Na manhã seguinte, enquanto me preparava para a escola, Maite estava empoleirada em minha penteadeira vestida como a Mulher Maravilha, revelando os segredos das celebridades. Já que estava cheia e entediada de ficar vendo os afazeres diários de antigos vizinhos e amigos. Seu foco agora era Hollywood, o que lhe permitia disponibilizar fofocas muito melhores do que qualquer tablóide sensacionalista.
— De jeito nenhum! — eu a encaro. — Não posso acreditar! Christian vai pirar quando souber disso!
— Você não tem idéia — ela balança a cabeça, seus cachos negros saltando de um lado para outro, olhos enfadados, parecia enormemente cansados, como se tivesse visto muitas coisas. — Nada é o que parece. É sério. É uma grande ilusão, tão falsos quanto os filmes que fazem. E acredite, esses publicitários vão trabalhar duro pra manter todos esses segredinhos sujos escondidos.
— E quem mais você espiou? — Pergunto, ansiosa por ouvir mais. Perguntando-me porque nunca me havia ocorrido de tentar sincronizar suas energias enquanto estou assistindo TV ou folheando uma revista. — Sobre o quê?
Estou a ponto de perguntar se os boatos sobre minha atriz favorita estão certos, quando Sabine enfia sua cabeça no meu quarto e diz:
— O que sobre o quê?
Olho de relance para Maite, que está se dobrando de rir, e limpando a minha garganta quando digo:
— Hum, nada, eu não disse nada.
Sabine me lança um olhar curioso, enquanto Maite balança sua cabeça e diz:
— Muito bom, Dulce, realmente convincente.
— Precisa de alguma coisa? — Pergunto, dando as costas para Maite e me concentrando no verdadeiro objetivo da visita de Sabine ao meu quarto. Ela foi convidada a passar o fim de semana fora e não sabe como de dizer isso.
Caminha pelo meu quarto, sua postura muito reta, seus passos tensos de maneira não habitual, então toma uma respiração profunda e se senta na borda da minha cama, seus dedos nervosamente agarram uma linha solta do meu edredom azul de algodão, perguntando-se como deve tocar no assunto.
— Jeff me convidou para passar o fim-de-semana fora — enruga sua testa. — Mas pensei que deveria falar com você primeiro.
— Quem é Jeff? — pergunto, colocando meus brincos e virando para olhá-la. Porque mesmo que eu saiba de quem se trata, ainda sim sinto que deveria perguntar.
— Você o conheceu na festa. Ele veio como Frankestein — ela me olha, sua mente nublada com a culpa, sentindo-se uma tutora negligente, um mau exemplo, embora isso não tenha afetado sua aura, que ainda está um feliz e brilhante cor-de-rosa.
Coloco meus livros em minha mochila, ganhando tempo enquanto decido o que fazer. Por outro lado, Jeff não é a pessoa que ela acha. Nem perto disso. No entanto, a meu ver, ele realmente gosta dela e não quer magoá-la. E já faz tanto tempo desde que eu a vi feliz desse jeito. Não vou suportar dizer isso a ela. De qualquer jeito, como eu faria?
Hum, desculpe-me, mas esse cara Jeff? O Sr. ostentoso banqueiro de investimentos? Não é o homem que você pensa que é. De fato, ainda vive com a mãe. Só não me pergunte como eu sei, só acredite que eu sei.
Não, não posso fazer isso. Além do mais, os relacionamentos têm uma maneira de resolvê-los por si mesmo. Do seu próprio jeito. Em seu próprio tempo. E não é como se eu não tivesse meus próprios problemas de relacionamento para tratar. Quero dizer, agora que as coisas estão começando a se estabilizar com Christopher, agora que estamos mais pertos de ser um casal, tenho pensado que talvez já seja hora de parar de afastá-lo. Talvez esteja na hora de dar o próximo passo. E com Sabine fora por alguns dias, bem, essa é uma oportunidade que pode não acontecer de novo.
