Mesmo Anahi se negando a responder nossas ligações, conseguimos ligar para Christian. E depois de convencê-lo a passar depois do ensaio, ele pareceu com Eric, e nós quatro passamos uma noite realmente divertida comendo, nadando e vendo filmes de terror ruins, e foi tão bom ficar com meus amigos de uma maneira tão relaxada, que quase me fez esquecer de Maite, Anahi, Evangeline, Drina, a praia e todo o drama desta tarde.
Quase me fez inconsciente do olhar distante que Christopher tinha cada vez que pensava que ninguém o olhava.
Quase me fez ignorar a corrente de preocupação borbulhando embaixo da superfície.
Quase. Mas não completamente.
E mesmo que eu fizesse entender perfeitamente claro que Sabine estava fora da cidade e que Christopher era mais que bem vindo para ficar, ele permaneceu só o suficiente até eu cair no sono, e depois silenciosamente deixou a casa.
Então, na manhã seguinte, quando ele chegou à porta com café, bolo, e um sorriso, não pude deixar de sentir-me um pouco aliviada.
Tentamos ligar para Anahi novamente, e ainda deixamos uma mensagem ou duas, mas não precisa de vidente para saber que ela não quer falar com nenhum de nós. E quando finalmente ligo para sua casa e falo com seu irmão menor, Austin, posso dizer que não está mentindo quando disse que não a tinha visto.
Assim, depois de um dia inteiro de risadas na piscina, estou pronta para pedir uma pizza quando Christopher tira o telefone da minha mão e diz:
— Pensei em preparar o jantar.
— Você sabe cozinhar? — Pergunto, embora não sei por que me surpreendo, porque a verdade é que eu ainda tenho que encontrar alguma coisa em que ele não possa fazer.
— Deixarei que você decida — ele sorri.
— Precisa de ajuda? — Me ofereço, mesmo quando minhas habilidades na cozinha estão severamente limitadas a ferver água e colocar leite no cereal.
Mas ele só balança negativamente a cabeça e se dirige para a cozinha, então vou para cima pra banhar e me trocar, e quando ele chama para comer, me surpreendo ao encontrar a mesa de jantar com a porcelana mais fina de Sabine, velas, e um vaso de cristal cheio de dezenas de – grande surpresa – Tulipas Vermelhas.
— Madeimoselle — ele sorri e afasta minha cadeira, seu sotaque francês perfeito.
— Não posso acreditar que você fez isso — olho para todos os pratos alinhados em minha frente, tão cheios de comida que me pergunto se estamos esperando convidados.
— É tudo para você — ele sorri, respondendo a pergunta que ainda não fiz.
— Só eu? E você não vai comer nada? — Eu presto atenção em como ele enche o meu prato com vegetais perfeitamente preparados, carnes finamente grelhadas, e um molho tão rico e complexo que nem sequer posso dizer o que é.
— Naturalmente — ele sorri — Mas a maior parte fiz para você. Uma garota não vive só de pizza, sabia?
— Ficaria surpreso — eu rio, cortando um pedaço suculento da carne grelhada.
Enquanto comemos, eu faço perguntas. Aproveitando-me do fato de que ele mal toca em sua comida, perguntando tudo o que eu estava louca para saber, mas sempre esquecendo no momento em que seus olhos cruzavam com os meus. Coisas sobre sua família, sua infância, as constantes mudanças, a emancipação – Essa parte porque estou curiosa, mas principalmente porque é estranho estar em um relacionamento com alguém que se conhece tão pouco. E quanto mais falamos, mais me surpreendo de que temos muito em comum. Primeiro, ambos somos órfãos, embora ele muito mais cedo do que eu, e mesmo que ele não dê muitos detalhes, não é como se eu fosse me oferecer para falar sobre a minha situação, por isso não insistir muito.
— Então, que lugar você prefere? — Pergunto, tendo limpado meu prato por completo e começando a sentir-me cheia.
— Exatamente aqui — sorri, tendo comido quase nada, mas fazendo um bom show de mover a comida em seu prato.
Entrecerro meus olhos, não acreditando em tudo. Quero dizer, claro, Orange County é lindo, mas não se pode comparar com todas essas cidades tão excitantes da Europa, pode?
— De verdade, sou muito feliz aqui — ele confirma, olhando-me fixamente.
— E não é feliz em Roma, Paris, Nova Deli ou Nova York?
Ele se encolhe, seus olhos repentinamente cheios de tristeza enquanto se afastam dos meus e toma um gole de sua estranha e vermelha bebida.
