Quando chego da escola em casa, Christopher está me esperando nos degraus da entrada, sorrindo de uma forma que clareia as nuvens no céu e apaga todas as minhas dúvidas.
— Como foi que você passou pelos seguranças? — Lhe pergunto, sabendo que ninguém me ligou para deixá-lo entrar.
— Charme e um carro caro funcionam todas às vezes — ele ri, limpando a parte de trás de seu jeans me seguindo para dentro. — E como foi o seu dia?
Dou de ombros, sabendo que estou quebrando a regra mais importante de todas: nunca deixar entrar em casa um estranho, mesmo que esse estranho supostamente seja meu namorado.
— Você sabe, a rotina habitual — digo finalmente. — A professora substituta jurou nunca mais voltar, a Srta. Machado me pediu pra nunca mais voltar... — eu olho pra ele, tentada a continuar contando-lhe coisas, mas é claro que ele não está me escutando, porque enquanto ele está confirmando com a cabeça, seus olhos estão distantes e preocupados.
Caminho para a cozinha, enfio a cabeça na geladeira e pergunto:
— E quanto a você? O que fez? — pego uma garrafa de água e ofereço, mas ele balança a cabeça negativamente e toma um gole de sua bebida vermelha.
— Dirigi, pratiquei surf e esperei o sinal bater para te olhar novamente — ele sorri.
— Sabe que poderia ir à escola e não teria de esperar por nada — o digo.
— Vou tentar me lembrar amanhã. — Ele ri.
Encosto-me ao fogão, girando a tampa da minha garrafa de novo e de novo, nervosamente por estar sozinha com ele nesta enorme casa, com tantas perguntas sem respostas e sem nenhuma idéia de por onde começar.
— Você quer ir lá pra fora e caminhar na área da piscina? — Finalmente digo, pensando que ar fresco e espaço aberto poderiam me acalmar.
Mas ele diz que não com a cabeça e pega a minha mão.
— Prefiro ir lá pra cima e conhecer seu quarto.
— Como sabe que fica lá em cima? — Lhe pergunto, encarando-o com os olhos semicerrados.
Mas ele sorri.
— Não estão sempre lá em cima?
Eu hesito um pouco, decidindo se devo ou não permitir que isso aconteça, ou encontrar uma maneira de desencorajá-lo educadamente.
Mas quando ele segura a minha mão e diz:
— Vamos, prometo que não mordo — seu sorriso é tão irresistível, seu toque é tão quente e convidativo, que meu único desejo, enquanto eu o conduzo pela escada, é que Maite não esteja ali.
No momento em que chegamos ao alto da escada, ela corre do quarto e diz:
— Ó Deus, eu sinto muito! Não quero brigar mais com... oops! —Ela para bruscamente e nos olha boquiaberta com os olhos enormes, como Frisbees.
Mas eu só continuo andando até meu quarto, como se não a tivesse visto, esperando que ela tenha a sensatez de desaparecer e só voltar mais tarde. Bem mais tarde.
— Parece que deixou sua TV ligada — Christopher disse, entrando no quarto, enquanto eu olho para Maite, que está andando ao lado dele, olhando de cima a baixo, e levantando seus polegares, muito entusiasmada e mesmo que eu implore com meus olhos para ela ir, ela cai esticada no sofá colocando os pés nos joelhos dele.
Dirijo-me ao banheiro apressada, zangada com ela por não pegar a indireta, por prolongar a visita e se recusar a sair. Sabendo que é só uma questão de tempo até que faça alguma loucura que eu não possa explicar. Então me livro do meu casaco e faço minha rotina habitual: escovar meus dentes com uma mão, passando o desodorante com a outra, e cuspindo na pia antes de colocar uma camisa branca. Então eu solto o cabelo, passo um pouco de bálsamo labial, perfume e apresso-me para a porta, só para descobrir que Maite ainda está lá, olhando atentamente para as orelhas de Christopher.
— Deixe-me te mostrar a varanda, a vista é incrível. — Eu digo, ansiosa para separá-lo de Maite.
Mas ele só balança a cabeça e diz:
— Mais tarde — dando um tapinha na almofada ao lado dele, convidando a sentar-me junto a ele, enquanto Maite saltava e aplaudia.
Eu vejo como ele está sentado ali, completamente inocente, inconsciente, confiando que tem o sofá só para ele, quando na verdade esse formigamento em seu ouvido, essa coceira no seu joelho, o frio em seu pescoço, é cortesia da minha irmãzinha morta.
