gabriellemarinho: Continuando.
Saio pela porta a toda velocidade e entro no beco, olhando ao redor do espaço vazio enquanto meus olhos se acostumam com a escuridão, por uma fileira de latas de lixo, vidros quebrados e um gato vira-lata faminto, mas nada de Christopher.
Chego mais perto, meus olhos buscando implacavelmente enquanto meu coração bate tão rápido que temo que vá romper meu peito. Me nego a acreditar que ele não está aqui. Me nego a acreditar que ele me abandonou. Alfonso é terrível! Ele está mentindo! Christopher jamais me deixaria assim.
Meus dedos traçam a parede de tijolos, buscando orientação. Fecho meus olhos e tento sintonizar a energia dele, chamando-o através de uma mensagem telepática de amor, necessidade e preocupação. Mas o único que consigo como resposta é um vazio negro. Então, vagueio entre os carros em direção à saída, com o celular pressionado contra meu ouvido enquanto olho pelas janelas, deixando uma série de mensagens em seu correio de voz.
Mesmo quando quebro o salto da minha sandália direita, eu só o atiro de lado e continuo andando. Não me importa meus sapatos. Posso fazer mais de cem pares.
Mas não posso fazer outro Christopher.
Enquanto o estacionamento se esvazia lentamente, e ainda seguindo sem sinal dele, me desmorono na calçada me sentindo suada, exausta e desanimada, enquanto observo como os cortes e calos de meus pés se curarem simultaneamente e desejando poder fechar meus olhos, ter acesso a sua mente e poder ler seus pensamentos e saber seu paradeiro.
Mas a verdade é que nunca fui capaz de entrar na sua cabeça. É uma das coisas que mais gosto nele. Ser tão mentalmente fora dos limites me fez sentir normal. Quem diria que uma coisa que uma vez foi tão atraente é a mesma que agora está contra mim.
— Precisa de uma carona?
Levanto o olhar e me encontro com Alfonso parado sobre mim, fazendo barulho com as suas chaves com uma mão e com a outra mantendo minhas sandálias.
Balanço a cabeça e olho para outra parte, sabendo que não estou em posição de negar uma carona, embora preferisse me arrastar por um caminho de carvão quente e vidros quebrados em vez de me meter com ele em um carro para dois.
— Vamos — ele disse. — Prometo não morder.
Recolho minhas coisas, atiro meu celular dentro da minha bolsa e aliso meu vestido enquanto levanto e digo:
— Estou bem.
— Sério? — Ele sorri, aproximando-se tanto que as pontas dos nossos pés quase se tocam. — Porque, honestamente, não parece tão bem.
Dou a volta e me dirijo para a saída, sem me preocupar em me parar quando ele diz:
— Me referia à situação que não está muito boa. Quer dizer, olhe pra você Dulce, está despenteada, descalça e embora eu possa não estar muito certo, parece que seu namorado te deixou plantada.
Respiro profundamente e sigo caminhando desejando que ele logo se canse desse jogo, se canse de mim e vá embora.
— E mesmo assim, inclusive nesse frenético e desesperado estado, devo admitir que continua sendo sexy, se não se incomode que lhe diga.
Paro de repente, e viro para encará-lo, a pesar do que me propus seguir em movimento. Envergonhando-me enquanto seus olhos percorrem lentamente todo meu corpo, parando em minhas pernas, minha cintura e meu peito, com uma malicia inconfundível.
— O que faz Christopher pensar, porque se me perguntasse...
— Não te perguntou nada — lhe digo, sentindo que minhas mãos estão começando a tremer e me recordo que estou completamente no comando; que não tenho nenhuma razão para me sentir ameaçada. Que mesmo pareça com a clássica garota indefesa, sou tudo menos isso. Sou mais forte do que podia ser, tão forte que realmente se quisesse poderia derrubá-lo com um só golpe. Poderia agarrá-lo por seus pés e atirá-lo através do estacionamento para o outro lado da rua. E nem pense eu não estou tentada a provar isso.
Ele sorri com esse sorriso despreocupado que convence a todos menos a mim e seus férreos olhos azuis olham diretamente nos meus de uma maneira tão conhecedora, tão pessoal e divertida, que meu primeiro impulso é fugir.
Mas não faço.
Porque tudo sobre ele parece como um desafio e de nenhuma maneira vou deixar que ele ganhe.
— Eu não preciso de carona — digo finalmente, virando para seguir caminhando e sentindo um calafrio
quando ele está justamente atrás de mim. Sua respiração fria em minha nuca, dizendo:
— Dulce, por favor, pare um minuto, Sim? Não queria fazê-la se sentir mal.
Mas eu não paro, sigo caminhando. Determinada a colocar entre nós toda a distância que posso.
— Vamos venha aqui. — Ele ri. — Só estou tentando ajudá-la. Todos os seus amigos já foram, Christopher te largou, a equipe de limpeza se foi, o que me deixa com a sua única esperança.
— Tenho bastantes opções — digo entre os dentes, desejando que ele fosse de uma vez para poder tentar manifestar um carro, sapatos e segui meu caminho.
— Nenhuma que eu possa ver.
Eu balanço minha cabeça e sigo caminhando. Esta conversa terminou.
— Então você prefere caminhar todo o trajeto até sua casa ao invés de ir comigo no carro?
Alcanço o final da rua e pressiono o botão de pedestre uma e outra vez, desejando que a luz mude para verde para poder chegar do outro lado e me livrar dele.
— Não sei a que se deve todo esse mau começo, mas é claro que me odeia e não tenho ideia do por que.
— Sua voz suave e tentadora, como se na verdade quisesse que voltássemos a começar de novo e fazer as pazes; apague e criar nova conta e essas coisas.
Mas não quero começar de novo. Não quero fazer as pazes. E só quero que ele vá embora para outro lugar e me deixe em paz para poder encontrar Christopher.
Mas mesmo assim, não posso deixá-lo ir. Não posso deixar que ele tenha a última palavra. Então olho sobre meus ombros e digo:
— Não se vanglorie tanto Alfonso. Você teria que ter importância. Nesse caso, eu não poderia odiá-lo.
Logo, embora a luz ainda não tivesse mudado para verde, começo a atravessar a rua, bailando ao redor de vários carros que aceleram antes que a luz amarela se torne vermelha e sentindo o frio insistente de seu olhar.
— E seus sapatos? — Ele grita. — É uma pena que você os deixe assim. Estou certo de que o salto pode ser consertado.
Mas eu apenas sigo caminhando. Vendo como ele faz uma profunda reverência, fazendo um exagerado arco com sua mão e minhas sandálias penduradas na ponta de seus dedos. E seu sorriso todo compassado me persegue através da avenida e na rua.