tatyellevondy: Kkkk, psé, Continuando :)
Até a hora que eu chego à mesa do almoço Anahi e Christian já estão prontos. Eu vejo Christopher sentado ao lado deles, e eu estou tentada a fugir.
— Você é livre para se juntar a nós, mas só se você prometer não encarar o garoto novo. — Christian ri. — Encarar é muito rude. Ninguém te disse isso?
Eu viro meus olhos e deslizo para o banco ao lado dele, determinada a mostrar o quão indiferente eu sou sobre a presença de Christopher.
— Eu fui criada por lobos, o que posso dizer? — Eu dou de ombros, me ocupando com o zíper da minha mochila de almoço.
— Eu fui criado por uma drag queen e um novelista de romance — Christian diz, se esticando para roubar um pedaço do bolo pré-hallowen de Anahi.
— Desculpe, esse não foi você. Querido, foi o Chandler de Friends. — Anahi ri. — Eu, por outro lado, fui criado por um bando de vampiros. Eu era uma linda princesa vampira, amada, adorada, e admirada por todos. Eu vivia em um luxuoso castelo gótico, e eu não faço ideia de como acabei nessa odiosa mesa de fibra de vidro com vocês perdedores. — Ela acena para Christopher. — E você?
Ele toma um cole de sua bebida, um liquido vermelho iridescente em uma garrafa de vidro, então ele olha para nós três e diz:
— Itália, França, Inglaterra, Espanha, Bulgária, Nova Iorque, Nova Orleans, Oregon, Índia, Novo México, Egito, e alguns outros lugares. — Ele sorri.
— Você consegue dizer “pirralho militar?” — Anahi ri, pegando uma bala de milho e jogando para Christian.
— Dulce viveu em Oregon — Christian diz, colocando a bala no centro da língua antes de engoli-la com um gole de VitaminWater.
— Portaland. — Christopher acena.
Christian ri.
— Não é uma pergunta, mas beleza. O que eu quero dizer é que nossa amiga Dulce aqui, bem, ela viveu em Oregon — ele diz, fazendo Anahi dar um olhar afiado, que, mesmo depois do meu comentário de mais cedo, ainda me vê como o maior obstáculo no caminho dela para o amor verdadeiro, e não aprecia nenhuma atenção sendo dirigida para mim.
Christopher sorri, os olhos deles nos meus.
— Onde?
— Eugene — eu murmuro, me focando no meu sanduíche ao invés dele, porque como na sala de aula, toda vez que ele fala é o único som que eu ouço.
E toda vez que nossos olhos se encontram eu fico quente.
E quando o pé dele só bateu contra o meu, meu corpo inteiro formigou.
E isso está realmente começando a me assustar.
— Como você acabou aqui? — Ele se inclina para frente, estimulando Anahi a ficar ainda mais perto dele.
Eu encaro a mesa, pressionando meus lábios juntos em meu hábito nervoso. Eu não quero falar sobre minha antiga vida. Eu não vejo o ponto em reviver os detalhes. Ou ter que explicar como embora seja completamente minha culpa minha família inteira ter morrido, eu de alguma forma consegui viver. Então no fim eu acabo só tirando a casca do meu sanduíche, e digo:
— É uma longa história.
Eu posso sentir o olhar de Christopher – quente, pesado, e convidativo – e me deixa tão nervosa que minhas palmas começam a suar e minha garrafa de água desliza do meu aperto. Caindo tão rápido, que eu não posso impedir, tudo que eu posso fazer é esperar que ela caía.
Mas antes de sequer bater na mesa, Christopher já a pegou e devolveu para mim. E eu fico sentada ali, encarando a garrafa e evitando o olhar dele, me pergunto se eu sou a única que notou como ele se moveu tão rápido que chegou a ser um borrão.
Então Christian pergunta sobre Nova Iorque, e Anahi fica tão perto dele que ela praticamente está sentada no colo da Christopher, e eu respiro fundo, termino meu almoço, e me convenço de que eu imaginei.
Quando o sino finalmente toca, todos pegamos nossas coisas e vamos para nossas aulas, e no segundo que Christopher está fora de alcance para ouvir eu viro para meus amigos e digo:
— Como ele acabou na nossa mesa? — Então eu me encolhi percebendo que minha voz soa estridente e acusatória.
— Ele queria sentar na sombra, então oferecemos a ele um lugar. — Christian dá de ombros, depositando sua garrafa na lata de lixo reciclável e nos guiando em direção ao prédio. — Nada sinistro, nem uma trama maligna para envergonhar você.
— Bem, eu poderia ter me saído bem, sem aquele comentário sobre encarar — eu digo, sabendo que eu estou soando ridícula e muito sensível. Não estou disposta a revelar o que realmente estou pensando, sem querer chatear meus amigos com uma pergunta muito valida, e nada gentil: Porque um cara como Christian está andando com a gente?
Sério. De todos os garotos dessa escola, todas as facções que ele poderia se juntar, porque diabos ele escolher sentar com a gente – os três maiores deslocados?
— Relaxe, ele achou engraçado. — Christian da nos ombros. — Além do mais, ele vai na sua casa hoje a noite. Eu disse a ele parar passar lá perto das oito.
— Você o que? — Eu olho para ele, de repente lembrando de como no almoço todo Anahi estava pensando sobre o que ia usar, enquanto Christian se perguntava se ele tinha uma lata de spray, e agora tudo faz sentido.
— Bem, aparentemente Christopher odeia futebol tanto quanto nós, o que ficamos sabendo durante o pequeno Q e A de Anahi, que aconteceu logo antes de você chegar. — Anahi sorri e faz uma reverência, os joelhos cobertos dela se curvando para os dois lados.
