O segui. Não tenho vergonha de admitir isso. Eu tinha que fazer. Ele não me deixou
alternativas. Quero dizer, se Christopher insiste em me evitar, então vigiá-lo é minha única opção.
Então o segui quando deixou a aula de Inglês, o esperei depois do segundo período... O
terceiro período e o quarto também. Fiquei atrás observando de longe, desejando ter aceitado
quando ele propôs se transferir para todas as minhas aulas, como ele inicialmente queria, mas
me pareceu muito assustador, também co-dependente, então não o deixei. Agora me vejo
forçada a ficar fora da aula, escutando suas conversas assim como também os pensamentos...
Pensamentos que, horrivelmente, são lamentavelmente, vazios, narcisistas, e superficiais.
Mas esse não é o verdadeiro Christopher. Disso estou convencida. Não que eu ache que seja um
Christopher manifestado porque esses nunca duram mais que alguns minutos. O que quero dizer é
que, algo aconteceu com ele. Algo sério fazendo-o agir e pensar como... Bem, como a maioria
dos garotos desta escola. Porque embora eu nunca tivesse acesso a sua mente até agora, eu
sei que ele não pensava assim antes. Ele não agia dessa forma também. Não, esse novo Christopher
é como uma total nova criatura, onde só o exterior é familiar... Enquanto que o interior é
totalmente diferente.
Me dirijo até a mesa do almoço, tomando coragem pelo o que posso chegar a encontrar,
embora não é até que abro meu pacote de almoço e lustro a minha maçã na minha manga,
que percebo que o verdadeiro motivo porque estou sozinha não é porque cheguei adiantada.
É porque todo mundo me abandonou também.
Levanto o olhar, escutando a risada familiar de Christopher, só para vê-lo rodeado por Stacia,
Honor e Craig, com todo o grupo de populares. Que não seria tão surpreendente pela maneira
como as coisas estão indo, exceto pelo fato de que Christian e Anahi estão lá também. E
enquanto meus olhos varrem ao longo da mesa, deixo cair a maçã e minha boca fica seca
quando vejo que todos na mesa estão juntos agora.
Os leões estão almoçando com os cordeiros.
O que significa que a premonição de Poncho se tornou realidade.
O sistema de castas na hora do almoço na escola Bay View chegou ao fim.
-Então, o que acha?
Disse Poncho, deslizando-se no banco à minha frente, prendendo seu
polegar sobre seus ombros enquanto um sorriso alargava suas bochechas.
-Desculpe por cair assim de surpresa, mas te vi admirando meu trabalho, então pensei em parar para conversar. Você está bem?
Ele se inclina pra mim, seu rosto aparentemente preocupado, embora felizmente não sou tão estúpida para acreditar nele.
Encontro seus olhos, determinada a mantê-los tanto quanto posso. Sentindo que ele é o
responsável pelo comportamento de Christopher, de Christian e Anahi terem se afastado, e de toda a
escola está vivendo em harmonia e paz... Mas não tenho evidência para provar. Quero dizer,
para todos os outros ele é um herói, um verdadeiro Che Guevara, um revolucionário da hora
do almoço.
Mas pra mim é uma ameaça.
-Então eu presumo que você chegou em casa em segurança?
Ele pergunta, tomando um pouco de refrigerante embora seus olhos estejam seguindo os meus.
Dirijo meu olhar a Christian, observando como ele disse algo a Craig que fez ambos rirem, depois
olho para Anahi, vendo como se aproxima de Honor, sussurrando algo em seu ouvido.
Mas não olho para Christopher.
Recuso-me a vê-lo olhar para Stacia, colocar sua mão nos joelhos dela, e provocá-la com seu
melhor sorriso enquanto seus dedos viajam por sua coxa...
Já vi o suficiente disso na aula de inglês. Além do mais, tenho certeza que tudo isso são só as
preliminares – o primeiro passo para as coisas horríveis que vi na cabeça de Stacia. A visão me
fez tão mal que deixei cair um rack inteiro de sutiãs em meu pânico. E mesmo assim, no
momento em que me coloquei de pé, estava certa de que ela tinha feito de propósito, nunca
considerando como uma espécie de profecia. E embora siga pensando que ela criou apenas
por maldade, e estarem justos é apenas mera coincidência, tenho que admitir que é bastante
preocupante ver como se torna realidade.
Mas mesmo quando me recuso a olhá-lo, tento escutar – esperando escutar algo pertinente,
alguma informação vital. Mas justo quando tento de me concentrar e prestar atenção para
tentar sintonizar, me encontro com um grande muro de som, todas essas vozes e
pensamentos juntos, tornando-se impossível distinguir algum som em particular.
-Você sabe, sexta à noite?
Poncho continua, seus longos dedos tamborilando os lados da sua lata, recusando-se a sair da linha de questionamento, mesmo quando me recuso a participar.
-Quando eu encontrei você sozinha? Tenho que te dizer Dulce, me senti horrível por te deixar
assim, mas novamente, você insistiu.
Olho pra ele de relance, desinteressada de participar desse jogo, mas pensando que se eu
responder suas perguntas, talvez ele vá embora.
-Cheguei em casa bem, obrigada pela preocupação.