— Vá! Divirta-se! — Finalmente digo, confiando que cedo ou tarde ela descobrirá a verdade sobre Jeff e seguirá adiante com sua vida.
Ela sorri com a mesma quantidade de entusiasmo e alívio. Então se levanta da minha cama e se dirige para a porta, detendo-se brevemente quando diz:
— Nós iremos hoje, depois do trabalho. Ele tem uma casa em Palm Springs, e fica a menos de duas horas daqui, então se precisar de qualquer coisa, não estaremos muito longe.
Correção, sua mãe tem uma casa em Palm Springs.
— Voltaremos no domingo. E Dulce, se você quiser trazer seus amigos, tudo bem, mas precisamos falar sobre isso?
Fiquei gelada, sabendo exatamente até onde vai essa conversa e perguntando-me se de algum modo tinha lido meu pensamento. Mas me dando conta que ela só está tratando de ser um adulto responsável e satisfazer seu novo papel como “pai”. Eu balanço minha cabeça e digo:
— Confie em mim, está tudo seguro.
Então agarro minha mochila, viro meus olhos para Maite que está dançando em cima da cômoda cantando “Festa! Festa!”
Sabine assentiu, claramente aliviada por ter evitado a conversa sobre SEXO quase tanto quanto eu.
— Te vejo no domingo — ela disse.
— OK — eu digo, descendo as escadas. — Te vejo depois.
— Juro por Deus que ele é do seu time — digo, parando no estacionamento, sentindo o doce calor do olhar de Christopher muito antes de realmente vê-lo.
— Eu sabia! — Christian diz assentindo. — Sabia que ele era gay. Eu já tinha dito. Onde escutou isso?
Eu paro, sabendo que de nenhum modo posso divulgar minha verdadeira fonte, admitindo que minha irmãzinha morta esta ciente das últimas de Hollywood olhando de dentro.
— Hum, não me lembro — descendo do meu carro. — Só sei que é verdade.
— O que é verdade? — Christopher pergunta sorrindo enquanto encosta seus lábios em minha bochecha.
— O... — Christian começa.
Mas balanço minha cabeça e o corto, pouco disposta a mostrar meu lado fã obsessiva tão cedo no jogo.
— Nada, só estávamos... Hum, você ouviu que Christian está interpretando a Tracy Turnblad em Hairpray? — Eu pergunto, entrando em um discurso de frases misturadas e sem sentido até que Christian finalmente nos disse adeus e vai para a aula.
Assim que ele se afasta, Christopher para e diz:
— Ei, tenho uma idéia melhor. Vamos tomar café da manhã.
Eu lanço-lhe um olhar de “Você está louco” e continuo andando, mas não chego muito longe antes que ele agarre minha mão e me puxe de volta.
— Vamos! — ele disse, seus olhos sobre os meus, sorrindo de uma maneira contagiante.
— Não podemos — sussurro, olhando de relance ao redor ansiosamente, sabemos que estamos a poucos segundos de chegar atrasados e não querendo deixar as coisas piores. Além do mais, eu já tomei café da manhã.
— Dulce, por favor! — ele cai de joelhos, as mãos juntas, olhos arregalados e suplicantes.
— Por favor não me faça entrar ali. Se tem alguma bondade. Não me faça fazer isso.
Eu pressiono meus lábios na tentativa de não rir. Olhando meu lindo, elegante, sofisticado namorado suplicando de joelhos é uma visão que nunca pensei que veria. Mas ainda sim, balanço minha cabeça negativamente.
— Vamos, levante, o sinal está a ponto de... — e antes que eu terminasse a frase o sinal já soou.
Ele sorriu, levantando-se e limpando suas calças e logo colocando seus braços ao redor da minha cintura enquanto diz:
— Você sabe o que eles dizem, melhor não aparecer do que chegar atrasado.
— Quem são eles? — pergunto, balançando a cabeça. — Soa mais como você.
Ele dá de ombros.