— Hum, eu deixei minha água no banheiro — eu digo olhando diretamente para Maite e virando para sair pensando que é melhor que me siga, se ela sabe o que é bom pra ela.
Mas Christopher se levanta e diz:
— Permita-me.
E presto atenção em como ele manobra entre o sofá e a mesa evitando claramente as pernas de Maite. Logo ela me olha boquiaberta e a próxima coisa que sei é que ela havia desaparecido.
— Pronto — Christopher disse, entregando-me a garrafa e movendo-se com muita liberdade, quando apenas um momento atrás, se movia com muito cuidado e quando ele percebe que estou pasma, ele sorri e diz, — O quê?
Mas eu só balanço a cabeça e olho para a TV, convencendo-me que era só uma coincidência.
Que é impossível que ele a tenha visto.
— Então, por favor, você pode me explicar como faz isso? — Estamos do lado de fora, acomodados na cadeira da sala de estar, acabamos de comer uma pizza inteira, e eu comi a maior parte, porque Christopher come mais como uma supermodelo do que como um garoto.
Mordisca, mordisca, afasta o prato, mordisca de novo... mas na maior parte apenas sorveu sua bebida.
— Fazer o quê? — ele pergunta, seus braços envolvendo-me e seu queixo apoiado no meu ombro.
— Tudo! Sério. Nunca faz as tarefas da escola e mesmo assim sabe todas as respostas. Coloca um pincel na tinta molhada e voila, e o que se sabe é que você criou um Picasso, que é melhor do que o próprio Picasso! Você é ruim nos esportes? Penosamente descoordenado? Vamos, diga-me! Então deve ser a música. Tem má audição?
— Traga-me uma guitarra e te faço uma melodia. Também toco piano, violino e saxofone.
— Então em quê? Vamos! Todo mundo é ruim em alguma coisa! Diga-me no que você é.
— Por que você quer saber disso? — Ele pergunta, apertando-me mais. — Por que você quer destruir a perfeita ilusão que têm de mim?
— Porque odeio sentir-me tão pálida e insuficiente, em comparação com você. É sério, sou tão medíocre em tantas maneiras, e eu apenas quero saber que você também é ruim em algo. Vamos, me faça sentir melhor.
— Você não é medíocre — ele diz, seu nariz em meu cabelo, sua voz bem séria.
Mas recuso-me a desistir, eu preciso de algo para seguir, alguma coisa que humanize ele, mesmo que seja só um pouco.
— Só uma coisa, por favor. Mesmo que tenha que mentir. É por uma boa causa: minha auto-estima.
Eu tento me virar pra que ele possa me ver, mas ele me aperta tão forte e me mantém ali, enquanto beija a ponta da minha orelha e sussurra:
— Você quer realmente saber?
Eu afirmo com a cabeça, meu coração batendo descontroladamente, minha pulsação ficando elétrica.
— Sou ruim no amor.
Eu olho fixamente para a lareira, imaginando o que isso significa. E mesmo que sinceramente eu quero que ele responda, isso não significa que eu queira que ele me responda com tanta sinceridade.
— Uh, se importaria de ser mais específico? — Eu pergunto, rindo nervosamente, sem ter certeza se realmente quero ouvir a resposta. Com medo de que tem algo a ver com Drina, um assunto que prefiro evitar.
Ele se aperta mais contra mim, suspirando profundamente. E continua assim por tanto tempo, que me faz duvidar se continuará falando.
— Eu sempre termino... decepcionado.
Ele dá de ombros, recusando-se a explicar mais.
— Mas você só tem 17 anos — eu me livro de seus braços e o encaro.
Ele dá de ombros.
— E quantas decepções você teve?
Mas em vez de responder, ele me puxa de volta, aproxima seus lábios em meu ouvido e sussurra:
— Vamos nadar.
Mais um sinal de como Christopher é perfeito, ele sempre tem uma roupa de banho no carro.
— Hey, aqui é a California, você nunca sabe quando vai precisar — ele diz, parando na borda da piscina e sorrindo — também tenho uma roupa de mergulho no porta-malas. Deveria usá-la?
— Não posso responder isso — lhe digo, mergulhando até o fundo da piscina, enquanto o vapor cobre tudo ao redor. — Tem que decidir por si mesmo.
Ele avança pela borda e finge que vai colocar seu dedão do pé na água.
— Sem testes, é só pular — eu censuro.
— Posso dar um salto?
— Bala de canhão, cair de barriga, tanto faz — eu rio, prestando atenção em como ele executa o mergulho fazendo uma perfeita pirueta antes de cair na água e chegar ao meu lado.