— Quer dizer isso? — sorri, erguendo-a para que eu veja. — Uma receita secreta de família — vira o conteúdo, e eu olho como brilha enquanto roda os lados da garrafa e agita a parte de baixo. Parece uma mistura entre um relâmpago, vinho e sangue, e uma minúscula poeira de diamante.
— Posso provar? — pergunto, não tão certa de querer, mas muito curiosa.
Ele nega com a cabeça.
— Você não vai gostar. Parece remédio. E isso porque provavelmente é remédio.
Meu estômago se embrulhou enquanto olhava para ele, imaginando uma enorme quantidade de enfermidades incuráveis, terríveis – sabia que era bom demais para ser verdade.
Mas ele só move a cabeça e sorri enquanto pega minha mão.
— Não se preocupe. Só preciso de um pouco de energia de vez em quando. E isto me ajuda.
— Onde você conseguiu? — Pergunto, procurando um rótulo, uma impressão, alguma marca, mas a garrafa está lisa e sem marcas.
Ele sorri.
— Eu te disse, receita familiar — ele disse, tomando um grande gole e terminando-o.
Logo ele se afasta da mesa e de seu prato ainda cheio, enquanto diz:
— Vamos nadar?
— Não se supõem que temos que esperar uma hora depois de comer?
Mas ele só sorri e pega minha mão.
— Não se preocupe, não vou deixar que se afogue.
Como havíamos passado a maior parte do dia na piscina, decidimos ficar na jacuzzi. E quando nossos dedos começaram a parecer ameixas secas, nos envolvemos em toalhas e fomos ao meu quarto.
Ele me seguiu até o banheiro. E atirou minha toalha molhada no chão, então vem por trás de mim, me puxa para ele, me mantém tão próxima que nossos corpos se combinam.
E quando seus lábios passam pela base do meu pescoço, sei que é melhor colocar algumas regras enquanto meu cérebro ainda funciona.
— Hum, você é bem vindo para ficar — murmuro, minhas bochechas queimando de vergonha quando eu encontro com o seu olhar divertido. — Quero dizer, o que eu quis dizer é que eu quero que você fique. De verdade. Mas, bem, não estou certa de que deveríamos, você sabe.
Oh Deus, o que estou dizendo? Um, olá, como se ele não soubesse o que eu queria dizer. Como se ele não fosse o que estava sendo afastado na caverna e em todo resto. O que estava acontecendo? O que eu estava fazendo? Qualquer garota mataria por um momento assim, um longo fim-de-semana sem pais ou nenhuma companhia, e mesmo assim aqui estou eu, pondo estúpidas regras por nenhuma boa razão.
Ele coloca o dedo embaixo do meu queixo e levanta meu rosto até estar na altura do seu.
— Dulce, por favor, já passamos por isso — ele sussurra, colocando meu cabelo atrás da minha orelha e pressionando seus lábios em meu pescoço. — Sei esperar, de verdade. Já esperei todo esse tempo para encontrar você, eu posso esperar ainda mais.
Com o corpo quente de Christopher enrolado no meu, e sua reconfortante respiração em meu ouvido, eu adormeci. E mesmo quando penso que vou estar muito desconfortável com a sua presença para descansar, é o sentimento aquecido de segurança de tê-lo junto a mim que me ajuda a dormir.
Mas quando eu acordo às 3:45 da manhã, só para descobrir que ele já não está mais ali, jogo o cobertor para o lado e corro para a janela, revivendo o momento na caverna de novo, quando procuro por seu carro surpreendida ao ver que está ali.
— Está me procurando?
Eu giro para encontrá-lo parado na porta, meu coração batendo loucamente, meu rosto enrubescendo.
— Oh, eu me virei e você não estava aqui e... — pressiono meus lábios, sentindo-me ridícula, pequena, estupidamente carente.
— Fui lá embaixo pegar um pouco de água — ele sorri, pegando minha mão e conduzindo-me de novo para cama.
Mas quando me deito ao lado dele, minha mão passando pelo seu lado, varrendo o lençol frio e abandonado, que parece que ele tinha saído por muito mais tempo.
Na segunda vez que me levanto, estou só novamente. Mas quando escuto Christopher na cozinha, coloco meu robe e desço para investigar.
— Há quanto tempo você levantou? — Pergunto, olhando a cozinha perfeita, a bagunça de ontem a noite havia desaparecido, substituída por uma torre de Donuts, cereais e beagels que não estavam no armário.
