A primeira coisa que eu vi quando passei pela porta foi Christopher. Ainda deitado no sofá, parecendo mais magro e pálido do que quando eu o deixei. A segunda coisa que eu vi, fui Rayne. Parada do seu lado, pressionando um pano úmido no seu rosto. Os seus olhos crescendo quando ela me viu, colocando as mãos pra cima quando ela grita:
— Dulce, não! Não chegue mais perto! Se você quer salvar Christopher, então pare ai – Não quebre o círculo!
Eu olhei para baixo, vendo uma substância branca granulada que parece com sal, formando um perfeito anel que deixa os dois dentro, e eu fora. Então eu olho para ela, imaginando o que ela quer, o que ela pode ter em mente abaixada ao lado de Christopher e me mandando ficar longe. Vendo como ela parece mais velha fora de Summerland, com a sua pele branca de fantasma, seu minúsculo corpo e olhos pretos como carvão. Mas quando eu mudo o meu olhar para Christopher, vendo como ele sofre e luta por cada respiração – eu sei que eu tenho que chegar a ele, não importa o que ela diz. É minha culpa ele estar assim. Eu o abandonei. Eu o deixei para trás. Eu fui estúpida, egoísta e ingênua de pensar que tudo daria certo só porque eu queria que desse, e que Ava estaria ali, para arrumar os pedaços que faltavam. Eu pisei do meu lado até a borda quando Alfonso aparece atrás de mim e grita:
— O que diabos ela está fazendo aqui? — Os seus olhos arregalados quando ele vê Rayne abaixada ao lado de Christopher, dentro da barreira.
— Não confie nele! — Ela disse, seus olhos em mim e Alfonso. — Ele sabia que eu estava aqui todo esse tempo.
— Eu não sabia tal coisa! Eu nunca lhe vi antes! — Ele balançou a cabeça. — Eu quero dizer, desculpe querida. Mais garotas da escola católica não é o meu tipo. Eu prefiro mulheres um pouco mais feitas, como Dulce aqui. — Ele veio para perto de mim, passando seus dedos pelas minhas costas, fazendo minha pele se arrepiar de um modo que me fazer querer reagir – eu não faço. Eu só respiro fundo e tento ficar calma. Focando-me na sua outra mão – a que ele está segurando o antídoto – a chave para salvar Christopher. Porque no final, é tudo o que importa – tudo mais pode esperar. Eu peguei a garrafa e abri a tampa. Eu estou para penetrar o círculo de Rayne quando Alfonso coloca sua mão no meu braço de diz:
— Não tão rápido.
Eu parei, olhando entre eles, Rayne olhou fundo nos meus olhos quando disse:
— Não faça isso Dulce! Não sei o que ele lhe falou, não escute! Só me ouça. Ava jogou o antídoto fora e fugiu com o elixir não muito depois de você sair. Por sorte eu cheguei aqui antes dele.
Ela fez um gesto para Alfonso, seus olhos como pontos de luz na noite mais escura.
— Ele precisa que você entre no círculo para que ele possa entrar também, porque ele não pode chegar até Christopher sem você. Apenas podem entrar no círculo aqueles com boas intenções. Mas se você entrar agora, Alfonso vai lhe seguir. Então se você se importa com Christopher, se você realmente quer protegê-lo, você tem que esperar até Romy chegar aqui.
— Romy?
Rayne acenou, olhando entre mim e Alfonso.
— Ela está trazendo o antídoto, ele vai estar pronto pela noite porque precisa da lua cheia para ganhar energia e estar realmente pronto. — Mas Alfonso só balança a cabeça, e ri quando diz:
— Que antídoto? Eu sou o único com o antídoto. Inferno, fui eu quem fez o veneno, então o que diabos ela sabe? — e quando ele vê a confusão nos meus olhos ele adiciona. — Eu realmente vejo que você não tem muita escolha. Se você ouvir a essa aqui — ele aponta em direção a Rayne — Christopher vai morrer.
Porém, se você me ouvir, ele não vai. A matemática é bem simples, você não acha?
