No dia seguinte, eu estacionei no meu lugar de sempre, pulei para fora do carro, e corri passando por Christopher, indo em direção a Anahi que estava esperando no portão. E embora eu normalmente faça todo possível para evitar contato físico, eu agarro o ombro dela e a abraço.
— Ok, ok, eu também te amo — ela ri, balançando a cabeça e me afastando. — Quer dizer, não é como se eu fosse ficar brava com vocês para sempre.
O cabelo tingido de vermelho dela está seco e sem vida, o esmalte preto de sua unha está lascado, as olheiras sob seus olhos parecem mais escuras que o normal, e o rosto dela está definitivamente pálido. Mas embora ela tenha me assegurado que está bem, eu não posso evitar em abraçar ela de novo.
— Como se sente? — Eu perguntei, olhando ela com cuidado, tentando conseguir uma leitura, mas fora sua aura parecer cinza, fraca, e translúcida, eu não consigo ver muita coisa.
— O que está acontecendo com você? — Ela diz, balançando a cabeça e me afastando. — Qualé de todo esse amor e afeição? Quer dizer, você de todas as pessoas, com seu eterno combo capuzinho.
— Eu fiquei sabendo que você estava doente, e quando você não veio na escola ontem — eu paro, me sentindo ridícula por ficar perto desse jeito.
Mas ela apenas ri.
— Eu sei o que está acontecendo aqui — ela acena. — Isso é sua culpa, não é? — Ela aponta para Christopher. — Você tinha que aparecer e transformar minha amiga gelada, em uma sentimental, e amável confusa.
E embora Christopher risse, isso não alcança seus olhos.
— Foi só uma gripe — ela diz enquanto Christian põe seus braços ao redor dela e nós passamos o portão. — E eu acho que ter ficado deprimida por causa de Evangeline fez tudo piorar. Quer dizer, eu tinha tanta febre, que eu desmaiei algumas vezes.
— Sério? — Eu me afasto de Christopher para poder andar do lado dela.
— Yeah, foi muito estranho. Toda noite eu ia para cama usando uma coisa, e quando acordava eu estava usando algo completamente diferente. E quando ia procurar o que estava usando antes, eu não conseguia encontrar. Era como se tivesse sumido ou algo assim.
— Bem, seu quarto é bem bagunçado — Christian ri. — Ou talvez você estivesse alucinando; você sabe que isso pode acontecer quando você tem uma febre monstruosa.
— Talvez. — Ela dá nos ombros. — Mas todos meus cachecóis pretos sumiram, então eu tive que pegar esse emprestado com meu irmão — Ela ergue a ponta do seu cachecol azul e o acena.
— Havia alguém lá para cuidar de você? — Christopher pergunta, vindo para o meu lado e pegando minha mão, seus dedos se entrelaçando com a minha, enviando uma onda de calor através do meu sistema.
Anahi balança sua cabeça e vira os olhos.
— Você tá brincando? Eu poderia muito bem ser emancipada como você. Além do mais, a minha porta estava trancada o tempo todo. Eu poderia ter morrido lá dentro e ninguém saberia.
— E quando a Drina? — Eu pergunto, meu estômago se apertando ao mencionar o nome dela.
Anahi me olha de uma forma estranha e diz:
— Drina está em Nova Iorque. Ela partiu sexta a noite. E de qualquer forma, espero que vocês não entendam, porque embora algumas das coisas dos sonhos fossem legais, eu sei que vocês não iriam gostar — ela para perto da sala de aula e se inclina contra parede.
— Você sonhou com um penhasco? — Eu pergunto, soltando a mão de Christopher, e me movendo para mais perto para ver o rosto dela de novo.
Mas Anahi apenas ri e me afasta.
— Um, com licença, limites! — Ela balança a cabeça. — E não, não havia penhascos. Só coisas gótico selvagens, é difícil explicar, embora tivesse muito sangue não coagulado.
E no segundo que ela diz isso, no segundo que eu ouço a palavra “sangue,” tudo fica
preto e meu corpo cai duro em direção ao chão.
— Dulce? — Christopher chama, me pegando segundos antes deu cair no chão. — Dulce — ele sussurra, a voz dele sufocada de preocupação.
E quando abro meus olhos para encontrar os dele, algo na expressão dele, algo sobre a intensidade do olhar dele parece familiar. Mas quando a memória começa a se formar, é apagada pelo som da voz de Anahi.
— É assim que começa — Ela acena. — Eu quero dizer, eu não desmaiei até mais tarde, mas ainda assim, definitivamente começa com um baita feitiço de tontura.
— Talvez ela esteja grávida? — Christian diz, alto o bastante para vários estudantes que passavam ouvir.
— Dificilmente — eu digo, surpresa por quanto me sinto melhor, agora que estou envolvida nos braços quentes e apoiáveis de Christopher. — Estou bem, verdade — eu me levanto e me afasto.
— Você deveria levar ela para casa — Christian diz, olhando para Christopher. — Ela parece horrível.
— Yeah — Anahi acena. — Você deveria descansar, sério. Você não vai querer pegar isso.
Mas embora eu insistisse em ir para aula, ninguém me escutava. E em seguida, os braços de Christopher estão envoltos ao redor da minha cintura e ele estava me levando de volta para seu carro.
— Isso é ridículo — eu digo, enquanto ele sai do estacionamento e dirige para longe da escola.
— Sério, estou bem. Sem mencionar que vamos ser pegos por matar aula de novo!
— Ninguém vai ser pego — Ele olha brevemente para mim, antes de se focar de volta na rua. — Devo te lembrar que você desmaiou? Você tem sorte por eu ter te pego em tempo.
