No momento em que Maite se vai, eu caio no choro, sabendo que fiz o certo, mas ainda sim desejando que não doesse tanto. Permaneço assim por algum tempo, encolhida sobre o sofá, meu corpo apertado como uma pequena bola, lembrando tudo o que ela disse sobre o acidente e que não era minha culpa. Mas embora queira acreditar nisso, sei que não é verdade. Quatro vidas terminaram nesse dia, e tudo por minha culpa.
Tudo por um agasalho de cor azul do acampamento de animadoras.
— Te conseguirei outra — disse meu pai olhando-me pelo retrovisor, seus olhos encontrando-se com os meus, ambos de cor azul. — Se eu voltar agora encontraremos congestionamento.
— Mas é meu favorito — disse choramingando. — O que eu consegui no acampamento de animadoras. Você não pode comprar em uma loja — eu amuei sabendo que estava a poucos segundos de conseguir o que eu queria.
— Você realmente quer isso?
Assenti sorrindo enquanto ele balançava a cabeça. Respirou profundamente e mudou a direção do carro, encontrando meu olhar pelo espelho retrovisor no exato momento em que o cervo saiu para a estrada.
Queria acreditar em Maite, treinar meu cérebro para pensar dessa maneira. Mas sabendo que a realidade nunca me deixaria.
Enquanto limpava as lágrimas do rosto, lembrei das palavras de Ava. Pensando se Maite era a pessoa correta para dizer adeus, então Christopher deve ser a pessoa errada.
Eu alcanço o pirulito que havia deixado em cima da mesa e fico atônita ao ver que ele havia se convertido em uma tulipa.
Uma grande, longa, brilhante tulipa vermelha.
Então saio correndo até meu quarto, puxo meu laptop e o coloco sobre a cama, e rapidamente procuro o significado das flores, examinando rapidamente a página até que leio:
Há oitocentos anos, as pessoas freqüentemente comunicavam suas intenções mediante as flores que enviavam, já que flores específicas tinham significados específicos. Aqui estão alguns dos mais tradicionais:
Desço o mouse sobre a página, em ordem alfabética, meus olhos scaneando em busca de tulipas, e prendendo minha respiração enquanto leio:
Tulipas vermelhas – amor eterno.
Então, apenas por divertimento, vejo botão de rosa branca e solto um riso alto quando leio:
Botão de rosa branca – o coração que não conhece o amor; coração ignorante de amor.
E sabia que tinha sido um teste. Todo este tempo. Mantendo essa vida secreta sem absolutamente nenhuma ideia de como dizer, sem saber se eu o aceitaria, o rejeitaria, ou me afastaria dele. Brincando com Stacia somente para conseguir uma reação, para que ele pudesse bisbilhotar em meus pensamentos e ver se me importava. E eu que me tornei uma perita em mentir pra mim mesma, negando meus sentimentos sobre quase tudo, que eu acabei finalmente confundindo a ambos.
E mesmo que eu sinceramente não aprove o que ele fez, tenho que admitir que funcionou. E agora, tudo o que tenho que fazer para vê-lo novamente é dizer as palavras altas e claras e ele se manifestará aqui na minha frente. Porque a verdade é, eu o amo. Eu o amo sem cessar. Eu o amei desde o primeiro dia. Eu o amei mesmo quando jurei o contrário. E não posso evitar isso.
Apenas fazer. E mesmo não estando certa de tudo isso de imortalidade, Summerland era bastante legal. Além do mais, se Maite tiver razão, se existe tal coisa como a fé e o destino, então talvez se aplique a ele também?
Fecho meus olhos imagino a sensação do quente e maravilhoso corpo de Christopher ao redor do meu, os suspiros de seus suaves e doces lábios em minha orelha, meu pescoço, minha bochecha, a maneira como sua boca se sente sobre a minha – me sustento nessa imagem, a sensação do nosso amor perfeito, nosso beijo perfeito, e sussurro as palavras que tenho guardado todo esse tempo, as palavras que tinha tanto medo de pronunciar, aquelas que o traria de volta pra mim.
As digo uma e outra vez, minha voz fazendo-se mais forte cada vez, ressoando cada vez mais alta pelo quarto.
Mas quando abro meus olhos, estou sozinha.
E sei que ele esperou por muito tempo.