Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

– Conde de Denham? – ele repetiu. – Entendo. Eu sabia que Herrera era parente de alguém arrogante, mas sempre ouvi dizer que se tratava de um duque.

Christopher permaneceu em silêncio e não se deixou ressentir por ser chamado de arrogante. Finalmente, finalmente, encontrara alguém que poderia esclarecer a morte de seu primo e seu enterro, sem mencionar a curiosa recusa de Dulce em voltar para a Inglaterra. Por isso, limitou-se a fitar o juiz com expressão solene que não indicava a louca impaciência que sentia.

– Bem – Reardon começou devagar –, suponho que milorde tenha interesse no caso. – Empurrou para trás a cadeira para dar mais espaço para a barriga que estufava o colete listrado de verde e dourado, e pediu: – Sean, outra cerveja, ele parece um bom rapaz. Deixe-me ver. Primo em primeiro grau do cura, não é? Milorde se parece com ele, posso ver em seus olhos, mas é enérgico e vigoroso. O’Malley não o teria matado.

– Provavelmente não – Christopher concordou. – Posso perguntar-lhe, sir, por que a condição?

– Qual condição? – Reardon levantou o garfo e espetou o cozido de novo.

– Aquela curiosa condição que o senhor mencionou, que Dulce, isto é, a Sra. Herrera tem de casar-se novamente para que possa receber as dez mil libras de O’Malley.

– Ah. – O juiz engoliu o cozido e tomou um gole de cerveja. – Ora, use a cabeça. Milorde obviamente a conhece. Afinal, seu primo casou-se com ela.

– Sim, eu a conheço – Christopher concordou, sombrio.

– Então. Milorde entregaria dez mil libras àquela mulher? – Christopher abriu a boca para responder, mas o juiz continuou. – Não. Claro que não. Ela doaria o dinheiro para a sociedade missionária ou usaria tudo para comprar suprimentos para a escola que mantém. Quem sabe o que ela faria? Nada sensato, posso lhe garantir.

Christopher tomou um gole de cerveja. Estava com pressentimento de que precisaria.

– Entendo. Então o senhor estabeleceu a condição que ela não teria um centavo da fortuna de O’Malley a menos que estivesse casada, como uma espécie de garantia de que o dinheiro seria gasto, digamos, sabiamente.

– Isso mesmo. – Reardon bateu a mão na mesa, assustando Christopher. – Exatamente, e perceba que foi para o próprio bem dela. Nada pior do que uma mulher de coração mole com um monte de dinheiro. Ou nada melhor, do ponto de vista de um rábula. Aposto que se eu tivesse deixado as dez mil libras com ela em dezembro passado, hoje ela não teria um tostão. Mas, dessa maneira, o dinheiro está seguro e rendendo em uma conta que abri em nome dela. Quando a Sra. Herrera resolver se casar, passarei a conta para o nome do marido a fim de que ele administre os fundos para a esposa como achar mais conveniente. Todavia, não posso dizer que isso acontecerá logo. A viúva Herrera não parece ter pressa de casar-se de novo, muito menos de exigir o que é dela.

MacTavish deu uma risada, aproximou-se com dois canecos de cerveja recém-tirada e comentou:

– Eu a pedi em casamento no mês passado ao sair da igreja. Depois de me agradecer o interesse, ela afirmou que não tem intenção de casar-se ainda, pois está de luto pelo marido.

Reardon ergueu o caneco para o jovem barman que, Christopher notou pela primeira vez, era um jovem alto e com porte atlético, sem ser um tipo que inspirava animosidade... embora aquela revelação tenha engendrado em Christopher uma forte e súbita antipatia.

– Meus sentimentos, meu jovem – o juiz disse para MacTavish. – Sean, você seria um excelente partido para a nossa Sra. Herrera.

MacTavish sacudiu a cabeça.

– Suponho que ela tenha me visto passeando com Myra McAllister algumas vezes. Disse que eu era tolo por pretender casar-se por dinheiro e não por amor e, ainda, que eu deveria ficar com Myra. – Ele franziu a testa diante da risada do juiz. – Isso não tem graça – resmungou. – Myra também não vai me querer até que eu tenha minha casa para morar. Já avisou que não pretende morar comigo e com minha mãe.

Reardon sacudiu a cabeça, com vontade de rir. – Viu? – ele virou-se para Christopher. – É como as coisas funcionam aqui em Faires. Venho para cá duas vezes por ano para os julgamentos, mas conheço esse povo. Conheço-os como a palma da minha mão.

– Isso não tem cabimento – Christopher declarou, extremamente aborrecido, sem saber se era pelo discurso bombástico do juiz ou pelo fato de o barman ter admitido que propusera casamento a Dulce. – Sir, estamos falando de uma viúva sem vintém que o senhor...

– Estou cuidando dela – Reardon falou com calma.

– Permita-me discordar. – Christopher sacudiu a cabeça negativamente. – Estou certo de que não existe nenhum precedente a respeito de tal medida na Inglaterra e se a Sra. Herrera quiser poderá apelar para essa decisão ridícula em qualquer tribunal e vencer, com toda certeza.