- O que vai acontecer agora que ele já não tem a bebida? Vai ficar melhor ou pior?
Essa foi a pergunta que Ava fez logo que chegamos ao carro. E a verdade é que, eu não tinha idéia de como responder. Eu ainda não sei. Por isso não disse nada. Só dei de ombros.
- Eu sinto muito
Ela disse, apertando as mãos no joelho, olhando-me uma de maneira que provava sua sinceridade.
- Eu me sinto responsável.
Mas eu só balancei a cabeça. Porque mesmo que em parte seja sua culpa, por perder tanto tempo quando insistiu em inspecionar a casa dele, fui eu que tive a brilhante idéia de invadi-la.
Fui eu que fiquei tão concentrada na tarefa que estava fazendo que me esqueci de prestar atenção na porta. Então se eu tiver que culpar alguém, sou eu.
Mas ainda pior que ser pega é saber que aos olhos de Christopher, passei de ser uma garota estranha que o persegue, a uma patética, louca perdedora. Muito convencido de que tentei alterar sua bebida com algum tipo de louca magia negra, mistura voodoo, na esperança que ele gostasse de mim novamente.
Porque isso é justamente o que Stacia o fez acreditar depois do que ele relatou a história. E isso foi exatamente o que ele escolheu acreditar. Para dizer a verdade isso é o que toda a escola acredita. Incluindo alguns de meus professores.
O que fez do colégio uma experiência ainda mais miserável do que era antes. Porque agora, não só devo sofrer com provocações intermináveis gritos de Débil! Perdedora! E Louca, mas também me pediram que ficasse depois da aula, não um, mas dois dos meus professores.
Embora eu não possa dizer que o pedido do Sr. Robins tinha sido uma surpresa. Quero dizer, já tivemos uma pequena discussão sobre minha suposta incapacidade de seguir em frente e construir uma vida para mim pós-Christopher, não posso dizer que estive chocada quando me fez ficar depois da aula para discutir o incidente.
O que me surpreendeu foi a forma como eu reagi. Quão rápido me coloquei na postura que nunca pensei que iria adotar... Fiquei na defensiva.
- Perdão
Eu disse, cortando-a antes que ele pudesse terminar. Não estou interessada em nenhuma de suas boas-intencionais, mas que finalmente cruzava o limite do “conselho sobre relacionamentos” que o meu recentemente divorciado, meio alcoólatra professor de Inglês estava me dando.
- Mas a última vez que chequei isso tudo era só um boato. Em evento suspeito, sem evidência para comprová-lo.
Olhei pra ele, encontrando seus olhos apesar de que acabava de mentir.
Quero dizer, embora Ava e eu fomos pegas com a mão na massa, não é como se Christopher tivesse tirado uma foto. Não é como se houvesse um outro vídeo de mim circulando pelo YouTube.
- Então ao menos seja oficialmente acusada e julgada...
Fiz uma pausa para limpar a garganta, em parte para um efeito dramático e em parte porque não podia acreditar no que estava a ponto de dizer.
- Vou permanecer inocente até que prove o contrário.
Ele se preparou para falar, mas eu não tinha terminado.
- Então ao menos que você precise discutir meu comportamento nesta classe, que você e eu sabemos que é exemplar, ou minhas notas, que são mais que exemplar, ao menos que você esteja interessado em discutir qualquer dessas coisas... acredito que estamos terminados por aqui.
Felizmente o Sr. Muños foi mais fácil. Mas isso é provavelmente porque eu me aproximei para falar com ele. Pensando que meu professor de história obsessivo com o renascimento é justo o homem para me ajudar a encontrar o nome de uma erva em particular para fazer o elixir.
A noite passada, quando eu tentei procurar no Google, eu percebi que não tinha nenhuma idéia do que colocar na caixa de busca. E como Sabine ainda estava me vigiando como um falcão até mesmo quando como e bebo e atuo tão normal quanto possível, escapar para Summerland, ainda que por alguns minutos, estava fora de questão.
O que fez do Sr. Muños minha última esperança... ou pelo menos minha esperança imediata.
