Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Mesmo depois que Christopher tentara matá-lo – não matar propriamente, mas ele batera muito em Alfonso naquele dia fatídico –, Alfonso se recusava a dizer uma palavra negativa sobre o primo, exceto que ele não tinha natureza muito filantrópica.

Não era a primeira vez que Dulce ponderava que Alfonso levava seu treinamento religioso de modo muito rigoroso.

Nada disso importava naquele momento. Christopher estava partindo e, por isso, Dulce só deveria regozijar-se, porque se veria livre dele sem muitos problemas. Quando queria, Christopher podia tornar-se bastante problemático... ela sabia muito bem. Ela teve a impressão, na hora de se despedir, que ele não pretendia deixá-la sair do coche e que de alguma forma a forçaria a voltar para Londres com ele, pois Christopher dera a entender que desejava isso.

E lorde Denham sempre conseguia o que desejava.

Mas Christopher a deixara ir. Dulce supôs que lady Denham somente mandara convidá-la para morar com ela por considerar ser a maneira mais educada de agir. Por certo Christopher não desejava que ela fosse. Que homem gostaria de dividir o lar com a viúva empobrecida de um primo religioso? Ainda mais se Maite conseguira seus objetivos e o fizera mudar de ideia em relação ao casamento. Dulce se esquecera de perguntar a Christopher se ele se casara. Não que isso lhe importasse. Mas uma esposa, e especialmente Maite, não gostaria de partilhar sua casa com uma parenta pobre.

Ora, Christopher, casado ou não, devia ter ficado profundamente aliviado quando ela não aceitara o convite feito por sua mãe.

Essa era a única explicação para ele não ter insistido com ela no assunto. Christopher era a pessoa mais convincente que ela conhecia. Se estivesse determinado a levá-la para Londres, Dulce teria de lutar muito para permanecer onde estava, de pé na escola escutando o raspar do giz na lousa. De outra maneira, ela poderia estar nesse momento a caminho de Londres.

Não, Christopher não pretendia que eles voltassem juntos, o que fora outro golpe de sorte para ela, embora estivesse determinada a lutar contra essa imposição, sem se importar se ele comandava ou se estava certo, nem se ela mesma perdesse os modos nessa disputa. Não abandonaria suas crianças. Ela era, para muitos deles, tudo o que tinham... e Deus sabia que eles eram tudo o que ela possuía no momento. Deixá-las? Seria mais fácil largar Una sozinha em casa, em vez de deixá-la, como fizera naquela manhã, com a Sra. MacEwan, forçando o Sr. Murphy a parar no meio do caminho.

Não, Dulce permanecia e Christopher voltava para Londres. O melhor de tudo era ele partir e ela sair ilesa de sua visita!

Praticamente incólume. Não podia deixar de lembrar-se, com certo constrangimento, do momento em que ele caíra para frente no coche, com os braços envolvendo-a. O repentino ímpeto de emoção que sentira fora tão inesperado que só conseguira rir. Christopher parecera aborrecido com as risadas, o que a fizera rir ainda mais.

O que mais ela poderia fazer? Havia muito tempo, meses para ser mais exata, não sentia braços de homem envolvendo-a, nem o calor masculino entre suas pernas. Tratava-se de Christopher, e isso é que era o mais surpreendente! Sabia que se tratava de Christopher, o homem a quem detestava mais do que qualquer outro e ainda assim sentira aquele afluxo de desejo...

Não podia imaginar por que isso acontecera. Os braços de Christopher eram muito diferentes dos de Alfonso. Em um momento de pânico, logo depois de ele ter sido jogado do assento, achou que ele lhe tiraria o fôlego. Supôs que Christopher pensara a mesma coisa, pois logo afrouxou a intensidade do aperto... e, estranho, ele parecera relutante em afastar completamente os braços. Ele, assim como ela, teria ficado surpreso pelas sensações que o abraço provocava?

Seu cheiro era diferente do de Alfonso. Alfonso sempre cheirava a cedro, provavelmente por causa da arca onde Dulce guardava seus coletes. A fragrância de Christopher lembrava espuma de barba e... seu antigo lar.

Não sabia o que a levara a pensar nisso, mas assim era. Christopher tinha o perfume de Londres, da limpeza de sabonete, de laranjas frescas e tabaco de cachimbo, coisas que Dulce raramente encontrava em Faires e que estavam tão distantes.

Concluíra, assim que o abraço terminara, que era ótimo Christopher retornar para Londres. Ótimo. Nenhum homem – especialmente um como Christopher Uckermann, capaz de trair como ele a traíra – tinha o direito de ter um cheiro tão bom. Esse tipo de odor podia provocar coisas estranhas em uma jovem, mesmo ela sendo viúva.

– Sra. Herrera? – A voz miúda, acompanhada de um puxão na saia, trouxe Dulce de volta à realidade. Olhou para baixo e viu a pequena Flora Mackay a seu lado, agarrada em seu pequeno pedaço de lousa que usava para suas anotações.

– Flora, o que você está fazendo fora de seu lugar? – Dulce perguntou. – Pensei que estivesse fazendo o exercício de aritmética.

– Eu estava, Sra. Herrera – Flora disse em um sussurro. – Mas achei que a senhora deveria saber que o resultado da lousa de novecentos e sessenta e sete divididos por vinte e quatro está errado.

Dulce estremeceu e olhou com ar de culpa a grande lousa que Samuel Murphy, o faz-tudo da comunidade, pendurara na parede caiada e ligeiramente curva.