— Sou de levantar cedo — se encolhe. — Então pensei em limpar um pouco antes de ir ao mercado. Posso ter me excedido um pouco, mas não sei o que você iria querer — ele sorri, enquanto dá a volta na mesa e me beija na bochecha.
Tomo um gole de um copo de suco de laranja recentemente exprimido que ele coloca na minha frente e pergunto:
— Você quer? Ou você ainda está em jejum?
— Jejum? — Ele levanta a sobrancelha e me olha.
Reviro os olhos.
— Por favor. Você come menos do que qualquer um que conheço. Você só toma seu... remédio e empurra sua comida. Me sinto uma completa porca ao seu lado.
— Assim está melhor? — Sorri, pegando um donut e mordendo até a metade, seu maxilar trabalhando para morder a massa com glacê.
Encolho-me e olho pela janela, ainda sem me acostumar com o clima da Califórnia, o que parece ser uma sucessão interminável de dias ensolarados, ao mesmo tempo em que é oficialmente inverno.
— Então, o que deveríamos fazer hoje? — Pergunto, girando para olhá-lo.
Ele olha seu relógio e depois me olha.
— Preciso ir agora.
— Mas Sabine não voltará até tarde — digo, odiando como minha voz soa tão estridente e necessitada, e como meu estômago revira quando ele pega a chave.
— Preciso ir para casa e arrumar algumas coisas. Especialmente se quiser me ver na escola amanhã — ele disse, seus lábios tocando minha bochecha, minha orelha, a base do meu pescoço.
— Oh, escola. Nós ainda vamos lá? — Eu rio, havendo esquecido satisfatoriamente de pensar sobre minha recente ausência escolar e a repercussão que teria.
— Você é que acha isso importante — se encolhe. — Se fosse por mim, todos os dias seriam sábado.
— Mas então os sábados não seriam especiais. Seriam todos os mesmos — digo, pegando um pedaço de donut com glacê. — Um fluxo interminável de dias preguiçosos e longos, nada pelo o que trabalhar, nada pelo o que esperar, apenas um hedonista atrás do outro. Depois de um tempo, já não seria tão grandioso.
— Não esteja assim tão certa — ele sorri.
— Então, exatamente o que são essas tarefas misteriosas? — Pergunto, esperando ter um vislumbre de sua vida, das coisas menores que ocupam seu tempo quando não está comigo.
Ele se encolhe.
— Já sabe. Coisas — e embora ele esteja sorrindo quando diz, é bastante óbvio que está pronto para ir.
— Bem, talvez eu possa... — mas antes que eu termine a frase ele já está negando com a
cabeça.
— Esqueça. Você não vai lavar minha roupa — ele muda o peso de um pé para o outro como se estivesse se aquecendo para uma corrida.
— Mas eu quero ver onde você vive. Nunca estive na casa de alguém emancipado e tenho curiosidade — e embora trate de soar despreocupada, minha voz soa ainda menor e desesperada.
Ele move a cabeça e olha para a porta como se fosse um potencial amante que não pudesse esperar para vê-la. E embora seja óbvio que esteja na hora de levantar minha bandeira branca e render-me, não posso deixar de tentar mais uma vez quando digo:
— Mas por quê? — Enquanto o encaro, esperando uma razão.
Ele me olha, seu maxilar tenso quando diz:
— Porque está uma desordem. Um desastre horrível. E não quero que veja assim e tenha uma idéia errada de mim. Além do mais, nunca poderei colocar em ordem se você estiver lá; só conseguirá me distrair. — Sorri, mas seus lábios estão forçados e seus olhos impacientes, e é claro que suas palavras são só para preencher o espaço entre agora e quando ele finalmente vai embora. — Ligarei pra você está noite — ele disse, virando e se dirigindo para a porta.
— E o que acontece se eu decidir seguir você? O que você faria? — Pergunto, minha risada nervosa detendo-se quando ele se vira.
— Não me siga, Dulce.
E a maneira como ele disse isso me fez perguntar se ele disse, não me siga, nunca; ou não me siga, Dulce. Mas de qualquer maneira, significa o mesmo.
Quando Christopher sai, pego o telefone e tento ligar para Anahi, mas quando cai no correio de voz não me incomodo de deixar uma mensagem. Porque a verdade é que já deixei várias mensagens e agora é a vez dela me ligar. Depois de eu ir para cima e tomar um banho, sento em minha escrivaninha, determinada a acabar minhas tarefas, mas não chego a ir muito longe quando meus pensamentos voltam para Christopher, e todas suas estranhas, misteriosas peculiaridades que não posso mais ignorar.
