Saiu do salão a toda velocidade e desço as escadas. Minha vista está tão nublada e meu coração bate tão forte, que não percebo que Romy e Rayne estão ali até que seja tarde demais quando Rayne já está jogada no chão.
-Oh, Meu Deus, eu sinto muito, eu...
Me inclino e ofereço minha mão, esperando que ela agarre para assim poder ajudá-la a colocar-se de pé. E quanto lhe pergunto várias vezes se está bem, me estremeço de vergonha quando ela ignora minha mão e faz o trabalho de se colocar de pé sozinha. Observo enquanto ela ajeita sua saia e sobe as meias e presto atenção perplexa quando seus joelhos arranhados se curam instantaneamente, porque nunca tinha considerado a possibilidade de que elas pudessem ser como eu.
-Você...Você é...?
Mas antes que possa pronunciar a palavra, Rayne move a cabeça e diz:
-Certamente não somos.
Assegurando-se de que suas meias estivessem exatamente na mesma altura.
-Nós não somos nada como você.
Ela resmunga, alisando seu blazer azul e saia xadrez. Depois ela olha a sua irmã, que é mais amável, e está movendo a cabeça.
-Rayne, por favor. Lembre-se de seus modos.
Romy franze o cenho.
Mas embora Rayne continue me olhando fulminantemente, sua voz é mais suave quando diz:
-Bem, não somos.
-Então... então você sabe o que sou?
Pergunto enquanto escuto Rayne pensar: Claro!
Enquanto Romy assente solenemente.
-E você pensa que sou mal?
Rayne revira os olhos, enquanto Romy sorri gentilmente e diz:
-Por favor, ignore a minha irmã. Nós não pensamos nada disso. Não estamos em posição de julgar.
Eu as observo, reparando na pele pálida, em seus enormes olhos escuros, na franja cortada de maneira severa, como se tivesse sido feito com uma navalha e os finos lábios. Suas características tão exagerados que parecem personagens de mangás e não posso evitar pensar o estranho que é duas pessoas serem tão idênticas por fora e tão diferentes por dentro.
-Então, nos diga o que você aprendeu.
Disse Romy sorrindo, enquanto toma a frente do caminho, assumindo que vamos segui-la, no qual fazemos.
-Encontrou as respostas que procurava?
E mais.
Fiquei sem palavras e com os olhos enormes desde que esse cristal ficou branco. Não tenho idéia do que fazer com todo esse conhecimento que me foi dado. Mas bem consciente do fato que tem o potencial de alterar não só a minha vida, mas muito possivelmente o mundo. E enquanto eu devo admitir que é bastante surpreendente para ter acesso a um conhecimento tão poderoso; a responsabilidade que vem com ele é inegavelmente enorme.
Quero dizer, o que se supunha que eu faça agora que sei? Me deram essa informação por alguma razão? Algum tipo de caráter global? Estariam esperando algo de mim e eu nem sei o que é? E se não for assim, o que é?
Sério. Por que eu? Seguramente não sou a primeira pessoa que pergunta esse tipo de pergunta. Ou eu sou?
E a única resposta convincente que imagino é que talvez de deva voltar no passado. Talvez eu esteja destinada a voltar.
Não para deter assassinado, deter guerras e basicamente mudar o curso da história; simplesmente não acredito que seja a garota adequada para esse trabalho. Mas acredito que me mostrou esta informação por uma razão, uma que leva diretamente ao que eu estive pensado durante todo esse tempo: que todo o assunto do acidente, meus poderes psíquicos e que Christopher me fazendo imortal foi tudo um terrível erro. E que, se puder voltar no tempo e impedir que o acidente aconteça então eu posso colocar tudo ao que era antes. Poderia voltar a Oregon e voltar a minha antiga vida como se está vida nunca tivesse existido. Que é o que eu tenho desejado todo o tempo.
Mas e que acontecerá com Christopher? Ele também voltará? Se isso acontecer, ele continuará com Drina até que ela se afaste para me matar e fazer com que tudo volte a ocorrer?
Estarei só retardando o inevitável? Continuará tudo igual, menos eu?
Morrerá Christopher nas mãos de Alfonso, enquanto eu estou no Oregon completamente ignorante a sua existência?