Porque ontem, quando Christopher jogou todas as garrafas pelo esgoto, se foi a metade de meus suprimentos já escassos. O que significa que devo fazer mais. Muito mais. Não só para manter minha força entre o agora e quando eu for, mas também preciso o suficiente para a recuperação de Christopher.
E como ele nunca me deu a receita, tudo o que tenho para continuar é o que vi no cristal quando vi seu pai preparar a bebida, nomeando os ingredientes em voz alta, antes de parar e sussurrar o último no ouvido de seu filho, falando tão suave que não tinha maneira de escutar.
Mas o Sr. Muños terminou não sendo de ajuda nenhuma. E depois de folhear um monte de livros velhos e sair com as mãos vazias, ele me olha e diz:
- Dulce, temo que não posso encontrar uma resposta para isso, mas já que você está aqui...
Eu levanto minha mão, bloqueando suas palavras de ir mais longe do que já foram. E mesmo quando não estou orgulhosa de como controlei o Sr. Robins, se Muñoz não parasse iria receber a mesma resposta.
- Acredite, sei onde você está indo.
Confirmo, meus olhos nos seus.
- Mas você entendeu mal. Não é o que está pensando...
Paro, percebendo que quanto mais eu nego, isso está se tornando incrivelmente pouco convincente. Quero dizer, acabo de negar o fato que embora possa ter ocorrido... não ocorreu da forma como ele acredita. O que basicamente se resume em declarar-me culpada... mas com circunstâncias atenuantes.
Balanço a cabeça, enquanto por dentro reviro meus olhos, pensando: Bem feito Dulce. Continue assim e vai precisar que Sabine te represente.
E depois ele me olha, e eu olho pra ele, e ambos balançamos a cabeça, mutuamente concordando em deixar isso pra lá. Mas justo quando agarro minha bolsa e começo a ir, Ele se aproxima de mim, sua mão tocando minha manga quando diz:
- Agüente. Tudo vai ficar bem.
E isso é tudo o que precisa. Esse simples gesto é tudo o que preciso para ver que Sabine tem freqüentado o Sturbucks, todos os dias. Ambos apreciando uma tentativa de flerte que, embora, (Graças a Deus) não passou mais do que um sorriso, Muñoz espera ansioso o dia de amanhã. E mesmo sabendo que devo fazer o impossível para detê-los de, Deus me livre, um encontro, neste momento, não tenho tempo para isto.
Me livro de sua energia e me dirijo para a porta, mal chegando ao hall quando Alfonso se aproxima, ajustando seu passo ao meu. Olhando-me de relance quando diz:
- Muñoz foi de alguma ajuda?
Eu continuo, encolhendo-me quando seu hálito frio se choca contra minha bochecha.
- Você está correndo contra o tempo
Ele diz, sua voz suave e calma como um abraço de um amante.
- Tudo está passando muito rápido agora, não concorda? E antes de você perceber, tudo haverá terminado. E então... bem... seremos só você e eu.
Me encolho, sabendo que isso não é exatamente verdade. Vi o passado. Vi o que aconteceu na Igreja Florentine. E se não estou errada, há seis órfãs imortais que possivelmente ainda caminham pela terra. Seis pequenos órfãs que poderiam estar em qualquer lugar... provando que eles fizeram isso. Mas se Alfonso não sabe disso, bem, não cabe a mim informá-lo.
Então olho em seus olhos, resistindo a atração do azul profundo, quando digo:
- Que sorte a minha.
- E a minha.
Ele sorri.
- Vai precisar de alguém que te ajude a curar seu coração partido. Alguém que te entenda. Alguém que saiba o que você realmente é.
Ele passou seus dedos ao longo do meu braço, seu contato assombrosamente frio, mesmo através do algodão da minha manga, eu rapidamente me afasto.
- Você não sabe nada sobre mim
Digo, meus olhos fixos em seu rosto.
- Você me subestime. Se eu fosse você, teria mais cuidado ao comemorar tão cedo. Você está muito longe de ganhar.
E mesmo quando eu quis dizer isso como uma ameaça, minha voz era muito instável para ser levada a sério. Então eu volto a caminhar, deixando seu sorriso debochado para trás enquanto me dirijo a minha mesa do almoço onde Christian e Anahi estão esperando.
