Ela tem estado aborrecida comigo a semana toda, desde ela soube que ele não havia entrado na lista de convidados.
Eu reviro meus olhos e respiro profundamente, cansada de defender o óbvio, de ter que colocar em claro que foi ele quem nos abandonou, se tornando integrante não só da mesa de Stacia, mas também de sua escrivaninha. Obtendo idiotices de todos os tipos de lugares, e como o seu projeto de arte, a Mulher de Cabelo Amarelo, está suspeitosamente começando a se parecer com ela.
Quero dizer, me desculpe por não querer pensar demais no fato de que, exceto as tulipas vermelhas, a nota misteriosa e o íntimo olhar que compartilhamos uma vez, ele não tem falado comigo há quase duas semanas.
— Ele não ia vir de qualquer forma — eu digo finalmente, esperando que ela não note como minha voz soa tão ferida pela traição. — Eu tenho certeza que ele está em algum lugar com Stacia, ou a loira, ou — sacudo minha cabeça, me recusando a continuar.
— Espere, loira? Há uma loira também? — Ela me olha com os olhos semicerrados.
Eu dou de ombros porque a verdade é que ele pode estar com qualquer uma. Tudo o que eu sei é que ele não está aqui comigo.
— Você deveria vê-lo. — Ela se vira para Evangeline. — Ele é incrível. Lindíssimo com uma estrela de cinema, sexy como uma estrela de rock, ele até mesmo faz ilusões. — Ela suspira.
Evangeline levanta suas sobrancelhas.
— Soa como se ele fosse uma ilusão. Ninguém é assim tão perfeito.
— Christopher é. É uma pena que possa vê-lo você mesma.
Anahi outra vez me olha com o cenho franzido, seus dedos brincando com a gargantilha de veludo preto que ela usa em seu pescoço.
— Mas se você chegar a vê-lo, não esqueça de que ele é meu. Eu disse isso muito antes de te conhecer.
Eu olho para Evangeline, reparando em sua escura e tenebrosa aura, meia rastão, o minúsculo short preto e uma camiseta de malha, sabendo que ela não tem nenhuma intenção de manter uma promessa assim.
— Você sabe, eu poderia te emprestar algumas presas e sangue falso para o seu pescoço e você poderia ser uma vampira também — Anahi oferece me olhando, sua mente indo para frente e para trás, querendo ser minha amiga, convencida de que eu sou sua inimiga.
Mas eu nego com a cabeça e as levo para o outro lado do salão, desejando que ela cisme com outra coisa e se esqueça rápido de Christopher.
Sabine está falando com seus amigos, Anahi e Evangeline estão colocando álcool em suas bebidas, Christian e Eric estão dançando, enquanto Maite brinca com o chicote de Eric, movendo a ponta para cima e para baixo, para frente e para trás, em seguida olhando ao redor para ver se alguém nota. E quando estou a ponto de dar o sinal, o que significa que mais vale que ela pare de fazer isso se quer continuar aqui, a campainha toca e ambas corremos apostando para ver quem chega primeiro a porta.
Eu chego primeiro e quando abro a porta esqueço-me de saborear minha vitória, porque Christopher está ali com flores em uma mão e um chapéu com bordas douradas na outra. Seu cabelo está preso em um rabo-de-cavalo baixo, sua habitual roupa preta lustrosa substituída por uma camisa branca de babados, um casaco com botões dourados e o que pode ser descrito como calça de montaria, meio apertada e sapatos pretos pontiagudos. E enquanto penso que Christian estará complemente invejoso dessa fantasia, me dou conta do que ele está fantasiado e meu coração pula duas vezes.
— Conde Fersen — eu resmungo, quase não podendo pronunciar as palavras.
— Maria. — Ele sorri, oferecendo uma galante reverência.
— Mas era um segredo... você não estava convidado — Eu sussurro, olhando para além de seus ombros, procurando Stacia, a loira, ou qualquer uma, sabendo que é impossível que ele esteja aqui somente por mim.
Mas ele só sorri e me dá as flores.
— Então deve ser uma afortunada coincidência.
Eu engulo com dificuldade e giro sobre meus calcanhares, conduzindo-o pela entrada, passando pelo hall e pela sala de jantar, minhas bochechas corando enquanto meu coração bate tão forte e tão rápido que poderia romper meu peito. Me perguntando como isso poderia eventualmente ter acontecido, procurando por uma explicação lógica para Christopher ter aparecido em minha festa vestido como minha perfeita outra metade.
— Oh meu deus, Christopher está aqui — Anahi grita, seus braços acenando freneticamente, seu rosto todo iluminado, pelo menos o que uma cara cheia de pó, com presas e sangue falso poderia se iluminar. Mas no momento que vê sua fantasia, percebendo que ele está vestido como Conde Axel Fersen, o não tão secreto amante de Maria Antonieta, seu rosto todo escurece e seus olhos me olham acusadoramente.
— Então, quando você dois planejaram isso? — Ela pergunta, se aproximando de nós, tentando soar casual, neutra, mas mais para o beneficio de Christopher do que para o meu.
— Nós não o fizemos — eu digo, esperando que ela acredite em mim mesmo sabendo que ela não o fará. Quero dizer, é uma coincidência muito estranha, eu mesma estou começando a duvidar, me perguntando se de alguma forma eu deixei ele saber, mesmo sabendo que eu não o fiz.