— Hum. Talvez seja eu. No entanto, eu garanto que há melhores maneira de passar uma manhã. Porque Dulce... —disse, agarrando fortemente minha mão, — ... não temos que fazer isso. E você não precisa disso — ele remove meus óculos de sol e abaixa meu capuz — O fim-de-semana começa agora.
E mesmo que eu possa pensar em um milhão de boas e válidas razões pelas quais nós não devemos sair, porque o fim-de-semana deve esperar até as três em ponto como qualquer outra sexta-feira, quando ele me olha firmemente, seus olhos são tão profundos e convidativos, não penso duas vezes, só me lanço de cabeça.
E mal reconhecendo o som da minha própria voz quando me ouço dizer:
— Rápido antes que fechem o portão.
Tomamos carros separados. Porque, mesmo que não tivéssemos dito, é bastante óbvio que não tínhamos planos de voltar. E enquanto sigo Christopher através das largas curvas da Coast Highway, olho para a dramática extensão do litoral, as praias intactas, a água azul marinho, e o meu coração cheio de gratidão, sentindo-me tão afortunada por viver aqui, chamar este incrível lugar de casa. Mas por outro lado, eu me recordo de como terminei aqui, e de repente as emoções desaparecem.
Ele guiou rapidamente para direita e eu parei na vaga ao lado dele, sorrindo quando ele vem para abrir a minha porta.
— Já esteve aqui? — Pergunta.
Eu olho para a cabana de telhas brancas e balanço a cabeça.
— Sei que você disse que não tinha fome, mas essas batidas são as melhores. Você definitivamente tem que experimentar o malte de tâmara ou uma batida de amendoim com chocolate, ou ambos, este é o meu convite.
— Tâmara? — Enrugo meu nariz e faço uma cara. — Hum, odeio dizê-lo, mas isso soa horrível. — Mas ele ri e me puxa para o balcão, pedindo um de cada e depois levando-nos para um banco azul onde sentamos e ficamos olhando para a praia.
— E então? Qual é seu favorito? — ele pergunta.
Provo cada um novamente, mas ambos são tão espessos e cremosos. Retiro as tampas e uso uma colher.
— Ambos são realmente bons — digo — Mas surpreendentemente acho que o de tâmara é melhor.
Mas quando deslizo até ele para assim possa provar também, ele balança a cabeça e rejeita. E esse pequeno gesto me deixa incomodada.
Há algo sobre ele, algo mais que apenas os estranhos truques de mágica e os desaparecimentos. Eu penso, em primeiro lugar, esse cara nunca come.
Mas assim que eu penso isso, ele pega o canudo e toma um grande gole, e quando se inclina para beijar-me seus lábios estão frios como gelo.
— Vamos descer até a praia, concorda?
Pegou minha mão e andamos ao longo da trilha, os ombros encostando um no outro, enquanto sacudia os milkshakes para trás e para frente, mesmo quando estou bebendo a maioria. E quando chegamos até a praia, tiramos os sapatos, enrolamos a bainha e caminhamos ao longo da costa, permitindo que a água fria lave nossos pés e espirre em nossas canelas.
— Você surfa? — ele pergunta, pegando os copos vazios e colocando um dentro do outro.
Balanço minha cabeça, e subo em um monte de rocha.
— Gostaria de uma lição? — sorri.
— Nesta água? — Me dirijo a um banco de areia seca, meus dedos do pé dormentes e azuis só com este rápido contato. — Não obrigada.
— Bem, estava pensando em vestirmos os nossos trajes de banho — ele diz, passando por trás de mim.
— Só se estiverem forrados de couro — eu rio, alisando a areia com o meu pé, deixando uma superfície plana para nos sentarmos.
Mas ele pega minha mão e me conduz pra longe, todo o caminho até antes das poças deixadas pela maré, e entrando em uma gruta natural escondida.
— Não tinha nenhuma idéia de que isto estava aqui — digo, olhando ao redor as paredes lisas da rocha, a areia recentemente remexida, e as toalhas e as pranchas de surf empilhadas no canto.
