Eu cheguei à casa de Ava, e estacionei meu carro muito mal – as rodas de trás no cimento, as da frente na grama – e me movi até a porta da frente tão rápido que eu mal vi os degraus. Mas quando eu alcancei a porta, eu dei um passo para trás – alguma coisa parecia estranha, desligada, esquisita, de um modo que eu não posso explicar. Tudo está tão quieto, tão calmo.
Mesmo que a casa pareça como eu a tinha deixado – vasos em cada lado da porta, o tapete de boas vindas – mais de algum modo está errado. E quando eu levantei meus dedos para bater na porta, eu apenas encostei, e ela se abriu na minha frente.
Eu olhei na sala de estar e na cozinha, chamando por Ava, e notando como tudo está como eu deixei – xícara de chá no balcão, biscoitos na vasilha, tudo no seu lugar de costume. Mas quando eu abri o armário, e vejo que o antídoto e o elixir não estão ali, eu não tenho certeza do que pensar. Sem saber se o meu plano funcionou, e não foi preciso afinal de contas, ou o contrário, se alguma coisa deu errado.
Eu corri até a porta azul no final do corredor, ansiosa para ver se Christopher continuava aqui, mas eu fui bloqueada por Alfonso que estava parado em minha frente. Seu rosto com um sorriso largo quando ele disse:
— Tão bom te ter de volta Dulce, eu disse a Ava que você voltaria. Você sabe o que eles falam – você não pode voltar para casa de novo.
Eu o peguei pelos seus lindos cabelos desgrenhados, vendo parte da sua tatuagem de Ouroboros no seu pescoço – sabendo que, apesar dos meus avanços na escola, é ele quem está no comando aqui.
— Aonde está Christopher? — Eu olho no seu rosto, meu estomago apertado, — E o que você fez com Ava?
— Ai, ai. — Ele sorri, — Não se preocupe com nada. Christopher está no lugar em que você o deixou. E, eu devo dizer que não posso acreditar que você o deixou, mais eu subestimei você. Eu não tinha ideia. De qualquer jeito, eu não posso parar de pensar como Christopher se sentiu se ele sabia. Mais eu acho que ele subestimou você também.
Eu engulo seco, lembrando das últimas palavras de Christopher: você me deixou sabendo que ele não me subestimou, ele sabia exatamente o que eu tinha escolhido.
— E Ava — Alfonso sorriu. — Você ficaria feliz em saber que eu não fiz nada com ela. Você deveria saber que eu só tenho olhos para você — ele murmurou, se movendo tão rápido que eu mal tive a chance de piscar e ele estava bem a minha frente. — Ava saiu por sua própria vontade. Nos deixando alguma privacidade. E agora que é só uma questão de tempo — Ele parou para olhar o seu relógio. — Bem – segundos na verdade, antes de você e eu, fazer isso oficial. Você sabe, menos toda a culpa desagradável que você não teria sentido se nós tivéssemos acordado mais cedo – antes de ele ter a chance de passar. Não que eu me sinta culpado, mais você parece o tipo de garota que gosta de pensar em nós como puros e bem intencionados e toda essa besteira, que, a verdade seja dita, realmente é um pouco piegas para o meu gosto, mas eu tenho certeza que vamos achar um jeito de fazer isso funcionar.
Eu escutei suas palavras enquanto eu planejava meu próximo movimento, tentando achar a sua fraqueza, sua criptonita, seu chakra vulnerável. E já que ele está bloqueando todas as portas, e eu tenho que chegar na porta de Christopher, eu não tenho escolha se não passar por ele.
Além do mais, eu preciso ter cuidado com o que eu for fazer, porque quando eu fizer um movimento, ele precisa ser suave, inesperado e preciso, porque pelo contrário, eu estou em uma batalha que talvez nunca ganhe.
Ele colocou sua mão no meu rosto, e acariciou a minha bochecha, e eu bati nele tão forte, que eu senti seus ossos quebrando.
— Ai. — Ele sorri, balançando a sua mão, enquanto ele flexiona os seus dedos, que se curam instantaneamente. — Você é difícil, não é? Mais você sabe que isso me excita, não sabe? — Eu rolei os olhos, sentindo a sua respiração fria na minha bochecha quando ele diz, — Por que você continua lutando contra mim, Dulce? Por que você continua me afastando quando eu sou tudo que lhe resta?