— Perfeito — ele disse, seu cabelo acetinado para trás, sua pele molhada e brilhante, as pequenas gotas de água aderem-se a suas sobrancelhas, e justo quando penso que vai me beijar, ele mergulha na água e nada se afastando.
Então eu respiro profundamente, engulo meu orgulho, e o sigo.
— Muito melhor — ele diz, abraçando-me.
— Você tem medo da profundidade? — Eu sorrio, meus dedos do pé quase tocando o fundo.
— Me referia a sua roupa. Deveria se vestir assim mais vezes.
Eu olho para o meu pálido corpo em meu biquíni branco e tento não me sentir muito insegura diante do seu bronzeado, perfeito e escultural corpo.
— Definitivamente muito melhor do que o casaco com capuz e o jeans.
Eu pressiono meus lábios, sem saber o que dizer.
— Mas eu suponho que tem que fazer o que tem que fazer, certo?
Eu estudo o seu rosto. Algo na forma como ele disse isso, me fez sentir como se ele tivesse se referindo a algo mais, como se ele soubesse a verdadeira razão pela qual eu me visto assim.
Ele sorri.
— Obviamente protege-se da ira de Stacia e Honor. Elas não gostam de competição — ele coloca meu cabelo atrás da minha orelha e acaricia o lado do meu rosto.
— Estamos competindo? — Lhe pergunto, lembrando o flerte, as rosas, a briga que tivemos hoje na escola, a ameaça, que não tenho a menor dúvida que não acabará bem. Observando-o enquanto ele me olha por um longo tempo, por tanto tempo que meu humor muda e me afasto.
— Dulce, nunca houve nenhuma competição — ele diz, seguindo-me.
Mas eu mergulho na água e nado até a borda, agarrando-me e saindo, sabendo que preciso agir rápido se vou dizer o que quero, porque no momento que ele se aproximar, as palavras irão se evaporar.
— Como eu posso saber de alguma coisa, quando você está quente e frio? — Eu digo, minhas mãos tremendo, minha voz instável, desejando poder apenas parar e deixar recuperar a tarde agradável e romântica que nós tínhamos. Mas sabendo que devo dizer isso, não importando as consequências que traga. — Quero dizer, um minuto está me olhando dessa maneira que você fez, e no minuto seguinte, que eu saiba, você está por aí com a Stacia — pressiono meu lábios e espero que ele responda, observando como ele sai da piscina movendo-se até mim, tão lindo, molhado e brilhante, que tenho que me esforçar para manter a respiração.
— Dulce, eu... — Ele fecha os olhos e suspira. E quando os abre outra vez, dá mais um passo para mim e diz, — Nunca tive a intenção de machucá-la. De verdade. Nunca. — Ele desliza seus braços em volta de mim e fazer-me olhar diretamente para ele. E quando eu faço, quando finalmente rendo-me, ele olha em meus olhos e diz, — Nada do que fiz foi para feri-la e sinto muito a fiz sentir que estava jogando com seus sentimentos. Te disse que não sou muito bom com essas coisas. — Sorri, enterrando seus dedos em meu cabelo molhado, e tirando uma tulipa vermelha.
Eu olho fixamente para ele, fitando seus ombros fortes, seu peito definido, seu abdômen como tábua de lavar, e as mãos. Nenhuma luva com coisas escondidas dentro, nenhum bolso para armazenar qualquer coisa. Apenas seu corpo glorioso semi-nu, seu molhado traje de banho, e essa estúpida tulipa vermelha na mão.
— Como você faz isso? — Eu pergunto, prendendo a respiração, sabendo muito bem que não veio da minha orelha.
— Faço o quê? — Ele ri, seus braços cercando minha cintura, puxando-me para mais perto.
— As tulipas, as rosas, tudo isso. — Eu sussurro, tentando ignorar a sensação de suas mãos em minha pele, como seu toque me faz sentir morna, sonolenta e tonta.
— É Mágica — ele sorri.
Afasto-me e alcanço uma toalha, envolvendo-a firmemente em mim.
— Por que nunca pode falar sério? — Lhe digo, perguntando-me como fui me meter nisso e se ainda há tempo para recuar.
— Estou falando sério — murmura, puxando sua camisa e alcançando suas chaves, enquanto estou tremendo de frio em minha toalha úmida. Observando silenciosamente como ele se dirige até a porta, me olha sobre os ombros e me diz, — Sabine chegou — antes de se perder na noite.