— Ninguém sabe — sorri. — É por isso que todo o meu material ainda está aqui. Misturada na rocha, muita gente caminha perto sem mesmo vê-la. Mas ainda sim, a maioria das pessoas vivem suas vidas inteiras sem notar o que está diretamente diante dos seus olhos.
— E como você a encontrou? — Pergunto, acomodando-me no grande cobertor verde colocado no meio.
Ele dá de ombros.
— Acho que não sou como a maioria das pessoas.
Ele deita-se ao meu lado, e então me puxa para baixo. Apoiando sua bochecha na palma da mão, olhando-me fixamente durante um longo tempo, que não posso deixar de ficar envergonhada.
— Por que você se esconde embaixo de jens folgados e capuzes? — sussurra, acariciando com seus dedos o lado do meu rosto, colocando meu cabelo atrás de minha orelha. — Não sabe o quanto você é bonita?
Pressiono meus lábios e olho para outro lado, desfrutando o sentimento, mas desejando que pare. Não quero voltar a fazer esse caminho, tendo que me explicar, defendendo porque sou da maneira que sou. Obviamente ele preferiria a velha “eu”, mas é muito tarde pra isso. Essa garota morreu e me deixou em seu lugar.
Uma lágrima escapa para minha bochecha, e eu tento virar, não querendo que ele me veja.
Mas ele me mantém em um abraço apertado não me deixando ir, apagando minha tristeza com o toque de seus lábios antes de juntar-se aos meus.
— Dulce — geme, sua voz grossa, olhos ardentes, mudando de posição até me deixar enrolar pelo lado direito, o peso do seu corpo proporcionando-me o calor ficando confortável a ponto de me deixar aquecida.
Deslizo meus lábios ao longo da linha de seu maxilar, seu queixo quadrado, minha respiração vem em pequenas arfadas enquanto seus quadris pressionam e giram contra os meus, resgatando todos os sentimentos que tenho tentado negar tão fortemente. Mas estou farta de lutar, cansada de negar. Só quero ser normal outra vez. E o que pode ser mais normal do que isso?
Eu fecho meus olhos enquanto ele tira o meu casaco, rendendo-me, sucumbindo, permitindo que ele desabotoe e remova meu jeans. Consentindo com a presa de sua mão e o impulso de seus dedos, dizendo a mim mesma que este glorioso sentimento, este sonho exuberante que cresce dentro de mim só podia ser uma coisa – só poderia ser amor.
Mas quando sinto seus polegares puxando o elástico da minha calcinha, guiando-a para baixo, sento-me bruscamente e o empurro.
Parte de mim querendo continuar, trazê-lo de volta para mim – só não aqui, não agora, não neste lugar.
— Dulce — ele sussurra, seus olhos buscando os meus. Mas só balanço a cabeça e giro me afastando, sentindo seu maravilhoso corpo quente moldar-se em volta do meu, seus lábios em meu ouvido dizendo, — Tudo bem. É sério. Agora durma.
— Christopher? — me viro, piscando na pouca luz, enquanto minha mão procura o espaço vazio ao meu lado. Apalpando o cobertor uma e outra vez, até estar convencida de que ele não está realmente ali.
— Christopher? — Chamo novamente, enquanto dou uma olhada ao redor da caverna, o som distante das ondas como a única resposta.
Coloco meu casaco e sigo para fora, olhando firmemente a luz do entardecer, explorando a praia, esperando encontrá-lo.
Mas quando não o vejo em nenhuma parte, volto para dentro, vendo um bilhete que deixou sobre minha mochila, e desdobrando-o para ler:
Estou surfando.
Volto logo.
– C
Volto correndo para fora, o bilhete ainda na mão, correndo de uma ponta a outra da praia, procurando surfistas, um em particular. Mas os únicos dois que estão lá são tão louros e pálidos, que está claro que não é Christopher.