Eu deslizo pelo banco, sorrindo enquanto olho para os dois. Parece que foi a tanto tempo desde a última vez que estivemos juntos, que a visão deles sentados aqui agora me faz ridiculamente feliz.
- Ei, pessoal
Digo, sem poder deixar de sorri, vendo como eles me olham primeiro e depois um para o outro, assentindo com suas cabeças ao mesmo tempo como se tivessem treinado isso.
Christian bebe um gole de sua soda, uma bebida que nunca tinha tomado antes. Suas unhas rosa brilhante golpeando o lado da lata enquanto meu estomago se enche de pavor. Debatendo se devo ou não escutar seus pensamentos, sabendo que isso vai me preparar por que razão eles estão aqui, mas decido não fazê-lo agora já que prefiro não escutá-lo duas vezes.
- Temos que conversar
Christian disse.
- É sobre Christopher.
-Não
Anahi o interrompe, dando a Christian um olhar antes de tirar de sua bolsa um pacote de cenoras, a assinatura de zero caloria do almoço das garotas da mesa A.
- É sobre Christopher e você.
- O que há para conversar? Quero dizer, ele está com Stacia, e eu estou... levando.
Eles se olham, trocando um olhar que está carregado, mas é breve.
- Mas você está levando?
Pergunta Christian.
- Porque de verdade, Dulce, arrombar a casa dele e mexer na comida dele é bastante estranho. Não são ações de alguém que querer seguir em frente com sua vida...
- Então o quê? Vocês acreditam em cada boato que escutam? Todos esses meses de amizade, todas essas vezes que ficaram em minha casa, e acham que eu sou capaz disso...
Reviro os olhos e balanço a cabeça, recusando ir mais adiante.
Quero dizer, se tudo o que eu consegui tirar de Christopher foi um momento mais fugaz de reconhecimento antes de ser substituído por desdém, quando temos um laço que remota a séculos atrás, o que posso esperar falar com Christian e Anahi, que conheço a menos de um ano?
- Bem realmente não vejo porque Christopher faria tudo isso.
Disse Anahi, seus olhos nos meus, seu olhar tão duro e críticos que percebo que ela não veio aqui para ajudar. Porque embora ela atue como que se tivesse as melhores intenções no coração, a verdade é que, ela está desfrutando minha queda.
Depois de perder Christopher para mim, depois de ver Alfonso me perseguindo, mesmo quando ela lhe mostrou seu interesse, ela está feliz de me ver no chão. E a única razão porque se dignou a sentar-se aqui agora é para me ver no olhos enquanto ela tripudia.
Baixo o olhar para a mesa, surpresa com o quanto dói. Mas tento não julgá-la ou jogar isso contra ela. Sei muito bem como é quando sente ciúmes, e não há nada racional nisso.
- Você precisa deixá-lo ir
Disse Christian, tomando outro gole, embora seus olhos nunca deixassem os meus.
- Precisa deixar ir e seguir em frente.
.- Todos sabem que você o persegue
Anahi disse, cobrindo a boca com sua unha pintada de cor de sapatilha de balé em vez do negro habitual.
- Todos sabem que você arrombou a casa dele... duas vezes... que nós sabemos. Sério, você está fora de controle, você está agindo como uma louca.
Olho fixamente para a mesa me perguntando quanto tempo mais o ataque vai continuar isso.
- De qualquer modo, como seus amigos, nós só queremos convencê-las de que você precisa deixá-lo ir. Precisa se retirar, e seguir em frente. Porque a verdade é que, seu comportamento é assustador, sem mencionar..
Anahi continua, pressionando todos os pontos que estou certa de que já tinha em mente. Mas eu deixo de escutar depois que ela disse “como seus amigos”. Querendo agarrar isso e descartar todo a resto, mesmo que isso não seja verdade.
Balanço a cabeça e levanto o olhar, vendo Alfonso sentado em sua mesa com o olhar fixo em mim. Tocando seu relógio, depois apontando para Christopher de maneira tão agourenta, tão ameaçadora, me levanto da minha cadeira. Deixando a voz de Anahi atrás de mim, distante, enquanto corro para o carro, castigando a mim mesma por perder tempo com essas coisas quando há coisas muito mais importantes para fazer.