Eu olho para Rayne, vendo como ela balança a cabeça e me avisa para não o ouvir, para esperar por Romy, para esperar anoitecer, o que ainda faltam horas. Mais então eu olho para Christopher, ao seu lado, sua respiração vindo mais difícil, a cor sendo drenada do seu rosto.
— E se você estiver tentando me enganar? — Eu disse, toda a minha atenção focada em Alfonso.
Segurando minha respiração quando ele diz:
— Então ele morre. — Eu respirei fundo e encarei o chão, sem ter certeza do que fazer. Eu devo confiar em Alfonso, o trapaceiro imortal que é responsável por tudo isso em primeiro lugar? Ou eu confio em Rayne, a assustadora gêmea com a sua secreta conversa dupla, e uma agenda que nunca ficou clara? Mas quando eu fecho os meus olhos, e tento me concentrar no meu instinto, sabendo que ele raramente está errado, e mesmo assim, ainda é frustrante. Então eu olho para Alfonso quando ele diz:
— Mas, se eu não estou enganando você, ele vive. Então você realmente não percebe que não tem muita escolha
— Não escute ele — Rayne disse. — Ele não está aqui para ajudar você, eu estou! Fui eu quem lhe mandou a visão em Summerland aquele dia, eu que te mostrei os ingredientes que você precisava para salvar ele. Você foi expulsa dos registros de Akashic porque você já sabia o que fazer, você já tinha feito a sua escolha. E, enquanto nós tentávamos te mostrar o caminho, enquanto tentávamos te ajudar, e não nos deixar, você se recusou a ouvir, e agora
— Eu pensei que você não soubesse das minhas coisas? — Eu estreito o meu olhar. — Pensei que você e sua irmã esquisita não pudessem acessar — Eu parei, olhando para Alfonso, sabendo que eu tenho que ter cuidado com o que eu vou dizer. — Eu pensei que você não pudesse ver certas coisas.
Rayne olhou para mim, seu rosto arrasado, balançando a cabeça quando ela diz:
— Nós nunca mentimos para você, Dulce. E nós nunca enganamos você. Nós não podemos ver certas coisas, isso é verdade. Mas Romy é uma conselheira e eu sou uma profetiza, e juntas nós temos sentimentos e visões. Foi assim que nós lhe encontramos, e temos tentado guiado você desde então, usando a informação que nós temos. Desde que Maite pediu para tomarmos conta de você
— Maite? — Eu fiquei pasma, meu estômago se apertando com a náusea. Como ela pode estar envolvida com tudo isso?
— Nós nos conhecemos em Summerland e víamos ela por lá. Nós estudávamos juntas na mesma escola, uma escola privada que ela manifestou, que é o porque de usarmos isso — Ela mencionou a sua saia e blazer, uniforme que ela e a sua irmã sempre usam.
E eu lembrei de como Maite sonhava em ir para uma escola, dizendo que assim ela poderia ficar longe de mim. Então faz sentido que ela tenha manifestado uma. — Então quando ela decidiu — ela parou, olhando para o Alfonso antes de continuar, — decidiu ir em frente, ela nos pediu para olhar por você se você aparecesse por lá.
— Eu não acredito em você. — Eu digo, mesmo sem ter alguma razão par não o fazer. — Maite me falaria, ela teria... — Mas quando eu lembro que uma vez ela me disse alguma coisa sobre conhecer algumas pessoas com que ela andava, eu começo a imaginar se ela se referia as gêmeas.
— Nós também sabemos que Christopher – ele – ele nos ajudou uma vez – muito tempo atrás... — E quando ela olha para mim, eu estou prestes a dobrar quando ela diz. — Mas se você pudesse esperar somente mais algumas horas, até o antídoto estar pronto, então Romy estará aqui e... — Eu olhei para Christopher, seu corpo emancipado, sua pele pálida e fria, seus olhos parecendo sugados, sua respiração difícil, cada inspiração e expiração mais fraca – e agora tem só uma escolha a fazer. Então eu virei minhas costas para Rayne, e olhei para Alfonso quando eu disse:
— Ok, me diga o que fazer.