tatyellevondy: Kkkk, quem sabe né? Vamos ver gatinha, fique tranquila eu nunquinha na vida abandonaria :D
No caminho para o restaurante tudo que eu consegui pensar é em Maite, seu comentário espertinho, e quão completamente rude foi soltar isso e desaparecer. Eu quero dizer, eu tenho implorado a ela para me contar sobre nossos pais, pedindo por apenas um pouco de informação todo esse tempo. Mas ao invés de me contar o que eu preciso saber, ela fica toda inquieta, age toda cautelosa, e se recusa a explicar porque eles ainda não apareceram.
É de se imaginar que uma pessoa morta seria um pouco mais gentil, um pouco melhor. Mas Maite não. Ela é tão pirralha, mimada, e horrível quanto era quando estava viva.
Sabine deixa o carro com o motorista e nós entramos. E no momento que eu vejo o grande salão de entrada, os arranjos de flores, e a incrível vista para o oceano, eu me arrependo de tudo que eu acabei de pensar. Maite tinha razão. Esse lugar era fashion. Muito fashion. Como o tipo de lugar que você traria alguém para um encontro – e não sua sobrinha triste.
O anfitrião nos levou até uma mesa adornada com velas e sal e pimenta que parecem pequenas pedras prateadas, e quando eu tomo meu lugar e olho ao redor do salão, eu mal consigo acreditar em quão glamoroso ele é. Especialmente comparado ao tipo de restaurante que estou acostumada.
Mas assim que eu penso isso, eu me impeço. Não tem porque examinar as fotos do antes e depois, e reviver o clip de como as coisas costumavam ser. Embora, às vezes, ficar perto de Sabine torne difícil não comparar. Ela ser a gêmea do meu pai é um constante lembrete.
Ela pede vinho tinto para ela e soda para mim, então olhamos o cardápio e decidimos o que vamos comer. E no momento que o garçom desaparece, Sabine coloca seu cabelo loiro atrás da orelha, sorri educadamente, e diz:
— Então, como vai tudo? Escola? Seus amigos? Tudo bem?
Eu amo minha tia, não me entenda errado, e sou agradecida por tudo que ela fez. Mas só porque ela dá conta de um júri com 12 pessoas, não significa que ela seja boa com papo furado. Ainda sim, eu apenas olho para ela e digo:
— Yep, está tudo bem. — Ok, talvez eu fique com o papo furado também.
Ela coloca sua mão no meu braço e diz algo mais, mas antes dela sequer falar as palavras, eu já levantei e sai da minha cadeira.
— Eu já volto — eu murmuro, quase derrubando minha cadeira enquanto eu volto pelo caminho que eu vim, sem me incomodar em parar para pedir informações já que a garçonete que eu acabei de encostar olhou para mim e duvidou que fosse conseguir passar pelas portas, pelo longo corredor, a tempo.
Eu vou na direção que ela sem saber me mandou, passando por um corredor de espelhos – gigantes espelhos emoldurados, todos alinhados em uma fileira. E já que é sexta, o hotel está cheio de hóspedes para um casamento que, pelo que eu posso ver, nunca deveria acontecer.
Um grupo de pessoas passa por mim, a aura deles brilhando com uma energia abastecida de álcool que é tão forte que está me afetando também, me deixando tonta, nauseada, e com a cabeça tão avoada que quando eu olho para os espelhos, eu vejo uma longa cadeia de Christophers me olhando.
Eu tropeço para dentro do banheiro, agarro o balcão de mármore, e luto para recuperar o fôlego. Forçando-me a me focar no vaso de orquídeas, nos cremes perfumados, e na pilha de toalhas que estão numa grande bandeja de porcelana, eu começo a ficar mais calma, mais centrada, mais contida.
Eu acho que me acostumei tanto com toda essa energia aleatória que eu encontro onde quer que eu vá, que eu esqueci o quão cansativa ela pode ser, quando minhas defesas estão baixas, e meu Ipod está em casa. Mas o choque eu recebi quando Sabine colocou sua mão na minha estava cheio com tanta solidão, tanta tristeza contida, que pareceu um soco no estômago.
Especialmente quando eu percebi que a culpada sou eu.
Sabine é solitária em um jeito que eu tento ignorar. Porque embora a gente viva juntas não é como nos víssemos muito. Ela normalmente está no trabalho, eu normalmente estou na escola, e nas noites e nos finais de semana eu passo no meu quarto ou na rua com meus amigos.
Eu acho que as vezes esqueço que não sou a única com pessoas para sentir falta, que mesmo que ela tenha me acolhido e me tentando me ajudar, ela se sente tão sozinha e vazia quanto no dia em que tudo aconteceu.
Mas por mais que eu queira a tocar, por mais que queira aliviar a dor dela, eu simplesmente não posso. Estou muito danificada, muito estranha. Eu sou uma aberração que ouve pensamentos e conversa com os mortos. E eu não posso arriscar que descubram, não posso arriscar me aproximar demais, a ninguém, nem mesmo ela. O melhor que posso fazer é só passar pela escola, para que eu possa ir para faculdade, e ela possa voltar com sua vida. Talvez assim ela possa se juntar com aquele cara que trabalha no prédio dela. O que ela não conhece ainda.
Aquele cujo rosto eu vi no momento que a mão dela tocou a minha.
