Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Dulce observou, através do vidro grosso de uma das janelas do farol, o carro fúnebre que se afastava. Ela mal podia acreditar, mas de alguma forma, seu pequeno truque funcionara. O veículo ia embora. Levando Christopher.

Só podia creditar isso à sua boa estrela. Depois de um ano péssimo, experimentava um pouco de sorte. Christopher voltaria para Londres e não ficaria sabendo nada a respeito do testamento do Sr. O’Malley. Parecia bom demais para ser verdade. Era bom demais para ser verdade...

Nada disso. Estava mais do que na hora de sua sorte mudar. E se não começasse naquele dia, nunca começaria. Ele estava partindo e era só o que importava. Se sua boa sorte se mantivesse, nunca mais o veria.

O que seria ótimo para Dulce.

Exceto...

Exceto pelo fato de isso não ser verdade. Ela não odiava Christopher Uckermann. Deus era testemunha de que ela tentara sentir ódio dele depois daquele dia em sua biblioteca. Mas era impossível ter esse sentimento por alguém que fora tão bondoso com ela. Afinal, era ele que desembaraçava suas pipas dos galhos das árvores e levava para ela a sobremesa às escondidas, quando a tia a mandava de castigo para a cama. Ela corria para Christopher e não para Alfonso a fim de tirar os espinhos que a espetavam ou para curar os joelhos esfolados. Christopher sempre tivera tempo para ela. Alfonso estava sempre com a cabeça enterrada em algum livro.

O que fora o seu encanto. Dizia-se que águas paradas eram mais profundas e Dulce, aos quatorze anos, sofria para chamar a atenção de Alfonso Herrera. Como não podia deixar de ser, ela mostrou interesse pelo que mais o seduzia. Ajudar os pobres. Depois disso, ela ficou feliz ao descobrir que Alfonso levantava a cabeça, mesmo que estivesse enfronhado no melhor livro, sempre que ela entrava no recinto.

Maite nunca entendera a fascinação de Dulce por Alfonso. Insistia que Christopher era o mais bonito dos dois primos. Ele causava a melhor impressão no salão de dança e provocava suspiros infindáveis não apenas em Maite, mas na maioria das mulheres que o observavam.

Maite não admirava apenas a aparência de Christopher ou seu bolso. Ele era extremamente bem-educado e mantinha-se informado sobre os acontecimentos mundiais. Até lia romances populares, o que a maioria dos homens londrinos conhecidos de Dulce não fazia. Christopher conversava com inteligência sobre vários assuntos. Sempre fora muito rápido com uma brincadeira e Alfonso, raramente, quiçá nunca, tentara ser engraçado. Alfonso dissera uma vez para Dulce que havia muito sofrimento no mundo para ele fazer brincadeiras inconsequentes como seu primo fazia. Era muito grave, segundo ele, ter todo dinheiro e poder no mundo e usar isso tudo para divertimento e proveito pessoal.

Na verdade, Dulce nunca notara essa falha de caráter, mas depois do comentário de Alfonso, ela passara a acreditar que as prioridades de Christopher precisavam de sério reajuste. Apesar de sua imensa fortuna – era um dos homens mais ricos da Inglaterra –, Christopher não doava uma moeda à causa mais meritória sem uma dose de convencimento por parte de Dulce. Ele dizia que trabalhava duro para conseguir seu dinheiro, então, por que se desfazer dele? Se os pobres queriam tanto o dinheiro, por que não conseguiam emprego e ganhavam seu dinheiro, como ele fazia? E ele nem mesmo precisava trabalhar. Havia uma quantidade substancial de moedas nos cofres Uckermann. Mas, segundo ele, um homem que não trabalhava não era homem.

A insistência de Dulce afirmando que não havia trabalho suficiente para os pobres londrinos – fora o que Alfonso lhe dissera – e que o salário em geral muito baixo não dava para alimentar e vestir todos levavam invariavelmente ao comentário de Christopher que, se o dinheiro era insuficiente, não deveriam ter famílias tão grandes.

Assim, Dulce, que admirava Christopher, passou a achá-lo digno de repreensão. E mostrar ao conde sua teimosia se tornou uma missão pessoal. Se ao menos ele a houvesse escutado, em vez de rir dela! A resistente altivez de Christopher diante de seus esforços para mudá-lo tornou-se uma fonte de frustração contínua. Alfonso afirmava que ela perdia tempo e ela concluiu que deveria tê-lo escutado. Afinal, Alfonso conhecia melhor o primo. No entanto, na opinião de Dulce, a afeição de Alfonso por Christopher não fora afetada.