— E já que ele é novo, e não conhece mais ninguém, achamos melhor pegar ele antes que ele faça outros amigos.
— Mas — eu paro, sem saber como continuar. Tudo que eu sei é que eu não quero que Christopher vá para minha casa, nem hoje à noite, nem nunca.
— Eu apareço perto das oito — Anahi diz. — Minha reunião termina pelas sete, o que me dá tempo o bastante para ir para casa e me trocar. E, além do mais, eu reivindico o lugar ao lado da Christopher na Jacuzzi!
— Você não pode fazer isso! — Christian diz, balançando a cabeça, ultrajado. — Eu não vou permitir!
Mas ela apenas acena sobre o ombro enquanto vai para a aula, e eu viro para Christian e pergunto:
— Qual reunião é hoje?
Ele abre a porta da sala e sorri.
— Sexta para os comilões.
Anahi é o que você chama de viciada em grupos anônimos. No pouco tempo que eu a conheço, ela foi a reuniões com 12 passos para alcoólicos, narcóticos, dependente de sexo, devedores, jogadores, viciados em internet, viciados em nicotina, pessoas com medo de vida social, pessoas viciadas em andar em grupos, e amantes de vulgaridades. Embora até onde eu saiba, hoje é a primeira vez que ela vai aos viciados em comida. Mas de novo, supermagra, corpo pequeno de uma bailarina de caixa de música, Anahi definitivamente não é uma comilona. Ela também não é uma alcoólatra, não está endividada, não é uma jogadora, ou nenhuma dessas coisas. Ela só é eternamente ignorada por seus pais egoístas, o que faz ela procurar amor e aprovação de praticamente qualquer lugar que ela conseguir.
Como esse negocio de ser gótica. Não é que ela realmente goste disso, o que é bem óbvio pelo jeito que ela que ela sempre pula ao invés de se esquivar, e como os pôsteres dela da Joy Division estão pendurados nas paredes rosa da fase-não-tão-distante de bailarina dela -que veio logo depois da fase de catálogos de J. Crew-.
Anahi acabou de aprender que o jeito mais rápido de se destacar entre um bando de loiras usando Juicy é se vestir como uma princesa da escuridão.
Só que não está funcionando tão bem quanto ela esperava. Da primeira vez que a mãe dela a viu vestida desse jeito, ela só suspirou, pegou suas chaves, e foi para aula de Pilates. E o pai dela não fica em casa tempo o bastante para realmente olhar bem. O irmão menor dela, Austin, ficou apavorado, mas ele se ajustou rapidamente. E já que a maioria do pessoal da escola cresceu acostumado com comportamentos horríveis trazidos pela presença das câmeras da MTV ano passado, eles normalmente a ignoram.
Mas acontece que eu sei o que está por trás dos crânios, dos espinhos, e maquiagem de roqueira morte, é apenas uma garota que quer ser vista, ouvida, amada, e que prestem atenção nela – algo que as encarnações mais recentes dela falharam em conseguir. Então ficar numa sala cheia de pessoas, criando uma história triste sobre a atormentadora luta com vários vícios faz ela se sentir importante, então, quem sou eu para julgar?
Na minha antiga vida eu não andava com pessoas como Christian e Anahi. Eu não estava conectada com os garotos problemáticos, ou os estranhos, ou os garotos que eram zombados.
Eu era parte da galera popular, onde a maior parte de nós é bonito, atlético, talentoso, inteligente, saudável, bem querido, ou todas as opções acima. Eu ia para os bailes da escola, tinha uma melhor amiga chamada Rachel -que também era líder de torcida como eu-, e eu tinha um namorado, Brandon, que é o sexto garoto que eu já beijei -o primeiro foi Lucas, mas isso foi só por causa de um desafio na sexta série, e confie em mim, os outros nem valem a pena ser mencionados-. E embora eu nunca tenha sido maldosa com ninguém que não fosse parte do nosso grupo, não é como se eu realmente tenha notado eles. Aqueles garotos não tinham nada a ver comigo. Então eu agia como se eles fossem invisíveis.
Mas agora, eu também não era vista. Eu soube no dia que Rachel e Brandon me visitaram no hospital. Eles foram tão gentis e me deram tanto suporte externamente, enquanto dentro deles, seus pensamentos me diziam outra história. Eles estavam apavorados com as pequenas bolsas de plástico colocando líquido em minhas veias, meus cortes e machucados, e os gessos cobrindo meus membros. Eles se sentiam mal pelo que tinha acontecido, por tudo que eu perdi, mas enquanto eles tentavam não olhar minha gigante cicatriz vermelha na minha testa, o que eles realmente queriam fazer era fugir.
E eu observei enquanto a aura deles se ligava, se misturando no mesmo marrom, sabendo que eles estavam se afastando de mim, e se aproximando.
Então no meu primeiro dia na Bay View, ao invés de perder meu tempo com os rituais normais do grupo de Stacia e Honor, eu fui direto para Christian e Anahi, os dois excluídos que aceitaram minha amizade sem fazer perguntas. E embora nós provavelmente parecêssemos bem estranhos do lado de fora, a verdade é que, eu não sei o que faria sem eles. Ter a amizade dele é uma das poucas coisas boas na minha vida. Ter a amizade deles me faz sentir quase normal de novo.
E é por isso que eu preciso ficar longe de Christopher. Porque a habilidade dele de carregar minha pele seu toque, e silenciar o mundo com sua voz é uma perigosa tentação que eu não posso permitir.
Eu não vou arriscar ferir minha amizade com Anahi.
E eu não posso arriscar me aproximar demais.