Fanfic: WAVES: A Última Onda | Tema: Piratas

O mar estava calmo.

O som de algumas pequenas ondas quebrando e o uivo da brisa compunham uma melodia nostálgica naquela noite.

– Já faz tanto tempo – uma mão tocou meu ombro – você ainda pensa nela? – Virei-me.

Era Barba Branca, o capitão. Se referia a Yule, a mais bela mulher que meus olhos jamais esquecera. Sorri e voltei o olhar para o mar.

– Desculpe-me – respondi, deixando um breve sorriso escapar.

– Algumas coisas mudam, Asger – juntou-se ao meu lado, deitando-se sobre os próprios braços – outras, no entanto, permanecem exatamente iguais – completou.

Barba Branca era um grande homem. Nos dois sentidos da palavra. Sábio e imenso nas mesmas proporções. O maior dos piratas que conheci durante toda minha vida.

Eu? Bom... eu era apenas parte da tripulação.

– Já fazem nove anos, capitão – disse após um momento – onde acha que ela está agora?

– Em Atlântida, talvez – debochou – aquela garota nos surpreende de tantas formas que não me arriscaria a pensar onde pode estar agora. – e eu sabia que ele estava certo. Yule tinha quinze anos quando a resgatamos. Estava sendo contrabandeada como escrava para as américas pelos holandeses. Eu tinha dezessete. O navio deles era pelo menos duas vezes maior que o nosso e possuíam o triplo de homens.

Quando os enfrentamos, já estávamos sem forças. Haviam poucas armas, pouca munição e grande parte da tripulação estava doente. Tudo deveria ter dado errado. Mas deu certo. Em meio a batalha que mais se assemelhava a um massacre, uma luz brilhou no convés do navio inimigo seguida de uma grande explosão.

Yule havia escapado por entre um buraco provocado pelo combate entre a grade da prisão e a parede e espalhou toda a pólvora dos barris. Foi uma questão de tempo até surgir uma faísca que causasse o estrondo. Foi a primeira vez que a vimos, e também a primeira em que nos surpreendeu. A encontramos no mar, sobre um pedaço de madeira do navio holandês com queimaduras leves pelo corpo – “um milagre”, disse Noah, nosso médico - e desde então ela se tornou uma de nós.

– Por que eu estou aqui, capitão? – perguntei.

– Asger... – ele tentou me interromper.

– Todos aqui têm uma história. Noah quer viajar pelo mundo buscando catalogar todas as doenças e seus tratamentos em um diário. Ralph pretende encontrar as mais valiosas pedras para que possa vende-las e restaurar sua antiga aldeia. Você está em busca de seu irmão... – os olhos de Barba Branca fitaram os meus a fundo.

– Asger, pare – ele disse. Ignorei-o mais uma vez.

– Mas eu... eu estou aqui desde que sou um bebê. Vocês me acharam – minha postura tornou-se mais ereta.

– Eu lhe mandei parar. Foi uma ordem! – O tom do capitão Barba Branca havia mudado. Tornou-se ríspido. Não era a primeira vez que eu tentava falar sobre meu passado – E agora sugiro que vá dormir. Chegaremos logo pela manhã e quero que esteja em boas condições. Não sabemos o que nos espera no Egito. – assenti com a cabeça. Olhei para o mar mais uma vez antes de ir. Barba Branca permaneceu ali. Me observava com receio. Eu ainda tinha tantas perguntas... eu só precisava de algumas respostas.