Caminho para baixo, em busca de algum sorvete, sabendo que um rico e cremoso Haagen- Dazs não pode possivelmente curar meu coração partido, mas talvez possa ajudar um pouco.
E depois de ter chegado a 1/4 do freezer, eu pego com as mãos e alcanço uma colher, de repente derrubo tudo quando ouço uma voz dizer:
— Tão comovente, Dulce. Tão, tão comovente.
Dobro-me, tocando os dedos dos pés sobre o que haviam caído 1/4 de sorvete de baunilha com amêndoas suecas, quando olho para uma perfeita Drina – pernas cruzadas, mãos dobradas, uma perfeita dama, sentada na minha bancada de café da manhã.
— Tão bonito como você chamou Christopher, quando conjurou essa cena de amor tão pura em sua cabeça — ela ri, seus olhos olhando-me fixamente. — Ah, sim, ainda posso ver o que passa em sua cabeça. Seu pequeno escudo psíquico? Mas fino do que o Sudário de Turim, eu receio. De qualquer modo, o que diz respeito a você e Christopher e seu ‘felizes para sempre’, e sempre, e sempre? — Ela balança a cabeça. — Bem, você sabe que eu não posso deixar isso acontecer. Como acontece, o trabalho da minha vida tem sido destruir você, e como pouco sabe, eu ainda posso.
Olho-a fixamente, concentrando-me em minha respiração, mantendo-a lenta e calma, enquanto tento limpar minha mente de qualquer pensamento incriminatório, sabendo que ela só usará isso contra mim. Mas a coisa é que, tentar limpar sua mente é quase tão efetivo quanto dizer a alguém para não pensar em elefantes – de agora em diante isso é a única coisa em que vou pensar.
— Elefantes? Sério? — Ela gemeu. Um som baixo, diabólico que vibra o quarto. — Meu Deus, o que foi que ele viu em você? — Seus olhos fixos em mim, cheios de desprezo. — Certamente não sua inteligência ou sagacidade, já que ainda estamos por ver alguma evidência de sua existência. E sua idéia de uma cena de amor? Tão Disney; tão Canal de Família, tão entediante até a morte. Sério, Dulce, tenho que te lembrar que Christopher tem estado por aqui há centenas de anos, incluindo os sessenta de amor livre? — ela balança a cabeça para mim.
— Se você está procurando por Christopher, ele não está aqui — digo finalmente, minha voz arranhada, rouca, como se não tivesse sido usada durante dias.
Ela levanta a sobrancelha.
— Confie em mim, sei onde Christopher está. Sempre sei onde Christopher está. É o que faço.
— Então você é uma perseguidora — pressiono meus lábios, sabendo que não posso contra ela, mas hey, não tenho nada a perder. De qualquer jeito ela está aqui para me matar.
Ela torce seu lábio e levanta sua mão, inspecionando sua perfeita manicure.
— Dificilmente — murmura.
— Bem, se foi como você escolheu gastar seus últimos trezentos anos, então alguns poderiam dizer...
— Mais como seiscentos, sua pequena duende assustadora, seiscentos anos — me olha de cima a baixo e franze o cenho.
Seiscentos anos? É sério?
Ela revira os olhos e se coloca de pé.
— Vocês mortais, tão maçantes, tão estúpidos, tão previsíveis, tão comuns. E ainda assim, apesar de todos os seus defeitos óbvios, você parece sempre inspirar Christopher para alimentar os famintos; servir a humanidade, lutar contra a pobreza, salvar as baleias, parar de contaminar, reciclar, meditar pela paz, dizer não as drogas, álcool, grandes despesas, e sobre tudo que vale a pela – um passatempo altruísta horrivelmente chato atrás do outro. E pra quê? Você aprendeu alguma vez? Hello!
Aquecimento global! Aparentemente não. E ainda assim, e ainda assim, de algum modo Christopher e eu sempre parecemos passar por isso, embora leve muito tempo para desprogramá-lo, retorná-lo vigoroso, hedonista, ganancioso, indulgente Christopher que conheço e amo. Embora acredite, isto é só outro pequeno contratempo, e antes que você se dê conta, nós voltaremos a estar no topo do mundo novamente.