— Foi por pura casualidade — Christopher disse, colocando o seu braço ao redor da minha cintura e embora ele só o deixe ali por um breve momento, é o suficiente para causar um formigamento por todo o meu corpo.
— Você tem que ser Christopher. — Evangeline disse, rebolando para o lado dele, seus dedos brincando com os babados de sua camisa. — Pensava que Anahi estava exagerando, embora aparentemente não! — Ela ri. — E de quem você está fantasiado?
— Conde Fersen — Anahi diz com a voz dura e quebradiça, me olhando com os olhos estreitos.
— Que seja. — Evangeline dá de ombros, robando o chapéu dele, colocando-o e sorrindo sedutoramente sob a aba do chapéu antes de pegar sua mão e levá-lo para outro lugar.
No momento que eles foram, Anahi me olha e diz:
— Eu não posso acreditar! — seu rosto está irritado, mas isso não é nada comparado com os horríveis pensamentos turbulentos em sua cabeça. — Você sabe o quanto eu gosto dele. Eu confiei em você!
— Anahi, eu juro, não foi planejado. É só uma estranha coincidência. Eu nem sequer sei o que ele está fazendo aqui e você sabe que eu não o convidei — lhe digo querendo convencê-la, mesmo que eu sei que é inútil, porque ela já se convenceu do contrário.
— E eu não sei se você notou, mas sua boa amiga Evangeline está praticamente montando na perna dele lá.
Anahi olha através do cômodo, e em seguida vira as costas para mim, dando de ombros quando me diz:
— Ela faz isso com todo mundo, ela dificilmente representa uma ameaça, ao contrário de você.
Eu suspiro profundamente, lutando para manter a paciência e tentando não rir enquanto Maite para ao lado dela, imitando cada palavra e movimento, zombando de uma maneira definitivamente engraçada ainda que não muito amável.
— Escute — digo finalmente. — Eu não gosto dele! Quero dizer, como eu posso te convencer disso? Só me diga e eu farei!
Ela sacode a cabeça e parece distante, seus ombros se afundando, seus pensamentos se tornando escuros, redirecionando toda essa ira para ela:
— Não. — Ela suspira, piscando rapidamente para evitar as lágrimas. — Não diga nem mais uma palavra. Se você gosta dele, então é assim como são as coisas e não há nada que eu possa fazer. Quero dizer, não é sua culpa que você seja tão inteligente e bonita e os caras sempre vão preferir você a mim. Especialmente uma vez que te vejam sem seu capuz.
Ela tenta rir, mas não consegue.
— Você está fazendo todo um drama por nada — eu digo desejando convencê-la e desejando convencer a mim mesma. — A única coisa que Christopher e eu temos em comum é nosso gosto em filmes e fantasias. Isso é tudo, eu juro — e quando eu sorrio, espero que se veja mais real do que se sente.
Ela olha através da sala para Evangeline, quem pegou o chicote do Zorro e está fazendo uma demonstração de como utilizá-lo corretamente e em seguida me olha:
— Só me faça um favor. — Eu assinto com a cabeça, disposta a fazer o que quer que seja para terminar com tudo isso. — Pare de mentir. Você é uma droga mentindo.
Eu a olho enquanto se afasta, sem seguida olho para Maite, que está pulando para cima e para baixo e gritando.
— Oh meu deus, esta tem que ser a sua melhor festa de sempre! Drama! Intriga! Ciúmes! E uma quase-briga! Estou tão feliz de não ter perdido isto!
Estou a ponto de dizer a ela que cale a boca quando me lembro que sou a única que pode escutá-la e se veria um pouco estranho que eu faça isso. E quando a campainha soa novamente, apesar da cauda de peixe atrás dela, desta vez é Maite quem ganha.
— Oh meu Deus— diz a mulher parada no alpendre olhando entre Maite e eu.
— Posso ajudá-la? — Eu pergunto, notando que ela não está fantasiada, ao menos que a roupa casual californiana conte como disfarce.
Ela me olha, seus olhos marrons encontrando os meus quando ela diz:
— Desculpe, estou atrasada, o tráfego foi uma prova, bem já sabe — ela cumprimenta Maite assentindo com a cabeça, como se realmente pudesse vê-la.
— Você é amiga de Sabine? — Eu pergunto, pensando que talvez seja um tique nervoso que faz com que seus olhos continuem olhando aonde Maite está parada, porque ainda que ela tenha uma agradável aura cor púrpura, por alguma razão eu não posso ler seus pensamentos.
— Sou Ava. Sabine me contratou.
— Você é uma das encarregadas da comida? — Eu pergunto, me perguntando porque ela está usando um top preto expondo um ombro, jeans Skinny e sapatilhas de sola baixa, no lugar de uma camisa branca e calças pretas como o resto da equipe.
Mas ela só ri e cumprimenta Maite com a mão, que está escondida atrás da minha saia, como costumava fazer com mamãe quando se sentia envergonhada.
— Eu sou a vidente. — Ela diz, afastando seus longos cabelos avermelhados do rosto e se ajoelhando junto a Maite. — E vejo que tem uma amiguinha aqui com você.