Quando eu cheguei na aula de artes, eu fui direto para os armários, coloquei meu casaco, peguei meus materiais, e estava voltando para o meu lugar quando eu vi Christopher parado na porta da sala, com um olhar estranho no rosto.
Um olhar que, enquanto possa ser estranho, eu senti um pouco de esperança, os olhos dele estavam vagos, a mandíbula relaxada, e ele parecia perdido e inseguro. Como se ele pudesse precisar da minha ajuda.
Sabendo que eu preciso aproveitar o momento, enquanto ele está ali, com o queixo caído, eu me inclino em direção a ele, tocando gentilmente o seu braço e digo:
-Damen?
Minha voz tremula e áspera, como se fosse a primeira vez que eu a usava o dia inteiro
-Damen, querido, você esta bem?
Meus olhos focados neles, uma luta contra o impulso de pressionar meus lábios rígidos sobre os dele.
Ele me olhou, um flash de reconhecimento que logo se juntou a gentileza, desejo e amor. Eu estiquei meus dedos em direção ao seu rosto, lagrimas tomaram o meu rosto, a sua áurea marrom avermelhada se dissipou e eu pensei – ele é meu outra vez. Então...
-Hey hey, se mexendo se mexendo, vocês estão trancando o tráfego aqui
E então, o velho Christopher se foi e o novo Christopher voltou. Ele se afastou de mim, sua áurea queimando, ele mostrou repulsa pelo meu toque, eu me encostei na parede, chorando quando Poncho me seguiu e “acidentalmente” esfregou seu corpo contra o meu.
-Eu sinto muito.
Ele sorriu, seus olhos brilhando.
Eu fechei meus olhos, e me apoiei na parede como suporte. Minha cabeça estava como um redemoinho de euforia, de sua brilhosa e ensolarada áurea – sua intensa, expansiva, otimista energia - lavando a energia através de mim, invadindo minha cabeça com imagens de esperança, tão amigáveis, tão inofensivas, elas me fizeram sentir vergonha – vergonha pelas minhas suspeitas – vergonha por ser tão desgostosa. E ainda assim – tinha alguma coisa errada sobre isso. A maioria das mentes são uma mistura de batidas, uma torrente de palavras, um turbilhão de imagens, uma cacofonia de sons todos caindo junto como o jazz mais desarticulado.
Mais a mente de Poncho é ordenada, organizada, um pensamento que flui de maneira limpa atrás do outro. Fazendo isso parecer forçado, não natural, como se percorresse um script -
-Olhe pra você querida, parece que foi quase tão bom pra você como foi para mim. Você tem certeza que não vai mudar de idéia quanto a sair comigo?
Sua respiração pressionou minha bochecha, os seus lábios estavam tão perto que eu imaginei que ele tentaria me beijar. Eu estava pronta para empurrar ele para longe, quando Christopher apareceu e disse:
-Cara, sério o que você está fazendo? Essa esquisita* não vale o seu tempo.
( * no original ele fala Spaz, que significa alguém totalmente idiota ou retardado mental, desajeitado, inepto...)
"Essa esquisita não vale o seu tempo. Essa esquisita não vale o seu tempo. Essa esquisita não vale o seu tempo. Essa esquisita não vale o seu tempo. Essa esquisita não"
-Dulce, você cresceu?
Eu olho para cima para encontrar Sabine parada ao meu lado, segurando um prato recém lavado, pela máquina de lavar louça, quero dizer. E só depois de eu piscar algumas vezes, eu lembrei que é o meu trabalho colocá-los lá.
-Desculpa, o que?
Eu perguntei, meu dedos pegando a porcelana molhada de sabão, quando eu a coloquei no apoio da lavadeira. Incapaz de pensar em alguma coisa exceto Christopher, e as suas palavras maldosas que eu usei para me torturar, de novo e de novo.
-Parece que você cresceu. Na verdade, eu tenho certeza disso – hey, essas não são as calças que eu lhe comprei?
Eu olhei para baixo, para os meus pés, até que eu percebi que haviam vários centímetros de tornozelos expostos. O que é ainda mais bizarro porque eu lembro que a bainha estava arrastando no chão esta manhã.
-Um… talvez.
Eu menti, sabendo que nós duas sabíamos que era a calça.
Ela piscou os olhos e balançou a cabeça quando disse
-Eu tinha certeza que elas eram do tamanho certo, parece que você está passando por um surto de crescimento.
Ela deu de ombros.
-Mais então, você tem apenas 16 anos, acho que não é tão tarde.
Apenas 16, mais Christopher completou 17. Eu pensava muito no dia em que eu completasse 18, me formar e sair por mim mesma, então eu posso ficar sozinha com os meus segredos estranhos e Sabine pode voltar para sua vida regular e programada. Sem ter idéia de como um dia eu iria paga-la pela gentileza, e agora adicionando a isso, um par de calças caras a conta.