Coisas como: Como é que sempre parece saber o que estou pensando quando eu não posso ler nada do que ele pensa? E como, em seus curtos 17 anos, encontrou tempo para viver em todos esses exóticos lugares, dominando arte, futebol, surf, cozinhar, literatura, história mundial e sobre cada outro assunto que eu não posso pensar? E tem a maneira como ele se move, tão rápido que parece um borrão? E como as rosas, tulipas e a caneta mágica? Sem mencionar que em um momento fala como uma pessoa normal e no outro soa como Heathcliff, ou Darcy, ou algum outro personagem de um livro das irmãs Bronte. Adicione a isso o modo como agiu com se pudesse ver a Maite, o fato dele não ter aura, de Drina também não ter aura, o fato de eu saber que ele esconde algo relacionado a como ele realmente a conheceu. E agora não quer que eu veja aonde ele vive?
Depois de que dormimos juntos?
Ok, talvez a única coisa que fizemos foi dormir, mas mesmo assim, acho que eu mereço respostas de algumas -se não todas- das minhas perguntas. E embora eu não esteja muito preparada para ir até a escola e procurar seus arquivos, sei de alguém que está.
Só que eu não sei se posso envolver Maite nisso. Sem mencionar que não sei como chamá-la já que nunca fiz isso antes. Quero dizer, chamo o seu nome em voz alta? Acendo uma vela?
Fecho meus olhos e faço um desejo?
Como acender uma vela me parece um pouco bobo, me conformo em parar no meio do quarto, com os olhos bem fechados, enquanto digo:
— Maite? Maite se puder me ouvir de verdade preciso falar com você. Bem, para dizer a verdade preciso de um favor. Mas se não quiser fazer, eu vou compreender totalmente, e não haverá nenhum ressentimento. E Hum, me sinto um pouco tonta agora, parada aqui falando sozinha, então se estiver me escutando, talvez você pudesse me dar um sinal?
E quando meu som toca de repente a canção de Kelly Clarkson que ela sempre canta, abro meus olhos e a vejo na minha frente, rindo histericamente.
— Oh meu Deus, parecia como se estivesse a dois segundos de fechar as cortinas, acender uma vela e puxar o tabuleiro de Ouija debaixo de sua cama! — Ela balança a cabeça negativamente e me olha.
— Oh, me sinto como uma idiota — digo, meu rosto se tornando vermelho.
— Você está com um olhar de idiota — ela ri. — Ok, deixa-me ver se isso está claro, quer corromper a sua pequena irmã para espiar seu namorado?
— Como você sabia? — Olho-a surpreendida.
— Por favor — ela revira seus olhos e se atira na minha cama. — Acha que a única por aqui que pode ler mentes?
— E como sabe disso? — Pergunto, querendo saber o que mais ela pode saber.
— Ava me disse. Mas, por favor, não fique louca, porque realmente explica alguns de seus novos hábitos de vestir.
— E o que há sobre seu novo hábito de se vestir? — Digo, sinalizando seu disfarce de Star Wars.
Mas ela só se encolhe.
— Então quer saber aonde encontrar seu namorado ou não?
Vou até a cama e me sento ao lado dela.
— Honestamente? Não estou certa. Quero dizer, sim eu quero saber, mas não me sinto bem em envolver você.
— Mas e se eu já fiz? O que acontece se eu sei? — Ela disse, levantando suas sobrancelhas.
— Você invadiu a escola? — Pergunto, pensando em que mais ela estaria fazendo desde a última vez que falamos.
Mas ela apenas ri.
— Ainda melhor, eu o segui até sua casa.
Encaro-a boquiaberta.
— Mas, Quando? E como?
Ela move a cabeça.— Vamos Dulce, não é como se eu precisasse de rodas para ir aonde quero. Além disso, sei que está toda apaixonada por ele, e não culpo você, ele é bastante encantador. Mas se lembra daquele dia quando ele agiu como se me visse?
Eu confirmo. Quero dizer, como poderia esquecer?
— Bem, me assustou bastante. Então decidi fazer um pouco de investigação.
— E, bem, não estou certa de como dizer isso, e espero que você não me leve a mal, mas – tem algo estranho — ela se encolhe. — Quero dizer, ele vive em uma casa enorme na Newport Coast, o que é estranho, considerando sua idade e tudo. Então, de onde ele tira dinheiro? Porque ele não trabalha.