Eu passo minhas mãos pelo meu cabelo, reaplico um pouco de gloss, e volto para a mesa, determinada a tentar um pouco mais fazer ela se sentir melhor, sem arriscar meus segredos. E enquanto eu deslizo de volta para o meu assento, eu bebo um gole da minha bebida, e sorrio quando digo:
— Então me diga, algum caso interessante no trabalho? Algum cara bonito no prédio?
Depois do jantar, eu espero do lado de fora enquanto Sabine fica na fila para pagar o motorista. E eu estou tão distraída com o drama se desenrolado na minha frente, entre a noiva e a sua chamada madrinha de “honra,” que eu dou um pulo quando eu sinto uma mão na minha manga.
— Oh, hey — eu digo, meu corpo se enchendo de calor e formigando no segundo que nossos olhos se encontram.
— Você está incrível — Christopher diz, o olhar dele viajando por todo o meu vestido até meus sapatos, antes de voltar para meus olhos. — Eu quase não te reconheci sem o capuz. — Ele sorri. — Gostou do jantar?
Eu acenei, me sentindo impressionada por ter conseguido fazer isso.
— Eu te vi no corredor. Eu teria dito olá, mas você parecia estar com pressa.
Eu olhei para ele, me perguntando o que ele estava fazendo aqui, sozinho, nesse hotel numa sexta à noite. Vestido com um blazer preto, uma camisa branca, jeans de marca, e aquelas botas que pareciam muito astutas para um cara da idade dele, e ainda sim, de alguma forma, parecendo perfeitas.
— Visitantes de fora da cidade — ele diz, respondendo a pergunta que eu não tinha feito ainda.
E justo quando estou me perguntando o que dizer em seguida, Sabine aparece. E enquanto eles se cumprimentam, eu digo, — Um, Christopher e eu vamos para escola juntos.
Christopher é quem faz minhas palmas suarem, meu estômago se apertar, e ele é basicamente tudo que eu consigo pensar.
— Ele acabou de se mudar para cá vindo do Novo México — eu acrescento, esperando que isso seja o bastante até o carro chegar.
— Onde no Novo México? — Sabine pergunta. E quando ela sorri eu não consigo me impedir de me perguntar se ela foi preenchida com o mesmo sentimento maravilhoso que eu.
— Santa Fé. — Ele sorri.
— Oh, eu fiquei sabendo que é lindo. Eu sempre quis ir lá.
— Sabine é advogada, ela trabalha muito — eu murmuro, me focando na direção que o carro irá chegar em 10, nove, oito, sete –
— Estamos voltando pra casa, mas você é bem vindo a se juntar a nós — ela oferece.
Eu olhei para ela, entrando em pânico, me perguntando como eu falhei em ver que isso estava vindo. Então eu olho para Christopher, rezando que ele recuse enquanto ele diz,— Obrigado, mas eu preciso voltar.
Ele aponta seu polegar por cima dos ombros, e meus olhos seguem naquela direção, parando em uma linda loira, vestida em preto e salto alto.
Ela sorri para mim, mas não é gentil. Só lábios com batom rosa se curvando, enquanto os olhos dela estão muito longe, muito distantes para se ler. Embora tenha algo na expressão dela, a inclinação do queixo dela, que é tão visivelmente uma zombação, como se a visão de nós parados juntos não possa ser divertida.
Eu viro para olhar para ele, surpresa por encontrar ele parado tão perto, os lábios dele úmidos e abertos, a centímetros de mim. Então ele passa seus dedos no lado do meu pescoço, e tira uma tulipa vermelha de trás do meu ouvido.
Então a próxima coisa que eu sei, é que estou parada sozinha enquanto ele volta para dentro com sua companheira.
E eu olho para a tulipa, tocando suas pétalas enceradas, me perguntando da onde ela podia ter vindo – especialmente já que estamos no inverno.
Embora não seja até mais tarde, quando estou sozinha em meu quarto, que eu percebo que a loira também não tem aura.
Eu devia estar em um sono realmente profundo porque no momento que eu ouço algo se movendo no meu quarto, minha cabeça parece tão grogue e turva que eu nem abro meus olhos.
— Maite? — eu murmuro. — É você? — Mas quando ela não responde, eu sei que ela está prestes a fazer suas brincadeiras de sempre. E já que estou cansada demais para brincar, eu agarro meu outro travesseiro e coloco por cima da minha cabeça.
Mas quando eu a ouço de novo, eu digo, — Olha Maite, estou muito cansada, ok? Desculpe por ter sido maldosa com você. E eu sinto muito se te magoei, mas eu não estou a fim de fazer isso a essa — Eu ergo o travesseiro e abro um olho para olhar para o relógio. — As 3:15 da manhã. Então porque você não volta para onde quer que você vai e faz isso num horário normal, ok? Você pode até aparecer naquele vestido que eu usei para a formatura da oitava série e eu não vou dizer uma palavra, palavra de escoteiro.
Só que, o negócio é, que agora que eu disse tudo isso, estou acordada. Então eu jogo o travesseiro para o lado e olho para a sombra da forma dela sentada na cadeira da minha mesa, me perguntando o que poderia ser tão importante que não podia esperar até de manha.
— Eu disse que sinto muito, ok? O que mais você quer?
— Você consegue me ver? — ela pergunta, se afastando da minha mesa.
— É claro que eu posso ver — Então eu paro no meio da frase quando eu percebo que essa voz não é dela.