Quando saio da sala, meio que espero encontrar Roman esperando por mim com esse mesmo desdém insultante em seus olhos. Mas ele não está. E quando chego à mesa do almoço, sei por quê.
Ele está agindo, orquestrando a todos a sua volta, controlando cada coisa que eles dizem e fazem como um maestro, um mestre de marionetes, como o chefe do circo. E assim como um rastro de algo toca sutilmente a parte de trás de minha mente, assim como uma percepção muito eficaz começa a tomar forma – eu o vejo.
Christopher.
O amor de cada uma das minhas vidas, tropeçando agora até a mesa do almoço, tão instável, tão desgrenhado e abatido, não havia dúvidas de que as coisas tinham avançado de um modo alarmante. Nós estamos ficando sem tempo.
E quando Stacia se vira, faz uma careta e sibila, “Perdedor!” estou tão surpreendida de compreender que o comentário não é para mim.
É dirigido para Christopher.
E em questão de segundos, a escola inteira se une.
Todos os escárnios que uma vez foram reservados apenas para mim agora são para ele.
Olho de relance para Christian e Anahi, observando como eles acrescentam suas vozes ao coro, então eu corro para Christopher, alarmada ao encontrar sua pele tão úmida e fria. Os ossos da face, uma vez alto, agora assustadoramente fundos, e aqueles profundos olhos escuros que uma vez manteve tal promessa e calor, agora chorosos e fundos e apenas capazes de focalizar. E mesmo quando seus lábios estão muito secos e ressecados, eu ainda sinto um inegável desejo de pressionar os meus contra eles. Porque não importa que aparência ele tenha, não importa quanto mude, ele continua sendo Christopher. Meu Christopher, jovem ou velho, saudável ou enfermo, não tem importância. Ele é o único que realmente sempre me preocupei – e o único que sempre amei – e nada que Alfonso nem ninguém possa fazer para mudar isso.
— Oi — sussurro, minha voz quebrando-se quando meus olhos se enchem de lágrimas.
Terminando os comentários que nos rodeiam enquanto me foco unicamente nele. Odiando-me por dar as costas por tempo suficiente para permitir que isso acontecesse, sabendo que ele nunca teria deixado isso acontecer comigo. Ele se vira pra mim, seus olhos tentando me focar, e justo quando acredito que captei um vislumbre de reconhecimento – este vislumbre foi tão rápido que tenho certeza de ter imaginado.
— Vamos sair daqui — digo, puxando sua manga, tentando levá-lo junto comigo. — O que acha de nós escaparmos? — Eu sorrio, esperando que ele se lembre de nossa rotina habitual de sexta-feira. Apenas chegando até a porta, quando Alfonso aparece.
— Por que você se incomoda? — Ele disse, seus braços cruzados, e a cabeça inclinada para o lado, deixando sua tatuagem de Ouroboros aparecer. Agarro o braço de Christopher e estreito o olhar, decidida a passar por Alfonso com o que for necessário.
— É sério, Dulce. — Ele balança a cabeça, dando uma olhada de Christopher para mim. — Por que desperdiçar seu tempo? Ele é velho, fraco, praticamente decrépito, e lamento dizer isso, mas como as coisas vão indo, não durará muito mais nesta terra. Seguramente você não está planejando gastar teu doce néctar neste dinossauro?
Ele me olha, os olhos azuis em chamas, lábios curvando-se, olhando para a mesa do almoço justo quando os buchichos de insulto golpeiam em outro nível.
E simplesmente assim eu sei.
A ideia que me vem dando voltas, tentando chamar minha atenção, escutei finalmente. E embora não estou certa se tenho razão, e sabendo que não terei mais remédio se não andar furtivamente sobre a vergonha se estiver errada. Percorro no meio da multidão, meus olhos movendo-se de Christian a Anahi, a Stacia, a Honor, a Craig, e a cada um dos garotos que estão no movimento, acompanhando, fazendo com que cada pessoa diz ou faz, sem parar nem uma vez para questionar, sem perguntar nenhuma vez por que.
Então respiro fundo, fecho meus olhos, e concentro toda a minha energia neles quando grito:
— ACORDEM!
Então eu fico lá, muito envergonhada para olhar agora que todos seus insultos passaram de Christopher para mim. Mas não posso deixar que me parem, sei que Alfonso está controlando algum tipo de hipnose em massa, colocando-nos em alguma espécie de transe estúpido onde todos fazem sua vontade.
— Dulce, por favor. Salve-se enquanto ainda pode. — Alfonso ri. — Nem mesmo eu posso te ajudar se insistir em continuar.
