Já sem castigo e liberada de toda a carga psíquica, passo os dias seguintes com Christian e Anahi, nos encontrando para tomar café, ir às compras, ver filmes, passeando pela cidade, vendo os ensaios de Christian, emocionada por ter minha vida ao normal novamente. E na manhã de Natal, quando Maite aparece, eu me sinto mais tranqüila ao me dar conta que eu ainda posso vê-la.
— Hey, espera! — Disse ela, bloqueando a porta justo quando estou para descer as escadas.
— De jeito nenhum que você está abrindo seus presentes sem mim! — E quando sorri, está tão radiante e clara que parece até mesmo sólida, nada borrado ou translúcido nela. — Eu sei o que você vai ganhar! — Ela ri. — Você quer uma pista?
Eu nego com a cabeça e rio.
— Absolutamente não! Eu amo não saber para variar. — Digo sorrindo, enquanto ela caminha para o centro de meu quarto e executa uma série perfeita de piruetas.
— Falando de surpresas. — Ela dá risadinhas. — Jeff comprou um anel para Sabine! Dá para acreditar? Ele saiu da casa de sua mãe, comprou sua própria casa. E está implorando a ela para voltar e começar tudo de novo!
— Sério? — Digo, olhando seus jeans desbotados e sua camiseta sobreposta, feliz de ver que ela deixou as fantasias e já não está me copiando.
Ela concorda.
— Mas Sabine vai devolvê-lo. Quero dizer, pelo menos pelo o que eu posso dizer. Não é como se ela tenha recebido o anel ainda, então acho que teremos que esperar e ver.
Ainda assim, as pessoas raramente te surpreendem, sabe?
— Você continua espiando as celebridades? — Pergunto, me perguntando se ela tem alguma fofoca.
Ela faz uma careta e revira os olhos.
— Deus, não. Eu estava sendo seriamente corrupta. Além disso, sempre é a mesma coisa, ladrões de loja, alcoólicos, drogados, anoréxicos, todos seguidos de reabilitação.
Lavar, enxaguar e repetir-Bocejar.
Eu rio, desejando poder abraçá-la. Eu tinha tanto medo de tê-la perdido.
— O que você tanto olha? — Ela pergunta, me olhando com atenção.
— Você. — Sorrio.
— E?
— E estou tão feliz que você esteja aqui. E de poder te ver. Eu tinha medo de ter perdido essa habilidade quando Ava me mostrou como fazer esse escudo.
Ela sorri.
— Para ser honesta, você perdeu. Eu tive que usar um pouco mais de energia para que você possa me ver. Para dizer a verdade, estou usando um pouco da sua. Você se sente cansada?
Eu me encolho.
— Um pouquinho, mas, eu acabei de acordar.
Ela balança a cabeca.
— Não importa. Ainda sou eu.
— Hey Maite — eu a olho. — Você continua... visitando a Ava? — Pergunto, retendo a respiração enquanto espero sua resposta.
Ela nega com a cabeça.
— Não. Eu já superei isso também. Agora vamos, não quero perder sua cara quando desembrulhar seu novo iPhone! Oops! — Ela ri, colocando sua mão sobre a boca enquanto retrocede através da porta fechada do quarto.
— Você vai realmente ficar? — Sussurro, saindo da maneira tradicional. — Você não tem que ir, ou estar em outro lugar?
Ela sobe em cima do corrimão e desliza na sua maneira para baixo, olhando para mim e sorrindo quando ela diz:
— Não, não mais.
Sabine devolveu o anel, eu tinha um novo iPhone, Maite voltou a me visitar todos os dias, às vezes até mesmo me acompanhando à escola, Christian começou a namorar com um dos dançarinos de Hairspray.
Anahi tingiu o cabelo de castanho escuro, se desfez de tudo gótico, começou o doloroso processo de apagar a tatuagem com laser, queimou todos os seus vestidos de Drina e os substituiu por emo. O Ano novo veio, e foi marcado por uma pequena reunião em minha casa que incluiu cidra espumante para mim -eu estava oficialmente fora de bebida alcoólica-, contrabando de champanhe para meus amigos, e um mergulho à meia-noite no jacuzzi, o que era bastante inofensivo, tão quanto as festas de Ano Novo são, mas não de modo chato.