— Sim, mas aí é que está, você me pegou em tempo. E agora estou bem. Sério. Quer dizer, se você realmente está tão preocupado comigo, você deveria ter me levado para a enfermaria da escola. Não precisava me seqüestrar.
— Não estou seqüestrando você — ele diz, claramente incomodado. — Eu só quero cuidar de você, me certificar que você está bem.
— Oh, então agora você é médico? — Eu balanço minha cabeça e viro os olhos.
Mas ele não diz nada. Ele só cruza a alto-estrada Coast, passando pela rua que leva para minha casa até que eventualmente passamos diante de um enorme portão.
— Onde você está me levando? — Eu pergunto, observando enquanto ele acena para uma atendente familiar, que sorri e acena para nós.
— Minha casa — ele murmura, dirigindo por uma colina antes de fazer uma série de curvas que levam para um beco sem saída e uma enorme garagem vazia.
Então ele pega minha mão e me leva através da cozinha e para dentro de um escritório onde eu paro com as mãos nos quadris, absorvendo todos os seus lindos móveis, o exato oposto da casa de fraternidade chique que eu esperava.
— Isso é realmente tudo seu? — Eu pergunto, passando minha mão por um sofá de chenille enquanto meus olhos observam lindas lâmpadas, tapetes persas, uma coleção de pinturas abstratas, e uma mesa de madeira escura coberta de livros, velas, e uma foto minha. — Quando você tirou isso? — Eu a ergo da mesa e a estudo de perto, sem ter qualquer memória desse momento.
— Você age como se nunca tivesse estado aqui antes — ele diz, fazendo menção para que me sente.
— Eu não estive — eu dou de ombros.
— Você esteve — ele insiste. — Domingo passado? Depois da praia? Eu tenho até sua roupa molhada lá em cima. Agora sente. — Ele dá batidinhas nas almofadas do sofá. —
Eu quero ver você descansando.
Eu afundo nas almofadas muito recheadas, ainda segurando a foto e me perguntando quando ela foi tirada. Meu cabelo está comprido e solto, meu rosto levemente corado, e estou usando um capuz cor de pêssego que esqueci que eu tinha. Mas embora eu pareça estar rindo, meus olhos estão tristes e sérios.
— Eu tirei ela um dia na escola. Quando você não estava olhando. Eu prefiro fotos honestas, é o único jeito de realmente capturar a essência de uma pessoa — ele diz, a tirando das minhas mãos e a colocando de volta na mesa. — Agora, feche seus olhos e descanse, enquanto eu faço chá.
Quando o chá fica pronto ele coloca uma xícara nas minhas mãos, então se ocupa colocando um cobertor de lã ao meu redor.
— Isso é muito gentil e tudo mais, mas não é necessário. — Eu digo, colocando a xícara na mesa e olhando para meu relógio, pensando que se sairmos agora, eu ainda posso ir chegar no segundo período a tempo. — Sério. Estou bem. Devemos voltar pra escola.
— Dulce, você desmaiou — ele diz, sentando ao meu lado, os olhos dele buscando meu rosto enquanto ele toca meu cabelo.
— Coisas acontecem. — Eu dou nos ombros, envergonhada com toda confusão, especialmente quando sei que não há nada errado.
— Não no meu turno — ele sussurra, movendo suas mãos do meu cabelo para a cicatriz no meu rosto.
— Não. — Eu me afasto logo antes dele poder tocá-la, observando enquanto as mãos dele caem do seu lado.
— Qual problema? — ele pergunta, me observando.
— Eu não quero que você pegue — eu minto, sem querer admitir a verdade – que a cicatriz é para mim, e apenas para mim. Um lembrete constante, me assegurando que eu nunca esqueça. É por isso que recusei cirurgia plástica, recusei deixar que eles a “consertassem.”
Saber o que houve nunca poderia ser consertado. É minha culpa, minha dor privada, e é por isso que a escondo debaixo do capuz.
Mas ele apenas ri e diz:
— Eu não fico doente.
Eu fecho meus olhos e balaço a cabeça, e quando os abro eu digo:
— Oh, então agora você não fica doente?
Ele dá nos ombros e traz a xícara até meus lábios, me fazendo beber.
Eu tomo um pequeno gole e viro a cabeça e me afasto, dizendo:
— Então vamos ver, você não fica doente, você não se mete em problemas por matar aula, você só tira nota 10 apesar de matar aula, você pega um pincel e voilà, você faz um Picasso melhor que Picasso. Você consegue cozinhar tão bem quanto qualquer chefe cinco estrelas, você costumava ser modelo em Nova Iorque que foi logo antes de você viver em Santa Fé, que veio depois de você viver em Londres, Romênia, Paris, e Egito – você é desempregado e emancipado, mas ainda sim de alguma forma você vive numa casa dos sonhos luxuosa e multimilionária, você dirige um carro caro, e –
— Roma — ele diz, me dando um olhar sério.
— O que?
— Você disse que eu vivi na Romênia, quando eu estava na verdade em Roma.
Eu viro os olhos.
— Tanto faz, o ponto é — eu paro, minhas palavras presas na minha garganta.
— Sim? — Ele se inclina na minha direção. — O ponto é...
Eu engulo com força e desvio meu olhar, minha mente se agarrando as pontas de algo, algo que esteve me atormentando à algum tempo. Algo sobre Christopher, algo sobre aquela quase, habilidade do outro mundo dele – ele é um fantasma como Maite? Não, isso é impossível, todos podem ver ele.
— Dulce — ele diz, a palma dele na minha bochecha, virando minha cabeça para que eu o olhe de novo. — Dulce, eu –
Mas antes que ele possa terminar, estou fora do sofá e fora do alcance dele, tirando a coberta dos meus ombros e me recusando a olhar para ele quando eu digo:
— Me leve para casa.