Eu entrei na rua onde Alfonso mora. Estacionei na sua garagem e corri em direção à porta, e chutando ela para arrombar. Vendo como a madeira abre uma fenda, oscila nas dobradiças e se abre a minha frente, esperando pegá-lo desprevenido e acertar dos os seus chakras e então estará feito.
Eu entrei, meus olhos checando tudo por dentro, desde a cor de ovo das paredes, vasos de cerâmica cheios de flores, pôsteres de todos os pintores de costume – The Starry de Van Gogh, The Kiss de Gustav Klimt, e um grande Nascimento de Venus de Bortticelli’s em uma moldura de ouro pendurando sobre a lareira. Tudo isso parecendo tão normal, que eu começo a imaginar que entrei na casa errada. Eu esperava alguma coisa como paredes cor de areia, almofadas pós-apocalipse com sofás de couro preto, mesas cromadas, um monte de espelhos e uma arte confusa – alguma coisa com animais empalhados, mas esse palácio, é quase impossível imaginar alguém como Alfonso morando aqui.
Eu dei uma olhada na casa, checando cada quarto, cada closet, até em baixo da cama, mas está claro que ele não está em casa, então eu fui direto para a cozinha para achar o seu suplemento de suco imortal, e jogar tudo pelo ralo. Sabendo que isso é inútil, e que provavelmente não vai fazer nenhuma diferença, porque quando eu voltar tudo vai voltar. E mesmo que isso só gere uma pequena inconveniência, ele vai saber que essa pequena inconveniência veio de mim. Então eu procuro nas suas gavetas um pedaço de papel e uma caneta, precisando fazer uma lista das coisas que eu não posso esquecer. Algumas pequenas instruções que não serão muito confusas para alguém que não saiba o que nada disso significa, e que será clara o suficiente para me deixar longe de repetir os mesmo erros. Escrevendo:
1. Não voltar pelo suéter!
2. Não confiar em Drina!
3. Não voltar pelo suéter não importa o que!
E então só para não esquecer completamente e esperando que isso vá trazer algum tipo de memória eu adicionei:
4.Christopher
E então depois de checar tudo de novo (e de novo), tendo certeza que está tudo ali e que não está faltando nada, eu dobrei isso em um quadrado, e coloquei bem fundo no meu bolso, olhando pela janela, para ver o céu ficar em um profundo azul, a lua chegando cheia e pesada.
Então eu respirei fundo e me sentei no divã, sabendo que era a hora. Fechei meus olhos e senti a luz, ansiosa para experimentar a glória reluzente uma última vez sobre esses campos de lâminas verdes, neste vasto campo perfumado. Ajudada por sua animação e vivacidade, enquanto eu corro, pulo e rodopio através do prado, dando piruetas, paradas de mão e cambalhotas, meus dedos passando pelas gloriosas flores com suas pétalas pulsantes e cheiro doce, enquanto eu faço meu caminho até as vibrantes árvores.
Determinada a memorizar cada pequeno detalhe, desejando que tivesse um jeito de ter essa maravilhosa sensação para sempre. E porque eu ainda tenho alguns minutos, e porque eu preciso vê-lo uma última vez, preciso ver ele como ele costumava ser, fechei meus olhos e manifestei Christopher.
O vendo na sua primeira aparição a mim, no estacionamento da escola. Vendo o seu brilhante cabelo preto, que faz voltas na sua nuca e encosta um pouco nos seus ombros, e aqueles moldados olhos, tão profundos, tão negros, e mesmo assim tão familiares. E aqueles lábios! Aqueles lábios convidativos, quase esculturais, seguidos por um longo, fino e musculoso corpo.
Minha memória tão potente, tão tangível, que cada cor, cada poro está presente e contado. E então eu abro meus olhos, e ele está parado em minha frente, me oferecendo a sua mão para nossa última dança.
Então eu coloquei minha mão na dele, ele colocou seu braço ao redor da minha cintura, me levando por esse glorioso campo, com uma série de arcos, nossos corpos balançando, nossos pés flutuando, girando em uma melodia que só pode ser ouvida por nós. E toda vez que ele está soltando minha mão, eu fecho os olhos e manifesto-o novamente, retomando os nossos passos, sem vacilar. Como o Conde Fersen e Marie, Albert e Victória, Antônio e Cleópatra, nós somos todos os melhores casais do mundo, nós somos como eles nunca foram. E eu apertei meu rosto na sua clavícula, relutante em deixar a música acabar. E mesmo que não exista tempo em Summerland, para onde eu estou indo tem. Então eu passei os dedos no seu rosto, memorizando a sua pele macia, a curva do queixo, e a forma dos seus lábios junto aos meus – me convencendo que é ele – que realmente é ele! Mesmo quando ele se foi.
No momento em que eu olho através do campo, eu encontro Romy e Rayne esperando no canto, e pelo olhar nos seus rostos, elas estiveram assistindo tudo.
— Você está correndo contra o tempo — Rayne disse, me encarando com aqueles olhos semicerrados, que nunca me deixam.
Mais eu só balanço a cabeça, irritada por saber que elas estavam espionando, e cansada pelo modo que elas chegam.
— Eu tenho tudo sobre controle. — Eu disse, olhando sobre meu ombro. — Então eu me senti livre para — eu parei, sem ter ideia do que elas fazem quando não estão me perturbando. Então eu dei de ombros e deixei assim, sabendo que não importa o que elas fazem, isso não é mais da minha conta. Elas correram para mim, sincronizadas, se comunicando no seu jeito particular de gêmeas antes de dizer:
— Alguma coisa não está certa. — Elas me encararam, implorando que eu ouvisse. — Alguma coisa está terrivelmente errada. — As suas vozes ecoando uma na outra em perfeita harmonia. Mas eu só dou de ombros, nem um pouco interessada nos seus códigos estranhos, e quando eu vejo os degraus de mármore na minha frente, eu sigo em frente, vendo as esculturas mais bonitas do mundo, antes de me apressar
para entrar. A voz das gêmeas silenciada pela porta fechada, antes de eu parar na frente da grande entrada de mármore, eu fecho meus olhos bem apertados, esperando que eu não seja expulsa como da última vez, esperando que eu possa voltar no tempo. Pensando: eu estou pronta, eu estou realmente pronta. Então por favor, me deixa voltar no tempo. Voltar, para Eugene, Oregon. Voltar para a minha mãe e meu pai, para Maite e Buttercup... e deixe tudo certo de novo e a próxima coisa que eu sei, é que um pequeno corredor abriu, me levando para uma sala sem fim – uma sala vazia, exceto por um banco e uma mesa. Mas não era só uma mesa velha, essa era uma daquelas longas mesas de metal, como aquelas que a gente tem no laboratório da minha antiga escola. Quando eu deslizei para o banco, um grande cristal levitou na minha frente, queimando e cintilando até parar em uma imagem minha, sentada nessa mesma mesa, fazendo um teste de ciência. E mesmo que seja uma cena do passado, eu nunca a teria escolhido para repetir, mas eu sei que é a minha única chance de voltar. Então eu respirei fundo e pressionei meus dedos na tela – e suspiro quando tudo ao meu redor ficou preto.
Por hoje é só.
Ate a proxima :D