Quando eu desperto, estou deitada na cama com Sabine debruçada sobre mim, seu rosto uma máscara de alívio, seus pensamentos um labirinto de preocupação.
— Hey — ela disse, sorrindo e movendo a cabeça. — Deve ter tido um bom fim-de-semana.
Eu dou uma olhada para ela e depois para o relógio. Então dou um salto da cama quando me dou conta da hora.
— Você se sente bem? — Pergunta, seguindo-me. — Você já estava dormindo quando cheguei à noite passada. Você não está doente, está?
Dirijo-me para o chuveiro, sem muita certeza de como responder. Porque mesmo não me sentindo doente, não consigo imaginar como fiz para dormir durante tanto tempo e até tão tarde.
— Tem alguma coisa que eu deveria saber? Há algo que precise me contar? — Pergunta ela, parada atrás da porta.
Fecho meus olhos e rebobino o fim-de-semana, recordando a praia, Evangeline, Christopher ficando para dormir e fazendo o jantar, seguido pelo café da manhã.
— Não, não aconteceu nada — digo finalmente.
— Bem, melhor se apressar se quiser chegar à escola a tempo. Tem certeza que está bem?
— Sim — Eu digo, tentando soar definitiva, clara, tão certa quanto posso, enquanto abro as torneiras e me meto embaixo do chuveiro, sem ter certeza se minto ou digo a verdade.
Todo o caminho da escola Christian falava de Eric. Dando-me os detalhes, passo a passo, do seu rompimento por mensagem de texto na sua noite de sábado. Tentando me convencer de que não poderia importar menos, que já está completamente e totalmente superado, o que muito prova que ele não o fez.
— Você ao menos está me escutando? — Ele pergunta franzindo as sobrancelhas.
— Com certeza — murmuro, parando em um sinal, justo a uma quadra da escola, minha mente recordando meu próprio fim-de-semana, e sempre terminando com o café da manhã.
Não importa o quanto eu tente, não posso lembrar-me de nada depois disso.
— Você poderia ter me enganado — ele sorri e olha para fora da janela — Quero dizer, se estou te aborrecendo, é só dizer. Porque acredite, eu já superei Eric. Já te contei da vez que ele...
— Christian, tem falado com Anahi? — Pergunto, olhando-o de relance antes do sinal ficar verde.
Ele balança a cabeça negativamente.
— Você?
— Acho que não — aperto o acelerador, perguntando-me porque só de dizer o nome dela já me enche de pavor.
— Acha que não? — Seus olhos bem abertos enquanto se move no banco.
— Não desde sexta.
Entro no estacionamento, meu coração batendo o triplo de vezes mais forte quando vejo Christopher em seu lugar de sempre, apoiado em seu carro, esperando-me.
— Bem, pelo menos um de nós pode ter seu: E vivemos felizes para sempre — disse Christian, apontando para Christopher, que dá a volta em seu carro, com uma tulipa vermelha em sua mão.
— Bom dia — ele sorri, dando-me a flor e beijando minha bochecha, enquanto eu respondo com algo incompreensível e me dirijo para a entrada. O sinal soa e Christian vai para a aula, enquanto Christopher pega minha mão e me conduz para a Aula de Inglês. — O Sr. Robins está a caminho — ele sussurra, apertando meus dedos enquanto passamos ao lado de Stacia, que franze a sobrancelha, e recusando-se a desviar até o último segundo. — Está fazendo tudo o que pode para trazer a mulher de volta — seus lábios curvando-se de encontro a minha orelha e quando eu percebo me afasto.
Deslizo para minha cadeira e tiro meus livros, perguntando-me porque a presença do meu namorado me faz sentir tão incomodada, então procuro em meu bolso o iPod e entro em pânico quando me dou conta que o esqueci em casa.
— Você não precisa disso — diz Christopher, procurando minha mão e juntando nossos dedos. — Têm a mim agora.
Fecho meus olhos, sabendo que o Sr. Robins estará aqui em três, dois, um...
— Dulce — sussurra Christopher, seus dedos tocando as veias do meu pulso. — Está se sentindo bem?
Pressiono meus lábios e aceno com a cabeça.
— Bom — fez uma pausa — eu tive um ótimo fim-de-semana, espero que você também.
Abro meus olhos no momento em que o Sr. Robins entra na sala, notando como seus olhos estão inchados, seu rosto um pouco pálido e suas mãos continuam tremendo um pouco.
— Ontem foi divertido, você não acha?
Me viro para Christopher, olhando em seus olhos, minha pele quente formigando só porque sua mão está sobre a minha. Então confirmo, sabendo que é a resposta que ele quer, embora não esteja muito certa de que seja verdade.
As horas seguintes foram um borrão de aulas e confusão, e não é até que eu chegue à mesa do almoço que eu descubro a verdade sobre ontem.
— Não posso acreditar que vocês entraram na água — disse Christian, sacudindo seu yorgut e olhando-me. — Tem alguma idéia de como é fria?
— Ela usou uma roupa de mergulho — Christopher dá de ombros. — Na verdade, você deixou na minha casa.
Eu desenrolo meu sanduíche sem lembrar nada disso. Nem ao menos tenho uma roupa de mergulho. Ou tenho?
— Hum, isso aconteceu na sexta-feira? — Pergunto, corando quando todos os eventos deste dia embaraçoso retornam a mim.
Christopher balança a cabeça negativamente.
— Você não surfou na sexta, Eu surfei. Domingo foi quando te dei aulas.
Tiro a casca do meu sanduíche, tentando me lembrar, mas continuo sem conseguir.
