Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

anniepuente: Postado gatenha!!

Christopher não estava se lembrando de Alfonso no instante em que Dulce refletia se ele sentia ou não falta do primo. Alfonso estava longe em seus pensamentos.

Talvez devesse lembrar-se e seria natural que assim fosse. Christopher estava sentado no banco de Alfonso, na cabana onde Alfonso vivera os últimos meses de sua vida curta. Em cima, sobre o consolo da lareira, o cachimbo de Alfonso. Atrás dele, as prateleiras com os livros de Alfonso. A porta da sala dava para o quarto de Alfonso. O ar que Christopher respirava era permeado com a memória de Alfonso Herrera...

Sobretudo que, acomodada a seu lado, encantadora com seus cabelos ruivos, brilhantes olhos castanhos, estava a viúva de Alfonso Herrera.

Estranho. Christopher nunca estivera menos ciente de Alfonso do que naquela ocasião. Talvez porque naquele momento em particular ele só pensasse em Dulce, e esta Dulce sentada a seu lado parecia diferente da Dulce que ele conhecera. Aquela Dulce teria, como Alfonso, tentado convencer Christopher dos erros de sua vida extravagante. Aquela Dulce se esforçaria para transmitir a Christopher sua desaprovação a respeito do que ela considerava uma vida dissoluta, embora o fizesse de maneira encantadora. Aquela era a Dulce que Alfonso amara e com quem se casara.

Aquela não era a Dulce, ao lado de quem Christopher estava sentado. Aquela Dulce não teria começado sua própria escola. Aquela Dulce, embora pudesse ter expressado interesse em fazer isso, não teria sido bem-sucedida e por tanto tempo. Aquela Dulce teria ficado muito assustada em permanecer em uma cabana minúscula nessa ilha isolada, tão longe da família e dos amigos. Mas onde esta Dulce construíra uma existência para si mesma, independente de tudo que ela conhecera e amara. E parecia contente em continuar naquela vida, a despeito das aparentes privações que encontrava no caminho.

Esta mulher sentada ao lado dele era completamente diferente da mulher que conhecera e que fazia um ano não via...

... e não obstante era a mesma. Embora parecesse mais forte e mais segura de si, ainda era vulnerável – como podia esquecer como ela se agarrara a ele no farol? – e, na ocasião, fora cálida e feminina como sempre.

Christopher não podia deixar de raciocinar se a mudança em Dulce se dera antes ou depois da morte de Alfonso. Se fora antes, o que Alfonso pensara disso? Christopher perguntou a si mesmo se o casamento deles fora feliz. Dulce sentia falta dele? Era evidente que sim. Qualquer mulher disposta a jogar fora tudo o que Dulce possuía para casar-se com um homem devia amá-lo muito.

Uma vez que ela finalmente tivera Alfonso, ele a fizera feliz? Christopher conjeturou se algum dia saberia disso. Não era o tipo de coisa que se podia perguntar. Não da maneira como ele perguntara sobre a morte de Alfonso.

Ele vinha tentando, havia algum tempo, deixar Dulce à vontade. Era visível que ela estava apreensiva como um gato, sem dúvida por entender que seus segredos – os que ela tentava proteger desde a chegada dele – seriam então necessariamente revelados. Não sabia por que ela fazia tanto mistério a respeito dos fatos. Alfonso não fora assassinado por culpa sua, nem tivera qualquer interferência na cláusula ridícula do juiz que a obrigava a casar-se para ficar com o dinheiro.

Depois de trazer o assunto à baila, Christopher podia prever que seria ainda mais difícil do que suspeitara. Dulce tivera tempo para se lamentar, certamente. Mas desde a chegada a Faires, ele não vira muitos sinais de que ela ainda sentisse de forma aguda a perda do marido. Até o momento, pelo menos. Depois de Christopher tocar no assunto da morte de Alfonso, Dulce – seus cabelos haviam se soltado dos grampos e estavam com um brilho avermelhado sob o efeito das chamas – parecia arrasada.

– Ah, Christopher, eu não queria falar sobre isso – ela murmurou. – Por favor, não insista.

– Dulce, eu preciso conhecer a verdade – Christopher contestou com firmeza. – Você sabe disso. Se quiser, não conto para ninguém em Londres, mas eu tenho de saber o que realmente aconteceu. Você compreende, não é?

Emma passou uma das mãos nos olhos, para disfarçar sua expressão.

– Suponho que sim.

– Então – Christopher exprimiu-se com gentileza. – Como foi que Alfonso morreu?

Dulce suspirou, abaixou a mão e olhou as chamas diante deles.

– Ele foi morto. Um homem chamado O’Malley... eles tiveram um desentendimento e o sr. O’Malley bateu nele. Ele não pretendia matá-lo, mas Alfonso... não esperava o golpe e caiu para trás. Bateu a cabeça na pedra da lareira e...

– E morreu – Christopher terminou por ela, suavemente.

– Sim. – Emma levantou o olhar com as lágrimas brilhando nas pontas dos cílios longos e escuros. – Sinto muito, Christopher.

– Não foi sua culpa – Christopher assegurou. – Você vai me contar... você pode me contar... qual foi o desentendimento?

Dulce sacudiu a cabeça com olhar longínquo.

– Não tenho certeza. Terminou em um instante. Sei disso, Christopher. Estou certa de que ele não sofreu. Não como... o sr. O’Malley mais tarde.

– Dulce. – Christopher teve vontade de abraçar-lhe os ombros esguios, de confortá-la da maneira como costumava fazer quando ela ainda era uma criança e se machucava ou sofria alguma desfeita.

Mas ele não ousava fazer isso agora. Não porque ela fosse a viúva de seu primo. Não se atrevia porque os dois estavam sozinhos em uma cabana isolada e não havia ninguém para impedi-lo de prosseguir se abraçá-la não fosse suficiente... se dali fosse levado, como sabia que seria, a pressionar os lábios na testa sedosa ou, Deus que não permitisse, mais embaixo, naquela boca doce e rosada...

Não. Ele se sacudiu. Essa espécie de pensamento não daria certo. Tinha uma tarefa a cumprir e era o que faria. Não se distrairia pela atração magnética que ela parecia exercer sobre seu coração...

– E o dinheiro, Dulce? – Christopher perguntou, dando uma tossidela. – O testamento?