Stacia e Honor ainda me olhavam fixo, muito perto do de antes, ainda pior nos dias que eu usava algo bonito, Sr. Robins conseguiu uma vida -uma sem sua filha e sem sua mulher-, Srta. Machado ainda se encolhia quando examinava minha arte, e entre tudo isso estava Christopher.
Como calafetar ao redor de um azulejo, como se atar em um livro, ele enchia todos os espaços em branco e vazios e os mantinha tudo junto, tudo unido. Durante cada teste surpresa, cada shampoo, cada refeição, cada filme, cada canção, cada mergulho no jacuzzi, eu o tinha em minha mente, consolada apenas por saber que ele estava lá fora em algum lugar – mesmo que eu tinha decidido contra ele.
No dia dos namorados, Christian e Anahi estão apaixonados... embora não entre eles. E apesar de que nos sentamos juntos no almoço, eu poderia muito bem tê-lo feito sozinha.
Eles estavam muito ocupados pairando sobre seus Sidekicks para notar minha existência, enquanto meu iPhone está ao meu lado, em silêncio e ignorado.
— Oh, Meu Deus! Isto é hilário! Você não pode acreditar no quão brilhante ele é! — Christian diz, pela milionésima vez, olhando por cima do texto, seu rosto vermelho de rir, enquanto pensa na resposta perfeita.
— Oh, Meu Deus, Josh apenas me presenteou com uma tonelada de músicas! Eu nao sou tão digna — Anahi murmura, polegares tocando em resposta.
E mesmo que eu estou feliz por eles, feliz por que eles são felizes e tudo isso, minha mente está no sexto período da aula de arte, e me pergunto se eu não deveria escapar.
Porque aqui, na escola Bat View High, hoje não é só o dia dos namorados, mas também o dia do Coração Secreto. O que quer dizer que esses pirulitos grandes, vermelhos e em forma de coração, esses que tem pequenas notas de amor rosa que foram repartidas durante toda a semana, vão ser distribuídos à seus destinatários finalmente. E enquanto Christian e Anahi estão totalmente esperando por receber os deles embora seus namorados não vêm à nossa escola, eu só quero passar o dia, algo sã e principalmente ilesa.
E ainda que eu tenha que admitir que parar de usar o iPod, o capuz e os óculos, incrementou consideravelmente o interesse masculino, não é que esteja interessada em nenhum deles.
Porque a verdade é que não há um cara nessa escola -Ou no Planeta!- que poderia jamais se comparar com Christopher. Ninguém. Simplesmente impossível. E não é que eu esteja com pressa para baixar meus padrões.
Mas no momento em que soa a campainha para o sexto período, sei que não posso faltar.
Meus dias de escapar, como meus dias de beber, terminaram. Então eu agüento e me dirijo para a aula, imersa na última tarefa... Recriar algum dos “ismos”. Eu escolhi o cubismo...
Cometendo o erro de pensar que poderia ser fácil. Mas não é. De fato, está longe de ser.
E quando tenho a sensação de que alguém está parado atrás de mim, me viro e digo:
— Sim?
Olhando com atenção o pirulito que tem em mãos, em seguida colocando atenção em meu trabalho, assumindo que ele se enganou de pessoa. Mas quando toca meu ombro novamente, desta vez não me incomodo em olhar, apenas balanço a cabeça e digo:
— Desculpe, garota errada.
Ele murmura algo em voz baixa, em seguida aclara a garganta e diz:
— Você é aquela garota Dulce, não é?
Eu aceno.
— Então pegue de uma vez — ele balança a cabeça. — Tenho que entregar toda essa caixa antes que soe a campainha.
Ele me atira o pirulito e vai para a porta, e eu abaixo o meu carvão, viro o cartão aberto e leio:
Pensando em você sempre.
Chrsitopher.
Estamos na reta final da primeira temporada gatinhas :)