— Então, ela foi bem? — Pergunta Christian, lambendo sua colher e olhando de Christopher para mim.
— Bem, estava bastante calma, considerando que não tinha muito o que surfar. Na maior parte ficamos deitados na praia, sobre alguns cobertores. E sim, ela esteve muito bem — ele ri.
Eu olho para Christopher perguntando-me se minha roupa de mergulho estava dentro ou fora daqueles cobertores, e que, se alguma coisa aconteceu embaixo deles.
É possível que eu tenha tentado compensá-lo pela sexta-feira, e em seguida bloqueado para não lembrar?
Christian me encara, levantando as sobrancelhas, mas eu só dou de ombros e mordo meu sanduíche.
— Em que praia foram? — Ele pergunta.
Mas como não consigo lembrar olho para Christopher.
— Crystal Cove — ele disse, tomando um gole de sua bebida.
Christian balança a cabeça e revira os olhos.
— Por favor, me diga que não estão se tornando aqueles casais em que o cara diz tudo.
Quero dizer, ele pede por você no restaurante também?
Olho para Christopher, mas antes que ele responda, diz:
— Não, estou perguntando pra você Dulce.
Penso sobre nossas duas saídas a restaurantes, uma esse dia maravilhoso na Disneylândia que terminou tão estranho, e a outra vez nas corridas quando ganhamos todo esse dinheiro.
— Pedi minha própria comida — eu falo. Então o olho e digo, — Pode me emprestar seu telefone?
Ele tira do bolso e passa para mim.
— Por quê? Esqueceu do seu?
— Sim, e quero mandar uma mensagem de texto a Anahi para saber por onde anda. Tenho um pressentimento estranho sobre ela — balanço a cabeça, sem sequer saber como explicar a mim mesma, muito menos a eles. — Não consigo deixar de pensar nela — digo, meus dedos batendo no minúsculo teclado.
— Está em casa, doente — me disse Christian. — Algum tipo de gripe. Além do mais está triste pelo o que aconteceu com Evangeline, embora jure que já não nos odeia.
— Achei que tinha dito que não tinha falado com ela — faço uma pausa e o olho de relance, certa do que ele disse no carro.
— Ela me mandou uma mensagem de texto na aula de história.
— Então, ela está bem? — Olho para Christian, meu estômago uma desordem de nervosismo sem poder adivinhar o porquê.
— Vomitando até as tripas, lamentando a perda de sua amiga, mas sim, basicamente bem.
Devolvo o telefone a Christian, pensando que não há porque incomodá-la se não está se sentindo bem. Então Christopher coloca sua mão em minha perna, Christian começa a falar de Eric, e eu retomo meu almoço, assentindo e sorrindo, mas sem deixar de sentir-me desconfortável.
Quem diria, justo o dia em que Christopher decidiu passar o dia inteiro na escola vem a ser o dia em que eu desejo que ele se vá. Porque cada vez que saio de uma aula, o encontro parado do lado de fora da porta, esperando ansioso e me perguntando se me sinto bem. E realmente está começando a me irritar.
Portanto, depois da Aula de Artes, quanto estávamos caminhando para o estacionamento e ele se ofereceu para me seguir até em casa, eu só o olho e digo:
— Um, se estiver tudo bem pra você, eu preferiria ficar só por um tempo.
— Está tudo bem? — Pergunta pela milionésima vez. Mas eu só entro no carro, ansiosa por fechar a porta e colocar alguma distância entre nós.
— Só preciso fazer algumas coisas, mas te vejo amanhã, Ok? — E sem dar-lhe tempo de responder, dou a ré e vou.
Quando chego em casa, estou incrivelmente cansada, e me dirijo para a cama, planejando tirar um pequeno cochilo antes que Sabine chegue e começe a preocupar-se novamente. Mas quando me levanto no meio da noite, meu coração batendo forte e minha roupa encharcada de suor, tenho este sentimento incontestável de que não estou sozinha em meu quarto.
Pego minha almofada, agarro-a fortemente como se essas suaves plumas pudessem servir como algum tipo de escudo, então olho para o espaço escuro diante de mim e sussurro:
— Maite? — Mesmo estando certa de que não é ela.
Seguro a respiração, escutando um ruído macio, como sapatos no tapete, perto da porta, e surpreendendo-me sussurrando:
— Christopher? — Enquanto olho com atenção para a escuridão, sem conseguir identificar nada além de um ruído suave e abafado.
Estico-me para ligar o interruptor, ficando cega pela repentina luz, e procurando o intruso, tão certa de que tinha companhia, certa de que não estava só, que me sinto quase decepcionada quando encontro o quarto vazio.
Saio da cama, ainda abraçando a almofada, enquanto tranco as portas da varanda. Então verifico o armário e olho e embaixo da cama, como meu pai costumava fazer a muito tempo atrás naquelas noites quando falava do homem do saco. Mas sem encontrar nada, volto para a cama, perguntando-me se talvez meu sonho tivesse despertado todos esses medos.
Foi semelhante ao que havia tido antes, onde me encontrava correndo por um abismo escuro e exposto ao vento, meu vestido branco uma pobre defesa contra o vento, convidando ao vento para chicotear minha pele, arrepiando até meus ossos. E ainda assim eu pouco via, tão concentrada em correr, meus pés descalços na terra molhada e enlameada, dirigindo-me para um confuso refúgio que nem conseguia ver.
Tudo o que sei é que eu corria para uma pequena e brilhante luz.
E para longe de Christopher.