— Porque você está fazendo isso? — Eu pergunto, meus estômago dando voltas, seus olhos escuros e estreitos, mostrando uma completa falta de cor e luz. — O que Christopher fez para você?
Ele joga sua cabeça para trás, igualando nosso olhar quando ele fala:
— É realmente fácil, querida. — A sua voz mudando de repente, deixando o sotaque Britânico de lado, e adotando um que eu nunca o vi usar. — Ele matou Drina, então eu estou matando ele. Então estará tudo compensado. Caso encerrado.
E no segundo em que ele fala isso, eu sei, eu sei exatamente como eu vou matá-lo, e entrar por aquela porta. Porque junto com o quem e como, eu tenho o porque. O motivo que eu precisava todo esse tempo.
E agora a única coisa que está entre mim e Christopher, é um forte soco no seu chakra do umbigo, ou no chakra central, como é chamado às vezes – o centro da inveja e ciúmes, e o desejo irracional de superioridade. Agora um golpe, e Alfonso virará história.
Mas antes de matá-lo, eu ainda tenho mais uma coisa para fazer. Então eu olho para ele, o meu olhar fixo e inabalável quando eu digo:
— Mas Christopher não matou Drina. Eu matei.
— Boa tentativa. — Ele riu. — Patética e um pouco sentimental para o meu gosto, mas eu estou com medo que não irá funcionar. Você não pode salvar Christopher desse jeito.
— Mas porque não? Se você está tão interessado em justiça, em olho por olho – então você deveria saber que fui eu quem fiz isso. — Eu dou de ombros, minha voz ganhando uma certa urgência e força. — Fui eu quem matou aquela vadia. — Vendo como ele balança a cabeça, tão suave, mais ainda suficiente para eu notar. — Ela estava sempre por perto, completamente obcecada por Christopher. Você deve saber disso, certo? Que ela estava completamente fixada nele? — Ele hesitou, nem confirmando, nem negando, mais aquela hesitação era o que eu precisava para continuar, eu atingi seu ponto fraco. — Ela me queria fora da jogada para que ela pudesse ter Christopher só pra ela, e após meses tentando ignorá-la e esperando que ela fosse embora, ela foi estúpida o suficiente de aparecer na minha casa e tentar me confrontar. E – bem – quando ela se recusou em desistir e foi atrás de mim – eu a matei. — Eu dei de ombros, relatando a história com muito mais calma do que sentia, tendo certeza que eu deixei de lado minha incompetência e meus medos. — E foi tão fácil. — Eu sorri, balançando a cabeça enquanto revivia o momento. — Sério. Você deveria ter visto ela. Era como se em um momento ela estivesse na minha frente, com seu cabelo vermelho e pele branca – e no outro – sumiu. E a propósito, Christopher não apareceu até que eu já a tivesse matado. Então, como você viu, se alguém é culpado, sou eu e não ele. — Eu fixei meu olhar no dele, meus punhos prontos para acertá-lo, me movendo para o seu espaço quando eu digo. — Então, o que você me diz? Você ainda quer sair comigo? Ou você vai me odiar e me matar? De qualquer modo, eu vou entender.
Eu coloquei minha mão no seu peito, empurrando-o contra a porta, pensando em como seria mais fácil se ele fosse uns centímetros mais baixo, um soco bem forte terminaria com tudo isso.
— Você? — Ele diz, a palavra mais como uma pergunta, crise de consciência, do que a acusação que ele esperasse que fosse. — Você e não Christopher?
Eu acenei com a cabeça, meu corpo tensionado, esperando pela luta, sabendo que nada vai me deixar longe daquele quarto, apertando meus punhos quando ele diz:
— Não é muito tarde! Ainda podemos salvá-lo!
Eu congelei, meus punhos na metade da marca, sem ter certeza se ele está me enganando. Vendo quando ele balança a cabeça, visivelmente distraído quando ele disse:
— Eu não sabia – eu tinha certeza que tinha sido ele – ele me deu tudo – ele me deu vida – essa vida! E eu tinha certeza que tinha sido ele — ele se moveu para perto de mim, indo pelo corredor — Você cuida dele, eu vou pegar o antídoto!