Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Reardon fitou-o, muito sério.

– Ela pode, mas não fará isso. Milorde esquece que estou tomando conta da Sra. Herrera. Ela não tem pai, nem irmão e não tem mais marido para fazer isso. Ela é sozinha no mundo e assumi o encargo de protegê-la. Ela é uma boa mulher cuja única falha é a tendência de abrir o coração e a bolsa com muita facilidade. – Reardon largou o caneco e, por sobre a mesa, fitou Christopher com olhar duro como aço. – Milorde, não sei o que o senhor representa para ela, mas digo que é a primeira vez que o vejo. Se milorde gosta tanto dela e está preocupado que não seja enganada, onde é que esteve esses meses todos desde que o marido dela morreu? Isso eu gostaria de saber.

Christopher olhou o juiz sem acreditar.

– Escute aqui, sir. – Christopher inclinou-se para frente. – Não sei o que o senhor está insinuando, mas entenda que só fiquei sabendo da morte de meu primo há uma semana. Vim o mais rápido que pude. Já ofereci à Sra. Herrera um lugar permanente na casa de minha mãe, o que, devo acrescentar, ela recusou...

– É claro – o juiz interrompeu-o com suavidade. – Ela não abandonará as crianças a quem ensina. Ou diz que ensina. Parece haver uma controvérsia se é isso o que ela está fazendo. Para mim, continuam ignorantes como sempre, apenas mais bem versadas nas obras de Walter Scott. Mas não acho incomum essa ligação da Sra. Herrera com elas, considerando que ela e o marido não foram abençoados com filhos.

Christopher ergueu um olhar cortante. Filhos próprios! Estranho, nunca lhe ocorrera que seu primo e Dulce pudessem ter desejado descendentes, muito menos tentado produzi-los.

Como crianças eram uma consequência natural do casamento, ele não imaginava por que isso lhe parecia tão perturbador. Mas, estupidamente, nunca considerara que Alfonso, com uma natureza tão voltada para o espiritual pudesse... E logo com Dulce!

Santo Deus. O pensamento o deixou intimidado. Sentiu-se empalidecer. Sabia que estava sendo ridículo. Afinal, os dois tinham sido marido e mulher. Por que imaginar que se casariam, se não...

Não queria pensar sobre isso. De maneira alguma.

O juiz Reardon fitou Christopher, com seu bom humor subitamente restaurado. Parecia achar divertido o desconforto de Christopher diante do tópico leito nupcial do primo. Isso só serviu para deixar Christopher mais furioso contra ele.

– Quem disse que era, sir? Primo do marido dela?

– Sim – Christopher respondeu. – Houve uma desavença entre nós pouco antes do casamento dele com Dulce. Não nos falamos mais depois disso. Vim assim que soube de sua morte...

– Para prestar condolências à viúva? – Reardon expressou-se com uma ponta de ironia.

– É, sim. – Christopher sentiu que não havia necessidade de informar o motivo real que o trouxera a Faires. Não achava que o juiz Reardon se importaria muito com mausoléus de família. – Claro que sim. E para convidá-la para morar comigo. Isto é, com minha mãe.

Reardon riu de um modo estranho que não agradou a Christopher.

– Compreendo – foi tudo o que ele disse. – E ela não aceitou.

– Sim.

– Então milorde vai voltar para Londres? – O juiz fitou o relógio atrás do bar. – O senhor perdeu a única balsa de hoje.

– Não vou voltar. Pensei que poderia...

De repente, Christopher, que havia pouco não sabia como proceder, intuiu imediatamente o que faria.

– Ficarei aqui – ele disse com firmeza. – Depois de dar-lhe um pouco de tempo para pensar no assunto, falarei com ela novamente.

– Quanta gentileza – Reardon observou. – E milorde nem mesmo sabia a respeito das dez mil libras.

– Claro que não – Christopher disse e fitou o juiz com dureza. – Não preciso das dez mil libras que pertenceram ao assassino de meu primo. – Vendo que o presidente do Supremo Tribunal de Justiça parecia cético, indignou-se. – Senti-me na obrigação de vir e oferecer minha proteção à Sra. Herrera...

– Que ela recusou.

Christopher pressionou os lábios, irritado pela repetição.

– Sim, por enquanto.

– Interessante. – O juiz analisou James com olhar ardiloso. – Muito interessante. Milorde disse que se desentendeu com seu primo? Não foi a respeito da Sra. Herrera, foi?

Christopher sentiu que estava na hora de terminar a conversa.

– Muito bem, sir. – Afastou a cadeira. – Eu já tomei muito do seu tempo. Vou voltar para a minha mesa.

Reardon cruzou os braços sobre a barriga volumosa e fitou Christopher com olhar enigmático.

– Denham – ele disse, pensativo. – Suponho que milorde esteja na lista dos baronetes.

Então aquele velho inoportuno queria investigá-lo! Ele que o fizesse. Nada conseguiria a não ser a informação de que os Uckermann faziam parte de uma das famílias mais antigas e respeitáveis da Inglaterra.

– Certamente, sir. – Christopher puxou as pontas do colete.

– Obrigado. – Reardon inclinou a cabeça como um gato satisfeito. – Foi um prazer.

Christopher voltou a seu lugar, pegou o garfo e começou a devorar o cozido de seu prato. De todas as coisas ridículas que já escutara, a situação de Dulce com esse tal de O’Malley era a mais absurda. Bárbara, na verdade. Quem era esse homem que retinha a fortuna de uma mulher só por ela ter uma natureza generosa? Era licencioso. Era insultante. Era... era...

Era engenhoso, na verdade. Reardon estava certo. Dulce não podia administrar o dinheiro. O que ela sabia sobre finanças? Nunca tivera dinheiro próprio. Certamente fora criada com luxo, mas aos dezoito anos esposara Alfonso, que não tinha um centavo em seu nome. Desde então vivera na pobreza.

Era preciso dar a mão à palmatória. O juiz conseguira uma solução perfeita para a questão. Perfeita, exceto por um aspecto.

Dulce não morderia a isca. Era evidente que ela tinha menos intenção de se casar do que Christopher.

A única diferença era que, fazia não muito tempo houvera alguém com quem Christopher pensara em casar-se.

E seu primo lhe tirara a oportunidade.