E se esse é o caso, como poderia deixar isso acontecer?
Como posso dar às costas a única pessoa que eu sempre amei de verdade?
Balanço minha cabeça e vejo que Romy e Rayne ainda estão me observando, esperando por minha resposta. Mas não tenho a menor idéia do que dizer, então fico ali parada boquiaberta como uma idiota. Pensando como, inclusive em Summerland, um lugar de amor e perfeição absoluta, continuo sendo uma total idiota.
Romy sorri, fechando seus olhos enquanto seus braços se enchem de tulipas vermelhas. Lindas tulipas vermelhas que ela prontamente me oferece.
Mas eu me recuso a pegá-las. Eu só estreito meus olhos, enquanto recuo e me afasto.
-O que você está fazendo?
As observo e minha voz é trêmula e frágil observando como elas parecem tão confusas quanto eu.
-Desculpa.
Disse Romy tentando me acalmar.
-Não estou certa do por que fiz isso. O pensamento simplesmente apareceu em minha cabeça, e então...
Eu observo como as tulipas se dissolvem em seus dedos, retornando ao lugar de onde vieram.
Mas mesmo que elas desapareçam não faria nenhuma diferença e tudo o que quero é que elas também vão embora.
-Aqui nada é privado?
Grito, sabendo que estou exagerando, mas sou incapaz de parar, porque se essas tulipas foram algum tipo de mensagem, se ela estava escutando meus pensamentos e estava tentando me persuadir de deixar o passado e ficar aqui, bem, isso definitivamente não é assunto dela. Elas podem saber tudo sobre Summerland, mas não sabem nada sobre mim e não tem nenhum direito de se meter. Elas nunca tiveram que tomar uma decisão como esta. Elas não têm idéia de como se sente ao perder todas as pessoas que você alguma vez amou.
Recuo outro passo e vejo como Rayne franze o cenho, enquanto Romy balança a cabeça e diz:
-Não escutamos nada. Honestamente. Não podemos ler todos os seus pensamentos, Dulce. Só lemos os que nos permite ver. O que quer que tenha visto nos registros Akashicos é só seu. Nós estamos só preocupadas por sua aflição. Isso é tudo. Nada mais e nada menos.
Eu entrecerro meus olhos, sem confiar nelas nem por um segundo. Elas provavelmente estiveram vasculhando em meus pensamentos todo tempo. Quero dizer, por que me dariam as tulipas? Por que manifestar uma coisa dessa?
-Eu nem mesmo estava visitando os registros akashicos, lhe digo, Aquela sala era...
faço uma pausa, engolindo com dificuldade enquanto recordo o cheiro dos brownies de minha mãe, sentindo a manta de minha avó e sabendo que posso voltar a ter tudo isso. A única coisa que tenho que fazer é esperar o dia e a hora certa para poder voltar para minha família e amigos. Eu balanço a cabeça e dou de ombros.
-Aquela sala era diferente.
O salão Akashico tem muitos rostos. Romy assente.
-Se transforma no que você precisa ser.
Ela me olha, seus olhos estudando meu rosto enquanto me diz:
-Nós só aparecemos para ajudar, não para fazê-la se sentir perturbada ou confusa.
-Então, o quê? Agora vocês são como meus anjos da guarda ou guia espiritual? Duas fadas madrinhas vestidas como colegiais?
-Não é bem assim.
Disse Romy sorrindo.
-Então quem são vocês, o que estão fazendo aqui e como é que sempre sabem como me encontrar?
Rayne me fulmina com o olhar e pega sua irmã pela manga, forçando-a a ir. Mas Romy fica imóvel, olhando-me nos olhos quando diz:
-Nós estamos aqui simplesmente para assistir e ajudar. Isso é tudo o que você precisa saber.
Eu a olho por um momento, então para sua irmã, e depois balanço a cabeça e vou embora.
Elas são deliberadamente misteriosas, muito estranhas e tenho um pressentimento muito bom, que as suas intenções não são boas.
Mesmo quando Romy me chama, eu sigo caminhando determinada a colocar certa distância entre nós enquanto me aproximo de uma mulher com cabelo castanho que está esperando do lado de fora do teatro. Uma mulher que, pelo menos de costa, se parece exatamente com Ava.