Ele sorri, um sorriso que certamente faz um milhões de corações pararem, mas para mim só dá
calafrios. Então ele se inclina e diz:
-Ah, agora olha isso, você está sendo sarcástica, não é?
Dou de ombros e olho pra minha maçã, fazendo a gira pela mesa.
-Só queria que me dissesse o que fiz pra você me odiar tanto. Estou certo que deve haver uma maneira de encontrar uma solução pacífica, alguma forma de solucionar isso.
Pressiono meus lábios e olho fixamente para minha maçã, fazendo-a girar sobre seu lado enquanto empurro fortemente contra a mesa, sentindo como a carne se abranda e como a pele começa a se romper.
-Deixe-me te levar para jantar.
Ele disse, seus olhos azuis fixados nos meus.
-O que me diz? Um correto e adequado encontro. Só nós dois. Lavo o carro, compro roupa nova, faço uma reserva em algum lugar lindo – uma boa estadia garantida!
Balanço a cabeça e reviro olhos, a única resposta que estou disposta a dar. Mas Poncho continua, recusando-se a se dar por vencido.
-Ah, vamos Dulce. Dê a esse garoto uma oportunidade de mudar a sua opinião. Você pode optar por sair a qualquer momento, palavra de escoteiro. Você sabe, se algum momento você decidir que as coisas se desviaram muito longe de seu nível de conforto, é só gritar a palavra de segurança, e todas as atividades
cessarão, e nenhum dos dois voltará a falar no tema.
Ele empurra o refrigerante de um lado e desliza as mãos em minha direção, a ponta dos dedos tão próximos, eu afasto os meus.
-Vamos lá, me deixa te levar um pouco, sim? Como você pode dizer não a uma oferta como
essa?
Sua voz é profunda e persuasiva, seu olhar no meu, mas eu só continuo rodando minha maçã, observando como a pela de desprende.
-Prometo que não vai ser nada como aquele encontro de latas de lixo que aquele babaca do Christopher provavelmente te levou. Além do mais, eu nunca deixaria uma garota tão linda como
você se virar sozinha, em um estacionamento.
Ele me olha, um sorriso brincando em seus lábios quando diz:
-Bem, suponho que deixe uma garota linda como você cuidando de se mesma, mas só porque estava honrando o seu pedido. Vê? Já tenho provado que estou ao seu serviço, disposto a saltar ao seu comando.
-O que há com você?
Digo finalmente, olhando para aqueles olhos azuis sem vacilar ou desviar o olhar. Desejando que me deixe em paz e que volte para a única outra mesa do almoço no colégio, a que todos são bem-vindos menos eu.
-Quero dizer, você tem que agradar todo mundo? É isso? E se esse é o caso, não acha que é um pouco inseguro de sua parte?
Ele ri. E me refiro a um verdadeiro tapa na coxa de tanto rir. E quando ele finalmente se acalma, balança a cabeça e diz:
-Bem não, não todo mundo. Embora tenha que admitir que geralmente seja assim.
Ele se inclina pra mim, seu rosto só a centímetros do meu.
-O que posso dizer? Sou um cara simpático. A maioria das pessoas me acha muito charmoso.
Balanço a cabeça e olho para longe, cansada de que jogue comigo e querendo colocar fim nisso.
-Bem, sinto ter que dizer isso, mas temo você terá que me colocar entre as poucas pessoas que não são nenhum pouco encantadas com você. Mas, por favor, faça-nos um favor e tente não ver isso como um desafio e tentar mudar minha opinião. Porque você não volta para sua mesa e me deixa em paz? Quero dizer, por que juntar todo mundo se não pretende desfrutar de toda a diversão?
Ele olha pra mim, sorrindo e balançando a cabeça enquanto se desliza para sair do banco, seus
olhos nos meus quanto diz:
-Dulce, você é loucamente quente. De verdade. E se eu não soubesse melhor, pensaria que você está me deixando louco de propósito.
Reviro os olhos e desvio o olhar.
-Mas não querendo ficar mais do que o devido e reconhecendo os sinais quando alguém está te dando o fora, acho que simplesmente vou...
Ele aponta com um dedo para a mesa onde toda a escola está sentada.
-Embora, evidentemente, se você mudar de idéia e quiser me acompanhar, tenho certeza de que posso convencê-los de te ceder um lugar.
Balanço a cabeça e faço um gesto para ele ir, minha garganta quente e apertada, incapaz de falar, sabendo que, apesar de todas as aparências, eu ainda não ganhei uma vez – na verdade, nem sequer estive próxima.
-Ah, e achei que poderia querer isso.
Ele diz, colocando meus sapatos de tira com pele falsa de cobra sobre a mesa, como se eles fossem algum tipo de oferta de paz.
-Mas não se preocupe, não tem por que me agradecer.
Ele ri, olhando por cima do ombro ao dizer:
-Você pode querer ir com calma com essa maçã, está dando uma boa surra nela.
Pressiono mais forte, vendo como ele vai direto para Anahi, trilha com um dedo ao longo de
seu pescoço e pressiona seus lábios na orelha dela. Fazendo-me apertar a maçã tão forte que
explode na minha mão, seu pegajoso suco escorrendo por meus dedos e no meu pulso, enquanto Poncho olha por cima e sorri.