Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Lorde MacCreigh fez um gesto impaciente com a mão enluvada.

– Ora, Dulce! É obvio que este é um excelente momento para fazer correr os proclamas.

Dulce mirou a porta que, infelizmente, estava fechada. Todas as crianças tinham ido para casa e nenhuma voltaria, exceto Fergus, a quem Dulce dava aulas de reforço três dias por semana, pois a falta de um olho tornava a leitura muito difícil para ele.

– Proclamas? – Dulce perguntou, se fazendo de estúpida. Ela pensou em esticar a conversa até Fergus chegar. Fergus distrairia lorde MacCreigh, que não ousaria tentar nada com um menino na sala...

– Dulce. – Lorde MacCreigh deu uma risadinha. Felizmente o cotovelo ainda estava sobre o joelho e suas mãos relaxadas não davam a impressão de que pretendiam agarrá-la, embora estivesse a apenas trinta centímetros de distância. – Você sabe o que quero dizer. Acho que devemos informar ao juiz nosso plano de casamento e assim ele poderá começar a preparar os papéis de sua herança.

Dulce sacudiu a cabeça. – Esse é seu plano, lorde MacCreigh, não meu. Milorde sabe muito bem que não pretendo casar-me novamente.

– Não seja ridícula, Dulce. Claro que você se casará outra vez. O que mais vai fazer? Lecionar nesse projeto medíocre de escola até morrer?

– Se eu quiser – foi a resposta calma de Emma.

Petulante como uma criança, não era isso que lorde MacCreigh queria ouvir. Dulce sentia mais compaixão por ele do que pelos outros pretendentes, com exceção de Cletus. O misterioso desaparecimento de sua jovem noiva causara muitos boatos. Teria ela fugido com o criado, como o barão garantia? Ou ele teria encontrado os dois amantes, matado o casal e atirado os corpos – segundo diziam – na cisterna do castelo?

Embora Dulce não gostasse muito do barão, sabia que ele não era um assassino, ao contrário do que falavam na ilha. Se ele se comportasse com um pouco mais de seriedade, ela poderia até lamentar por ele morar naquele castelo decrépito e, de acordo com os falatórios, assombrado por fantasmas e espíritos femininos que prenunciavam a morte, e tendo como companhia apenas a desagradável irmã.

O que não significava que desejava casar-se com ele. Mesmo que não estivesse convencida de que o único motivo do barão era o interesse nas dez mil libras do sr. O’Malley para reformar seu lar ancestral que se deteriorava aos poucos, ela não poderia casar-se com um homem que cheirava a cavalo.

O barão fez um gesto impulsivo, tirou o pé do banco e, impaciente, passou uma das mãos nos cabelos vermelhos e rebeldes.

– Por que essas evasivas infernais? – ele perguntou. – O fato é que fomos feitos um para o outro, Dulce, e não quero esperar os julgamentos de inverno para ter o dinheiro, sendo que podemos fazer que o juiz transfira a quantia para você amanhã. – Ele segurou-a pelo braço sem muita gentileza. – Vamos agora.

Dulce reconheceu o tom de convicção e entendeu que ele falava sério. Ainda assim, tentou fazer uma brincadeira, embora não achasse a situação nada engraçada. O juiz Reardon pensara estar lhe prestando um bom serviço ao colocar essa cláusula bizarra no testamento de O’Malley, mas o dinheiro tornara-se uma praga para Dulce.

– De fato, milorde – ela disse, rindo e procurando afastar-se. – Sua impaciência quase me tira o fôlego.

Lorde MacCreigh não a soltou, a despeito das tentativas de Dulce livrar-se. Ao notar que o queixo quadrado dele demonstrava firmeza, Dulce começou a sentir medo. O que era ridículo, pois quando chegassem à sala do juiz, ela só teria de negar.

Dulce preocupava-se com o que poderia acontecer com ela depois da negativa. Sabia muito bem que Geoffrey Bain não matara a noiva...

O que não significava que ele fosse incapaz de tal ato.

– Francamente, lorde MacCreigh – Dulce falou com voz estridente, procurando abaixar o tom. – Francamente não posso ir agora. Estou... estou esperando Fergus MacPherson.

– Aquele moleque meio cego de novo? – O barão revirou os olhos. – Dulce, creio que você leva seu compromisso de ensinar além do limite.

– Ele deve chegar a qualquer momento. – Ansiosa, Dulce fitou a porta. – Eu não quero frustrar Fergus, lorde MacCreigh. Ele já tem uma vida muito dura.

Lorde MacCreigh resmungou qualquer coisa e levou-a até o gancho onde ela pendurava a capa e o chapéu.

– Vamos – ele ordenou. – O menino pode ter a aula em outro dia. Reardon ficará aqui somente até amanhã ou depois de amanhã. Não temos tempo a perder.

Dulce estreitou os olhos e espiou pela janela recortada na parede grossa do farol, com esperança de ver Fergus se aproximando. Todavia, não tinha ideia do que um menino de onze anos quase cego poderia fazer com o barão de mais de um metro e oitenta que ameaçava a professora.