emily14: Ola, seja bem vinda, continuando a e não va virar leitora fantasma hein, kkk
Quando entro em minha rua, me surpreendo ao ver alguém sentado nos degraus da entrada, mas quando chego mais perto, fico ainda mais surpresa ao ver que é Maite.
— Oi — digo, agarrando minha bolsa e batendo a porta do carro -um pouco mais forte do que eu planejava-.
— Jesus! — ela diz, agitando sua cabeça e olhando fixamente pra mim. — Achei que você iria me atropelar.
— Desculpe, pensei que era Christopher — eu digo, encaminhando-me para a porta.
— Oh, não! E agora o que ele fez? — Ela ri.
Mas eu só dou de ombros e abro a porta. Definitivamente não vou enche-la com todos os detalhes.
— O que aconteceu? Te deixaram do lado de fora? — Eu pergunto, convidando-a para entrar.
— Muito engraçado — ela revira os olhos e se dirige para a cozinha, sentando-se em uma das cadeiras da mesa de almoço enquanto eu jogo minha mochila no balcão e enfio minha cabeça no refrigerador.
— Então, o que se passa? — Eu olho de relance para ela, perguntando-me por que ela estava tão calada, pensando que talvez meu mau humor seja contagioso.
— Nada — ela descansa o queixo em sua mão e olha pra mim.
— Não é o que parece — pego uma garrafa de água em vez de sorvete, que é o que realmente quero, e me encosto-me ao balcão de granito, observando como seu cabelo está enrolado e seu disfarce de Mulher Maravilha está todo desalinhado.
Ela dá de ombros.
— Então, o que é que você vai fazer? — Ela pergunta, inclinando-se na cadeira para trás de uma maneira que me faz recuar, mesmo quando eu sei que é impossível que ela caia e se machuque. — Quero dizer, isso é como um sonho adolescente se tornando realidade, certo? Uma casa só para você sem acompanhantes — ela move suas sobrancelhas de uma forma que parece falsa, como se estivesse trabalhando arduamente para parecer animada.
Eu tomo um gole de água e me encolho de ombros, parte de mim querendo confiar nela, contar-lhe meus segredos, os bons, os maus e os que são completamente repugnantes. Seria tão bom tirar tudo isso do meu peito, não ter que carregar sozinha este peso. Mas quando a encaro outra vez, recordo como ela passou a metade da sua vida esperando completar treze anos, vendo a cada ano que passava estava mais perto desse tão importante número de dois dígitos, e não posso evitar perguntar-me se é por isso que ela está aqui. Desde que lhe roubei seu sonho ela não teve escolha, a não ser, viver através de mim.
— Bem, eu odeio decepcioná-la — finalmente digo. — Mas estou certa que você já notou o fracasso colossal que sou no departamento de sonhos adolescentes — eu olho timidamente para ela, meu rosto corando quando ela consente com a cabeça, mostrando que está de acordo. — Tudo de promissor que tinha ficou em Oregon? Com os amigos, o namorado e a equipe de torcida? Foi Perdido. Finito. ACABADO. E os dois amigos que eu fiz em Bay View? Bem, eles não estão se falando. No qual significa infelizmente que eles mal falam comigo, e mesmo por uma rara, inexplicável e inimaginável coincidência eu consegui arranjar um namorado lindíssimo e sexy, a verdade é que as coisas não são como deveriam ser, porque quando não está agindo estranhamente ou desaparecendo no ar, então está me convencendo para faltar à escola e apostar nas corridas ou em negócios sórdidos como isso. Ele é como uma má influência — detenho-me envergonhada, dando-me conta tardiamente que não devia ter compartilhado nada disso.
Mas quando a encaro novamente, está claro que ela não esta me escutando. Ela está olhando para o balcão, seus dedos traçando a espiral de granito preto, enquanto a sua mente viaja para outro lugar.
— Por favor, não fique irritada — ela disse finalmente olhando-me com os olhos tão grandes e sombrios, que são como um soco no estômago. — Mas passei o dia com Ava.
Eu pressiono meus lábios pensando: “Não quero escutar isso! Eu absolutamente não quero escutar isso.” Me agarro no balcão e me preparo para encarar o que segue.
— Eu sei que você não gosta dela, mas ela tem alguns bons argumentos e ela realmente me faz pensar sobre as coisas. Você sabe, as escolhas que eu tenho feito e quanto mais eu penso, mais me convenço de que ela poderia ter razão.
— Em quê ela poderia ter razão? — Lhe pergunto, logo que passou o nó em minha garganta, pensando que este dia estava indo de mal a pior e que ainda faltava muito para acabar.
Maite me olha e depois desvia o olhar, seus dedos ainda traçando os espirais do balcão, enquanto diz:
— Ava disse que eu não deveria estar aqui. Que não era para eu estar aqui.
— E o que você disse? — Eu inalo, desejando que ela parasse de falar e retirasse tudo. De nenhuma maneira posso perdê-la, nem agora, nem nunca. Ela é tudo o que me resta.