Ela avança até mim, seu sorriso fazendo-se maior com cada passo dado, circulando sigilosamente a grande bancada de granito como um gato siamês.
— Honestamente Dulce, não posso nem imaginar o que você vê nele. E não estou me referindo o que pode ver qualquer outra mulher, e vamos encarar, a maioria dos homens olham pra ele. Não, quero dizer, é por causa de Christopher que você parece estar sempre sofrendo. É por causa de Christopher que está passando por tudo isso agora. Se apenas não tivesse sobrevivido àquela droga de acidente — ela balança a cabeça. — Quero dizer, justo quando eu pensava que era seguro ir, justo quando eu estava segura de que estava morta, a próxima coisa que sei é que Christopher foi para a Califórnia porque, surpresa, ele te trouxe de volta! — de novo ela balança a cabeça. — Você acredita que depois de todas essas centenas de anos, eu pensei que teria um pouco mais de paciência. Mas você realmente me aborrece, e claramente isso não é minha culpa. — Ela me olha, mas me nego a responder, ainda estou processando suas palavras.
Drina causou o acidente?
Ela me olha e revira os olhos.
— Sim, eu causei o acidente. Por que devo soletrar tudo pra você? — Ela balança a cabeça. — Fui eu quem assustou o cervo para frente do carro. Fui eu quem sabia que seu pai era um tolo, tinha um bom coração e que de bom grado arriscaria a vida de sua família para salvar um cervo. Os mortais são sempre tão previsíveis. Especialmente os honestos que tentam fazer o bem — ela ri. — Apesar de, no final, ter sido quase tão fácil e nem teve divertimento. Mas não se engane, Dulce, agora Christopher não está aqui para te salvar, e eu ficarei por perto para ver o trabalho feito.
Examinei a sala, buscando algum tipo de proteção, vendo o rack de facas do outro lado da sala, mas sabendo que nunca chegaria a tempo. Não sou tão rápida como Chirstopher e Drina. Pelo menos não acho que seja. E não há tempo para comprovar isso.
Ela suspira.
— Por toda ajuda, por favor, pegue a faca, veja se me importo — ela balança a cabeça e olha seu relógio cravado de diamantes. — Eu realmente gostaria de começar, se você não se importa. Normalmente eu gosto de dar um tempo, me divertir um pouco, mas hoje sendo o dia dos namorados e tudo, bem, tenho planos para jantar com meu amado, tão logo quanto eu ter eliminado você — seus olhos se tornam escuros e torce sua boca, e por um breve momento, todo o mal que guardava dentro saiu para a superfície. Mas então igualmente rápido, desapareceu de novo, substituindo por uma beleza tão sobre-humana, que é difícil não olhá-la.
— Você sabe, antes de você chegar, em uma de suas... encarnações anteriores, eu era seu único e verdadeiro amor. Mas então você apareceu e tentou roubá-lo, e desde então tem sido sempre o mesmo ciclo — ela caminha até mim, cada passo silencioso, rápido, até estar em pé na minha frente e não tive tempo de reagir. — Mas agora vou trazê-lo de volta. E ele sempre volta, Dulce, isto é bem claro.
Eu alcanço a tábua de corte de bambu, pensando que posso atingi-la na cabeça, mas ela me pega tão rápido que me lança contra a geladeira, o golpe em minha espinha rouba minha respiração enquanto caio no chão. Escutando a batida em minha cabeça abrindo-se quando esbarra contra o chão enquanto uma quente linha de sangue flui de meu crânio e minha boca.
E antes que eu pudesse me mover ou fazer algo para combatê-la, ela já está em cima de mim cortando minha roupa, meu cabelo, meu rosto, sussurrando ao meu ouvido:
— Apenas desista, Dulce. Apenas relaxe e vá. Vá se juntar a sua família feliz, eles estão esperando para ver você. Você não é feita para esta vida. Você não tem nada pelo que viver. E agora é sua chance de deixá-la.