-Eu parei de crescer aos 15, mais parece que você vai terminar um pouco mais alta que eu.
Ela sorriu, segurando um punhado de colheres.
Eu sorri um pouco, imaginado a quão alta eu vou ficar, e esperando não me tornar uma aberração do “Acredite ou não”. Sabendo que crescer 3 centímetros no decorrer de um dia não é um surto de crescimento – não por um tiro longo.
Mais agora que ela falou isso, eu notei que minhas unhas começaram a crescer tão rápido que eu tenho que cortá-las quase todos os dias, e que a minha franja já passou do meu queixo, embora eu tenha a tenha cortado há duas semanas. Isso sem mencionar que o azul dos meus olhos está se aprofundando, enquanto os meus dentes da frente que eram um pouco curvados, se endireitaram sozinhos. E não importa o quanto eu abuse, o quão raramente eu limpe, minha pele continua limpa, sem poros completamente livre de defeitos.
E agora eu cresci 3 centímetros desde o café da manhã?
Obviamente isso só pode ser efeito de uma coisa – o suco imortal que eu andei bebendo. Eu quero dizer, mesmo que eu só tenha sido imortal por no máximo meio ano, nada mudou realmente (bem, apenas minha cura instantânea) antes de eu começar a beber. Mais agora eu tenho, é como se minhas habilidades físicas de repente se ampliaram e melhoraram, enquanto as mais medíocres são totalmente melhoradas.
E enquanto parte de mim se sente empolgada pela perspectiva e curiosa com o que vais está por vir, a outra só percebeu que eu estou desenvolvendo capacidades imortais, bem na hora de passar o resto da eternidade sozinha.
-Deve ser aquele suco que você anda tomando.
Sabine riu
-Talvez eu deva tentar. Eu não me importaria em arrombar portas sem os saltos altos.
-NÃO!
Eu digo, as palavras passando pelos meus lábios antes que eu possa parar eles, sabendo que isso só vai aumentar o seu interesse.
Ela me olhou, enrugando a testa, apertando a esponja na mão.
-Eu quero dizer, eu tenho certeza que você não vai gostar. Na verdade, você vai odiar. Sério, tem um gosto estranho.
Eu balanço a cabeça, tentando parecer casual, não querendo que ela saiba que por dentro eu estou totalmente assustada.
-Bom, eu não vou saber até eu provar, certo?
Ela falou, seus olhos continuavam em mim.
-Aonde você consegue isso de qualquer jeito? Eu não lembro de ter visto nas lojas, e eu nunca vi uma marca nisso. Como isso se chama mesmo?
-Eu pego com o Christopher.
Eu disse, gostando da sensação do seu nome nos meus lábios, mesmo sabendo que não vai haver nada para preencher o vazio da sua ausência.
-Bom, peça para ele pegar um pouco para mim também, certo?
E no momento em que ela disse isso, eu sei que isso não é apenas sobre o suco. Ela está tentando me pegar, para explicar a ausência de Christopher no sábado a noite, e a sua ausência desde então.
Eu fechei a lava louças e me virei. Fingindo limpar o contador que já está limpo, evitando os seus olhos eu digo:
-Bom, eu não posso realmente fazer isso porque… a gente hum… nós meio que estamos dando um tempo.
Minha voz quebrando no jeito mais embaraçoso.
Ela chegou para mim, querendo me abraçar, me confortar e dizer que vai ficar tudo bem. E mesmo com as minhas costas viradas de modo que não posso vê-la no sentido físico, eu posso vê-la na minha mente.
Então eu me mecho para o lado e saio do seu caminho.
-Oh Dulce eu sinto muito eu não sabia…
Ela disse, suas mãos penduradas desajeitadamente nos seus lados. Sem ter certeza com o que fazer com elas agora que eu me mexi. Eu balanço a cabeça, me sentindo culpada por ter minha distancia fria.
Desejando que eu pudesse de algum modo explicar que eu não posso arriscar contato físico, porque eu não posso arriscar saber os seus segredos. Isso só vai me distrair e me mostrar algumas imagens que eu não preciso ver.
Eu quero dizer, eu mal consigo segurar os meus segredos, eu não preciso dos dela adicionados a lista.
-Isso...isso foi meio que de repente.
Eu digo, sabendo que ela não vai deixar o caso de lado, até conseguir um pouco mais de mim.
-Eu quero dizer, meio que aconteceu e bom, eu não sei realmente o que dizer.
-Eu estou aqui se você precisar conversar.
-Eu não estou preparada para falar sobre isso, ainda é muito novo e eu estou tentando resolver tudo. Talvez depois…
Eu dou de ombros, esperando que depois chegar, eu esteja com Christopher e tudo isso vai estar resolvido.