Seus dedos deixaram de se mover enquanto me olhava.
— Eu disse que eu gosto de estar aqui. Disse que mesmo que eu nunca seja uma adolescente, pelo menos posso ser através de você.
E mesmo que o que ela disse me faça sentir horrivelmente culpada e confirma tudo o que pensei, tento aliviar a carga quando digo:
— Deus, Maite, não poderia ter escolhido um pior exemplo.
Ela revira seus olhos e geme.
— Não me diga! — Mas mesmo que ria, a luz em seus olhos se extingue rapidamente quando diz, — Mas o que acontece se ela tiver razão? Quero dizer, e se for errado para eu estar aqui todo o tempo?
— Maite — eu começo, mas logo a campainha toca e quando volto a olhá-la novamente, ela havia desaparecido. — Maite! — eu chamo, procurando por toda a cozinha.
— Maite! — eu grito, desejando que ela reapareça. Eu não posso deixá-la ir assim. Recuso-me a deixá-la ir assim. Mas enquanto mais eu grito e lhe peço para voltar, mais me dou conta que estou gritando para o ar. Enquanto a campainha da porta continua tocando uma vez, seguido por duas vezes, e sei que Anahi está lá fora e preciso deixá-la entrar.
— O guarda da entrada me deixou passar — ela disse, entrando com pressa. Seu rosto uma confusão de rímel e lágrimas, seu cabelo recentemente pintado de vermelho todo bagunçado.
— Encontraram a Evangeline. Está morta.
— O quê? Tem certeza? — Começo a fechar a porta atrás dela, mas vejo Christopher se aproximando com seu carro, desce e corre para nós.
— Evangeline... — começo, tão horrorizada com a notícia que tinha me esquecido que havia decidido odiá-lo.
Ele assente com a cabeça e caminha até Anahi, olhando-a cuidadosamente quando diz:
— Você está bem?
Ela agita a cabeça e limpa seu rosto.
— Sim, quero dizer, eu não a conhecia muito bem, só saímos algumas vezes, mas mesmo assim é tão horrível e o fato de que provavelmente eu fui a última pessoa que a viu...
— Certamente você não foi a última pessoa a vê-la.
Eu olho para Christopher boquiaberta, perguntando-me se só estava fazendo uma piada de mau gosto, mas seu rosto está mortalmente sério e seu olhar perdido em alguma outra parte.
— Eu... Eu me sinto tão responsável — ela murmura, escondendo seu rosto entre as mãos, e gemendo “Oh Deus, Oh Deus” repetidamente. Eu me aproximo dela, querendo consolá-la de alguma maneira, mas ela levanta a cabeça, seca seus olhos e diz:
— Eu... Eu pensei que devia saber, mas agora eu tenho que ir, eu preciso ver Drina — ela levanta a mão e movimenta suas chaves.
Ouvi-la dizer isso é como jogar gasolina no fogo e olho para Christopher com os olhos semicerrados, acusando-o com um olhar. Porque embora a amizade de Anahi e Drina pareça uma coincidência, estou certa de que não é. Não posso me livrar da sensação de que de alguma forma está conectada com a morte de Evangeline.
Mas Christopher me ignora enquanto segura o braço de Anahi e olha cuidadosamente o pulso dela.
— Onde você conseguiu isso? — Ele disse com voz firme e controlada, mas quase no limite, deixando-a ir com relutância quando ela solta o braço e cobre a tatuagem com sua mão.
— Está tudo bem — ela disse, claramente irritada. — Drina me deu algo para colocar nela, uma pomada, disse que demora três dias pra fazer efeito.
Christopher aperta seu maxilar, tão forte que seus dentes rangem.
— Por acaso você está com essa pomada aí?
Ela balança a cabeça e dirige-se para a porta.
— Não, eu deixei em casa. Quero dizer, Deus, o que se passa com vocês? Mais alguma pergunta? — Ela se vira, fulminando com o olhar, sua aura de um brilhante e flamejante vermelho. — Porque não gosto de ser interrogada assim. Quero dizer, em primeiro lugar, a única razão por ter vindo aqui foi porque pensei que queria saber sobre Evangeline, mas como a única coisa que quer é implicar com a minha tatuagem e fazer comentários estúpidos, acho que é melhor eu ir.
Ela se encaminha apressadamente para seu carro e, quando a chamo, ela só balança a cabeça e me ignora e não posso evitar perguntar-me o que aconteceu com a minha amiga. Ela está tão temperamental, distante e me dou conta que eu a perdi há algum tempo.
Desde que conheceu Drina, sinto que quase não a conheço mais.
Eu a observo enquanto ela entra no carro, bate a porta e conduz para a estrada. Depois olho para Christopher e digo:
— Bem, isso foi muito agradável. Evangeline está morta, Anahi me odeia e você me deixa sozinha em uma caverna. Espero que ao menos tenha desfrutado de umas ondas enormes — eu cruzo meus braços sobre o peito e balanço a cabeça.