Mas não o escuto – não posso escutá-lo. Tenho que encontrar uma maneira de detê-lo – de detê-los!
Tenho que encontrar uma maneira de despertar a todos, tirá-los disso!
Estalar os dedos!
Isso é! Só tenho que estalar meus dedos e – Eu respiro fundo, fecho meus olhos e grito o mais alto que posso.
— ACABE COM TUDO ISSO!
O que só resulta em meus companheiros irem mais fundo, seus ridículos sorrisos se elevam ao seguinte nível enquanto uma grande quantidade de latas de refrigerante são lançadas em minha cabeça.
Alfonso suspira, olhando-me quando diz:
— Dulce, sério. Insisto. Você tem que parar com essa loucura agora! Você está fazendo de si mesma um instrumento sangrento, se você acha que isso vai funcionar! O que você vai fazer depois? Esbofetear todo mundo no rosto?
Eu fico parada lá, minha respiração ofegante em pequenos suspiros cortados, sabendo que não estou errada, apesar do que ele diz. Tenho certeza de que ele mantém um feitiço sobre eles, capturou suas mentes por alguma espécie de transe.
E então me recordo desse velho documentário que uma vez vi na TV, onde o hipnotizador não trouxe o paciente de volta por alguns tapas, ou estalar dos dedos, mas batendo palmas e contando até três.
Respiro fundo, vendo como meus companheiros de turma sobem em cima da mesa e bancos, o melhor lugar para atirar alimentos não consumidos. E sei que esta é minha última oportunidade, que se isso não funcionar – bem – não sei o que farei.
Então fecho meus olhos e grito:
— ACORDEM!
Então conto até três e bato minhas mãos duas vezes no final.
E então. E então – nada.
A escola inteira fica calada enquanto eles voltam a si lentamente.
Eles esfregam os olhos, piscando, bocejando, como se estivessem despertando de um sono muito longo, olhando ao redor confusos, perguntando-se porque estão em cima da mesa com as mesmas pessoas que uma vez consideraram como esquisitos.
Craig foi o primeiro a reagir. Encontrando-se tão próximo de Christian, seus ombros praticamente tocando-se, ele se afasta o quanto pode. Tranquilizando-se com a companhia de seus amigos atletas, recuperando sua masculinidade com um golpe no braço.
E quando Anahi olha para seus palitos de cenoura faz um olhar de aversão absoluta, que não posso deixar de sorrir, sabendo que a grande família feliz retorna a rotina normal de insultos, revirar de olhos, e depreciando uns aos outros em defesa de seus habituais grupos, retornou o mundo que a antipatia e o ódio ainda governam.
Minha escola volta ao normal de novo.
Viro-me para a porta, preparada para enfrentar Alfonso, mas ele já se foi. Então eu agarro Christopher mais forte, levando-o facilmente ao outro lado do estacionamento para o meu carro onde Christian e Anahi, os dois melhores amigos que gosto tanto e que nunca verei de novo, nos seguem.
— Pessoal, vocês sabem que eu amo vocês, certo? — Olhos para eles, sabendo que eles vão pirar, mas isso tem que ser dito.
Eles se olham entre si, trocando um olhar de alarme, ambos perguntando-se o que poderia ter possivelmente acontecido com a garota que uma vez chamaram de Rainha do Gelo.
— Um, ok... — disse Anahi, balançando a cabeça.
Mas eu só sorrio, e agarro a ambos puxando-os para mim, apertando-os fortemente quando sussurro para Christian:
— Haja o que houver não deixe de atuar ou cantar, isso te levará... — paro, perguntando-me se devo dizer-lhe que acabo de ver um letreiro de luzes brilhantes e Broadway, mas não querendo privá-lo da viagem por sempre olhar mais para frente. Eu digo, — Isso te trará felicidade.
E antes mesmo que ele possa responder, me viro paraAnahi, sabendo que tenho que terminar com isso rápido, e assim poder levar Christopher aonde Ava, mas determinada a encontrar uma maneira de fazê-la ver a importância de se amar mais, para deixar de se perder para os outros, e que Josh vale a pena conservar independentemente do tempo que dure.
— Você vale muito — lhe digo. — Tem tanto para dar, eu só queria que você pudesse ver como sua estrela luminosa realmente brilha.
— Uma piada! — Disse ela, rindo quando se livra do meu aperto, — Você está bem? — Ela olha de relance entreChristopher e eu, — E o que acontece com ele? Por que está todo cabisbaixo assim?
Balanço a cabeça e entro no carro, não tendo tempo para perder. E quando eu saio da minha vaga, olho pela janela e digo:
— Ei, pessoal, sabem onde Alfonso mora?