Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Havia muito tecido – saia de lã, saia de algodão e anágua de renda – entre o rosto de Christopher e as pernas de Dulce, evitando que a situação se tornasse... como dizer, ainda mais constrangedora. Além de toda a confusão, havia pano suficiente para envolvê-la como em uma armadura.

Mesmo assim, Christopher não se lembrava de ter já passado por situação de tamanho constrangimento. Sobretudo ao constatar que, longe de se sentir envergonhada, Dulce parecia achar graça em tudo aquilo.

– Ah! – ela ria de maneira não condizente com sua condição de viúva, segurando os ombros dele com as mãos enluvadas – ele envolveu seus braços, por falta de outra opção melhor, ao redor da cintura dela para segurá-la, e lá estava Christopher, de joelhos no piso do coche, com o peito entre o V das pernas de Dulce, o rosto... bem, o rosto estava agora no nível da cintura, pois ele erguera a cabeça assim que fora possível. – Oh, Deus!

O coche parara e o único som que se ouvia, além das risadas gostosas de Dulce, era o da chuva batendo no teto. Christopher levantou-se com dificuldade, viu-se entre o embaraço e o perfume perturbador de lavanda que se exalava da saia de Dulce. Apesar da capa de pele de castor, Christopher sentia frio.

Ao olhar para cima, viu que a face de Dulce estava muito próxima da sua. Os lábios curvos, róseos e úmidos estavam a poucos centímetros de distância. Seria muito fácil, ele pensou, segurar o rosto sorridente entre as mãos e pressionar seus lábios contra os dela...

Nisso Christopher ouviu acima dele o deslizar da pequena porta de comunicação entre o cocheiro e os passageiros. Um segundo mais tarde, a voz rústica de Murphy ecoou.

– Desculpe-me. Esqueci de avisar. Estamos, como puderam perceber, ao lado da Árvore dos Desejos.

O encanto fora quebrado e Christopher afastou o olhar da imagem inebriante da boca de Dulce Herrera.

– Dulce – ele tentou se desvencilhar da confusão de saias, anágua, botas e meias. – Você se machucou?

Era evidente que não, ele inferiu pelas risadas, mas sentiu-se na obrigação de perguntar.

– Ah. – Dulce limpou as lágrimas do canto dos olhos. – Sinto muito por ter achado tanta graça. Mas milorde pareceu tão surpreso...

– Bem – Christopher sentou-se no banco acolchoado ao lado de Dulce. Não adiantaria continuar por cima dela – deve ter sido falta de aviso...

– Todo mundo conhece o buraco na estrada perto da Árvore dos Desejos – Murphy respondeu com certa indignação.

– Pois eu não tinha ideia. – Christopher ficou feliz que a raiva que sentia borbulhar em suas veias afogasse outros sentimentos bem menos confortantes... como a dolorosa atração que ainda sentia pela encantadora viúva de seu primo.