— De fato, eu desfrutei — ele diz, olhando-me com intensidade. — E quando voltei a caverna e vi que havia ido, vim o mais rápido que pude.
Eu o encaro com meus olhos semicerrados e meus lábios pressionados. Não posso crer que ele de verdade espere que eu acredite nisso.
— Me desculpe, mas te procurei e lá só havia dois surfistas. Dois surfistas loiros, o que
era muito difícil que um deles pudesse ser você.
— Dulce, me olha — ele disse. — Olhe com muita atenção. Como acha que fiquei assim?
Assim que eu faço, o olho atentamente da cabeça aos pés e vejo que sua roupa de banho está gotejando água salgada por todo o chão.
— Mas eu procurei por você. Percorri toda a praia. Te procurei por todas as partes — lhe digo, convencida do que vi, ou nesse caso, do que não vi.
Mas ele dá de ombros.
— Dulce, não sei o que dizer, mais sei que não te abandonei. Estava surfando. De verdade. Agora, poderia trazer-me uma toalha, por favor? E talvez outra para o chão.
Encaminhamo-nos para o quintal para que ele possa retirar sua roupa de banho, enquanto eu me sento em uma cadeira e o observo. Estava tão segura de que ele havia me deixado plantada lá. Eu procurei-o em todas as partes. Mas talvez não o tivesse visto, ou então, é uma praia enorme e eu estava muito zangada.
— E como ficou sabendo de Evangeline? — lhe pergunto, olhando como ele estende sua roupa de banho na barra. Não estou disposta a deixar minha raiva ir com essa facilidade.
— E o que se passa com Drina e Anahi e essa assustadora tatuagem? E só para registro, não estou completamente segura se acredito que você estava surfando porque, acredite, de verdade te procurei e não estava em nenhuma parte.
Ele me olha, seus olhos profundos e escuros ocultos por suas sobrancelhas, esbelto e sinuoso corpo envolto em uma toalha e quando se aproxima de mim, seus passos tão ligeiros e seguros, é tão gracioso como um gato da selva.
— Isso é minha culpa — finalmente disse, balançando a cabeça enquanto se senta junto a mim, tomando minha mão entre a sua, para depois soltá-la rapidamente. — Não estou certo quanto... — ele começa, e quando finalmente me olha, seus olhos estão mais tristes do que jamais poderia imaginar. — Talvez não devêssemos fazer isso — finalmente disse.
— Está... está terminando comigo? — Sussurro, o ar saindo de mim, como um balão esvaziando. Todas as minhas suspeitas confirmadas: Drina, a praia... Tudo.
— Não, eu só... — ele se afasta, deixando a mim e a frase incompletas.
Quando é claro que ele não tem intenção de continuar, lhe digo:
— Sabe, seria bom se deixasse de falar em códigos, terminar uma frase e dizer que diabo está acontecendo porque tudo o que sei é que Evangeline está morta, o pulso de Anahi estava uma catástrofe sangrenta, me deixou plantada em uma praia porque não aconteceu como deveria e agora está terminando comigo — o encaro, esperando por alguma confirmação de que estes supostos eventos casuais são facilmente explicados e não tem nenhuma relação, mesmo meus instintos me dizendo o contrário.
Ele se mantém calado por um tempo, olhando a piscina, mas quando finalmente me olha, diz:
— Nada disso está relacionado.
Mas leva tanto tempo para dizê-lo que não estou segura se acredito.
Logo ele respira profundamente e continua.
— Encontraram o corpo de Evangeline em Malibu canyon. Eu dirigia para cá quando escutei pelo rádio — ele disse, sua voz tornando-se segura e firme enquanto ele relaxa e toma o controle. — E sim, o pulso de Anahi parece estar infeccionado, mas às vezes essas coisas acontecem — ele deixa de me olhar e eu prendo a respiração, esperando pelo resto, a parte que tem a ver comigo. Então ele pega a minha mão e a cobre com a sua, seguindo as linhas na palma da minha mão quando diz — Drina pode ser carismática, encantadora e Anahi tem uma alma perdida. Estou certo que ela só gosta de atenção.
Pensei que estaria contente dela transferir afeições em Drina ao invés de mim — ele aperta meus dedos e sorri. — Agora não existe ninguém entre nós.
— Mas há algo interferindo entre nós? — Lhe pergunto, minha voz apenas um sussurro.
Sabendo que deveria estar mais preocupada pelo pulso de Anahi e a morte de Evangeline, mas incapaz de concentrar-me em outra coisa que não seja seu rosto, sua suave e morena pele, seus profundos olhos semicerrados e a maneira em que meu coração aumenta suas batidas, minha circulação acelera e meus lábios se incham em antecipação aos seus.
— Dulce, eu não te deixei esperando hoje e nunca te pressionaria a fazer algo que você não estivesse pronta. Acredite em mim — ele sorri, apoiando meu rosto entre suas mãos e seus lábios de encontro aos meus. — Eu sei esperar.