Recordo aquele dia nas corridas. Mas decidi não mencioná-lo.
— Mas isso nem sequer é a parte mais estranha — continua. — Porque o que é realmente estranho é que a casa dele está completamente vazia. Isto é, nenhuma mobília.
— Bem, é homem — digo, perguntando-me porque sinto a necessidade de defendê-lo.
Ela move a cabeça.
— Sim, mas estou falando de estranho de verdade. Quero dizer, as únicas coisas lá dentro são uma base para iPod e uma TV de tela plana. É sério, isso é tudo. E acredite, eu já verifique a casa inteira. Bem, com exceção desse quarto que estava trancado.
— Desde quando um quarto trancado te detém? — Digo, já tendo a visto ela passar por paredes muitas vezes nos últimos tempos.
— Acredite, não foi a porta trancada que me deteve. Fui eu que me detive. Quero dizer, Deus, só porque estou morta não quer dizer que não posso ter medo — ela balança a cabeça e me encara.
— Mas ele ainda não vive há muito tempo aqui — digo, apressando-me para dar mais desculpas, como o pior tipo de idiota dependente. — Então talvez ele ainda não tivesse tempo de arrumar tudo. Quero dizer, talvez seja por isso que ele não quer que eu vá até lá, não quer que eu o veja assim — e quando analiso o que acabo de dizer não posso deixar de pensar: “Oh, Deus, estou pior do que pensei.”
Maite balança a cabeça e me olha como se estivesse a ponto de dizer-me a verdade sobre a Fada dos Dentes, o Coelhinho da Páscoa e o Papai Noel, tudo de uma vez. Mas logo ela se encolhe de ombros e apenas disse:
— Talvez devesse ver por si mesma.
— O que quer dizer? — Pergunto, sabendo que está escondendo algo.
Mas ela se levanta da cama e se dirige para o espelho, olhando seu reflexo e ajeitando sua fantasia.
— Maite? — Digo, perguntando-me porque age de maneira tão misteriosa.
— Escuta — disse ela, finalmente virando-se para me encarar — Talvez eu esteja errada. Quero dizer, eu sou apenas uma garota — ela se encolhe. — E provavelmente não sei nada, mas...
— Mas...
Ela respira fundo.
— Mas acho que deveria ver por si mesma.
— Então como chegamos lá? — Pergunto, já levantando e alcançando as chaves.
Ela nega com a cabeça.
— De maneira nenhuma. Esqueça. Estou convencida de que ele pode me ver.
— Bem, sabemos que ele pode me ver — eu a lembro.
Mas ela se mantém firme.
— Isso não vai acontecer. Mas eu posso te desenhar um mapa — Como Maite não é muito boa desenhando mapas, ela se conforma fazendo uma lista de ruas indicando quando dobrar a direita ou à esquerda, desde que norte, sul, leste e oeste me confunde sempre.
— Tem certeza de que não quer vir? — Eu ofereço, pegando minha carteira e saindo do quarto.
Ela assente e me segue pelas escadas.
— Ei, Dulce?
Eu me viro.
— Poderia ter me dito todo esse lance de ser psíquica. Me sinto mal por ter zombado de sua roupa.
Abro a porta principal e me encolho de ombros.
— Você realmente pode ler minha mente? — Ela nega com a cabeça e sorri.
— Só quando está tentando se comunicar comigo. Achei que era só uma questão de tempo até me pedir que o espionasse — ela ri. — Mas, Dulce?
Eu viro e a encaro novamente.
— Se não apareço por um tempo, não é porque estou zangada com você e nem porque estou tentando te castigar ou algo assim, Ok? Prometo que vou continuar te observando e vou me certificar que esteja bem, mas, bem, pode ser que eu vá por um tempo. Eu posso ficar um pouco ocupada.
Eu congelei, a primeira sensação de pânico começando a surgir.
— Você vai voltar, não vai?
Ela assente.
— É só que, bem... — ela se encolhe. — Prometo voltar, só que não sei quando — e embora ela esteja sorrindo, é obvio que está forçando.
— Não está me deixando, está? — Mantenho a respiração, exalando somente quando ela balança a cabeça.
— Ok, bem, boa sorte então — digo, desejando poder abraçá-la, convencê-la a ficar, mas sabendo que não é possível, então me dirijo ao meu carro dando a partida no motor.